História Stone Angel - Não somos amigos.

(POV) Daniel

 Acordei sem vontade de levantar, olhei para o lado e não vi Well, provavelmente já estava no banheiro se arrumando. Me levantei, peguei meu uniforme e fui em direção ao banheiro pra tomar banho. Quando cheguei avistei Thomás ajeitando sua gravata de frente ao espelho, mas eu não estava com humor pra falar com ele hoje, então apenas ignorei e me dirigi a um dos boxes. 

 - Oi pra você também Dan. – Falou me fazendo o encarar pelo grande espelho, ele estava sem expressão. 

 - Ah, oi Thomás. – Falei sem interesse e voltei a olhar para o pequeno boxe, já ligando o chuveiro e fechando a porta. 

 - Tá tudo bem? – Perguntou do lado de fora. Claro que não estava tudo bem, ele beijou o Well. Eu sabia que ele não tinha culpa, muito menos Well, mas se era pra ficar com raiva de alguém, escolho ele.

 - Sim, porque não estaria? – Perguntei tentando falar calmamente. Eu estava com raiva e talvez um pouco decepcionado, com toda certeza dava pra notar. 

 - Não sei. Vou descendo, te vejo na aula. – Falou e eu ouvi a porta ranger e bater logo depois. 

Me concentrei no banho e acabei depois de uns 20 minutos. Saí já com o uniforme e caminhei até o meu quarto. Quando cheguei, dei de cara com Well e uma.. menina?! Ele estava sentado na cama e ela estava em pé perto do guarda-roupa. 

 - E-eu tenho que por uma r-roupa aí. – Falei timidamente, olhando para a menina, ela tinha longas madeixas cheias de cachinhos loiros.

 - Ah, claro, desculpa. – Falou e saiu da frente dando passagem pra mim. 

 - Não precisa se desculpar. – Falei a olhando e sorri. Não sabia quem era, mas queria causar boa impressão, afinal era a primeira menina que havia visto por ali. 

 - Eu sou a Andressa, mas me chame de Andy. – Falou sorrindo de volta pra mim, logo estendendo a mão para um aperto amigável. 

 - Sou o Daniel, mas pode me chamar de Dan. – Falei enquanto apertava sua mão amigavelmente e com o meu melhor sorriso. 

 - Então né.. – Well se pronunciou, sem se levantar da cama. Ele estava péssimo, seus olhos fundos acompanhados de olheiras e sua pele estava mais pálida do que o normal. Ele estava doente?! 

 - Well? O que aconteceu? Você está doente? – Perguntei preocupado me sentando em seu lado e colocando a mão em sua testa. 

 - Eu estou bem, Daniel. – Falou friamente sem me olhar nos olhos. Eu sabia que ele estava chateado ou até decepcionado comigo, por isso me tratava daquele jeito e eu até merecia. 

 - Você tá com muita febre, precisa de um médico. – Falei preocupado, ignorando o seu tom de ignorância. 

 - Já falei com a diretora, ela disse que vou melhorar com o remédio que tomei. – Falou ainda fitando o chão. Sua voz carregada de cansaço. 

 - Seu namorado tem razão, Well. – A menina se pronunciou. Eu olhei para Well que agora me olhava também, porém, com seus olhos arregalados. 

 - Eu não sou.. 

 - Nós não somos namorados. – Falou agora olhando seriamente para Andy. 

 - Ah, desculpem, eu pensei que fossem. É que você se preocupa tanto, parece gostar dele. – Falou me fitando, meio tímida. 

 - Somos grandes amigos. – Falei sorridente, olhando pra ele. 

 - Não somos amigos. – Falou sem me olhar nos olhos. – Não somos nada, apenas colegas de quarto. – Disse por fim. Naquele momento, meu sorriso já tinha se desmanchado, tive uma vontade enorme de chorar e pedir perdão. Aliás, era tudo minha culpa e eu sabia disso, havia feito o mesmo com ele muitas e muitas vezes. Porque fui tão idiota? 

 - Eu vou pra aula. – Falei me levantando da cama sem olhar para Well. – Te vejo de novo depois, Andy? – Perguntei à mesma. 

 - Claro. – Falou sorrindo fraco. Ela provavelmente tinha percebido o clima tenso entre eu e Well. 

Saí do quarto e fui descendo as escadas, tinha alguns minutos pra tomar café, a aula iria começar em breve. 

                              _ 

 (POV) Well

 Ver Daniel sair do quarto com uma expressão triste em seu rosto partiu meu coração. Eu sei que para ignora-lo, terei que machucar o mesmo, mas não achei que seria tão difícil. Eu gosto tanto dele que chega a doer. 

 - Você pegou pesado com o garoto. – Falou Andressa me olhando emburrada. Ela mal chegou, mas com a conversa que tivemos já tínhamos uma intimidade. Ela era muito simpática (e louca). 

 - Ah, ele mereceu. – Falei revirando os olhos. Logo depois ouvimos um grito vindo do andar de baixo. 

 - O que foi isso? Vamos lá ver! – Falou assustada e curiosa. Me puxou e fomos descendo as escadas e quando chegamos, eu.. não acreditei no que vi. 

                          _ 

 (POV) Thomás

 Estávamos eu e Alex sentados juntos e a aula havia começado a uns 20 minutos. Estava muito chato, não vejo Well desde ontem e ele nem veio a aula hoje. Antes quando fui perguntar a Daniel sobre isso, ele me tratou com indiferença e foi ignorante. Eu me perguntava quanto tempo ele iria ficar assim comigo. Um grito bem alto veio do lado de fora da sala, assustando a todos. Nos levantamos e fomos para o lado de fora, eu não acreditei quando vi. A parede estava pichada, eram letras grandes e expressivas, o salão se tomou em um silêncio apavorante, todos estavam em choque. 

 - QUEM FOI O RESPONSÁVEL POR ISSO? – Perguntou a mulher que havia gritado a uns minutos atrás, ela apontou para o tal vandalismo. Estava escrito "Cheguei para ficar" e em baixo uma assinatura falsa, "Tastik". Depois da pergunta da diretora, passou a ouvir-se vários "não fui eu", "nem eu" e "Tastik?". – Quem souber de algo, ou quem for responsável, a porta da minha sala está aberta. – Falou se dirigindo à mesma calmamente. Logo depois, todos ficaram observando as grandes letras expressivas pintadas ali. Eu me perguntava quem seria o vândalo entre nós, ninguém nunca havia feito algo parecido e em tão pouco tempo era impossível fazer aquilo tudo. Avistei Daniel, Alex e Rick em um canto e Nick no meio de uma discussão, parece que estavam acusando ele. 

 - NÃO FUI EU, NÃO TEM COMO VOCÊS PROVAREM PORQUE EU NÃO FIZ NADA. – Nick gritou com um menino que apontava para ele como se ele fosse o culpado. 

 - Sei, você é o que mais faz besteira aqui. – O garoto falou rindo, debochando da cara de Nick. Alguns segundos depois, Nick deu um soco no nariz daquele garoto, fazendo o mesmo cair e sangrar nasalmente. 

 - Nícolas! – Gritei e fui separar aquela briga, segurando Nick pelos braços. Os outros garotos estavam gritando muito, não demorou muito para que a diretora aparecesse. 

 - Vocês dois na minha sala, agora. – Falou se virando e voltando pra sua sala, sendo seguida pelos dois. 

 - Parece que isso ainda vai render muito. – Falou Alex se aproximando de mim. 

 - É, parece que sim. – Falei olhando em volta e vendo o tumulto que estava se formando ali. Quando olhei para a escada, vi Well e.. fiquei feliz. Ele estava observando de longe aquela confusão toda. – Eu vou ali falar com o Well. – Falei sorrindo para o Alex, que logo assentiu sorrindo de volta. 

 Fui andando até a escada, passando por tumultos, confusões, discussões, aquilo estava um verdadeiro inferno. Quando cheguei mais perto, vi uma menina, parecia ser da minha idade, uns 16 ou 17 anos, tinha longos cachos loiros e bonitos. Quando vi que estava analisando a garota a um tempo, parei e voltei a fitar Well, que por sinal era mais bonito ainda. 

 - Well, você está bem? – Perguntei pegando em sua mão. Ele estava quente e com olheiras. 

 - Eu estou com febre. – Falou com uma carinha triste. Que fofo. 

 - Você já falou com a diretora? – Perguntei com uma mão em sua testa e a outra em seu rosto. 

 - Sim, ela me deu um remédio e falou que amanhã eu vou estar melhor. – Falou sorrindo fraco, acariciando minha mão. Arrepiei com aquele simples ato, era tão bom ter meu Well de volta, nem que seja como amigo. Eu só queria ele feliz. 

 - Bom, por um lado você está livre de acusações. – Falei olhando para a parede pichada. 

 - É, verdade. – Falou olhando para a parede também. – Você tem ideia de quem tenha feito isso? 

 - Não, mas não acho que tenha sido o Nick. – Falei voltando a olhar para Well. Eu tinha certeza que Nícolas não faria algo assim, mesmo sendo meio louco, não era inconveniente. 

 - Eu também não. – Falou olhando nos meus olhos e logo depois fitando a menina atrás de si. – Aí meu deus! Esqueci de apresentar vocês. – Falou batendo em sua própria testa, repreendendo a si mesmo. 

 - Eu sou a Andy, prazer. – Falou pra mim, rindo do jeito atrapalhado de Well. 

 - Sou Thomás e você é uma garota! – Falei fazendo os dois rirem. 

 - Não, ela é uma mesa. – Falou Well rindo e zoando com a minha cara. Eu estava surpreso, não recebíamos meninas da nossa idade no orfanato. Era de fato estranho ver uma ali. 

 - Você entendeu o que eu quis dizer, bobão. – Falei rindo e empurrando o mesmo. 

 - Então é esse o seu namorado? – A menina perguntou a Well, que corou na mesma hora. 

 - Porque insiste em pensar que sou gay? – Perguntou Well olhando para a menina e rindo meio sem graça. 

 - Ah, vai dizer que você não é? – A menina perguntou debochada, fazendo eu e Well gargalhar. 

 - Olá meninos, posso pegar ela emprestada um pouquinho? – Perguntou a diretora se aproximando de nós. 

 - Claro, mas devolve. – Falou Well abraçando a menina como se ela fosse dele. Talvez eu tenha sentido um pouquinho de ciúmes, só um pouquinho mesmo. 

 - Devolvo sim, pode deixar. Vamos Andressa? – Pediu e as duas foram andando para o meio do grande salão. – ATENÇÃO! – Gritou a diretora e todos pararam de discutir. – Tenho algo a falar. 

 - Ela é muito legal. – Falou Well olhando para a mesma. Ele não olhava com desejo, nem com atração, talvez eu seja muito paranóico, eles são apenas amigos. 

 - Essa é a Andressa, ela estava sem abrigo e estávamos tentando abrigar ela aqui e, depois de um bom tempo, conseguimos enfim transformar este orfanato em um orfanato misto. – Falou forçando um sorriso, provavelmente ela ainda estava com raiva pelo vandalismo ali feito, uma vez que intercalava o olhar entre os alunos e as palavras expressivas na parede da casa. 

 - Uma garota?! – Um garoto perguntou meio afirmando. Alguns olhavam estranho, outros com malícia, mas todos estavam surpresos. 

 - Espero que recebam ela, pois ela será a primeira de muitas. – Completou a diretora, logo depois voltando ao seu escritório. Andressa havia sido cercada de meninos em instantes, pareciam predadores e Andy seria a presa. Depois de alguns minutos, ela veio sorridente. 

 - Acho que gostaram de mim. – Falou se ajeitando. – Ser a primeira menina em um orfanato para meninos tem lá suas vantagens. – Disse rindo, assim como eu e Well. 

 - Então, vamos mostrar o orfanato pra ela! – Falou Well sorrindo de ponta á ponta. Well estava tão fofo, seu nariz vermelho por conta da gripe deixava ele mais adorável do que o normal. Queria cuidar dele, proteger ele. E eu faria isso.