07/08, Segunda-Feira, 07:00 a.m.
Levanto mais rápido que de costume. Ainda não me familiarizei com o quarto novo. Atravesso o corredor a caminho do banheiro. Abro a porta, ainda desacostumada com tudo. Ligo o chuveiro e entro na banheira. Deixo a agua escorrer pelos meus cabelos. Lavo-os com o costumeiro shampoo de pêssegos e saio do banheiro vestindo o roupão e com uma toalha enrolada nos cabelos.
Visto uma calça jeans, uma blusa preta de alças e calço um par de botas. Tenho a leve impressão de que vou passar um pouco de calor, mas ainda assim, pouco me importa, vai que ligam o ar condicionado.
Ainda não terminei de desarrumar as malas; portanto, 1/3 das minhas roupas ainda não foram guardadas. Pego um casaco leve e a minha bolsa, seco os meus cabelos, passo um pouco de perfume e saio do quarto. Pego uma maçã na fruteira que está em cima da bancada que separa a cozinha da sala de estar e saio de casa.
Enquanto dirijo até a faculdade, penso em Chandler. Eu sei, não deveria fazer isso, mas é inevitável. Será que ele está bem? Será que pensa no que fez sábado tanto quanto eu? Que merda, mesmo que tenha se passado dois meses desde o termino, eu ainda sinto falta.
A música Let It Die da banda Starset ocupa o meu carro.
P.O.V. Chandler
Levanto com preguiça e caminho até o banheiro. Ao passar pelo quarto dela sinto-me vazio. A sensação de não tê-la ali é quase irreal. Por pouco não abro a porta para ter certeza de que ela não está ali.
Não, Chandler. Ela não está ali. Lembra? Ela foi embora no sábado. Ela foi embora, e você terminou com ela.
Não é do meu costume falar palavrão; mas porra como fui tão burro? De onde achei que terminar com ela seria uma boa ideia?
Eu me lembro de quando a conheci, quando ela chegou do Brasil 2 anos atrás, ficou tão claro que ela era a única para mim. Nós dois soubemos, de imediato. E, com o passar dos anos, as coisas tornaram-se mais difíceis, fomos confrontados com mais desafios. Eu a implorei que ficasse, tentasse lembrar do que tínhamos no princípio. Ela era carismática, magnética, eléctrica, e todos sabiam disso. Quando ela entrava, a cabeça de todos os caras virava, todos se levantavam para falar com ela. E dessa forma, eu a compreendi. E eu a amava, eu a amava, eu a amava. E eu ainda a amo. Eu a amo.
Respiro fundo na tentativa de engolir as lagrimas. Entro no chuveiro com vontade de ligar para ela e pedir desculpa.
P.O.V. Alice
A minha primeira aula hoje é de projetos arquitetônicos, na sala 201. Estaciono o carro no estacionamento ao lado da faculdade e caminho até a entrada. Ao atravessar as portas, vejo várias pessoas caminhando para todos os lados em uma bagunça organizada. Procuro pela sala na qual terei a primeira aula e, depois de alguns minutos, finalmente encontro.
Entro na sala e sento atrás de uma menina ruiva que está concentrada escrevendo alguma coisa.
― Bom dia, alunos. Eu sou a Sra. DiLaurentis e sou a sua professora de Projetos Arquitetônicos. ― Ela é uma mulher de meia-idade, talvez uns 40 e poucos anos, mas ainda assim, parece mais nova, porém muito séria. Ela deixa os livros em cima da mesa e apoia o corpo na ponta da mesa. ― Gostaria, antes de tudo, de avisar que eu sou uma pessoa séria, porem de mente muito aberta, então gostaria que fossem bem abertos comigo, e que exponham as suas opiniões. ― Ela abre um sorriso bem breve, porém muito amigável.
Ela caminha pela sala, pousando o olhar no rosto de cada aluno ali presente.
― Eu sei que estamos no primeiro dia de aula; todavia, gostaria de informa-los que passarei um projeto como abertura desta matéria. Não valerá nada na nota final do semestre; mas, ainda assim, gostaria que o fizessem com perfeccionismo, para já acostuma-los com a maneira a qual cobro os meus alunos: rigorosamente e com perfeccionismo.
[...]
Dez minutos para a aula acabar, e a Sra. DiLaurentis para de falar sobre a enorme utilidade que os projetos tem sob a arquitetura e começa a falar sobre o trabalho:
― Será em duplas, ― ela começa ― vocês precisarão projetar um apartamento; pequeno. Distribuirei as plantas para cada dupla. ― Ela começa a olhar a chamada. ― Bolton... ― Um garoto levanta a mão; ela o encara por um momento e se volta para a lista. ― Spiegleman.
Ela chama mais uns nomes, e então o meu:
― Farley... ― Levanto o braço. ― Fuller... ― A menina da minha frente levanta o braço e então vira-se para mim e sorri.
Cinco minutos depois...
― Ei!! ― Ouço alguém me chamar, é a menina que vai fazer o trabalho comigo. Viro-me na sua direção. ― Oi...
― Oi.
― Tudo bem? Não fomos apresentadas, sou Amy. Você é? ― Ela estende a mão.
― Alice. ― Aperto a sua mão.
― Como vai? É um prazer conhece-la... Que aula tem agora? ― Reviso o meu horário mentalmente.
― Tecnologia da Construção.
― Ótimo, o meu também! Se importa se eu te acompanhar?
― Não, seria ótimo.
Caminhamos pelo campus até o prédio onde será a aula de Tecnologia da Construção.
17:10 p.m.
― Então, o que podemos fazer para o trabalho? Talvez você possa ir na minha casa hoje à tarde, ou coisa assim.... Claro, se estivesse ok por você... ― Amy sugere enquanto caminhamos pelo campus até o estacionamento.
― Ah, eu bem que gostaria, mas preciso ir para casa, preciso arranjar um emprego.
― Eu sei de um lugar que está contratando, se pegarmos o ônibus agora, chegaremos lá em uns 10 minutos.
― Ah, eu to de carro. Pode me levar até lá, e então vamos para a minha casa e começamos o trabalho, o que acha?
― Pode ser! ― Amy sorri.
Quando entramos no carro, o nosso assunto é a minha vida antes da NYU.
― Bom, foi isso....
― Você namorou um cara famoso?
― Uhum.
― Que legal!
― Ele era incrível, mas sabe... Seguimos caminhos diferentes... ― Tento esconder a expressão de quem está prestes a chorar.
― Vire a esquerda, e depois direita... ― Ela muda de assunto ao perceber a minha expressão.
Quando estacionamos, ela indica com o queixo uma cafeteria.
― Aqui? ― Pergunto, e então vejo a placa escrita “precisa-se de ajudante”. Olho para a ruiva ao meu lado, ela faz menção para entrarmos.
― Eu trabalhei aqui, só que eu me mudei e to morando longe... Então...
― Amy! ― Ouço alguém exclamar e me volto para a origem do barulho.
― Meredith!
― Quanto tempo, querida! Estava me perguntando quando viria me visitar!
― Bem, vejo que ainda precisa de alguém para trabalhar aqui...
― Sim! ― E então ela me nota. ― Olá! É um prazer conhece-la, qual é o seu nome?
― Alice.
― Eu trouxe ela aqui porque está precisando de emprego, o que é perfeito, já que você precisa de alguém, o que é perfeito pra ela, então... Seria legal se a contratasse. ― Ela fala isso tão rápido que me deixa com os olhos arregalados.
― Bem, eu posso fazer uma pequena entrevista. Vocês têm tempo? Pode ser agora?
― Claro! ― Eu e Amy respondemos ao mesmo tempo. Meredith me conduz até uma mesa.
― Então, por que pretende trabalhar aqui?
― Bem, eu moro sozinha, e não gostaria que os meus pais ou avós pagassem a conta de luz ou coisa de gênero, mesmo porque seria um gasto a mais para eles, e eu preciso desenvolver maturidade para viver às minhas próprias custas.
― Ótimo, que horas vai poder chegar?
― Por volta das 17, mas dou um jeito de chegar mais cedo caso precisar e posso ficar até mais tarde.
― Muito bom. Querida, não preciso saber muito mais, a senhorita começa a amanhã.
― Obrigada! Muito, muito obrigada!
[...]
Saímos do carro, e Amy para por um momento em frente ao prédio.
― Você mora aqui?
― Sim, por que?
― Meu namorado mora aqui.
― Sério?
― Sim, acho que ele deve estar em casa.
― Chama ele lá em casa.
― Ah, tudo bem.
Subimos as escadas, já que o elevador está em concerto, e entramos no meu apartamento.
― Bonito.
― Obrigada. ― Deixo a minha bolsa no sofá, e ela apoia o ombro na porta. ― Vou fazer um chá, quer?
― Claro. Vou chamar o David. ― E então me lembro do garoto que me ajudou a subir as minhas coisas.
― David? ― Encho o bule de agua quente. ― Ele estuda na Juilliard?
― Sim, por quê?
― Ele me ajudou a trazer as minhas coisas para cá no sábado!
― Serio? Que legal! ― Ela sorri. ― Tem certeza que posso chama-lo? Não vai incomodar?
― Não! Pode chamar!
Três anos depois...
Já fazem três anos que me mudei para cá, três anos que comecei a faculdade. Mesmo que sejam só três anos, eu adiantei tanto as matérias que vou terminar daqui seis meses. Eu sei, exagerei na carga horária de estudo. Fazer o que? Quero começar a trabalhar com isso logo.
Desde que cheguei, David e Amy têm sido os meus melhores amigos. Passamos a maior parte do tempo juntos, e virou meio que um costume irmos em uma lanchonete do outro lado da cidade todos os dias para conversar, ou simplesmente para ficar lá. Eles meio que me lembram o Theo e a Mari, os quais estão em Atlanta. Falo com eles, Theo e Mari, quase todos os dias. Eles estão bem. Tenho tido muito contato com a Kat, Lauren, Steven e Andy. Os outros, nem tanto. Mas ainda assim, conversamos direto.
08/01/20, Quarta-Feira, 12:00
Caminho pelo campus com os materiais em mãos na direção do meu carro quando o meu telefone toca: "Kat Nacon Lindona��"
— Oi, amor!
— Oi!!! — Ela responde animada. — Adivinha quem está indo pra New York?
— Tá brincando?! Quando??
— Semana que vem! Vai eu, Lauren e Steven até então!
— Ah, meu Deus! Tratem de me visitar!
— Óbvio, né! Vamos ter três dias de Walker Stalker e dois dias livres!
— Ah, que ótimo! Onde vocês vão se hospedar??
— Não sei ao certo, faltam algumas coisas... Mas o hotel é coisa rápida, Lauren e Steven já conseguiram reserva; vou ver se não consigo me hospedar no mesmo quarto que o da Lauren...
— Fica aqui!! — Peço.
— Tem certeza? Não atrapalho?
— Ah, pelo amor de Deus! Não aguento mais ficar num apartamento sozinha!
— Ah, então tudo bem. Tenho que ir, vamos começar a gravar em 10 minutos, preciso rever a cena inteira ainda...
— Tudo bem, a gente se fala depois... — Faço uma pausa para abrir a porta do carro. — A gente se vê semana que vem, beijos.
— Beijoss!!! — E então desligo.
Jogo o meu material no banco do passageiro e giro a chave do carro.
O caminho até a Books N' Coffee é tranquilo, geralmente levo vinte minutos da NYC até lá quando vou a pé, o que é raro porque normalmente dirijo até a faculdade.
Arranjar um emprego na Books N' Coffee foi a melhor coisa que eu fiz desde que vim para cá; o lugar tem uma energia ótima, e reúne duas coisas que eu amo: café e livros. Como já se diz no nome; essa loja é uma livraria e uma cafeteria juntas. É um ótimo lugar, com ótimos clientes. Meredith, a minha chefe, é uma mulher muito interessante; ela tem um estilo puxado para o rock dos anos 80, mas de alguma maneira é, ainda assim, moderna.
Abro a porta do estabelecimento e escuto o barulho do sino que está pendurado.
— Qual é a boa, Lice? — Max, meu colega de trabalho, pergunta. Olho na direção dele, que continua com a atenção focada na prancheta. Max é alto e magro, tem olhos castanhos e cabelo castanho-claro, e ele tem uma barba da mesma cor. Ele tem um estilo meio nerd, o que faz sentido; tendo em vista que ele é um nerd (não é preconceito, ele mesmo se denomina um nerd). Mas ainda assim, é muito bonito.
Deixo a minha bolsa dentro do pequeno armário próprio para os funcionários e visto o meu avental.
— Nada demais. — Finalmente respondo. — Ah, na verdade muita coisa!
— Hum?
— Uns amigos meus vem me visitar semana que vem! — Respondo, caminhando pelo estabelecimento e checando os variados doces expostos na cúpula de vidro.
— Legal... — Percebo que ele está mais interessado no que está escrito na prancheta do que em mim, então caminho até o depósito.
— Chegaram mais livros? — Pergunto em voz extremamente alta.
— Uhum... — Ele responde. Destranco a porta e acendo as luzes; há 5 caixas cheias de livros. Só isso? Pego duas de uma vez só e subo as escadas lentamente até chegar onde as prateleiras ficam. Deixo as caixas em cima da mesa de demolição e as abro; dentro há vários exemplares de "A Prisão do Rei". Repito o processo mais duas vezes até subir as cinco caixas.
— Cadê a Meredith? — Pergunto, prestando mais atenção na maneira na qual vou empilhar os livros.
— Saiu para almoçar com um cara; deve voltar lá pela 13:30.
— Ela não pediu nada?
— Sim, já te entrego.
Momentos depois, ele aparece com uma pequena lista de tarefas:
“Alice:
Subir as caixas e organizar os livros;
Ajudar a Odette a assar mais tortas e muffins;
Ligar o congelador;
Organizar as mesas.
Max:
Fazer o histórico de vendas;
Limpar o chão;
Descarregar as caixas de refrigerante (vão chegar às 13:00);
Limpar as prateleiras;
Cuidar do caixa.
Volto a 13:30, queridos
— Meredith”
Devolvo o bilhete para Max e volto a empilhar os livros de maneira organizada.
Depois disso, rodo pelo estabelecimento a procura de vestígios de poeira. Depois de me certificar de que está tudo em ordem, ligo o congelador e sigo para a cozinha. Odette está de costas para a porta; concentrada no prato principal que vamos servir no café da tarde: panini e torta de maçã.
— Cheguei para alegrar a sua tarde! — Anuncio, já pegando o avental que está pendurado na entrada da cozinha. Prendo o meu cabelo quando ela se volta para mim.
— Ótimo, eu realmente estou precisando de ajuda. Vem, me ajuda a alisar a massa da torta.
[...]
— Espero que tenham gostado, obrigada pela visita e voltem sempre. — Sorrio para os clientes que deixam a loja e então Amy e David entram.
— Pronta?
— Só um momento... — Dou as costas para eles. — Mare? Estou indo, ok?
— Ok, querida... Divirtam-se!
Saio de lá com eles e vamos até outra cafeteria, onde vamos todos os dias.
[...]
— Vou ao banheiro, já volto. — Amy avisa e sai da mesa. Me concentro no meu sorvete de creme com cappuccino.
Noto David olhando para a minha xícara com um olhar intrigado.
— Como é que você toma isso? É sorvete, gelado, com cappuccino, quente!
— É bem gostoso! — Ele ergue a sobrancelha. — Tá, eu realmente não ligo para a opinião de quem está tomando chá de gengibre com canela.
— É bom! — Ele contradiz.
— Tá bom, vamos trocar. — Faço uma pausa para dar a minha xícara para ele e pego a dele. — No três, você prova a minha e eu provo o seu. Sem frescura! A gente sempre fica nessas de "como você bebe isso". Ok?
— Ok.
— Um... Dois... — Respiro fundo. — Três!
Bebo um gole do tal chá de gengibre e canela e ele bebe o meu cappuccino. Ele faz uma cara engraçada mas parece que gostou. Eu, no entanto, não consigo esconder a careta de novo.
— Me devolve o meu cappuccino por favor!
— Não gostou?
— Não! Como você bebe isso?
— Eu acho gostoso.
— Mas você gostou do meu.
— Devo admitir, é melhor do que parece. — Bebo um pouco do meu cappuccino e ele cai na gargalhada quando afasto a xícara da boca.
— Que foi?
— Tem chantilly... Parece um bigode. — E ele ri mais.
Desbloqueio a tela do celular e olho na câmera, parece mesmo que tenho um bigode de chantilly. Limpo rapidamente e então caímos na gargalhada.
Paro de rir quando vejo uma coisa. Na verdade, alguém. Vejo Chandler entrar na cafeteria. David, ao me ver seria tão repentinamente, vira o rosto na direção da entrada.
Chandler olha para mim, e então para David. O encaro com uma expressão indecifrável.
— Alice. — David me chama, trazendo-me de volta para a realidade.
— Olha, eu preciso ir. To cheia de trabalhos para fazer, tenho que começar a pensar no TCC, e.... Enfim, fala para a Amy que eu precisei ir. Vão lá em casa mais tarde qualquer coisa. — Me levanto. — Eu preciso ir, beijos...
— Beijos. — Ele me dá um beijo na bochecha, em forma de despedida, e então saio do lugar.
Entro no carro e dirijo com pressa. Ao chegar no apartamento, fecho a porta e corro para o banheiro. Fui tomada por um enjoo muito repentino.
Todo o meu almoço volta, e sou obrigada a tomar um banho. Sento-me na banheira enquanto a assisto encher.
Acho que tudo isso, até o vomito, é por nervosismo.
Porra, ele disse para eu viver a minha vida, que ele viveria a dele. Levei uns dois anos para conseguir apaga-lo completamente, era como se ele não existisse mais. Esse último ano que tenho estado sem nem sequer lembrar dele foi revigorante. E então, quando está tudo organizado, ele aparece. Não é possível. Que merda. Que merda, que merda, que merda. QUE MERDA!
Afundo a cabeça na água da banheira e então me levanto.
Lavo o meu cabelo, o rosto, passo o sabonete de lavanda pelo corpo (por algum motivo, não tenho achado sabonete de pêssego), escovo os meus dentes e saio do banheiro vestindo o roupão e com a toalha enrolada no cabelo. Visto uma blusa de alças branca, uma calça de moletom e uma bota. Saio do quarto com o cabelo molhado pingando nos ombros, vou até a cozinha, esquento a água para preparar um chá de camomila e cogito a ideia de preparar um bolo de chocolate.
É, deve ser uma boa para esfriar a cabeça. Vou atrás dos ingredientes, caminhando para lá e para cá na cozinha pequena. Ligo a televisão da sala e deixo no canal que está, Warner, está passando The Big Bang Theory.
Preparo a massa do bolo e coloco para assar. Pego a minha xícara de chá, os meus materiais da faculdade e vou para o sofá, sento-me de frente para a televisão e começo a ler sobre o próximo trabalho que vou precisar fazer. Estou terminando o cursinho de especialização em design de interiores. Abro o computador, começo a assistir às vídeo-aulas que os meus professores passaram, estudo os slides que foram recomendamos, também; anoto o que é importante, e então leio tudo de novo. Isso leva o tempo que o bolo leva para assar. Quando o forno apita, levanto do sofá e vou até a cozinha. Quando tiro o bolo quentinho do forno todos os meus problemas vão embora; só de sentir aquele cheiro doce, me sinto mais tranquila. De algum jeito, esse cheiro me leva de volta para a minha casa. Quando a minha mãe fazia bolo, era exatamente o mesmo cheiro. De repente, sinto uma vontade enorme de ligar para ela; então é isso que eu faço, ligo para ela pelo Skype.
— Oi, filha! Quanto tempo não te vejo!!
— Oi, mãe. Só te liguei para te ver mesmo, to com saudades.
— Eu também, meu anjo.
— Quando vai vir me visitar? — Pergunto enquanto abro a geladeira procurando o pote de sorvete de creme.
— Não sei, talvez na sua formatura. O que é bom, já que você está um ano adiantada.
— É, mais seis meses e já sou oficialmente formada em arquitetura... — Falo, animada. Pego um prato e coloco um pedaço generoso do bolo e uma bola de sorvete de creme. — Ô mãe, você e o pai nunca pensaram em voltar a morar aqui?
— Um pouco, na verdade, querida... Estamos tentando dar um jeito...
— É sério?!
— Sim, estaria bem pra você?
— Claro que sim! — Faço uma pausa. — Ô mãe, eu estava pensado em... Sei lá, voltar para Atlanta...
— Por quê? Não está feliz ai?
— Não, não é isso. Eu estou muito feliz aqui, tenho o vovô e a vovó a apenas umas duas horas de distância, e isso é ótimo, tenho os visto quase que todo o fim de semana... Só que... Eu meio que sinto falta de lá. Dos meus amigos... E agora que a Mari e o Theo estão lá...
— Bem, filha... Você... Bem, termine a faculdade, e então, quando decidir... A sua decisão será a certa, se o seu coração mandar você para lá, não hesite. Querida, não tenha tanto medo das coisas. Eu sei que você tem.
— Mãe...
— É sério, você é nova. Tem muito o que viver ainda, você tem o mundo para ver. Por favor, não tenha medo de expandir o seu território. Não há decisão certa ou decisão errada quando as duas serão boas para você. Pense nisso. Seja o que for, eu estou aqui e te apoio completamente, ok?
— Ok. — Limpo algumas lágrimas.
— Mamãe vai fazer de tudo para ir aí te ver, tá?
— Tá.
— Preciso ir, boneca. Beijos, te amo.
— Também te amo.
Desligo o telefone. Pego o bolo e vou até o sofá para me distrair. Depois de uns 15 minutos, o meu celular toca: “Ellie”
Ellie é a minha prima, ela mora em Atlanta e, durante esses anos que tenho estado aqui, é um dos meus familiares que mais tenho contato. Ela tem 27 anos, mas ainda assim, somos muito amigas. Mas... Por que ela está me ligando?
— Oi, Ellie! E ai?
— Oi, Lice! Tudo bem? — A voz dela está estranha. Tem uma pontada de nervosismo.
— Tudo, e com você? — Ouço um “tô bem” mínimo como resposta. — Então, o que foi?
— É que.... Eu estou gravida!
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