História Stole My Heart - New York University

23/10/2016, Domingo, 21:15 p.m.

― Por que estão demorando tanto para mostrar quem foi? ― Pergunto, já chorando de desespero. ― Já tem 10 minutos de episódio e eu já estou surtando. E nada de mostrar quem foi! Por quê?! ― Me viro para Chandler, que limpa as minhas lagrimas.

― Calma.

Estamos assistindo a season premiere da sétima temporada de The Walking Dead, e tá complicado. Dez minutos de episódio e não mostraram nada, o que me deixa mais nervosa ainda. Carl aparece na televisão. Dou um pulo, meu coração acelera em um grau alucinante, e então aparece um flashback de alguns segundos mostrando o desenvolvimento dele. É o terceiro flashback desses que aparece.

― Chandler! ― Ele me abraça, tentando fazer com que eu pare de tremer tão violentamente.

“Aposto que vocês pensaram que iriam envelhecer juntos. Sentar ao redor da mesa em jantares de domingo e um ‘felizes para sempre’. Não. Não funciona assim, Rick. Não mais.” Ouço a voz do Negan vindo do além, tendo em vista que diante das câmeras só tem o Rick. “Pense no que aconteceu.” E então, começam os comerciais.

― Não! ― Protesto. ― Por quê?!

― Eu vou pegar uma agua com açúcar pra você. ― Chandler levanta e vai até a cozinha.

― Traz uma pra mim também, por favor! ― Katelyn pede. Nós duas estamos chorando. Mesmo que saiba exatamente o que vai acontecer, ela está tão nervosa quanto eu. ― Eu não fui no dia dessas gravações, então, sei quem morreu, mas não sei o que aconteceu além das mortes.  É tudo uma surpresa pra mim, porque não to sabendo de muita coisa. Só fui no quarto dia, que foi quando terminaram as gravações do primeiro episódio e começaram a do segundo. ―  Ela explica. ― Mesmo que eu não participe do segundo episódio, também. ― Sussurra, para Chandler não descobrir que ela está me dando um spoiler, mesmo que seja bem pequeno.

― CHANDLER, VOLTOU! ― Ele volta correndo e entrega um copo para mim e outro para Kate.

“Eu simplesmente não consigo decidir...” Ele ri, e a câmera vai do de um lado para o outro. “Tive uma ideia.” Ele caminha até a câmera. “Eeeny... Meeny... Miny.... Moe.... Catch.... A tiger... By...”

― Ah, não! Tudo de novo, não! ― Exclamo, nervosa.

“His toe.... If... He hollers, let him go... My mother... Told me... To pick... The very best one... And you.... Are...” Sinto o meu coração batendo forte nas minhas costelas. “It.”

― NÃO! ― Grito e impulsiono o corpo para frente. Ele escolheu Abraham. Levo as mãos a boca, sem conseguir conter as minhas lagrimas.

“Se alguém se mexer; se alguém falar algo; eu vou arrancar o outro olho do garoto e dar para o pai dele comer, e então começaremos.” Choro desesperadamente. Sinto o meu corpo inteiro tremer, olho para um lado e vejo Kat chorando também. Olho para o outro, e para a minha surpresa, Chandler está tão tenso quanto eu. “Podem respirar, podem piscar, podem chorar... Porra, todos vocês farão isso.” E então, Negan acerta uma porrada na cabeça de Abraham. Tapo os olhos por um momento e me encolho perto de Chandler.

“Ooh, olha só, tá aguentando como um campeão!” Negan fala, sarcasticamente.

“Chupe---- As minhas----Bolas...” Abraham fala, completamente desnorteado por conta da puta pancada que levou.

Chandler me cutuca delicadamente, e olho para a televisão de novo. Tenho a visão dos olhos do Rick, soltando algumas lagrimas.

“Vocês ouviram isso? Ele disse ‘chupe as minhas bolas’!” Ele dá uma risada e continua batendo. “Meu Deus, olhe isso!” Ele gira Lucille, e um pouco do sangue que estava nela respinga no rosto de Rick. “Vocês, olhem para a minha garotinha suja!”

Sou tomada por uma raiva indescritível.

“Querida, dê uma olhada nisso.” Ele força Rosita a olhar para o taco.

― Filho da puta! ― Xingo em português.

“Ah, droga. Vocês... Vocês estavam juntos? Que merda...” Ele faz uma pausa. “Se estavam, você deve saber: teve uma razão para tudo isso. Ruivo. E, porra, ele era, é e sempre será ruivo. Ele tomou umas seis ou sete pela equipe! Então dê uma boa olhada. OLHE!” Daryl não se contém e acerta um murro em Negan, o que o pega, e me pega também, de surpresa.

“Daryl” Rick chama, tentando ajuda-lo.

“Não!” Ele repreende. “Isso? Isso é proibido. O negócio inteiro – nem um pouco dessa merda voa aqui.” Dwight aparece, com a besta do Daryl em mãos.

“Quer que eu faça? Agora mesmo.”

“Não. Você não mata eles sem brincar um pouco.” Ele faz uma pausa. “De qualquer maneira, não é assim que funciona. Agora, eu já disse para vocês – o primeiro é de graça – o que eu diria? Eu disse que iria acabar com essa merda! Sem exceções. Agora, eu não sei com que tipo de babacas mentirosos vocês tem cruzado, mas eu sou um homem de palavra. Primeiras impressões são importantes. Eu preciso que vocês me conheçam. Então... Comecemos de novo.” E então ele vira e bate com tudo na cabeça do Glenn.

― Não, porra! ― Grito em português. ― Como assim?! Não!

Começo a chorar desesperadamente. Não, velho. NÃO! ISSO NÃO PODE SER VERDADE!

― Por quê?! ― Chandler me abraça. O som fica abafado quando paro de prestar atenção. A única coisa que consigo ouvir são os meus soluços.

“M-Maggie I’ll... I’ll find you” Ouço Glenn dizer e isso me faz chorar mais ainda.

22:20 p.m.

O episódio acabou há uns 15 ou 20 minutos, e eu ainda não processei tudo. Estamos assistindo Talking Dead agora.

― Então, Chandler não pode vir hoje, mas aposto que ele gostaria muito de estar aqui com a gente. ― Andrew fala.

― É, eu vou buscar ele e a Alice na escola amanhã... ― Jeffrey comenta. ― Não quero nem imaginar em quantas línguas ela vai me xingar. Inclusive, nesse momento ela deve estar decidindo quais palavrões vai usar contra mim. Tudo em português, porque nunca ouvi ela xingar alguém em inglês...

Nesse momento, ligo para ele. Na televisão, vejo ele levantar o indicador, e murmurar “um segundo”.

― Oi, Alice... Como vai? ― Ouço-o cumprimentar do outro lado da linha, e consigo ver a expressão apreensiva pela televisão.

― COMO OUSA FAZER ISSO? PUTA QUE PARIU, SEU MONSTRO! ― Ele coloca no vivo-a-voz. Todos ao redor dele seguram a risada. ― TU VAI VER SÓ AMANHÃ! VAIS ME ESCUTAR TE XINGAR DE TUDO QUANTO É PALAVRÃO POR PELO MENOS 20 MINUTOS. ― Grito tudo isso em português. ― E não adianta pedir desculpa!.... Ah, e Andy... Eu venero a sua atuação cada vez mais. ― Isso, eu falo em inglês para que eles entendam. Desligo sem dar chances dele responder.

— Bem, ela está um pouquinho brava... Quem sabe amanhã a essa hora não exista mais Jeffrey Dean Morgan.... — Jeffrey comenta.

— É perceptível o amor que eles têm um pelo outro. — Steven brinca.

— Ela claramente me ama. — Andy entra na brincadeira. Todos dão risada.

24/03/17, Sexta-Feira, 16:00 p.m.

Algumas pessoas do elenco estão no andar de baixo da casa. Reviro o closet a procura de algo mais confortável. Por fim, visto uma calça de moletom cinza e uma blusa colorida. Opto por ficar de meia por ser mais confortável e por estarmos entre amigos.

Eu e Chandler estamos completamente na expectativa por conta das cartas das universidades. Me candidatei para varias nos arredores da Georgia; porem uma em especial está me dando nos nervos: New York University; desde quando decidi que gostaria de fazer faculdade de arquitetura, sonhei em estudar lá.

Chandler está meio que “com um pé atrás” com relação à ideia de eu ir morar em New York por um espaço de tempo, talvez bem longo, mas; ainda assim, não deixa de me apoiar.

— Lice, desce aqui! — Gina chama. Desço as escadas correndo. Gina está apoiada no batente da porta e está com a correspondência em mãos. Caminho até ela. — Isso é para você... E.... Pode entregar isso para o Chandler por mim, por favor? Preciso ir até o supermercado.

— Sim, tudo bem. Obrigada, Gina. — Sorrio para ela, que sorri para mim e me dá um beijo na testa, e então sai.

Pego a minha correspondência e abro o envelope com pressa ao ver que tem o símbolo da New York University. Sinto o meu corpo todo tremer, e vou para o quintal, onde o pessoal do elenco está sentado. Todos descansam ao redor da piscina, mesmo que não esteja no melhor clima para isso. Entrego a carta de Chandler para ele e mostro o meu envelope para o pessoal. Odos prestam atenção nas minhas mãos tremulas enquanto abro o envelope.

“Cara Alice,

É com grande prazer e satisfação que informamos que a senhorita foi aceita no programa de arquitetura de 2018.

A senhorita, também, ficou entre os melhores cinco resultados, e com isso; lhe oferecemos um programa de preparação especial no verão de 2017.

Atenciosamente,

Rose Tallaway

Diretora”

― Eu entrei. ― Murmuro para mim mesma. Levanto o olhar na direção de Steven, Andrew, Jeffrey, Norman, Lauren, Kat e Chandler, que me encaram. ― Eu... Eu entrei. ― Sorrio, tremula.

Chandler levanta rapidamente e me abraça.

― Parabéns, amor. Estou orgulhoso. ― Ele fala no meio do abraço e beija o topo da minha cabeça.

― E você? ― Pergunto, me afastando um pouco para olha-lo nos olhos. Ele sorri.

― Eu entrei na University of Georgia. ― Sorrio, orgulhosa. ― Eu entrei na UGA, Lice...

― A mesma que a Katelyn! ― Respondo, feliz. ― Estou orgulhosa de você, meu amor.

― Eu devo dizer o mesmo de você. ― Ele sorri.

― E nós estamos, também! ― Jeffrey fala, orgulhoso de nós.

[...]

― Beleza. ― Bloqueio o celular. ― Acabei de contar para os meus pais sobre a NYU, e agora estamos livres. ― Pulo na cama e sento no colo de Chandler. ― O que quer fazer?

― Hum, não sei... Você já decidiu, não é? Vai para a NYU mesmo, né?

― Não sei. Eu ainda não recebi todas as cartas, e tem algumas que ficam mais próximas daqui. Mais próximas de você.

― Ah, por favor. Você sonha com essa universidade há anos, não vou ser o namorado babaca que impede a namorada de realizar o seu sonho. Qual é, eu vivo viajando, indo em convenções, e você sempre está numa boa com isso. Não desista do que você quer por mim, isso é ridículo.

Sorrio para ele.

01/06/17, Quinta-Feira, 20:00 p.m.

― É, acho que tá na hora de contar pra ele... ― Murmuro olhando para a rua escura do outro lado da porta de vidro.

― Tá mais que na hora, ainda mais se você realmente vai para lá. ― Katelyn responde, do outro lado da linha.

― Está bem, tenho que desligar. Beijos. ― Respondo.

― Beijos, KitKat...

Desligo o celular e o coloco no bolso de trás do jeans. Ouço um ruído vindo da porta, e viro-me quase que instantaneamente. Chandler está apoiado no batente da porta, segurando uma folha de papel. Aperto os olhos para focar no papel na mão dele: A carta da NYU.

― Quando ia me contar sobre isso? ― Ele pergunta levantando a mão que segura a carta. Sua expressão não é das melhores.

― Você sabe que eu passei para a NYU. ― Respondo, receosa.

― Por que não me contou sobre o Programa de Preparação? ― Ele pergunta, ainda sério. Dou três passos na direção dele. ― Era sobre isso que você tanto falava com a Katelyn?

― Chandler...

― Você vai mesmo, não é? ― Não consigo responder. ― Por que não me contou, Alice?

― Fiquei com medo da sua reação...

― Minha reação? Você sabe melhor que ninguém que eu não vou te impedir de ir. Eu sei das consequências desde o dia em que você recebeu esta carta, Alice! Eu aceitei numa boa! Como assim você ficou com medo da minha reação?

― Chandler... ― Dou mais três passos. ― Eu tive medo de te perder.

― Me perder? É você quem está indo para uma faculdade em outro estado meses antes sem nem mesmo avisar! Quem está prestes a perder alguém aqui sou eu.

― Chandler, por favor. Não fique bravo comigo por eu estar indo para um estado diferente.

― Alice, não estou bravo por você estar indo para outro estado. Estou bravo por você estar indo muito tempo antes sem me avisar! ― Ele passa a mão pelo cabelo, irritado. ― Eu sempre te conto tudo, por que não me contou? ― Segue um silencio, pois não tenho resposta. ― Por quê?

Respiro fundo.

― Nós vamos dar um jeito.

― Não, Alice. Não vamos. Já teve um relacionamento a distância? Não, né? Eu já. É o pior tipo de relacionamento. É como namorar com um fantasma! ― Ele passa a mão pelo cabelo de novo. ― Quer saber, Alice? Vive a sua vida, e eu vivo a minha. Eu já sei onde vai dar, e não estou disposto a passar por isso de novo.

Nisso, ele sai, me deixando sozinha e com lagrimas nos olhos. Contorno o quarto e bato a porta. Me jogo na cama com o rosto enterrado no travesseiro, sem conseguir acreditar no que acabou de acontecer.