História Stigma - Begin

Mais um dia nesse inferno de vida, não aguento mais viver dessa forma, se é que posso dizer que eu estou vivendo, mas sim, apenas sobrevivendo. 

Não tenho mais um motivo pra viver, não tenho mais família e isso tudo é culpa minha, sou um destruidor, um monstro que não tem o direito à felicidade, tenho que viver nas trevas onde é o meu lugar. Passo todos os dias perambulando pelas ruas, sem destino algum, não que eu não tenha casa ou nenhum lugar pra ir, mas porque eu não consigo pisar naquele local em hipótese alguma, talvez um dia, mas por enquanto não. 

Os pingos de chuva caíam me molhando por completo, enquanto eu andava por uma rua deserta no centro de Seul quando esbarro em alguém e perco o equilíbrio caindo no chão e batendo a cabeça graças a grande quantidade de bebidas alcoólicas que havia ingerido mais cedo, vejo tudo escuro e apenas ouço uma voz ao longe me chamando.  

Acordo ainda um pouco tonto e tento abrir meus olhos aos poucos, me acostumando com a pouca claridade do local onde estou, minha cabeça ainda dói bastante e sinto pontadas na mesma. Olho em volta e vejo que estou em um quarto amplo deitado em uma cama de casal, a porta se abre e uma garota de estatura média, cabelos castanhos e que aparentava ter uns 18 anos entra no quarto e se senta na beirada da cama me encarando com um sorriso meigo e uma feição preocupada.

-Você está bem ?

-Sim. Só minha cabeça que dói um pouco.- passo a mão nos cabelos ainda um pouco confuso.- mas, quem é você?

-Meu nome é Mi-Cha. 

-Prazer, meu nome é Kim Taehyung. Mas pode me chamar só de Tae.- me curvei um pouco mas não foi uma boa ideia já que ainda não estou recuperado. 

-Não precisa fazer esforço, apenas descanse.- ela apoiou as mãos em meus ombros, me deitando novamente na cama e indo em direção à porta. 

-O que aconteceu? Porque esta me ajudando?- perguntei antes que saísse do quarto. Ela se virou novamente e dessa vez se sentou ao meu lado.

-Eu estava correndo, voltando pra casa por conta da chuva, quando esbarrei em você e você caiu no chão, batendo a cabeça. Lhe chamei por um bom tempo, lhe balancei mas nada de você reagir. Então liguei para um amigo que morava ali perto e pedi que me ajudasse a te trazer para minha casa, afinal eu não iria te deixar desmaiado no meio da rua. 

-Obrigada mesmo por ter me ajudado, mas agora é melhor eu ir, não quero lhe incomodar.- tentei me levantar mas a tontura me atingiu e eu cai sentado de volta na cama. 

-Você não vai a lugar algum, antes que se recupere.

-Mas...

-Não tem mas, você vai ficar aqui e pronto, não se fala mais nisso. 

-Eu...

-Como você é chato, já falei que vai ficar aqui, não adianta contestar o que digo. Agora deite e descanse.- deu um beijo na minha bochecha e saiu do quarto, uma sensação diferente percorreu o meu corpo. Ignorei e voltei a me deitar, peguei no sono logo em seguida.  

Me encontrava em um galpão totalmente escuro, não tinha nada ao redor, apenas eu e uma luz branca em cima de mim, eu estava sentado em uma cadeira, meus braços estavam amarrados atrás do meu corpo e uma fita isolante tampava minha boca. Uma luz se acende na minha frente e vejo um homem de costas com uma garrafa de bebida na mão, uma menina permanece parada em sua frente com as mãos no estômago e cuspindo sangue, ele acerta mais um golpe na mesma e ela se deita no chão se contorcendo de dor, tento gritar mas a fita não me permite, mais golpes são proferidos na garota e a vejo estirada no chão sem respirar, me remexo na cadeira mas nada adianta. As luzes se apagam e acendem novamente em outro local do galpão, onde vejo um homem estirado no chão, com uma grande quantidade de sangue ao seu redor e uma garrafa de bebida quebrada ao meio perto do mesmo. "Bom trabalho Taehyung!", escuto uma voz sussurrar no meu ouvido. 

Acordo transtornado e gritando, passo as mãos no rosto e o sinto molhado pelo suor. Mi-Cha entra no quarto desesperada e me encara com um semblante preocupado, quando vê meu estado corre em minha direção e me abraça forte, retribuo o abraço no mesmo momento, me sentindo confortado pela primeira vez em muito tempo. As lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto, molhando a camisa de mais nova mas ela não parecia se incomodar com isso e continuou a me abraçar apertando de vez em quando como se quisesse dizer que estava ali e eu não precisava ter medo do que é que tivesse acontecido. Ela separou um pouco nossos corpos e pôs meu rosto entre suas mãos, olhando diretamente em meus olhos e secando as lágrimas que escorriam em minhas bochechas.

-O que aconteceu? Por quê esta dessa forma? 

-Eu sou um mostro, um monstro, destruidor. 

-Do que você está falando Tae? 

-Um monstro sem coração.- desvio meu olhar do dela. 

-Tae olha pra mim e me explica.

-Eu não posso Mi-Cha, não posso. Não consigo.- eu chorava cada vez mais. 

-Se não quiser falar não fale, mas tente se acalmar, não diga que é um monstro.- falou virando minha cabeça em sua direção e me encarando nos olhos novamente.

-Mas eu sou.

-Não, não é. Agora deite e tente se acalmar.- ia se levantar mas segurei seu pulso, a fazendo olhar pra mim. 

-Fica aqui comigo. Eu sei que não é algo normal de se pedir mas eu não quero ficar sozinho.- falei abaixando a cabeça.

-Tudo bem. Eu fico.- deu um sorrisinho de lado e se deitou na cama.- vem, pode deitar na minha barriga.  

Me aconcheguei em seu corpo e adormeci novamente, mas dessa vez sentindo o seu carinho em minha cabeça. Não sei o que eu estou sentindo, mas tê-la por perto e sentir seus carinhos é a melhor coisa.