História Stole My Heart - The Truth

-O que aconteceu com ela?

-Só vem pra cá, por favor.

-Ok.

Visto uma calça preta, uma blusa de manga comprida branca e calço um par de botas. Faço um rabo de cavalo e desço as escadas. Correndo. Chandler está dormindo no sofá. Parece até um anjinho. Ah, merda, não posso me distrair. Escrevo um bilhete. “Chan, volto logo. Me liga quando acordar. Beijos,

                                             – Alice”

Saio de casa e vou correndo até o ponto de ônibus.

P.O.V. Emma

A Senhorita Hunterson pediu para que eu almoce com ela. Sinceramente, eu não quero. Essa mulher é estranha. E algo me diz que ela tem algo a ver com a minha mãe. Sei lá, ela tem aparecido lá em casa. Fala com o meu pai e com a Jessie, e os dois ficam altamente tensos quando ela está lá. Sei lá. Pedi para a Jessie ir comigo, e ela aceitou.

P.O.V. Alice

Chego no hospital e vejo Ivy sentada na sala de espera. Caminho até ela.

-Oi, e ai? O que aconteceu?

-A Isis me ligou hoje de manhã. A Beth acordou 03:15 e começou a gritar, porque estava sentindo uma dor quase insuportável. Ela acabou desmaiando. Está na UTI agora.

Nisso uma menina com a pele branca, com cabelos ruivos e compridos e olhos castanhos, aparece. Está de pijama e com um sobre-tudo cor de rosa que, suspeito, ser um roupão. Ivy levanta, repito a sua ação.

-Como ela está?

-Consciente agora. Vão fazer uma radiografia, pra ver se ela não quebrou nada, e dependendo do resultado, vão fazer mais uns exames. Eu liguei para os pais dela, e eles estão vindo.

-Quando poderemos vê-la? – Pergunto.

-Ainda não sei.... Depois desses exames, acredito. 

-Ok... – Ivy fala.

-Vocês se importariam de esperar aqui? Eu vou até a cafeteria pegar algo para comer....

-Isis, vai pra casa, troca de roupa, e depois vem pra cá. Vou ficar aqui até você voltar. – Ivy a tranquiliza.

-Ai, obrigada... – Ela relaxa um pouco, dá pra perceber. – Os pais dela vão chegar a tarde, mas se chegarem mais cedo, e eu não estiver aqui, por favor avisa pra eles que eu já volto. – Isis abraça Ivy e depois me dá um abraço e sai correndo para fora do hospital. Ela é um furacão cor-de-rosa com cabelo ruivo. Sério. Pijama rosa, sobre-tudo rosa, pantufas rosas. Pode ser só o pijama. Sei lá.

11:30 a.m.

Acordo com Isis tocando o meu braço. Ivy estava dormindo com a cabeça apoiada no meu ombro, e eu estava dormindo com a cabeça apoiada na cabeça dela.

-Vão fazer mais uns exames nela. Os médicos têm uma teoria, mas nada confirmado. Vão dar o diagnostico final quando os pais dela chegarem.

P.O.V. Chandler

Abro os olhos lentamente, e percebo que dormi na sala. Não consegui dormir durante a noite, nadinha. Estava pensando em certo alguém que beijei esses dias. Aquele alguém com o cabelo loiro com cheiro de pêssego.

Francamente, tenho pensado demais nesse alguém ultimamente. Que droga.

Levanto do sofá. Tá, levanto não, eu praticamente caí do sofá antes de perceber que ele não é tão largo quanto a minha cama. Caminho até a cozinha, e encontro um bilhete. Reconheço a caligrafia perfeita logo de cara. Alice. No bilhete ela fala que volta logo, mas não sei para onde ela foi e quando foi. Ah, quanto drama.

P.O.V. Emma

Visto uma calça jeans, uma blusa do Pink Floyd e calço um par de tênis. Desço as escadas e Jessie está apoiada na bancada, segurando a chave do carro.

-Vamos?

-Vamos.

O clima no carro está tenso. Talvez seja porque nós duas sabemos que essa conversa vai acabar me levando para o meu passado. Quando digo o meu passado falo da minha mãe. Isso não vai dar certo. Jessie sabe, e eu também. Agora, não preciso mais de uma mãe. Agora tenho a minha mãe. A madrasta que foi uma mãe melhor em 5 dias do que a minha mãe em anos.

Jessie casou com o meu pai quando eu tinha três anos, Charlie estava prestes a fazer quatro. Foi ela que fez curativos todas as vezes que eu ralei os joelhos, foi ela quem me ensinou a andar de bicicleta. Ela passou noites em claro quando eu fiquei doente. Faltou o trabalho para cuidar de mim inúmeras vezes. Me aconselhou, me ajudou a fazer a decisão certa. Me ajudou no começo, quando percebi que estava apaixonada pelo Thomas. Ela fez tudo isso. Sempre. Ela merece, mais que ninguém, o credito pelo que sou hoje. Não vai ser agora que isso vai mudar, nem que a minha mãe esteja na minha frente, ou na Itália, Jessie é a minha mãe. E sempre será.

-Independentemente do que eu descobrir, você é a minha mãe. Ninguém além de você merece esse titulo, Jessie. – Ela olha para mim. – Não precisa se preocupar com isso. Só queria te garantir isso.

-Fico feliz em ouvir isso, Emma. Porque o meu maior pesadelo seria perde-la. Principalmente agora.

-Você não vai. – Garanto.

Vejo uma lágrima solitária escorrer pela sua bochecha. Ela estaciona o carro na lanchonete onde combinamos de nos encontrar. Antes de sair do carro, a abraço. Um abraço que faz com que ela sinta que estou falando a verdade.

P.O.V. Alice

Reconheço a mãe da Beth de cara. São iguais, porem, ela tem cabelo mais escuro. A mulher caminha até nós com lágrimas nos olhos e abraça Isis.

-O que... O que acon.. Aconteceu?? – Ela fala, entre soluços.

-Não sabemos ainda. Estão fazendo uns exames nela.

-O que aconteceu antes de vocês virem para o hospital, Isis? – O pai da Beth fala, me assustando um pouco, porque, francamente, não tinha nem reparado nele antes.

-Ah! Por volta das 3:15 da madrugada a Beth acordou e começou a gritar desesperadamente. Eu fui para o quarto dela e ela estava de joelhos no chão, estava chorando muito. Disse que estava morrendo de dor nas pernas. Acredito que tenha levantado pra fazer alguma coisa, talvez pegar água ou ir ao banheiro, mas as pernas tenham fraquejado e ela caiu. Não sei o que aconteceu exatamente. Mas acho que no momento da adrenalina ela conseguiu segurar as pontas, mas depois, desmaiou.

A mulher de cabelos curtos, acima do queixo, e escuros começa a chorar de maneira incontrolável no ombro do marido.

[...]

O médico aparece na nossa frente, e todos nós levantamos.

-Ela está melhor agora. Podem vê-la, enquanto analisamos os exames.

O seguimos pelo hospital até chegarmos no quarto, ele pede para que entremos entre duas pessoas. Primeiro os pais dela entram, depois eu, Isis e Ivy entramos. Sim, o médico disse dois a dois, mas desobedecemos.

-Oii. – Ivy fala, logo depois de fechar a porta. – Como você está?

-Bem.... – Ela fala, e tosse um pouco. Uma tosse seca, que parece machuca-la. – Um pouco melhor. Mas tudo em mim dói. Muito.

-Tudo vai ficar bem. Logo. – Isis fala.

P.O.V. Emma

Sentamos na mesa, de frente para a senhorita Hunterson.

-Então. A senhorita poderia por favor me dizer o motivo disso?

-Você quer mesmo saber a verdade sobre a sua mãe?

Jessie enrijece, assim como eu.

-Sim.

P.O.V. Alice

Saímos do quarto e ficamos esperando na recepção. Os pais dela foram falar com o medico para saber o resultado do exame.

Vejo a mãe dela primeiro. Está desolada. Coisa ruim vem por ai. O pai dela vem logo atrás da mãe.

-E então, o que aconteceu? – Isis pergunta.

-É Osteossarcoma. – O pai dela fala, e depois solta um suspiro.

Não entendo o que é isso, mas Isis parece assustada. E, pelo que me lembre, ela faz faculdade de medicina.

-Onde?

-Úmero. Mas o medico disse que vai se espalhar com o tempo.

-Quanto tempo?

-Um ano, no mínimo. Não tem cura, precisamos falar com ela pra saber se ela concorda com quimioterapia.

Quimioterapia. Osteossarcoma é um tipo de câncer?

-Ela precisa concordar. Sem quimioterapia ela pode morrer rapidinho. – Isis fala. Está tremendo.

-É, mas pode ser que ela discorde. Você sabe como a Elisabeth é, Isis.

-E vocês concordam com isso? Sabendo que ela pode morrer? – Isis pergunta, indignada. O homem não responde. – Você concorda com isso? Sabendo que sem esse tratamento, a sua filha vai sofrer? – Isis se volta para a mãe da Beth.

-Desculpe interromper, mas, posso saber o que é Osteossarcoma?

-Osteossarcoma é um tumor maligno, que dá nos ossos. Basicamente, a Beth tem câncer. No úmero, que é um osso no braço. E pode se espalhar. – Isis fala. – É perigoso. E eles querem perguntar para ela se ela concorda com a quimioterapia.

A mãe dela soluça.

-A Beth vai fazer a quimioterapia. Nem que eu a obrigue.

Isis sai dali como um furacão até o quarto dela. O homem coça a nuca e olha para baixo.

-Ela está certa, George. – A mãe da Beth se manifesta pela primeira vez em um tempo. – A minha menina vai viver, o máximo que conseguir.

E vai atrás de Isis, deixando nós três sozinhos. O homem suspira novamente, e sai. Olho para Ivy, que olha para mim. Nisso, o meu telefone toca.

-Alo?

P.O.V. Emma

-Antes de eu começar, saiba que... Apesar de tudo, a sua mãe sempre te amou, e ainda te ama. E ela não foi embora porque não queria você, envolve algo muito maior.

-Só... Só explique. – Sinto que estou prestes a chorar. Respiro fundo.

-Bem.... Eu e o seu pai éramos muito jovens quando nos conhecemos, e não levou muito para começarmos a namorar. Seu pai é dez anos mais velho que eu, e o meu pai não aprovava.

-Vá direto ao ponto.

-Bom, eu engravidei, e o meu pai não podia saber... Então, eu fui morar sozinha e só via ele a cada duas semanas, até que a gravidez estava muito aparente.. Eu tinha apenas dezoito anos, então, falei para o meu pai que iria para uma faculdade de química em Phoenix. Só falava com ele por telefone. Mas, duas semanas depois do parto, o meu pai ligou para a faculdade e descobriu que eu não estava lá. Então, deduziu que eu estivesse com o seu pai. Tive que te deixar com ele sem explicar nem nada, porque ele bateria de frente com o meu pai, e isso acabaria machucando alguém. Então, eu fiz isso, pra proteger você. Espero que entenda.

-Entender? Não. Eu não vou entender assim. Você é a minha mãe, e esperou 15 anos para aparecer, e achou que eu fosse entender? – Ela não reponde. Jessie respira fundo e da um gole no chá que pediu. – Eu achei... Eu achei que a minha mãe me odiava durante a minha vida inteira, quando ela só fez isso porque não teve coragem o bastante pra confrontar o seu pai?

-E essa foi a decisão mais difícil que tive que tomar. Deixar você, foi a coisa mais dolorosa pela qual já passei. Você era o bebe mais lindo que já vi na minha vida. Quando eu te peguei pela primeira vez, olhei no fundo dos seus olhos e pensei:  “Essa é a minha menina. Vai me orgulhar muito.” E você me dá orgulho. Quando coloquei os olhos em você, na aula, lhe reconheci na hora. E, eu soube, que você me orgulharia. Minha filha é uma das minhas melhores alunas, se não a melhor. Me arrependo de não ter ido atrás para te ver, para ver você crescer. Mas, agora, você está aqui. E realmente espero que me perdoe pelos meus erros.

-Não.

P.O.V. Alice

-Oi, Lice.. Onde você está? – A voz do Chandler está sonolenta.

-No hospital....

-O que aconteceu?! Você tá bem?! Eu to indo....

-Não, Chan... Não. – Suspiro. – Eu to bem. Daqui a pouco vou pra casa, aí a gente conversa.

-Mas, se você estava se sentindo mau, por que não me chamou?

-Porque não tem nada a ver comigo, Chan. Vou pra casa daqui a pouco, e então te explico melhor.

-Ok, não demora, por favor... – Ele fala. Murmuro um “ok” e desligo.

Respiro fundo, e olho para Isis.

-O que a gente faz agora?

-Você pode ir pra casa, o seu amigo está preocupado... – Ela fala, tranquila. – Eu vou atrás da Isis. Mais tarde te ligo pra falar como ela está.

-Ok, mais tarde eu volto, está bem? – Pergunto. Ela faz que sim com a cabeça. A abraço e saio.

P.O.V. Emma

-Não? – Ela parece incrédula.

-Não. – Replico, firme. – Você acha que é assim? Some do mapa por quase dezesseis anos e volta achando que vou te perdoar? Te chamar de mamãe? Pois então, você está muito enganada. Porque durante muito tempo, eu tive a Jessie do meu lado, e mesmo assim, sofri por não ter mãe, e, mesmo que tarde, percebi que eu já tinha uma mãe. Que a minha madrasta foi mais presente em 20 minutos do que a minha mãe em quinze anos. Sabe o que é? A minha mãe está sentada aqui, ao meu lado. Não me importa o fato dela não seja de sangue, ou o fato dela ser madrasta, porque mãe é aquela que cuida. – Nisso, levanto. Com a mão entrelaçada na de Jessie. – Podemos ir agora, Jessie.

Ela levanta sem hesitar e, então, saímos de lá.

Devo ser realista, a verdade não me importa, a mãe que eu amo, a mãe que sempre amei, e sempre vou amar, se chama Jessica Higgins.

(Nina lê as notas finais❤️)