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História Stockholm Syndrome - Life is Fragile - Part II (Good Ending)


Escrita por: 1llusion

Notas do Autor


Eu iria postar os dois finais no mesmo dia, mas vai ser esse final hoje e talvez o outro final amanhã!
Muito obrigada pelos favoritos e comentários!

Capítulo 35 - Life is Fragile - Part II (Good Ending)


Parecia que meu tempo havia parado, o vento estava em meus cabelos e eu ainda sentia o cano da arma em minha cabeça, as lágrimas caíam por meu rosto. Eu estava com medo, apavorada de uma forma que eu nunca tinha ficado em toda a minha vida, olhei Hanbin que queria mais do que tudo que Ji-won mudasse de ideia, que me permitisse viver, mas isso parecia impossível, apenas um empurrão e eu cairia daquela ponte. Ji-won queria que ele sofresse, que pagasse por ter se envolvido com Haeri há tantos anos atrás.

- Ji-won, eu te imploro. Por tudo que é mais sagrado, eu juro fazer tudo o que quiser. Eu me mato se você quiser, mas pelo amor de deus, não faça isso com Jihye... Ela não tem culpa de nada – Hanbin falava com a voz trêmula, ficando de joelhos ainda nos olhando em completo desespero, os policiais voltavam a apontar as armas para Ji-won, mas ele sabia que não atirariam enquanto estivesse apontando uma arma para minha cabeça – Por favor, me perdoa por tudo o que fiz, mas não a faça pagar por isso... Ela já sofreu demais!

- Está vendo como a vida é frágil, Hanbin? Só um passo e eu mato a única pessoa que você tinha que proteger e falhou miseravelmente – Ji-won falava com um sorriso nos lábios – Como se sente ao ver que vou arrancar de você aquela que ama? Acho que deveriam estar bem felizes comigo preso, não é mesmo? Aposto que você aproveitou bastante e pensou que tud ficaria bem, que se casariam e se esquecessem de tudo o que fez? Aposto que já imaginou tudo, a cerimônia, a lua de mel escutando os gemidos dela e então vivesse uma vida calma? Você não merece nada depois que tocou Haeri, eu prometi á mim mesmo que te destruiria – ele ria me apertando com força em seus braços – Ela não é sua, é só mais uma pessoa que vai morrer e adivinha? A culpa será sua. Por ser um imprestável que não conseguiu salvar a própria noiva.

 - Por favor, meu assunto é com você. Quem você quer machucar não é Jihye, ela nunca teve culpa de nada Ji-won! Deixe que ela vá! – ele falava implorando mais uma vez, então ainda há uma distância de nós, ia na beirada da ponte sentindo o vento nos cabelos – Eu pulo, quer que eu faça isso? Por favor, só a deixe em paz. Já a machucou tanto, ela não é algo que você pode descontar sua raiva! Deixe Jihye ir! – sua voz estava trêmula e me olhava, eu estava em pânico e ele pode ver como eu estava machucada, como Ji-won tinha me socado no rosto – Ela é tudo pra mim, eu sou apenas um homem que errou muito, que ainda erra. Mas, ela sempre foi uma pessoa boa, não merece morrer por meus erros...

- Ah, Hanbin e Jihye. Que história linda, pena que isso é besteira. A ama o bastante para dar sua vida assim? Deveria saber que não quero você morto, se eu quisesse já teria te matado. Quero que sofra todos os dias, que olhe o túmulo dela e sinta a culpa crescer cada vez mais e mais. Vai Hanbin, olha nos olhos dela e fale o que quer que seja a última coisa que poderá falar para ela! – ele falava me apertando mais no braço – Vai, olha para ele!

Eu estava soluçando de tanto chorar e olhei Hanbin, não havia como escapar daquilo. Minha morte já estava assinada, eu morreria como Haeri. Cairia naquelas água e afundaria ao me debater, meu ar acabaria, meu corpo esfriaria e resgatariam meu corpo boiando ali. Frio, sem vida. Nunca mais abriria meus olhos e muito menos sorriria para ele. Eu nunca sorri muito em minha vida, havia muitas coisas que nunca fiz ou falei. A vida é frágil. Eu trabalhei em algo que eu odiava, nunca falei muitas coisas por que queria agradar ás outras pessoas, não era que eu não era aceita... Eu mesma não me aceitei por toda a vida. Nunca enfrentei meu pai ou até mesmo critiquei meu irmão perguntando por que ele nunca me defendeu, ambos estavam mortos agora. Minhas chances haviam acabado, eu estava morrendo aos poucos. Ao olhar nos olhos de Hanbin, o que eu poderia pensar? Era estranho, fiquei a pensar que quando Ji-won me jogasse daquela ponte eu sentiria falta das lembranças que eu normalmente nem gostava. O jeito que Hanbin era impaciente, como ele era muitas vezes até egoísta, ele tinha mudado muito agora. Era alguém que me procurou com todas as forças e que de fato estava tentando consertar tudo, era doloroso demais me despedir de alguém como ele. Continuei a chorar e o olhei forçando um leve sorriso.

- Desculpa... É minha culpa, eu nunca desconfiei de ninguém e agora estou assim – falei baixo com a voz trêmula – Eu te amo, Hanbin.

- Não quero que morra, eu...

Ji-won pressionava o cano da arma para minha cabeça mais uma vez, me empurrando para cada vez mais perto da queda. Eu sabia que morreria, mas estava com mais medo do que poderia vir a acontecer com Hanbin. Já chega, se minha morte servisse para algo, que fosse para libertá-lo de todo o inferno que vivia.

- É só isso que tem a dizer para Jihye? Isso não é nenhuma surpresa, nunca consegue fazer feliz as mulheres que toca. Não se preocupe, vai visitar o túmulo dela e se lembrar todos os dias que não conseguiu dizer nada que prestasse para a segunda mulher que ajudou a morrer – Ji-won falava com a voz ríspida então dando um beijo em meu rosto machucado, o olhando com um sorriso de lado – Será que se eu atirar nela bem no rosto terá que comprar um caixão fechado? Seria triste não poder ver o rosto dela, acho que merece isso.

- Ji-won, ela é a única coisa que eu tenho, sei que me odeia... Mas por favor...

- Se despeça dela.

Hanbin me olhava mais uma vez se vendo sem saída, estava chorando e eu não sabia o que escutaria de sua boca. Ele não precisava dizer nada, lembro-me que nunca foi muito bom com as palavras, mas não precisava disso. Ele era de um jeito único o Hanbin que eu amei por muito tempo, ele era carinhoso de um jeito discreto, cresceu achando que demonstrações de afeto eram vistas como uma fraqueza. Ele era bem rude antes, isso não era uma surpresa tão grande, éramos coreanos e a maioria era machista, mas ele cuidava de mim e me amava do jeito dele. Eu o amava apesar de seus erros, por esse motivo o olhei negando com a cabeça, já bastava daqui tudo.

- Você já fez tudo o que podia, Hanbin... Ame uma pessoa menos complicada, menos triste como eu fui. Não tenho tanto medo de morrer, tenho medo do que eu vou perder... De como vou perder meus dias acordando ao seu lado, te escutando reclamar de meu café – falei com a voz trêmula me sentindo ainda mais destruída como se eu já estivesse morrendo aos poucos, se despedaçando como se eu fosse feita de vidro e alguém tivesse me batido repetidas vezes. Hanbin me olhava nos olhos como se implorasse para que eu não dissesse aquelas coisas, que era um absurdo saber que eu não existiria mais – Dizem que precisamos abrir mão de algumas coisas para que novas possam acontecer, você não precisa chorar por mim... Talvez isso não seja um erro seu, talvez eu mesma seja um erro de alguma forma. Sempre fui ignorada, vivi pela sombra de meu irmão e agora meu fim é a sombra de Haeri... Não é como se eu fosse a única pessoa em sua vida, eu tive a chance de saber o que era ser amada graças á você. Hanbin... Eu vou morrer, não tem como mudar isso. Logo farei parte de suas lembranças e aos poucos você se esquecerá de mim... E você precisa, caso contrário meu sacrifício não foi bom o bastante. Isso tudo acaba aqui, não vai mais sofrer pelo passado, é bom que eu possa te libertar disso... Sinto que pelo menos em meu fim eu fui útil para alguma coisa. – falei dando um leve sorriso ainda sentindo o vento em meus cabelos, Hanbin odiava ter que escutar aquelas coisas, ele estava tão cansado, seus cabelos estavam desarrumados, tinha olheiras profundas que deixavam na cara quantas noites em claro havia passado. Ele precisava ter uma vida, precisava começar a viver sem se culpar por algo do passado. O jeito que eu falava acabou por irritar Ji-won, ele só ficava feliz quando eu parecia com medo, então me segurava pelos cabelos com força.

- Já chega disso, está na hora de você completar minha vingança. – Ji-won falava indo me empurrar para minha morte, Hanbin olhava em desespero, fechei meus olhos sabendo que estava tudo acabado, mas senti algo me puxar. Hanbin havia me puxado pelo braço me empurrando para longe da beirada da ponte, caí batendo a cabeça, estava com dor e mesmo assim olhei assustada. Não, o que ele estava fazendo? Ele havia me empurrado para longe de minha queda e avançara em Ji-won que o batia com o revolver – O que pensa que está fazendo?! – Ji-won gritou atirando em Hanbin, ele conseguiu ser rápido para que o tiro fosse no ombro direito, caindo no chão gritando de dor, Ji-won me puxava pelos cabelos me arrastando até a beirada da ponte mesmo que um dos policiais tivesse atirado em seu braço – Anda Jihye! – ele falava me arrastando, eu chorava e tentava me soltar, mas era impossível.

- Não, me solta! – gritei de dor ao senti-lo me puxar com mais força, me arrastando para a beirada da ponte, iria me jogar de lá de qualquer forma. Hanbin ainda estava no chão e se levantava com dificuldade.

- Não encoste nela, seu desgraçado! – ele gritava, Ji-won apontava a arma para ele mais uma vez mirando em seu rosto, conseguindo me levantar e me manter perto de si, me abraçando com força com um dos braços, uma vez que o outro estava machucado, estava dando passos para trás com um sorriso de lado, sabendo que Hanbin estava machucado, por provocação dera um beijo em meu pescoço, olhando Hanbin sadicamente – Eu vou cair com Jihye, nós dois morreremos juntos.

- Isso é loucura! – gritei, mas ele me apertou com o braço.

- Quieta, quer que eu te espanque novamente?! Quer que eu desfigure seu rosto?! – ele gritava comigo fazendo com que eu tremesse, escutei um som alto que me assustou, não foi um tiro em Hanbin, mas em Ji-won. Os policiais corriam até nós atirando nele, foi um tiro certeiro bem na cabeça, o bastante para que o sangue fosse em mim, seu braço ainda estava em volta de mim e caía para trás me levando com ele, eu ai morrer junto com ele. Fechei meus olhos esperando que a queda machucasse o corpo e que a água me consumisse, mas abri os olhos vendo que Hanbin havia corrido á tempo e segurado a corda que amarrava minhas mãos, era apenas isso que impedia que eu tivesse caído. O corpo de Ji-won já havia caído nas águas profundas e geladas, mas eu ainda estava ali, á um momento de ter o mesmo destino.

- Eu não vou te deixar cair! – ele gritava segurando com força a corda amarrada em meus pulsos, ele queria me puxar, queria mais do que tudo me trazer de volta para si, mas seu ombro estava ferido, não tinha tanta força em um dos braços, pude sentir suas lágrimas caírem em meu rosto como se, por um momento, aquilo fosse uma conexão triste. Seu ombro estava tão ferido, estava sangrando e ele gritava de dor e de frustração.

- Está machucado, não vai conseguir me puxar... – falei com a voz trêmula, suas mãos estavam escorregando aos poucos, o que me fez chorar ainda mais – Hanbin, me desculpa...!

Falei sentindo suas mãos escorregarem, mas os policiais corriam até ele, tentando me puxar como conseguiam, aos poucos conseguindo me puxar, me segurando pela mão e pelos braços até que eu voltasse á ponte, minhas pernas estavam tremendo e Hanbin me abraçava com força chorando desesperadamente.

- Jihye! Tudo acabou agora, eu te amo, eu prometo que nada mais irá acontecer com você! – ele falava alto chorando sem parar, levando as mãos ao meu rosto vendo como eu estava machucada – Acabou, ele não vai mais te machucar, te bater... Está tudo bem! – ele falava então gemendo de dor ao colocar a mão no ombro, eu ainda tremia e olhava em volta vendo a multidão, os policiais, a mídia, a ambulância que chegava. Hanbin estava tonto de tanta dor e caía no chão ainda gemendo de dor, olhei seu ombro e em seguida para seu rosto.

- Ele atirou em você, Hanbin... Sabe como aquilo foi arriscado? – perguntei e, mesmo que ele sentisse dor, sorriu para mim.

- Você não abrir mais os olhos é algo inaceitável, eu aguentaria quantos tiros fossem necessários. – falava levando a mão ao meu rosto, acariciando com a ponta dos dedos, deslizando a mão até minha nuca, me puxando para perto até que seus lábios tocassem os meus em um beijo lento, suave. Quando separou seus lábios dos meus, sorriu novamente ainda com lágrimas nos olhos – Você nunca foi um erro, se fosse realmente, seria um que eu cometeria diversas vezes.

A ambulância chegava, o colocando na maca e o levando para a ambulância, segui os enfermeiros e entrei uma vez que Hanbin não largava minha mão de forma alguma. Tudo ali estava tão bagunçado, os repórteres tentando falar comigo, perguntando coisas que eu não queria responder. Eu quase havia morrido, mas Hanbin me salvou. Ji-won estava morto agora, havia levado um tiro na cabeça. Tudo era surreal como se a qualquer momento eu acreditasse que do nada eu poderia ser machucada mais uma vez, tudo o que se passava por minha cabeça era todo o sangue derramado, como eu quase havia morrido, todas as vezes em que fui estuprada e manipulada a pensar que estava tudo bem. Minha mão tremeu e me senti em pânico, o que eu poderia fazer? O que eu devia pensar? Os enfermeiros começavam a ver o ferimento de Hanbin dentro da ambulância, ele estava gemendo de dor e me olhava entrelaçando seus dedos nos meus como se soubesse no que eu estava pensando.

- Preste atenção em mim – ele falava – Não pensa nele, não precisa mais... – ele falava um tanto tonto pela anestesia, tentava manter os olhos abertos mais do que tudo. Os enfermeiros falavam comigo uma hora ou outra, desamarrando a corda de minhas mãos, acariciei melhor a mão de Hanbin ainda me sentindo trêmula. Se eu prestasse atenção nele, tudo estaria bem. Poderia fingir que só existia nós dois agora. Ele era a única coisa que eu tinha nesse momento, minha família havia sido assassinada e eu tinha uma irmã morta. Quando o vi fechar os olhos, mesmo que eu ainda sentisse a dor de meus hematomas e o sangue de Ji-won em meus cabelos e ombros, tive o estranhamento da liberdade. Como se Ji-won não houvesse morrido de fato. Eu não parava de ter medo que tudo poderia se repetir várias vezes. Mesmo que meus machucados tivessem sido tratados no hospital e os médicos tivessem permitido que eu ficasse no quarto com Hanbin, o que eu podia pensar? Era como se a condição de refém ainda estivesse em minha pele. Eu estava nervosa, muito para ser mais direta. Meu coração estava pesado e eu sabia que minhas marcas jamais sumiriam, teria várias noites em claro com medo de qualquer barulho estranho. Eu não sabia como que a história de meu sequestro teria sido contada, se as pessoas me achariam insana por eu ter achado que amava meu sequestrador, mas depois que passei um tempo no hospital para que Hanbin fosse tratado logo percebi que a repercussão foi grande, mais do que eu havia pensado. Falavam sobre o meu desaparecimento e como que eu poderia ter sido levada tão de repente, tudo isso só me lembrava de que eu não tinha mais meu irmão ou meu pai. Foi intenso pensar nisso durante muito tempo, me sentia em pânico como se nada bastasse, como se nada fizesse sentido. Muitos não compreenderiam como tudo foi traumático, um grande pesadelo que parecia que nunca acabaria. Ji-won estava morto, eu vi nos noticiários e por um dia, eu fui até seu túmulo para ter certeza de que estava ali. Queria ter toda a certeza que eu não seria machucada novamente, ainda tinha as marcas de como me amarrava, também tinha a marca do tiro que havia me dado na perna. Era como se as marcas jamais pudessem fazer com que eu me esquecesse de tudo o que fez, eu teria pesadelos todas as noites por conta das lembranças que jamais sairiam de minha mente.

Por causa disso, eu nunca havia falado com ninguém sobre o que me aconteceu e isso foi por muito tempo, Hanbin conseguiu falar, dizer que tudo foi um real pesadelo. Devia dizer que precisamos ser fortes, mas há certas coisas que o tempo não apaga. Mesmo sabendo que o túmulo de Ji-won estava ali, naquele cemitério, eu ainda tremia todas as noites temendo que ele voltasse, que me prendesse em um porão. Nada me livraria da sensação de pavor, de medo por minha vida. De como ele queria que eu morresse para punir Hanbin. Eu o contei depois sobre o que eu sabia, que Haeri era minha irmã e que ela não ia se matar, mas o fez para fugir de Ji-won. Eu realmente havia pensado que, se eu morresse e seguisse o plano detestável e cruel de Ji-won, talvez assim o sofrimento de Hanbin acabasse. Estar á um passo da morte é algo terrível, você pensa nas coisas que irá perder, nas coisas que nunca deu valor e de repente está ali, pensando se sua morte irá libertar a dor de alguém.

Depois de um tempo, Hanbin fez o que havia prometido, me levou para outra cidade, uma mais calma na tentativa que eu melhorasse e parasse de ver as pessoas me chamando de “a garota desaparecida”. A casa era como eu imaginava, pintada de branco, havia um jardim e ali era silencioso o bastante pra que eu pudesse me acalmar aos poucos, sentindo a brisa da tarde. E pela primeira vez, depois de três anos, eu finalmente aceitei falar sobre o assunto do tempo que eu tinha sido refém. Eu estava sentada no sofá, meus cabelos estavam cumpridos mais uma vez, os deixei crescer por que cabelos curtos me lembravam de que era como Ji-won gostava e isso ainda me dava calafrios, minhas mãos tremiam ainda, sempre que eu pensava no assunto era um tanto aterrorizante. Olhei para frente vendo que estava ali o psicólogo, o nome dele era Jung Seoki desde que comecei a morar ali recebia acompanhamento psicológico por razões óbvias.

- Senhorita Jihye, tenho algumas perguntas, poucas para que não se estresse demais, consegue responder? – ele perguntava, concordei com a cabeça ainda em silêncio, encarando as marcas em meus pulsos, de como eu fui amarrada com força por muito tempo – Pode me dizer que dia que foi sequestrada?

- Dia 11 de Outubro... Também foi o dia em que ele morreu, ambos o aniversário de minha irmã Haeri – falei baixo ainda olhando as marcas em meus pulsos.

- Podemos falar sobre como adquiriu Síndrome de Estocolmo? – ele perguntava calmamente com um leve sorriso – Se quiser, podemos falar sobre outra coisa. – Já haviam se passado três anos, mas tudo parecia recente o bastante para que eu olhasse em volta querendo me lembrar se havia trancado o bastante as janelas e portas. Seoki me olhava mais uma vez vendo que eu estava olhando a porta mais uma vez – Jihye, aqui é um lugar seguro, ele não vai voltar.

- Como você define Síndrome de Estocolmo...? – perguntei ainda olhando a porta sentindo minhas mãos tremerem mais uma vez.

- É definido por uma pessoa que ao passar um grande período de tempo em intimidação, passa a nutrir simpatia ou até mesmo amor pelo agressor – ele explicava anotando algumas coisas em seu bloco de notas. Respirei profundamente pensando em como eu pude ter defendido Ji-won, era estranho por que eu ainda me sentia doente, sei que eu amava Hanbin, mas pensar que eu de alguma forma doente fui capaz de falar que Ji-won não tinha me feito mal sendo que me manipulou a ponto que eu visse como aceitável que ele me estuprasse várias e várias vezes, era de fato uma doença. Era como se mesmo com ele morto, ainda sentisse que tinha que seguir suas regras, falar o que ele gostava de escutar. Passei os dedos na marca das cordas em meu pulso e suspirei baixo com vontade de chorar mais uma vez.

- É como se tivesse pego um animal, batido nele a ponto que sangrasse e em seguida acariciar sua cabeça, dando comida á ele. Esperar que ele veja aquele que o bate como seu dono, não podendo fazer nada... – falei com a voz trêmula me odiando por me lembrar de tudo aquilo – Isso nunca vai ser esquecido, é como uma cicatriz que sempre vai ficar á mostra me lembrando do que me aconteceu...

- Tem conseguido dormir? Lembro que da última vez que conversamos, você reclamou da insônia.

- Tenho medo de dormir e acordar em um porão mais uma vez, preciso de ter pelo menos uma luz fraca no quarto e que a luz do corredor esteja acesa – falei me encolhendo um pouco no sofá, encarando a janela – Esse medo vai parar algum dia?

- Vai melhorar aos poucos, é apenas se lembrar de quando começamos a conversar. No primeiro ano seus ataques de pânico estavam bem frequentes, eles diminuíram bastante desde então – falava olhando para o relógio da sala, se levantando ao guardar o bloco de notas na maleta, sorrindo gentilmente – Nosso horário acabou, seu marido deve chegar logo, não é? Na próxima consulta podemos falar um pouco sobre como está sendo a vida de vocês dois aqui, logo as coisas serão melhores, não é? Um dia de cada vez.

- Acho que sim, aqui é calmo e ter Hanbin ao meu lado me faz esquecer por um instante dos meus pensamentos ruins – falei ao me levantar e acompanhá-lo até a porta, abrindo a mesma.

- Ainda não está conseguindo sair de casa?

Neguei com a cabeça, tinham sido vários traumas que eu tinha tudo por causa de Ji-won. Meu medo que ele não tivesse morrido e que pudesse ir atrás de mim fez com que eu tivesse crises de pânico frequentes e que não conseguisse sair da casa, agora o lado de fora era meu maior medo. Ironicamente eu fui presa em casas afastadas por dois anos e agora eu mesma me prendia naquela casa por medo do que me aconteceu se repetir.

- Ainda me causa um medo extremo ir para o lado de fora da casa. – falei dando um leve sorriso.

- Entendo. Bem, eu vou indo agora. Ah, mais sete meses segundo o que Hanbin tinha me dito, é mesmo verdade?

Concordei com a cabeça o vendo ir embora, fechei a porta trancando duas vezes, olhando a sala á minha volta e seguindo com meus passos até os quartos, eu estava melhorando aos poucos e isso era graças á Hanbin. Ele estava me ajudando pacientemente a me recuperar, a afastar as lembranças ruins. Andei até um dos quartos e acendi a luz, estava tudo pintado de azul claro e caminhei até o pequeno berço, eu estava no terceiro mês de gravidez e isso me preocupava um pouco. Tinha medo de acabar transferindo meus medos para uma criança inocente, olhei em volta e andei saindo do quarto pensando se eu seria uma boa mãe ou não. Prometi á mim mesma que não deixaria que aquele bebê sofresse como eu ou até mesmo como Haeri sofreu. Andei até um dos corredores vendo a porta do porão, dando um leve sorriso vendo as tábuas pregadas na porta impedindo que fosse aberta de qualquer forma. Hanbin havia feito isso, pregado várias tábuas na porta do porão e escrito nas mesmas “nunca mais”. Sempre eu olhava aquilo tentando pensar que eu podia me esforçar mais para afastar os pensamentos ruins, para enfim poder não esquecer, mas ver tudo o que aconteceu como algo que eu havia superado. Algum dia eu poderia pensar que eu saí viva daquilo por algum motivo e que, por isso, eu tinha que dar valor á minha vida. Passei a mão em minha barriga e pensei em Haeri, em como eu gostaria de tê-la conhecido, nunca fui uma pessoa que acreditava em muitas coisas, mas... Eu me perguntei se ela estava em algum lugar me dizendo que estava tudo bem. Andei até o quarto ao lado da porta do porão e abri o mesmo, era um quarto escuro em que usávamos para guardar algumas coisas, encarei aquela escuridão como se tivesse olhando para meus próprios medos. Eu tinha que encarar isso algum dia afinal, talvez eu me trancasse ali tentando pensar que a escuridão era apenas a escuridão, que não me machucaria, que não existia mais um porão que me trancasse. Antes mesmo que eu entrasse ali, escutei o som da porta e segui pelo corredor me lembrando do dia em que estávamos, o aniversário de morte de meu irmão. Eu sentia falta de Hyunki, muita mesmo. Sempre fazíamos um jantar em sua homenagem, andei até a cozinha vendo que Hanbin havia chegado com pizza. A predileta de Hyunki e olhei para o lado vendo o que havia se tornado meio que um irmão mais novo para mim, Hyu Sujong, o mesmo que foi feito de refém por Ji-won, que eu ajudei a escapar e que ajudou que a polícia me achasse.

- Vocês dois chegaram um pouco cedo, não é? – perguntei com um leve sorriso, Hanbin sorriu e corria até mim, beijando meus lábios carinhosamente.

- Sujong me encontrou na metade do caminho, achei que mais alguém para o jantar em homenagem á Hyunki seria bom, não acha? – falava dando um beijo no canto de minha boca e acariciava minha barriga lentamente, senti meu rosto corar e retribuí o beijo o sentindo me puxar, fazendo com que eu me sentasse em uma das cadeiras á mesa da cozinha enquanto ele e Sujong colocavam os pratos á mesa.

- E também tem outro motivo, faz três anos desde que tudo acabou, certo? – Sujong falava com um alívio na voz, servindo os pedaços de pizza nos três pratos, se sentando á mesa dando um leve sorriso – Foi bastante assustador, mas acabou de vez.

Hanbin se sentava ao meu lado dando outro beijo em meu rosto, segurando minha mão um pouco, isso sempre me passava bastante segurança. Tinha acabado finalmente, nada me separaria de Hanbin dessa vez, pensando assim dei um leve sorriso balançando a cabeça positivamente olhando as taças de vinho que estavam na mesa, peguei a minha que era a única sem vinho, estava com suco de maçã, o que eu gostava. Sorri e os olhei suspirando profundamente.

- Um brinde em homenagem á Hyunki?

- Sim, á Park Hyunki. – Sujong também levantava a taça á sua frente assim como Hanbin, suspirei profundamente e ao olhar minha taça senti que era meu dever não só pensar em meu pai e em meu irmão, mas também em outra pessoa.

- Á Haeri também, por sua vida que foi encurtada sem que ela pudesse fazer nada e pela que virá. – falei brindando junto aos dois, desde que eu havia engravidado pensei bastante em que nome seria, eu sentia que era uma menina e então por alguma razão em minha cabeça só vinha um nome em mente, aquele que eu não havia conhecido e que sofreu em sua morte. Depois que o caso foi investido mais profundamente foi achado mais partes do diário dela, páginas arrancadas do que eu havia lido. Haeri queria ter uma vida dela com o bebê que estava esperando e mesmo que Hanbin tivesse dito aquilo á ela, ficou triste, mas escreveu nas páginas que não guardava rancor dele. Era estranho pensar que nós duas não conseguíamos guardar rancor das pessoas, fiquei um tanto feliz de saber que ao final de tudo o ódio era algo que não existia em seu coração e que de fato a morte dela foi apenas uma fuga da vida que Ji-won queria forçá-la a ter. Infelizmente ela viu na morte a sua liberdade. O nome de minha filha não seria Haeri, mas seria o que ela sempre quis, o que ela morreu tentando conquistar. Escolhi o nome Jayu, que significa “liberdade”. Sempre fomos pessoas presas á dores, sofrimentos que nos fizeram chorar, mas que nunca fizeram com que desistíssemos daqueles que amávamos, enquanto se vive, nossos desejos aumentam e mesmo que Ji-won tivesse nos trancado e ter tentado forçar que pensássemos como ele queria, nós tínhamos que evitar esquecer o que éramos e lutar por nossa liberdade. Mesmo com meus medos e fraquezas, eu queria aproveitar minha liberdade, não só por mim, mas por ela. E eu estava finalmente feliz, toda vez que eu olhava e beijava Hanbin, sentir que eu estava em seus braços e que agora nada e nem ninguém poderia me tirar dali. Eu o amava e agora não escondia isso, eu tinha medo que algo acontecesse comigo no dia seguinte e fosse tarde demais para falar que eu o amava. Eu estava finalmente feliz, de uma forma que eu nunca pensei que poderia ser. A cada dia eu lutava contra meus medos e meus pesadelos, mas era apenas eu olhar para Hanbin que eu sentia que estava tudo bem. Eu estava feliz e esperava o fazer tão feliz quanto ele me fazia.

A vida é frágil, apenas em um minuto pode ser acabada de uma vez por todas. Mas a vida é tão profunda quanto bela, mesmo que o amor possa virar uma obcessão e então ódio, também podemos ver a felicidade em pequenas coisas, pequenos momentos ruins e bons que fazem a vida ser o que é, uma eterna luta para ser forte e ser feliz. Tudo é tão frágil, mas não pode ser destruído, podemos reconstruir a nós mesmos aos poucos. Não para ser o que éramos, mas para viver cada dia de uma vez, para ser a pessoa que superou momentos terríveis e que agora pode ver a vida de outra forma, dando importância para cada detalhe e assim, acreditando em si mesmo. Para que exista o medo, tem que existir a coragem, está guardada em algum lugar de nosso coração. A minha vida era frágil, até que eu descobrisse a força que eu nem sabia que existia em mim.



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