História Stigma - Steadfast

Silêncio.

O silêncio entre mim e Taehyung era desconfortável. Olhar para ele depois de "tanto" tempo era frustante. Ele parecia inquieto. Estava de costas para mim, com suas mãos na cintura, e ora ou outra sua mão direita passava pelos seus fios castanhos. 

Palavras.

Ele estava procurando palavras, e eu apenas estava as esperando até que ele finalmente se vira para mim, se aproximando. 

- Eles te contaram, não foi? - Ele pergunta de forma séria, olhando no fundo de meus olhos. 

Era desconcertante para mim ouvir sua voz e presenciar sua postura inabalável mais uma vez.

Inabalável. Pelo menos era isso o que eu pensava que ele era.

- Sim. - Digo baixo, desviando meu olhar para o chão. Minhas mãos estavam suando.

Por que estou tão nervoso?

- E você compreende, não é? 

- O que? - Franzo meu cenho, olhando em suas orbes escuras. - Eu entendo sim que você foi para apoiar o Hoseok nesse momento de crise. Mas eu não entendo o motivo de você não ter me avisado, de ter sumido da noite pro dia depois de tirar minha virgindade. - Rio soprado, incrédulo. - Sabe como eu fiquei paranoico? Me preocupei com você à toa, porque pelo visto, você nem se importou comigo.

- Eu me preocupei com você todos os dias. 

- Você tá de brincadeira comigo? Você não atendeu minhas ligações, não respondeu minhas mensagens, não me ligou, nem nada! Isso é preocupação pra você? Se for, eu nem quero saber o que é descaso. - Viro-me, andando em direção à porta. Eu não queria ouvir mais nada daquele desgraçado.

- Eu já disse que me preocupo com você! - O tom de sua voz parecia um pouco mais alterado. - Eu me importo, Jungkook. 

- Não, Taehyung. Você não se importa. Você nem sabe o que é amor. - E sem nem ao menos olhar para trás mais uma vez, eu saio dali, batendo a porta atrás de si.

Yugyeom deve estar esperando bastante...

(...)

TAE'S POINT OF VIEW

O som da porta batendo fora como uma bala perfurando meu peito. Porém o pior de tudo foram as palavras proferidas por Jungkook.

"Você nem sabe o que é amor"

O que ele sabe sobre mim? O que todos eles sabem sobre mim? 

Nada.

Ninguém além de Hoseok sabe como foi difícil. Ninguém além de Hoseok sabe como eu me senti e como ainda me sinto. Ninguém além de Hoseok sabe o quão difícil é para mim demonstrar afeto ou amor.

E ninguém além de mim sabe como é difícil amar depois do acidente.

Eu tentei mudar. Eu juro que tentei mudar por Jungkook, mas pelo visto, não fora o suficiente. 

Nunca é o suficiente.

Não atender suas ligações, não mandar mensagens ou ligar para o garoto fora uma decisão difícil, mas era o melhor. Caso eu fizesse alguma dessas coisas, teria vontade de voltar para ficar com ele, para protegê-lo de tudo e todos. Mas eu não podia fazer isso. Hoseok sempre me apoiou, e era a hora de eu retribuir. 

Eu podia ser tudo, um completo desgraçado, alguém sem sentimentos ou uma pedra de gelo viva, mas eu não era desleal, muito menos um traidor. 

Muito pelo contrário, o mundo que me traía. 

Eu estremeci. Pela primeira vez depois de todo aquele tempo, meu psicológico fora abalado novamente. Eu senti medo. Medo de perdê-lo. Depois de tanto tempo sozinho, é difícil deixar a pessoa que lhe dera toda sua atenção e carinho partir. Mas eu não conseguia me mover. Não conseguia falar. Eu queria ir atrás dele, mas simplesmente não conseguia mover um músculo sequer. 

Minha respiração estava falhando, assim como os batimentos dentro de meu peito. Era como se aquela sensação de vazio tivesse voltado.

Vazio.

Eu não posso ser vazio de novo.

Em um ato rápido, saí daquele apartamento gélido, descendo as escadas do prédio o mais rápido que podia.

Eu iria o procurar por cada canto daquela cidade, e o dizer o quanto eu o amo.

(...)

JUNGKOOK'S POINT OF VIEW

- Demorei? - Pergunto à Yugyeom, com a respiração um pouco ofegante pelo fato de ter vindo o mais rápido que pude.

- Um pouco. Mas tudo bem, porque eu já comprei o seu. - O azulado entrega a casquinha de chocolate para mim, cheia de granulados coloridos em formato de estrelas. Adorável, dava até pena de comer.

- Obrigado. - Digo pegando a sobremesa, não demorando a me deliciar com o gélido doce. 

Saímos da sorveteria em rumo ao parque que havia em frente, cheio de árvores, flores e uma grama verdinha. Nem parecia que estávamos em frente à uma avenida movimentada. Fomos mais para o meio do ambiente, nos sentando em um banco que havia em baixo de uma árvore e observando o céu nublado. O som dos passarinhos era reconfortante, me acalmava. 

- Você ficou sabendo? - Yugyeom inicia, virando sua face para mim.

- Do que? Isso é algo muito vago. - Arqueio uma de minhas sobrancelhas.

- Hoseok e Taehyung voltaram. - E mais uma vez, meu coração falha uma batida.

- Ah... - Suspiro pesadamente. Não conseguia pensar em uma resposta descente para dar ao garoto, então apenas tombei minha cabeça para trás, fechando os olhos. - Não vamos falar disso, ok?

- Achei que estivesse esperando pelo famoso Taehyung.

- Quem te contou isso?

- Yoongi.

- Será que ele não sabe ficar de bico fechado? - Mesmo de olhos fechados, franzo meu cenho. Aquele hyung fofoqueiro me paga.

- Tudo bem, mas... - Eu interrompo Yugyeom.

- Olha, Yug, por favor, não vamos falar disso, ok? Saímos para me fazer esquecer justamente disso, então por favor, não começa. Só. Esquece. - Lanço um olhar provavelmente assustador para o garoto, já que o mesmo rapidamente desviou o olhar para o sorvete rosa que tinha em mãos. 

- Tudo bem então... 

O silêncio se tornou presente, me deixando desconfortável mais uma vez. Não se pode contar nada para Yugyeom que ele fica batendo sempre na mesma tecla. Isso era extremamente irritante, e naquele momento em específico, estava sendo estressante também. Logo o azulado quebra o silêncio mais uma vez, dando uma ideia divertida.

- Ei, que tal irmos até à roda gigante? - Aquilo despertou meu interesse, me fazendo ficar alerta na mesma hora.

- Vamos! - Digo sem nem ao menos pensar, já abrindo um sorriso um tanto quanto infantil em meu rosto.

Não muito longe dali haviam montado uma roda gigante que ficaria por alguns dias na cidade, e até então não tive oportunidade de ir na mesma, mesmo que tivesse vontade. Sempre que passava por ela à noite, suspirava. Cheia de luzes e uma fila enorme de pessoas. Só espero não termos que enfrentar uma grande fila.

(...)

Compramos os tickets e já aguardávamos nossa vez na fila chegar. Eu não conseguia parar quieto. Meu corpo se movia por vontade própria, me fazendo dar pulinhos parado no mesmo lugar. E com Yugyeom não era diferente. Mas logo meu celular começa a vibrar no bolso traseiro de minha calça, e eu o pego, vendo que se tratava de uma ligação de Yoongi. Eu apenas desliguei, não queria ouvir algo sobre Taehyung, porém o aparelho insistia em tocar várias e várias vezes. E por incrível que pareça, não era só Yoongi que estava me ligando, e sim Jimin, Hoseok e até mesmo Jin e Namjoon.

Incomodado, desliguei meu celular, ficando com uma cara emburrada. Porém logo ela fora substituída por um sorriso ao chegar nossa vez de entrar em uma das cabines do enorme brinquedo.

- Finalmente! - Yugyeom diz, sentando-se no banco em minha frente.

- Isso vai ser incrível! Devíamos vir de novo à noite. - Sugiro olhando para fora, observando em como estávamos ficando alto.

- Com certeza! 

(...)

* NO CELULAR * 

Nova mensagem de Appa Nam

Appa Nam : Jungkook, pelo amor de Deus, atende o celular! Precisamos falar com você!

Nova mensagem de Omma Jin

Omma Jin : JUNGKOOK! ATENDE O CELULAR, É URGENTE! 

Omma Jin : POR FAVOR.

Nova mensagem de Hobi

Hobi : Jungkook, preciso falar com você

Hobi : Me liga assim que der, é urgente.

Nova mensagem de Jiminie

Jiminie : Jungkook, atende esse celular!

Jiminie : Nós precisamos de você, Jungkook!

Jiminie : Precisamos falar com você! Não te encheríamos tanto se não fosse importante

Jiminie : Não podemos falar por mensagem, mas você precisa ligar pra gente!

Nova mensagem de Suga

Suga : JUNGKOOK, PARA DE SER BABACA

Suga : ATENDE ESSA PORRA DESSE CELULAR

Suga : VOCÊ ACHA QUE EU PERDERIA MEU TEMPO TE LIGANDO PRA FICAR DE PAPO FURADO?

Suga : SE TOCA, SEU DESGRAÇADO

Suga : LIGA PRA GENTE, AGORA.

Suga : SE NÃO QUEM VAI FICAR SEM NAMORADINHO VAI SER VOCÊ.

Suga : E eu não tô brincando.

Suga : Você não tá recebendo as mensagens... Deve ter desligado o celular, não é?

Suga : Eu sinto muito por você.

(...)

O dia que passara com Yugyeom hoje fora maravilhoso. Ao sairmos do brinquedo, passamos em um shopping, compramos besteiras para comermos e nos entupimos de açúcar na casa do azulado enquanto assistíamos filmes de diversos gêneros. Fora uma boa distração para meus problemas. Yugyeom era um ótimo amigo. 

- Eu já vou, está ficando tarde. - Digo com um sorriso pequeno no rosto, afagando a cabeça do mais novo, que não era tão mais novo assim.

- Ah, espera, eu preciso te dar uma coisa antes. - O garoto se virou para ir até seu quarto, porém seu celular começa a tocar em cima do sofá. O nome "Yoongi" brilhava na tela do aparelho. - Só um minuto. - O mais novo pega o celular, atendendo a ligação.

- Alô? Hyung?

...

- O que foi?

...

- Jungkook? Ele tá aqui sim. Por que?

...

Pavor.

Era essa a expressão que estava estampada na face do azulado.

- Jungkook... É pra você... - O garoto me passa o celular. Suas mãos tremiam. 

Eu pego o aparelho um pouco aflito, logo o levando até minha orelha e respirando fundo. 

- Alô?

- JUNGKOOK! EU VOU MATAR VOCÊ! AONDE VOCÊ ENFIOU ESSE CELULAR?! NO CU? PORRA! - Yoongi começa com um tom de desespero em sua voz.

- O que foi? - Reviro os olhos.

- É o Taehyung. Ele sofreu um acidente, foi atropelado. Ele tá no hospital mas... O estado dele é crítico. Ele precisa ser operado...

Silêncio.

O silêncio se fez presente à medida que uma onda fria subia pelo meu corpo. 

Eu só pude pegar o endereço do hospital e sair correndo em disparada ao mesmo. 

Minha respiração estava ofegante, meu corpo tremia, e a rua escura e vazia não me ajudava muito. 

Enquanto eu corria como jamais corri em toda minha vida, somente uma coisa se passava em minha mente : 

Eu pensava que ele era inabalável.