Olho no relógio, já são quase 17h da tarde. "Puta merda!", eu penso. Vou acabar chegando muito tarde. Ok, meu plano era ir tarde, mas não tanto assim! Pego a blusa e a calça que havia separado, minha necessaire e vou para o banheiro me arrumar. Coloco a roupa, faço uma make básica, apenas um pó para disfarçar as manchas do rosto, um rímel e um batom vermelho clarinho. Está bom assim. Quer dizer, é o melhor que eu poderia fazer. Me sinto ainda mais estranha com maquiagem. Como pode isso? "Concentra!", digo para mim mesma. Arrumo o cabelo. Coloco pro lado? Qual lado? Ok, esquerdo é o melhor. Beleza. Coloco uma corrente no pescoço com um pingente de pimentinha. Pego minha pulseira. "Droga, nunca consigo fechar isso!". Desisto, vou sem pulseira. Pego o celular, chamo o Uber, dou uma olhadinha na bolsa para confirmar que o ingresso está comigo e desço até a portaria do prédio.
Oito minutos depois, o Uber chega. Será um longo caminho. Uns 40 minutos até o local do evento. Olho para o relógio no celular e já são 18h. Bom, 19h já estarei lá. Bom? Não sei se é bom. Estou nervosa. O motorista do Uber começa a puxar assunto. Sorte a minha ele ser um cara legal. Começa a falar sobre música, praia e sobre seus relacionamentos. Desculpa moço, não consigo me concentrar muito nos seus assuntos, mas continua aí que me distrai um pouco.
Chegamos no local. Ótimo. Mas o motorista não sabe como entrar. Bacana! Damos algumas voltas em torno do pavilhão até achar a entrada. Encontramos e ele me deixa logo depois dela. Lado ruim é que a entrada para quem tem ingresso "normal" está muito longe. Quase corro para chegar. Sorte que está tarde e já não tem mais fila. Inclusive já tem muitas pessoas saindo do evento. Melhor assim, acho que será mais fácil de encontrá-lo e conseguir falar com ele com calma. Isso se eu conseguir manter a calma e ter coragem de chamá-lo. "Não pensa nisso agora, só entra no evento e estuda o território!".
Entro e o primeiro estande que vejo é o da NVidia. Me falaram que ele estaria por lá. Passo em frente procurando mas ao mesmo tempo morrendo de medo de encontrar. Ok, nada dele por aqui. Dou uma olhada na parte de cima do estande e o Felps, e mais algum youtuber que eu não sei o nome, estão fazendo live. Resolvo dar uma volta pelo evento e ver se encontro alguém. Passo pela lojas americanas que está vendendo lá dentro, dou uma olhadinha nas lojinhas, passo pelos estandes do youtube, xbox e playstation. São todos lindos e com jogos legais pra testar, porém as filas estão enormes! Pelo menos circular pelo evento está de boa.
Dei uma volta inteira pelo evento e estou de volta ao estande da Nvidia. Estou caminhando olhando um pouco para baixo e, quando olho para frente, me dou de cara com ele. Eu congelo na hora. Ele está aqui, há poucos metros de mim, conversando com algumas meninas. "Passa na frente dele, deixa ele te ver!". Não, eu não posso, eu não consigo. Dou meia volta e fujo dele o mais rápido possível. "Idiota! Você não pode agir assim!". Vou até a praça de alimentação e me sento um pouco. Tento respirar fundo algumas vezes para me acalmar. O que foi isso que acabou de acontecer? Por que eu agi assim? Se eu continuar idiota desse jeito eu não vou conseguir nada!
Vinte minutos depois e um pouco mais calma, me levanto e volto a caminhar pelo evento. Tem que ser agora, já são 20h e o evento acaba às 21h. Eu preciso criar coragem, eu preciso falar com ele!
Estou de volta ao estande da Nvidia. Olho em volta e nada dele. Procuro pelo estande e nada também. Quando começo a desanimar, ele aparece lá em cima. Lindo. Sorrindo. Fico olhando diretamente para ele, tentando de alguma forma chamar sua atenção. Ele desce as escadas que ficam bem no centro e fica ali parado. Conversa com algumas pessoas e volta a subir. Quando sobe eu tenho a impressão de ele ter olhado para mim. Ou pelo menos para a direção em que estou. Sinto meu rosto corar. "Eu não vou conseguir, eu não vou conseguir". Ele desce as escadas novamente e vai em direção a outro lugar. E eu não faço nada. Ok, eu tenho esperança de que ele irá voltar. E se ele não voltar? E se eu for atrás dele? E se eu sair daqui e ele voltar por outro caminho? "Melhor ficar aqui. Não saio daqui por nada". Alguns minutos se passam e nada dele. Vejo um pequeno tumulto se formando e caminhando na direção do estande e ele está lá. Ok, não é agora. Vamos esperar mais um pouco. "Pera aí, ele está olhando pra mim!? Ele está olhando para mim! Calma, relaxa, concentra!". Ele sobe as escadas e some dentro de uma sala que fica na parte superior ao estande. Meu Deus! Ele estava olhando pra mim! Estou mais nervosa? Sim. Mas isso foi o gás que eu precisava para criar coragem! Quando ele descer essas escadas novamente eu vou falar com ele! Eu vou!
Mais um tumulto se aproxima e dessa vez são Cauê e Coelho chegando. E com isso, ele desce as escadas e passa desapercebido por todos. "É a minha chance!"
– Cellbit! Cellbit! – corro na direção dele toda desajeitada. Ele me olha meio sério – Posso falar com você um pouquinho? – Ele apenas para e fica me olhando, esperando ouvir o que tenho para falar com ele. "Vai lá, fala algo! Você está com a atenção dele!". Ao mesmo tempo que estou feliz pela atenção eu fico meio preocupada com o jeito estranho dele comigo. – É... Posso tirar uma foto com você? – "Sério? SÉRIO? Esse é o seu melhor, mulher?"
– Claro. – Ele me responde sério, sem nenhum tipo de empolgação na voz.
Peço para uma menina que está usando uma camiseta de staff do evento para tirar a foto. Posiciono meus braços sobre seus ombros e ele mal encosta em mim. Tiramos a foto e a menina me entrega o celular. Quando vou puxar assunto novamente ele simplesmente vai embora. Não me dá tchau, não sorri, não faz nada. Ele simplesmente se virou e foi embora. "Tudo bem, é quase final do evento, ele deve estar cansando.", tento me consolar de alguma forma.
Saio dos arredores do estande da Nvidia, está impossível ficar lá agora. Fico mais perto das entradas. Pego meu celular e dou uma olhada na foto. Nossa. Essa foto ficou horrível. Ele parece evitar tocar em mim. Ele parece estar entediado, não sei. Não entendo. Ele tinha olhado pra mim! Isso deveria ser um bom sinal, não deveria? E eu não estou ficando louca, eu tenho certeza que ele havia me olhado algumas vezes...
Por algum motivo resolvo voltar para lá, resolvo tentar de novo. "Não quero ser trouxa, mas vou ser trouxa e já estou sendo trouxa.". Ele está aqui embaixo. Tirando fotos. E sorrindo para as fotos. E sorrindo para as pessoas que falam com ele. Porra, qual o problema comigo? Por que na minha vez ele foi estúpido, antipático? Por que na minha foto ele mal encostou em mim, enquanto agora ele está praticamente abraçando essas pessoas? O que há de errado comigo? Fico olhando para meus pés, para evitar aquelas cenas que estão acontecendo diante de meus olhos. E, enquanto estou olhando para baixo, sinto que há alguém olhando para mim. Olho em direção a parte de cima do estande e vejo que Cauê está me olhando (ou, de novo, olhando para a direção em que estou). Fico observando ele chamar a atenção do Coelho e os dois acabarem olhando pra mim. Respiro fundo e paro de olhar. Parando de olhar para eles eu acabo presenciando uma cena de Cellbit abraçando uma menina. Tiro forças de não sei onde para não acabar desabando ali mesmo, na frente dele e na frente de toda essa gente. Não dá, eu não aguento mais. "Fracassei, eu sou um lixo mesmo." As primeiras lágrimas começam a brotar em meus olhos e eu praticamente começo a correr em direção a saída do evento. Preciso sair daqui o mais rápido possível. Para o meu azar agora são 21h, ou seja, todos estão saindo. Começo a literalmente correr e me esbarro em muitas pessoas. Em meio a xingamentos de todos os tipos eu consigo sair. Atravesso a ruazinha que há na frente do pavilhão e sento no meio-fio da calçada. E desabo ali mesmo. Sinto que não irei parar de chorar tão cedo. Eu entro em desespero. Por quê? Por quê? Precisava ser assim? Era óbvio que ele não iria se apaixonar por mim e dizer que eu era o amor da vida dele, mas porra, precisava ser assim? Tão grosso? Tão estúpido? Tão, tão... tão idiota mas ao mesmo tempo, tão lindo? Apoio minha cabeça sobre meus joelhos e fico ali. Começa a cair uma leve garoazinha e o tempo esfria. Não me importo. O que é o frio da rua perto da frieza com que ele me tratou?
"Começa a chover, e a lágrima vai se misturar com a água que cai do céu. E ao anoitecer, em vão eu tento encontrar o que de mim você levou, pra sempre. Pra sempre..."
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