História Stone Angel - O que tá acontecendo aqui?

(POV) Daniel

 Eu consegui, afastei Well de mim antes que ele me beijasse. Eu realmente não queria me apaixonar por um menino confuso como Well, pra depois me magoar. Mas, será que eu havia feito o certo? Eu senti tanta angústia quando o vi triste, tive vontade de abraça-lo e dizer que tudo iria "ficar bem", mas eu me segurei ao máximo. Eu sou vulnerável demais a ele, mas ele não precisa e nem deve saber. 

Depois que desci me sentei com os meninos, ao lado de Thomás pra ser mais exato. Havia deixado Well sozinho no banheiro, mas ele logo desceu. Quando Thomás o avistou, o seguiu com o olhar e depois de um tempo, o chamou. Ele não queria vir, não me importei muito, até por que Well, pelo que eu já conhecia, era muito solitário. Comi um pedaço de sanduíche e me surpreendi quando olhei para o lado e vi que Thomás já não estava mais ali, ele estava caminhando até a mesa onde Well estava, se sentou e começou a conversar com o mesmo. Senti uma pequena pontada de ciúmes quando vi os dois próximos demais, sorrindo um para o outro. Após alguns minutos, Thomás se levantou e veio de volta à nossa mesa, com Well o seguindo logo atrás. 

- Ei gente, nós vamos para a sala. Afinal, faltam apenas alguns minutos para a aula começar. – Falou Thomás com um leve sorriso em seus lábios. 

 - Hmm né, sozinhossof . – Falou Nícolas olhando e sorrindo maliciosamente para os dois garotos em pé. Naquele momento minha vontade era dar um soco no nariz de Nick, mas ele não tinha culpa de meus sentimentos confusos. Afinal eu estava com ciúmes de quem? Well? Thomás? 

 - Não é nada disso que está pensando, idiota! – Falou Thomás mostrando o dedo do meio ao rapaz. 

 - Sei, sei. – Falou Nick, rindo da reação de Thomás. Well apenas observava tudo, sem falar uma palavra. 

 - Well, está tudo bem? – Perguntei o fazendo olhar para mim. Ele me olhou com olhos tristes, até parecia que estava sofrendo. 

- Sim, estou perfeitamente bem. – Me respondeu grosso. Me surpreendi com sua ignorância, ele provavelmente estava chateado. 

Logo depois eles dois foram caminhando para fora do refeitório, os segui com o olhar até não ver mais a silhueta dos dois. Estava me corroendo de ciúmes, mas não podia demonstrar, não podia nem estar sentindo isso.

                             _ 

 (POV) Well

 Após sairmos do refeitório, vimos a porta da sala ainda trancada, então resolvemos ir ao jardim. Eu adorava observar as flores e, como hoje estava nublado, o dia estava encantadoramente lindo. 

 - Então, o que aconteceu entre você e Daniel? – Perguntou olhando para as flores. Eu sabia que podia confiar em Thomás, então eu decidi contar o que Daniel havia me dito mais cedo. Ele apenas ouviu com atenção tudo o que eu dizia, olhando fixamente em meus olhos. 

 - E então ele saiu e me deixou sozinho. – Falei por fim. Estava extremamente triste, não por Daniel ter se desvencilhado das minhas carícias, mas por ele ter dito que "não pode se apaixonar por mim". 

 - Me desculpa.. A culpa é inteiramente minha. – Falou e eu o olhei. Eu sabia que ele tinha contado para Daniel que havia se magoado por minha culpa, mas a decisão de Daniel de se afastar de mim não havia sido culpa dele. 

 - A culpa não é sua, é minha. Eu te magoei e você foi desabafar com Daniel, nada demais. Afinal.. todos precisamos desabafar com alguém. – Falei enquanto o encarava. Ele sorriu fraco. 

 - Já decidimos onde vamos jogar. – Falou fitando o chão. – Vai ser no terraço do orfanato. – Falou sorrindo fraco. Logo me lembrei dos momentos que havíamos passado juntos ali. 

 - É um bom lugar. – Afirmei sorrindo, fazendo ele olhar pra mim e sorrir também, logo desviando o olhar para o seu relógio de pulso. 

 - Opa, já são 8:00, vamos. – Falou me puxando apressado. 

 Ao chegarmos, os alunos ainda estavam entrando. Eu entrei e me sentei na mesa de sempre, esperando que Daniel entrasse e se sentasse na carteira ao meu lado, mas, quando Daniel entrou em sala, Thomás sentou-se em meu lado e começou a conversar comigo, tirando minha atenção de Daniel. Quando olhei novamente, Daniel estava sentado com Rick. Dei de ombros e prestei atenção na aula. Após as 3 horas de aula terminarem, fui saindo e ouvi alguém chamar meu nome. 

 - Well! – Ouvi de novo, mas ao procurar não achava de jeito algum. Continuei andando e logo senti mãos tocarem meus ombros, olhei para trás e vi Nick com seus lindos olhos verdes. 

 - Nick? Você está bem? Parece nerv.. – Fui interrompido. 

 - Shhhh. – Falou com o dedo em minha boca. – Eu vou fugir do orfanato para comprar coisinhas para a nossa "festinha". Quer ir comigo? – Perguntou animado, olhando em meus olhos. 

 - O quê? Não! Esta maluco? – Perguntei surpreso. Eu sabia que Nick era maluco, mas não a esse ponto. Afinal, porque não poderíamos fazer algo com as coisas que já tinham no orfanato? – Aqui já tem tudo que precisamos. 

 - Não, nem tudo. – Sussurrou no meu ouvido. – Eu vou comprar bebida. – Falou me fazendo arregalar os olhos. Se fôssemos pegos com bebidas no terraço estaríamos ferrados. 

 - Você não vai comprar bebida. – Falei o olhando sério. 

 - Vou sim, vai ser mais legal com bebida. – Falou sorrindo malicioso. – Já que você não vai, eu vou indo. Tchau mozão. – Falou andando em direção a porta da grande casa, mandando e soprando um beijo com as mãos. 

 Após Nick sair, fui andando até o grande mural e vi que não haveria aula hoje à tarde. Aproveitei e fui correndo procurar Daniel, mas logo me lembrei do que havia acontecido mais cedo. Fui caminhando até o meu quarto, estava cansado e já que não haveria mais aula decidi pegar uma roupa e tomar um banho. Subi as escadas mas, ao chegar, me deparei com Daniel e Rick. Eles estavam se.. beijando. 

 - O que tá acontecendo aqui? – Perguntei com raiva, tristeza, decepção.. era um misto de sentimentos que eu não queria ter. 

 - Well? O que está fazendo aqui? – Perguntou Daniel me olhando surpreso. 

 - Aqui é o meu quarto, – Falei sem paciência. – E essa cama em que vocês estavam se pegando também é minha. – Falei ao ver que realmente eles estavam sentados na MINHA cama. Minha raiva aumentou e pra não fazer nenhuma besteira apenas peguei minha roupa, toalha e saí do quarto os deixando sozinhos novamente, eu estava extremamente nervoso, talvez o banho realmente ajude. 

Depois de uns 20 minutos eu saí do banheiro, mas não queria voltar para o quarto e dar de cara com Daniel e Rick aos beijos, então apenas subi para o terceiro andar e entrei na antiga sala de música. Era uma sala enorme e haviam muitos instrumentos antigos lá, avistei um piano empoeirado e sentei em sua frente. Quando pequeno eu era um dos melhores alunos de piano, mas quando as aulas foram dispensadas eu nunca mais tentei tocar novamente.. Até aquele dia. 

                              _ 

 (POV) Daniel

 Depois de ver Well sair do quarto furioso e com uma muda de roupa eu fiquei muito mal, ele não merecia aquilo. Eu não acredito que deixei com que Well tenha me visto com outra pessoa, isso não foi legal, nunca quis machuca-lo. Eu definitivamente sou um idiota. Pedi para Rick ir embora, queria ficar sozinho, mas não ali; Comecei a andar pelos grandes corredores da casa. O orfanato era, de fato, muito grande, era como uma escola ou até mesmo uma mansão. Fui caminhando e escutei uma melodia, estava vindo do terceiro andar, estranhei pois pelo que eu sei, o terceiro andar estava abandonado. Subi as escadas e avistei uma porta, o som estava vindo dela. Decidi espiar e vi Well, me assustei, "porque sempre acabamos nos encontrando?". Ele estava tocando piano, decidi entrar devagar e apenas assistir ele tocar sem que ele percebesse, era tudo tão lindo.. Logo depois de uns minutos, ele me percebeu e se virou me fitando. 

 - O que você tá fazendo aqui? A quanto tempo está aí? – Perguntou surpreso ainda com seus olhos em mim. 

 - Eu ouvi a melodia e a segui. – Falei forçando um sorriso. – Você nunca me contou qu.. – Fui interrompido. 

 - Fala sério Daniel, o que você quer aqui? – Perguntou revirando os olhos e dando as costas pra mim voltando a olhar para o piano. – Pode ficar com o quarto inteiro pra você, mas aqui eu quero ficar sozinho, por favor. – Falou cabisbaixo, parecia estar prestes a chorar. Isso partia meu coração. Eu queria tanto pedir desculpas, mas eu não posso, tenho que me afastar, eu não posso me apaixonar por ele. 

 - Eu vou embora. – Falei e dei as costas a ele, abri a porta e saí da sala. Eu estou certo, não estou? Eu estou me prevenindo de decepções futuras, não é mesmo? Então porque me sinto tão mal? Afastei esses pensamentos de mim e fui em direção a escada, estava descendo quando avistei Nícolas e Alex conversando. Eles estavam brincando e rindo, estavam extremamente fofos. 

 - Ei gente. – Chamei enquanto me aproximava dos dois. – O que estão fazendo? 

- Estava contando pro Alex que comprei bebida pra hoje à noite. – Disse Nick me fitando e sorrindo, parecia estar orgulhoso de si. 

 - Que bom, foi rápido. – Falei retribuindo seu sorriso. – Vocês sabem se já decidiram que horas vai começar o jogo? 

  - As 19:30, logo depois do jantar. – Falou Alex me olhando meio tímido. 

 - Ah, valeu gente, agora vou procurar o Thomás, estou entediado. – Falei e me virei pra ir, mas eles me chamaram. 

 - Fica com a gente, estamos entediados também. – Propôs Alex, olhando pra mim e sorrindo. 

 - Sim, vamos ficar entediados juntos. – Disse Nick fitando Alex e logo depois a mim. 

 - Tá bom vai. – Falei e vi os dois pulando alegres. Eu não parava de pensar em Well, precisava me distrair mesmo. 

                              _ 

 (POV) Thomás

 Eu já tinha preparado tudo, forrei lençóis e coloquei almofadas no chão para brincarmos, até pus as bebidas lá em cima dentro de um isopor com gelo que Nick tinha "pego emprestado" da cozinha do orfanato. Depois de tudo preparado, já eram 18:20 e eu estava extremamente cansado, ainda não acredito que nenhum daqueles viados se ofereceu para me ajudar, fui descendo pela estreita escada do terraço até o terceiro andar e vi Well, ele estava sentado no chão abraçando suas pernas, com a cabeça enterrada em seus braços. Me aproximei, ele não havia me visto, me sentei ao seu lado e descansei minha cabeça na parede olhando pra cima. 

 - Você não tá bem. – Afirmei e vi ele me olhar assustado, com toda a certeza não havia percebido minha presença. – É sobre o que houve no banheiro? 

 - Antes fosse. – Ele falou voltando a olhar para as próprias mãos parecendo que ia chorar a qualquer minuto. 

 - O que aconteceu? – Perguntei olhando para o ruivo cabisbaixo ao meu lado. Eu estava preocupado, ele andava tão triste ultimamente, eu sabia que era culpa do Daniel, só não sabia o porque de Daniel o magoar tanto e ainda sem motivo algum. 

 - Eu cheguei no meu quarto e vi Daniel e Rick se beijando. – Falou ainda olhando suas mãos, só que agora estava chorando um pouco. Eu me surpreendi, realmente não acreditei, como assim Daniel levou Rick ao seu quarto e o beijou sabendo que Well sente algo por ele? Eu estava com tanta raiva que poderia matar um. 

 - Como é que é? E o que aconteceu depois? Eles pararam né?! – Eu estava curioso, queria saber mais. Eu ainda não estava acreditando e por alguma razão, ver Well triste me afetava mais do que saber que Daniel e Rick estavam ficando. 

 - Eu peguei o que tinha ido buscar e saí do quarto, mas depois eu vim pra cá e comecei a tocar piano e.. 

 - O quê? – Perguntei surpreso olhando em seus olhos. Eu não acredito que ouvi isso, ele falou "piano" mesmo? Nossa, fazia quanto tempo que não o via tocar? Uns 2 anos?! 

 - Sim, eu toquei piano hoje, depois de muito tempo. – Falou, agora olhando em meus olhos também. – Posso dizer que não fui tão mal. – Brincou enquanto esboçava um leve sorriso. Como eu amo esse sorriso. Pera.. O quê? 

 - Por que não me chamou? Eu queria ouvir. – Falei fazendo um biquinho, fingindo estar chateado. 

 - Ei, pare com isso, está me provocando. – Ele falou sorrindo e fechando os olhos. Adorava provocar Well, sempre conseguia tudo dele com um biquinho emburrado. 

 - Só paro se você tocar pra mim. – Falei tentando tirar as suas mãos da frente dos seus olhos. 

 - Ah não! – Falou envergonhado. Ele estava tão fofo. – Tenho vergonha, você sabe que sou tímido. 

 - Ah, fala sério Well, é pra mim que você vai tocar, fora que já tocou muitas vezes. – Falei passando as minhas mãos em suas madeixas ruivas. – Ah, vamos lá Well. – Supliquei olhando em seus olhos. – Pelos velhos tempos. 

 - Tá, vem. – Falou revirando os olhos e rindo. Se levantou e estendeu sua mão pra mim fazer o mesmo. Eu iria ouvi-lo tocar somente pra mim, seria nostalgicamente bom para os meus ouvidos. Eu apenas quero ouvir e não pensar em mais nada, a presença dele já me faz tão bem, talvez eu goste de como Well vê o mundo, de como Well é diferente, de como Well fica fofo quando está envergonhado ou até mesmo quando está tentando ser ignorante. É.. Talvez eu ainda goste de Well.