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História Stockholm Syndrome - Terceiro Dia


Escrita por: 1llusion

Capítulo 2 - Terceiro Dia


Estava escuro e frio, eu ainda estava chorando querendo que aquilo acabasse. Rezava para que tudo fosse apenas um terrível pesadelo, queria acordar ao lado de Hanbin e não voltar nunca mais para aquele escritório. Suspirei baixo encolhendo meu corpo naquele colchão, era uma das únicas coisas naquele lugar frio, algumas vezes olhei para aquela pequena janela tentando descobrir se era de dia ou de noite, mas o vidro era mais escuro e não me ajudava em nada. Sabia que jamais passaria por aquela janela, isso só me fazia chorar ainda mais, meu coração apertava toda vez que escutava os passos no andar de cima, quanto tempo ele me manteria ali afinal? Queria que meu pai me tirasse dali, que ligasse e resolvesse tudo aquilo. Estava com medo, temia por minha vida e por o que aquele homem poderia fazer, ele me levou para um bar e havia me raptado, seria melhor não duvidar de pessoas assim. Não queria mais estar no escuro, tinha medo de lugares assim desde que eu era criança, era um dos piores pavores que eu tinha em meu próprio ser. Eu estava com fome, cede, queria pelo menos um gole de água. Mas não queria ele perto de mim, me olhando com aquele jeito superior e falando que eu não tinha mais direito á nada, que tinha que obedecê-lo. Por que eu tive que ir á aquele maldito bar? Eu era tão burra assim? Meus olhos deveriam estar inchados de tanto chorar, meus pulsos estavam doendo por todo ele os havia amarrado e eu estava passando mal pela droga que havia me dado, olhei para o canto em que havia aquele fraca luz, a câmera que provavelmente ele me vigiava ou me filmava. Talvez para sua própria diversão ou para mandar para meu pai, chorei mais uma vez arrastando meu corpo até mais perto, eu não sabia quanto tempo eu estava ali, mas tinha certeza que não foram apenas algumas horas. Eu sei que consegui escutar os passos dele no andar de cima, o som da televisão, eu o desprezava e queria que morresse, queria pegar aquela arma e atirar em sua testa. Estava me odiando por desconfiar que estava ali há um, dois dias. Sem nada, no frio, sem nada para comer ou para beber. Droga, eu não queria morrer ali e abaixei a cabeça querendo gritar mais uma vez, mas não. Meu corpo tremeu como se falasse “ele pode me matar se eu gritar”. Eu queria voltar para meu noivo e me manter viva até lá. Escutei o som da porta depois de muito tempo e encolhi meu corpo mais uma vez sem querer olhar, escutei os passos calmos, a luz se acendeu e tive que fechar meus olhos, ver a luz após tanto tempo foi incomodo para minha visão, queria me arrastar de volta para meu colchão, mas não consegui me mexer. Mesmo assim senti a mão em meus cabelos em um puxão lento fazendo com que eu o olhasse, não estava com arma dessa vez, mas se quisesse me matar poderia fazê-lo facilmente.

- Três dias. Quem diria? Parece que seu orgulho é ainda maior do que sua burrice – ele falava mostrando a garrafa de água que segurava na outra mão – Quer? Água gelada. Não está com cede?

- Não me encoste. – falei mesmo que sentisse fraqueza, ele ria do jeito que eu falava e me soltava tomando longos goles da garrafa fazendo algumas gotas da água cair por seus lábios e descessem por seu pescoço.

- Voltarei daqui três dias para ver se desiste dessa teimosia. Só preciso que seu pai pense que está viva de qualquer forma – ele falava ao se levantar e andar até a escada, olhei para ele sabendo que meu corpo ficaria fraco se ele demorasse mesmo mais três dias para me dar água, eu não aguentaria esse tempo todo. Meu corpo doía e me sentia doente, da pior forma imaginada. Comecei a chorar novamente querendo pelo menos um gole.

- Água, por favor...! – falei me arrastando pelo chão – Não apaga luz, já está me mantendo miserável aqui, deixe a luz acesa! – eu sabia que ele conseguia escutar mesmo que minha voz estivesse fraca e rouca, eu sabia que ele estava satisfeito de me ver daquela forma. Mesmo assim ele apenas subia os degraus da escada se aproximando do interruptor para apagar a luz. Eu estava desesperada, pensei nas ridículas poucas coisas que eu sabia sobre ele, raramente falava com ele, mas me lembrei vagamente de uma festa de natal da editora. Aquelas festas ridículas em que eu sempre ia sozinha por que Hanbin estava passando o natal com a família, Ji-won falava ás vezes com algumas pessoas. Chanwoo. Sim, ele falou com ele na última festa, o olhei me arrastando um pouco até perto da escada ainda sentindo as lágrimas caírem por meu rosto – Bobby, não é? Chanwoo te chamou assim na última festa de natal, gosta que te chamem desse jeito? Por favor, eu não vou aguentar mais três dias, me deixa beber água...! – falei me odiando como se estivesse desistindo de mim mesma, mas aquilo pareceu funcionar, por que ele havia parado de andar e me olhava com aquele sorriso de lado, descendo as escadas mais uma vez se sentando nos degraus ficando á minha frente.

- Levante a cabeça.

Queria ter forças para sair dali e bater nele, humilhá-lo como estava fazendo comigo, mas eu não podia fazer nada. Levantei a cabeça, tudo em mim acabava tremendo de medo só de olhar para ele. Segurava meu rosto fazendo com que eu abrisse a boca e inclinava a garrafa deixando que a água fosse á minha boca, a água estava realmente gelada. Mas foi por pouco tempo, logo ele largava meu rosto e afastava a garrafa de mim, abaixei a cabeça contorcendo meu corpo, eu estava ficando pior. Tossi com vontade de vomitar, mas estava me forçando a não fazer isso. Por que ele não me deixa sozinha? Já era humilhante como eu estava, já basta, deixar alguém me ver vomitando era ainda pior. Tossi mais uma vez sentindo todo meu corpo tremer e ele ainda me olhar largando a garrafa em um dos degraus. No segundo dia em que eu havia ficado trancada havia chovido, devia ter alguma abertura naquelas paredes por que a água havia entrado a ponto de molhar meu colchão, não seria difícil que eu adoecesse ali. Três dias sem comer ou beber, com frio e molhada pela água da chuva. Ele havia me levantado me carregando em seus braços. “Não, me deixa ali, não me toque” pensei, não podia ser verdade que ele queria me ver passando mal, que tipo de pessoa doente ele era? Estava fraca demais para me debater, minha visão estava turva, mas pude ver o longo corredor em que ele estava andando ao sair do porão, tudo ali era pouco iluminado, mas era possível ver a sala bagunçada, os livros espalhados e alguns quadros tampados por panos brancos, para onde ele estava me levando? Havia outra cela para mim? Ele havia entrado no banheiro, acho que era o lugar com mais iluminação ali, me colocava na banheira que estava cheia, a água estava quente. Senti as mãos em mim tirando a corda de meus pulsos, pude ver as marcas em minha pele, estava doendo muito, encolhi meus ombros sentindo a mão dele em minha testa.

- Três dias e fica com febre? Pelo menos parou de gritar, tive que dormir dois dias com fones de ouvido rezando para que perdesse a voz de uma vez. – ele falava de um jeito calmo, levando as mãos á camisa que eu estava vestindo desde que havia acordado naquele maldito porão, o olhei assustada e o empurrei sem querer  que me tocasse.

- Não me toque! O que está fazendo?! – falei me encolhendo na banheira tentando me afastar dele, mas Ji-won me segurava rapidamente sem ligar para como eu tentava lutar contra ele, então tirando a camisa que era a única roupa de meu corpo, me virei de costas assustada e abaixei a cabeça – Não olhe para mim. – falei em voz baixa já esperando que ele ficasse bravo, que batesse em mim ou que me jogasse em algum lugar ainda pior que o porão, mas apenas senti passar a água em meus cabelos.

- Só sabe falar “não”? Que coisa mais irritante. E não é como se eu não tivesse te tocado, eu que tirei suas roupas. – ele falava passando o sabão em minhas costas, eu queria implorar para que me deixasse ir embora, mas eu já sabia a resposta que me daria.

- Deixe-me ir, por favor... – falei com a voz baixa – Eu prometo não falar nada para ninguém e...

- Não vai sair daqui. E sem perguntas, desde o dia em que acordou naquele porão a regra aqui é que obedeça tudo o que eu mandar, se não fizer isso vai voltar para o porão. Sem água, sem comida.

Sempre aquela resposta. É assim que seria meu tempo como refém dele? Abaixei a cabeça sabendo que eu só pioraria se voltasse para o porão, senti suas mãos passarem a esponja por meu corpo enquanto eu continuava de costas para ele. Tinha saudade de meu banheiro, minha casa. Olhei a janela, havia alguns potes de sais de banho ali, talvez ele estivesse indo tomar banho antes de resolver ir até minha cela escura e úmida. Franzi o cenho ao olhar as marcas em meus pulsos, a corda estava amarrada forte, mais do que eu imaginava. Queria perguntar o que eu podia falar, o que eu tinha que fazer para poder comer ou até quando eu ficaria com o corpo estranho como estava. Mas não, era a regra. Eu não podia fazer perguntas, fiquei em silêncio até que ele levantasse e me levantasse, virei o rosto com uma expressão fechada, ainda tentando tampar meu corpo da visão dele. Tentei prestar atenção em tudo o que poderia me levar á uma rota de fuga daquele inferno, havia muitos livros espalhados pela sala, uma cumprida mesa baixa de madeira escura, sobre ela havia um cinzeiro com um cigarro ainda aceso. Odiava o cheiro de cigarro. Olhei em volta vendo que ele seguia por outro corredor entrando em um quarto, me deitando na cama, o quarto era todo branco, exceto pelo chão de madeira, a janela havia grades grossas, não havia muitos moveis ali, só a cama, um armário também branco e uma televisão que passava as câmeras de vigilância da casa. Uma delas, claro que era a do porão. Ele realmente me vigiava. Ji-won ia até o armário pegando uma camisa que parecia mais quente e jogava ao meu lado me olhando como se esperasse por mais uma de minhas perguntas, olhei para a mesinha ao lado da cama vendo havia uma garrafa de água e um prato quente de sopa. Talvez ele já tivesse em mente que eu ficaria doente e me tiraria do porão. Sentei na cama com dificuldade por sentir meu corpo ainda fraco e peguei a camisa vestindo a mesma lentamente, ainda sentia o olhar dele em mim e isso fazia meu medo aumentar cada vez mais, me virei e o vi me olhando com um sorriso de lado, caminhando até a bandeja sobre a mesinha pegando a mesma ao sentar ao meu lado.

- A sopa vai te ajudar a melhorar – ele falava ao pegar um pouco da sopa com a colher, mas eu o olhava com desprezo – Não quer melhorar? Eu acabei de te dar um banho quente e fiz uma sopa para você, deveria no mínimo agradecer.

- Você é um psicopata. Quem garante que não esteja envenenada ou com a droga que colocou em minha bebida naquele bar?

Ele riu mais uma vez e levou a colher aos próprios lábios tomando da sopa ainda sem tirar os olhos de mim. Logo pegando mais da sopa e levando á minha boca, se eu não tomasse aquela maldita sopa nem saberia quando que teria uma refeição. Ele estava calmo, mas poderia de uma hora para outra simplesmente perder a paciência, me odiei mais uma vez tomando da sopa que me dava. Estava quente e algumas vezes ele mesmo soprava de leve a sopa antes de me dar. Eu estava um pouco melhor, ainda assim eu o olhava com ódio o observando colocar a bandeja sobre a mesinha e se levantar me puxando inesperadamente abrindo o armário mais uma vez tirando uma corda de uma das gavetas, amarrando mais uma vez meus pulsos com força, me jogando na cama, levando as mãos para debaixo da camisa que eu havia vestido, tentei chutá-lo, mas ele era mais forte do que eu e tirava minha calcinha quase a arrancando de meu corpo. O olhei já com os olhos cheios de lágrimas e ele riu então se afastando da cama indo até a porta.

- A propósito, não tem como escapar daqui. Se tentar, eu vou ir atrás de você, te arrastar de volta e aí você terá medo de mim, Jihye – ele falava ainda com um grande sorriso nos lábios – Outra coisa é que fica melhor vestindo minhas camisas, vou devolver as suas roupas quando a negociação com o seu pai for completada. Isso se eu te devolver viva. – ele ria mais uma vez andando até a porta saindo do quarto, levantei da cama indo atrás dele com raiva.

- Ji-won, eu quero falar com meu pai, deixe-me ligar para ele! – falei alto, mas ele ainda me ignorava seguindo para a com passos lentos, assobiando uma música tão irritante quanto o jeito que ele falava, estava á uma distância de mim uma vez que eu estava andando com passos curtos, a camisa que eu havia vestido ia até metade de minhas coxas, era desconfortável andar sem calcinha e ainda sem poder soltar minhas mãos, choraminguei baixo parando de andar vendo que ele estava me ignorando novamente – Bobby! Por favor, me deixa ir embora! – gritei mais uma vez o seguindo até a sala, o vendo largar minha calcinha em uma das poltronas, me puxando fazendo com que eu deitasse no sofá ficando sobre mim, senti seus lábios nos meus sem poder me defender, sua língua havia invadido minha boca, ele estava entre minhas pernas e eu não conseguia afastá-lo. Aquele beijo tinha um leve gosto de cigarro e era intenso, estava com mais medo de que ele arrancasse a camisa que eu estava vestindo, meu coração apertou em desespero e mordi com força seu lábio a ponto de fazer o mesmo sangrar, finalmente se afastando levando a mão ao lábio que sangrava, chutei seu corpo o afastando e saí do sofá sentindo minhas pernas tremerem, minha respiração estava ofegante, nunca ninguém havia me beijado daquela forma. Muito menos Hanbin – Nunca mais faça isso.

- Isso dói, sabia? – ele falava ainda com os dedos no lábio inferior que sangrava por como eu havia mordido, então se levantava me olhando seriamente – Você não me dá ordens, é minha refém. Tem que se lembrar disso, nesse momento não é mais a noiva de Hanbin, muito menos é você mesma, é o que eu disser que é. E com esse comportamento, melhor que volte para o porão, quando aprender a se comportar, poderá ficar naquele quarto, com uma cama decente.

- Não... Lá é frio, por favor, hoje não – tentei falar dando passos para trás vendo como estava sério – Desculpa, Bobby. – falei recuando ainda mais ficando no corredor, mas ele me segurava pelo braço me forçando a andar até a porta que levava ao porão, eu tentava mais do que tudo me manter naquele corredor, me sentando no chão chorando mais uma vez – Eu vou me comportar! Juro que vou fazer o que quiser, mas não me obrigue a ficar naquele lugar escuro...! – abaixei a cabeça sem perceber que ele havia me soltado, senti o toque de sua mão em meus cabelos ainda molhados, era um toque gentil e delicado, como se estivesse fazendo carinho em minha cabeça, o olhei sem entender achando que talvez estivesse me dando uma segunda chance, se eu não o agradasse certamente voltaria a ser trancada naquele porão. Ji-won se abaixava ainda com a mão em meus cabelos, tirando algumas mechas de meu rosto, logo acariciando meu rosto lentamente.

-Ainda está com febre, é melhor ir para o quarto e se deitar. Precisa ficar em repouso se quiser melhorar. Ainda está fraca demais. – sua voz estava calma mesmo que ainda parecesse com raiva de eu tê-lo machucado há minutos atrás – Vai ficar lá enquanto se mantenha obediente. Vou fazer algo para que coma. – se levantava voltando a acariciar meus cabelos – Sei que sempre levavam chá em seu escritório, mas você gosta de café forte, as únicas vezes em que seu noivo lhe visitou lá te levou uma rosa branca. Você odiou isso, por que flores te lembram enterros. Não gosta de flores, mas finge que as amou ganhar por que queria vê-lo feliz. Outro presente que ele te deu foi um colar, outro que odiou. Não gosta de acessórios caros, preferia muito mais chocolate branco. É o único que gosta, mas parou de comer por que seu pai disse que você poderia engordar – ele falava dando um leve sorriso – Sei que ninguém nunca pergunta do que gosta, mas sei de como gosta de seu café, de como gosta de ver as pessoas nas festas de natal felizes quando ganham algum presente bom. Sempre ganha de seu pai roupas sociais.

Ele estava certo sobre tudo, sabia do que eu gostava, do que eu odiava, tudo. Encolhi os ombros me perguntando como que ele havia descoberto tanto, como podia saber tudo sobre uma pessoa que simplesmente só o cumprimentava?

- Como pode saber de tantas coisas...? Eu mal falava com você.

- Eu te observei por muito tempo, Jihye. Não tinha como esconder algo de mim, eu descobriria uma hora ou outra, como sei que tem pavor de ficar sozinha e é esse o único motivo de estar noiva. – Ji-won falava com um sorriso de lado andando a caminho da sala ainda passando os dedos no lábio machucado, suspirei profundamente odiando saber que ele estava certo. Aprendi a gostar de Hanbin, mas eu só queria ter alguém me esperando em casa. Alguém que sorrisse a me ver e que me beijasse fazendo com que eu sentisse que eu não era tão sozinha. Como que Ji-won me observou por tanto tempo? Eu só o via no trabalho, então... Como era possível? Levantei e andei lentamente até chegar á porta da sala observando que ele estava sentado no sofá colocando os óculos ao abrir um livro, logo colocando um cigarro entre os lábios fazendo uma expressão de dor por causa do lábio machucado, eu ainda temia que tipo de pessoa ele era e permaneci no corredor, o olhando pelo canto da porta em silêncio. Ele era obcecado por mim ou só queria o dinheiro de meu pai?

- Por quanto tempo tem me observado? – perguntei com a voz trêmula.

Ele sorriu tragando do cigarro, ainda encarando o livro.

- Eu não te disse que não queria perguntas? Embora eu goste de escutar sua voz – falava batendo a ponta do cigarro no cinzeiro – Mas, se fizer algo por mim, respondo a pergunta. Vai fazer? – ele me olhava ainda com aquele sorriso nos lábios sabendo que eu tinha muitas perguntas e parecia querer se aproveitar disso. Eu tinha que seguir as regras dele e mantê-lo de bom humor, caso contrário nem sei o que poderia fazer, eu ainda estava afastada e franzi o cenho pensando em como contornar aquela proposta, algo que não permitisse que ele me tocasse.

- Organizo esse inferno de sala. É somente isso – falei sabendo que isso seria algo que eu faria por ele, queria que me desse alguma resposta – Responda a minha pergunta, por favor.

Ele ficou a me olhar rindo com o que eu havia dito.

- Não. Trate de meu machucado, é o mínimo que pode fazer já que é por sua culpa que estou com um lábio sangrando.

- Você me atacou.

- Foi apenas um beijo, queria saber como era. Apesar de ter me machucado, foi bom. – ele ria mais uma vez fechando o livro tragando o cigarro mais uma vez sem tirar os olhos de mim – Se cuidar de meu machucado, respondo a pergunta.

Encolhi meus ombros mais uma vez sabendo que não havia saídas.

- Tudo bem. Mas antes, responda a pergunta.

- Desde que te vi pela primeira vez, quando comecei a trabalhar na editora – voltava a abrir o livro falando calmamente – Você estava com os cabelos presos á uma trança, usava uma camisa social e uma saia preta colada no corpo. Você se apresentou á mim e mostrou a minha mesa e voltou a trabalhar, sua porta estava aberta, então pude ver como você lia coisas no computador mordendo de leve o lábio inferior, o que faz quando está irritada. Sei de tudo sobre você, até os mínimos gestos.

- Por que estou aqui...? Só pelo dinheiro de meu pai? – perguntei vendo que seu olhar havia voltado até mim.

- Cuide de meu machucado, agora.

Eu tinha que obedecer mesmo que quisesse procurar a arma que sempre estava com ele e atirar no meio de sua testa. Suspirei e caminhei até o banheiro abrindo o armário pegando o que eu achava que era necessário, nunca havia feito nada parecido. Devia me sentir a pior pessoa de todo o mundo ao ver que estava indo cuidar do ferimento do homem que havia me raptado. Voltei ao corredor indo para a sala vendo que ele ainda estava lendo o maldito livro, fechando o mesmo assim que me via, apagando o cigarro no cinzeiro enquanto eu me sentava ao seu lado, se inclinava um pouco para que eu começasse a cuidar do machucado. Ainda estava sangrando e isso me deixou feliz por tê-lo feito sentir dor. Eu o odiava por tudo o que estava fazendo, por ter me observado por tanto tempo e agora me manter como sua refém. Comecei a limpar a ferida e o sangue tentando me concentrar apenas no machucado. O que eu mais queria era machucá-lo mais. Ele fazia uma leve expressão de dor, mas ficava quieto até que eu cuidasse daquela ferida, passando de leve os dedos em minha bochecha até perto de minha boca, me afastei sem querer que se aproximasse mais, ele sabia que por meus pulsos continuarem amarrados eu demoraria a cuidar de seu machucado. Dei alguns passos para trás sentindo minhas mãos tremerem.

- Obrigado. E sei que está me odiando, mas eu não me importo com isso – pegava o livro mais uma vez abrindo o mesmo – Não é como se você pudesse escapar de mim, não pertence mais á Hanbin. É minha agora.

Eu te odeio. Eu quero você preso, com dor, quero te ver machucado e humilhado.

Nunca havia sentido tanto ódio na vida, corri até o quarto e me sentei na cama me perguntando se teria sido melhor ter deixado que me trancasse naquele porão escuro e frio. Mas não, eu simplesmente fui tomada pelo medo, implorando para que me deixasse ficar no quarto, que me comportaria bem. Suspirei profundamente olhando a televisão, as câmeras de vigilância. Havia na sala, cozinha, banheiro, porão. Por que eu tinha que ficar naquele quarto vendo que tudo ali era vigiado? Sabendo que todas as janelas tinham grades e sabendo que eu nunca escaparia? Olhei a imagem da câmera da sala, ele estava no sofá da sala, se deitava fazendo uma expressão de dor. Será que o quarto em que eu estava era o dele? Não, deve ter outro quarto naquela casa. Havia uma câmera que a imagem estava mais escura a ponto que eu não conseguisse ver muito além de uma cama. Voltei a olhar a câmera da sala vendo que Ji-won havia se levantado e então olhava diretamente para a câmera inclinando a cabeça para o lado com um sorriso, corri até um canto do quarto sentando no chão, abracei meus joelhos ainda olhando aquela câmera, ele sabia que eu estava olhando. Queria deixar claro que ele sabia de cada movimento meu, cada pensamento e até como eu estava respirando.



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