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História Storm - Dramione - O Inferno é Gelado.


Escrita por: raveenaa

Notas do Autor


enjoy ^^

Capítulo 6 - O Inferno é Gelado.


Fanfic / Fanfiction Storm - Dramione - O Inferno é Gelado.

 

'''O amor verdadeiro sobrevive quando a matéria se corrompe? O que significa para você? Um rosto bonito? Um alívio rápido de respiração ofegante? Não há romance na morte, e a morte está no outro lado de nossa moeda. Nós somos apenas carne sobre ossos, esperando para apodrecer. Encontre seu prazer onde quiser, claro, mas não o enfeite com doçuras e promessas. Não resta mais nada em prender sua lealdade. Desista.

- Chella, Emperor of Thorns - Triology of Thorns

 

Daniel

 

  - 1 semana depois –

 

- Simplesmente não está dando certo. - falo, pacientemente - Essa relação, quero dizer.

Ruídos desconsolados vêm do outro lado da linha. Quase não consigo decifra-los; o sinal não é particularmente bom no telhado de uma casa de um mundano qualquer. Caminho pela borda do telhado, espiando pelo jardim central. Árvores são iluminadas por luzes elétricas. Mesas e cadeiras ultramodernas e refinadas se espalham pelo espaço do jardim. Homens e mulheres jovens, igualmente refinados e ultramodernos lotam o lugar, taças de vinho brilhando em suas mãos como bolhas límpidas, em vermelho, branco e rosa. Alguém alugou o espaço para uma festa particular: uma faixa de lantejoulas de aniversário está pendurada entre duas árvores, e garçons atravessam a multidão com bandejas de aperitivos. Como sei disso? Evangeline me contou. Não quero nem saber como ela pode saber tanta coisa sobre os trouxas.

Algo nessa cena glamorosa me desperta a vontade de interromper a festa, chutar algumas telhas ou saltar no meio da multidão. Mas infelizmente, Draco arrancaria minhas bolas por deixar rastros ou alguém me reconhecer.

Suspiro e levo o telefone de volta ao ouvido.

- Tudo bem, nossa relação - corrijo - Nossa relação não está dando certo.

- Daniel! - Evangeline sibila alto atrás de mim. Me viro, minhas botas equilibradas na beira do telhado. Evangeline está sentada na telha inclinada atrás dela, tentando concluir o feitiço em uma tigela qualquer da festa com sua varinha cinza. A cor da varinha mágica combina com os elásticos que prendem seus cabelos prateados; branco a luz da lua, evitando que caíam no rosto. Tudo em Evangeline é organizado e arrumado, ela consegue ficar bonita e profissional com seu traje preto, do mesmo jeito que as outras pessoas ficam em um terninho. O medalhão dourado de boa sorte brilha no pescoço, e o anel de família, com estampa de uma cobra, luzia em sua mão enquanto ela continua o que está fazendo. - Daniel, lembre-se. Utilize a primeira pessoa.

A trouxa continua tagarelando do outro lado da linha qualquer coisa sobre se encontrar para conversar, mas sei que não adiantará nada. Qual é o nome da garota mesmo? Juliete? Jane? Jessy? Alguma coisa com J.

Continuo concentrado na cena abaixo - aquilo é uma sombra passando pela multidão ou estou imaginando coisas? Talvez seja meu desejo. Mark costumava ser confiável e parecia muito seguro em relação aquela noite, mas eu detesto se arrumar inteiro e se concentrar para descobrir que não haverá luta para gastar toda a energia.

- O problema sou eu, e não você. - disse ao telefone. Evangeline faz sinal positivo com o polegar para me encorajar. - Eu enjoei de você - Sorrio alegremente quando Evangeline esconde o rosto nas mãos. - Então, de repente, será que podemos voltar a ser amigos?

Fez-se um clique quando Juliette ou Jane ou Jessy desliga.

- Engraçado você usar um objeto trouxa. - diz ela apontando, se referindo ao telefone.

- Talvez eles não sejam tão inúteis assim. E esse - rodo o celular em minhas mãos. - É muito útil. Principalmente quando quero conversar com alguma gata.

Ouço o muxoxo de indignação da garota prateada.

Guardo o telefone no cinto e examino a multidão outra vez. Nada. Irritado, escalo o telhado para sentar ao lado de Evangeline.

- Bem, dava para ter sido melhor- argumentei.

- Você acha? - Evangeline tira as mãos do rosto. - O que aconteceu?

Pego minha varinha e começo a examina-la tentando disfarçar.

- Ah o de sempre, sempre acontece. Sabe, eu não estava planejando dispensar a garota. Estávamos aqui, e ela ligou e o rosto dela apareceu no meu telefone, bem, na verdade uma lhama apareceu no meu telefone, porque eu não tinha uma foto dela, então usei a de uma lhama, e a lhama me irritou tanto que não pude evitar.

- Que época ruim para ser uma lhama. - diz Evangeline, concentrada. Ela franze a testa.  - Quem é essa garota? - pergunta.

- Ciúmes? - encaro-a.

Evangeline ri, ainda concentrada na festa que está acontecendo logo abaixo de nós.

- Uma trouxa que conheci em uma balada qualquer. Ruiva, olhos azuis e uma bela bunda. - suspiro, recordando de Jessy, Jane ou Juliette.

Evangeline me olha.

- Não sabia que você frequentava ambientes trouxas, muito menos que se relacionava com trouxas. - diz ela, encarando-me com um olhar estranho. - Malfoy, Lucius e seus amigos sabem?

Sorrio.

- Você não sabe nada sobre mim, alteza. Mas, respondendo a sua pergunta: Malfoy e Blás sabem. Lucius cortaria minha garganta se soubesse. ''Vai contra todos os princípios que Lorde nos deixou''. - imito a voz de Lucius. - E bom, nunca negaria uma bela bunda e um belíssimo par de peitos.

- Eles não se importam? Malfoy e Zabini? De andar com um corrompido? Um sangue-puro que utiliza objetos trouxas e transa com elas? - pergunta ela. - Você não se importa?

- Não é como se eles fossem meus pais. - suspiro, lembrando de mamãe. - Já disse, alteza. Não ligo para os trouxas e nem para essa baboseira por qual luto. Porque simplesmente não me importa.

Porque foi o que aconteceu. O mundo seguiu em frente, indiferente depois daquela maldita noite. E eu aprendi que nada importava. E a partir daí eu vivi uma vida impulsionada pelo desejo, o desejo de vingança, de glória, de ter o que me é negado. Uma ordem simples, pura e afiada com uma arma

Evangeline me olha com uma expressão estranha no rosto.

- O que está fazendo aqui então?

- Não é como se eu tivesse escolha. - digo. - Só tenho duas escolhas nesse jogo.

- E quais são? - ela pergunta, curiosa demais.

- Matar. Ou ser morto.

Evangeline ri, uma gargalhada estranha.

- Oh Dan, ninguém controla seu destino além de você. - diz. - Quanta bobagem, não sabia que que você utilizava frases prontas - ela continua, ainda sorrindo. Suspira e olha para cima, para o céu estrelado acima de nós.

 - Você já se apaixonou alguma vez? - ela pergunta, virando-se de lado para me olhar.

Olho para o céu. Tão perto de onde estamos.  Pisco algumas vezes.

- Não.

Ela se vira de novo, decepcionada.

- Ah.

- Isso é tão deprimente. - digo.

- É.

- Nós somos péssimos.

- É.

- Esse assunto está me entediando. – Volto a observar a festa. 

- É. - ela repete, depois balança a cabeça e me olha. - Você não sabe o nome dela, não é? Da garota, quero dizer? 

Sorrio.

- Você é um monstro horrível. – diz ela, balançando a cabeça.

Me levanto, deslizando minha varinha para o cinto de armas.

Ela volta a mexer na tigela e usar a varinha.

- Esqueça de tentar fazer esse feitiço funcionar, princesa. Não vamos conseguir nos comunicar com Draco e a patrulha, esqueça. Teremos que encontrar o caminho sozinhos. Graças a você, é claro.

Me movo para a beira do telhado; desta vez ouço as botas arranhando o tijolo e informando que Evangeline está atrás de mim.

- Você veio atrás de mim por sua conta e risco, Dan. Não lembro de ter pedido para você virar meu guarda-costas, decidiu isso sozinho.

Dou meia volta e fico cara a cara com Evangeline.

- Você ia se matar, alteza. - sibilo cada palavra com o máximo de veneno que consigo colocar nelas.

Evangeline não diz nada.

- Certo..? - repito.

Evangeline respira fundo.

- Então você admite seu erro, princesa? - digo, cutucando-a.

- Está vendo? - pergunta ela, apontando.

Aa eu vejo. Um homem alto, com cabelos bem cuidados, pele clara e roupas feitas sob medida, se movendo entre a multidão.

Mark.

- Me dá o pó Evangeline. - Peço, estendendo a mão para Evangeline, ainda encarando Mark, sem perder ele de vista.

O homem se aproxima de uma jovem com saltos muito altos e uma taça de champanhe na mão. Ela fez que sim com a cabeça, estica a mão e entrega alguma coisa na mão dele, com um sorriso no rosto enquanto ele guarda a coisa no bolso.

Horcrux, talvez seja uma.

- Eu não.. não sei se vai funcionar.. talvez seja perigoso. - Gagueja ela insegura.

- Rápido, alteza.

Evangeline pega o saquinho de tecido. Começa a abri-lo enquanto o homem vai da mulher sorridente para um homem esguio de paletó preto. Ele está quase diretamente abaixo de mim e Evangeline. Pego o saquinho das mãos de E.

- Hoje não, Mark. - digo, dando um peteleco na bolsa que estava segurando e despejando na cabeça do homem.

Evangeline fica horizada quando vê o que conseguiu fazer na tigelinha durante todo aquele tempo. Um pó que faz sua tatuagem de comensal queimar muito. E doer muito.

O feitiço de disfarce usado na tatuagem desaparece como uma cobra trocando de pele. Literalmente.Um coro de gritos emerge da multidão quando Mark começa a se contorcer feito uma minhoca.

- Tente silencia-los. Não consigo trabalhar com esses imundos gritando em meu ouvido.

- Daniel - alerta Evangeline. - Temos que conter isso agora... tenta chamar Malfoy e a patrulha por fav..

Mas eu já tinha pulado.

Por um momento, pareci uma pluma, caindo pelo ar. Então atingi o chão, com os joelhos dobrados, como tinham me ensinado. Como eu lembrava daqueles primeiros saltos de grandes alturas, os estalos, as quedas desajeitadas, os dias que tinha de esperar até se curar para poder tentar outra vez. Nem mesmo os feitiços ajudavam na recuperação.

Não mais. Me levanto, encarando Mark através da multidão. Os olhos dele são amarelos como os de um gato.

- Greengrass. - sibila o homem.

Os convidados da festa agora estão em absoluto silêncio. Muito bem, Evangeline.

Dobro o braço por cima do ombro e fecho a mão em volta do cabo da espada. A lâmina causa um borrão no ar quando eu a saco e aponto a ponta para Mark.

- Não. - zombo - Sou uma jujuba. Essa é a minha fantasia.

O homem parece confuso.

Suspiro.

- É tão difícil fazer piada com velhos. Vocês nunca entendem.

- Não temos tempo para besteiras, pirralho. - diz Mark, claramente ofendido.

- Tudo bem. Responda rápido, morra jovem. - franzo a testa. - Talvez não tão jovem assim. Mas a questão é: revire os bolsos, agora.

- Lucius sabe disso, pirralho.? Se não sabe, irá ficar sabendo em breve, você vai pagar por sua insolência e ousadia. - Diz ele.

- Lucius sabe que você rouba os trouxas por diversão? - sorrio ao ver a expressão dele. - Vamos, não tenho esse tempo todo. Vire os bolsos ou vou enfiar sua varinha onde o sol não bate. -

O homem parece confuso.

- Onde o sol não bate? É um enigma?

Solto um suspiro martirizado e ergo minha espada.

- Vire os bolsos ou vou começar a descasca-lo. Acabei de terminar com minha quase namorada, e meu humor não está dos melhores.

O homem começa a esvaziar lentamente os bolsos, me encarando durante todo o processo.

- Então você é solteiro. - diz ele - Nunca imaginaria.

Um engasgo soa do alto.

- Isso é grosseria. - diz Evangeline, inclinando-se sobre a beira do telhado.

- Obrigada Evangeline. - digo - Golpe baixo. E, para sua informação, Mark, eu terminei com ela.

A criatura dá de ombros. Foi um gesto bastante expressivo, que consegue transmitir diversas formas de não dar a mínima ao mesmo tempo.

Reviro os olhos. Mark continua descarregando o que roubou - brincos, carteiras de couro, anéis de diamante caíam no chão em uma cacofonia brilhante. Me preparei. Eu não me importo com as jóias ou com o roubo. Estou procurando por armas, livros de feitiços, qualquer sinal de magia que associasse as Horcrux.

Naquele momento, algo brilhante vem em direção ao meu rosto. O ladrão atira um colar de diamantes em mim. Desvio, mas a ponta do cordão atinge minha bochecha. Sinto a dor ardida e o calor do sangue. Ele atirou a porra de um colar em meu lindo rosto! Mas que diabos?

Me estico, mas a criatura já tinha desaparecido. Pelos sete infernos! Limpo o sangue do rosto e xingo o maldito de todos os insultos possíveis.

- Daniel! - grita Evangeline, que tinha descido do telhado e estava perto de um portão no muro. Uma saída de emergência. - Ele foi por aqui!

Corro naquela direção, arrombo a porta e disparo por um beco atrás da casa. Tudo, surpreendente escuro; lixo jogado contra o muro fede a comida estragada e álcool. No final do beco, vejo o homem virar para a esquerda.

Parto atrás dele, com Evangeline ao meu lado. Passei tanto tempo da vida correndo com Draco ou Blás que tenho dificuldades em ajustar meu ritmo ao de outra pessoa; sigo em frente, correndo. Mark juntou duas latas de lixo para bloquear a passagem. Pulo por cima, utilizando as lixeiras para tomar impulso, as botas batendo no metal.

Caio para a frente e aterrisso em algo macio. Tecido rasga sob minhas unhas. Roupas. Roupas de um corpo trouxa. Roupas molhadas. O cheiro de água e podridão está por todos os lados. Eu estou olhando para um rosto inchado e morto.

Contenho um berro. Um instante mais tarde Evangeline cai ao meu lado. Ouço ela soltar uma exclamação grosseira. Em seguida, os braços de Evangeline me envolvem, afastando-me do corpo com dificuldade. Aterrisso no asfalto, desconfortável, sem conseguir parar de olhar.

O corpo é inegavelmente de um trouxa. Um homem de meia-idade, ombros arredondados, oscabelos grisalhos volumosos como uma juba de leão. Partes da pele estão queimadas, em preto e vermelho, bolhas se erguem nos pontos onde as queimaduras são piores; nos peitos e nos braços há linha de símbolos pretos. Símbolos que eu conheço tão bem quanto as cicatrizes em minhas mãos. Encarei obsessivamente registros dessas marcas durante cinco anos. Eram as marcas que o Ministério encontrou no corpo de meus pais quando eles foram assassinados. Tiro o máximo de fotos que consigo.

Sinto um calafrio percorrer minha espinha. Entusiasmo e medo pelo que finalmente irei descobrir com essa pista.

Olho para Evangeline que está com uma expressão tão horrorizada quanto a minha deve estar.

- Vem, vamos sair daqui. - digo, puxando-a pela mão.

Corremos o mais rápido possível antes de escutar as sirenes.

 

~~

 

- ‘’DRACO, O AMOR DE SUA VIDA E EVANGELINE ESTÃO TE ESPERANDO

TRAGA A CARRUAGEM

COM AMOR, DANIEL. ‘’

- Você só pode estar de sacanagem. - diz Evangeline, exasperada.

- A ideia foi sua, princesa, eu só a executei. - retruco, sorrindo.

Observo meu trabalho. Lindo, que letra magnífica, assim como eu. Evangeline teve a ideia de escrevermos uma mensagem no céu. Ela está em letras gigantes espalhada pela imensidão, bem acima de onde estamos. Não tem como Draco não encontrar o caminho.

- Você acha mesmo que eles estão nos procurando no mundo trouxa? - pergunta Evangeline pela quinquagésima vez em dez minutos.

Suspiro e volto a limpar minhas unhas com a faca que estava em minha bota.

- Já te disse, querida. Avisei Kaz antes de ir atrás de você. Quer que eu repita novamente o que disse a ele? - pergunto, olhando-a. Com os cabelos brancos como a lua, pele de alabastro e olhos que são duas poças de Mercúrio. O que ninguém percebe em Evangeline é que, a beleza não passa de uma arma em seu arsenal natural.

Ela ergue uma sobrancelha em resposta.

- Pois bem, eu disse ''Kaz, vou atrás da burra que se distanciou e provavelmente vai parar em outro planeta se a deixar solta, avise Draco depois que eu já não estiver à vista, entendeu?'' E ele respondeu com o ar debochado que sempre usa ''Vai lá''. Satisfeita doce e querida Evangeline? Agora, por favor, dê um descanso para meu cérebro antes deles chegarem.

- Você é louco. Completamente insano! Acabamos de ver merda de um corpo em decomposição e você está aí, agindo como se nada tivesse acontecido! Qual é a porra do seu problema? - Evangeline se aproxima e começa a gritar na minha cara.

- Ei, ei, ei. Calminha ai! - afasto ela de perto do meu rostinho. - Não é bem assim! Aquele corpo finalmente me ajudará a resolver o mistério que estou tentando desvendar a cinco anos! Me perdoe se não estou aos prantos pelo velho. - digo, olhando-a desafiadoramente.

Perguntas ainda rondam minha cabeça.

- Não esqueça que tudo isso é culpa sua! - me levanto e aponto um dedo acusativo para ela. - Afinal, o que diabos você queria quando se afastou da patrulha? - ela se cala - Estávamos todos seguindo as instruções de Lucius sobre a posição exata de Mark. É qual era mesmo? Ah sim, no pub Gordon's Wine segundo Lucius, lá estaria Mark. Como você sabia que ele estaria em uma casa trouxa qualquer? Onde você viu isso Evangeline? Como diabos você sabia?

Estou muito próximo dela agora. Jorrando as palavras como se fossem veneno.

Ela está absurdamente calada, sem reação, sem piscar. Assustada.

5 6 7 segundos se passam e ela continua me encarando com os olhos de mercúrio arregalados, em silêncio.

Por fim, falo.

- Esquece. Não é a mim que você deve explicações. Draco vai querer saber o porquê disso tudo. E acredite em mim, Gray, você não vai querer descobrir o que ele faz com traidores.

- O que você acha que ele vai fazer? - Ela murmura, se abraçando.

Movimento a mandíbula.

- Você fez besteira, Gray.

Ficamos assim, em silêncio, até minha carruagem: um Draco muito, muito bravo, chegar.

 

Hermione

 

- O que diabos vocês pensam que estão fazendo? - Malfoy rosna, vermelho parecendo um tomate.

- Pensamos que vocês tinham sido pegos. - diz Mare, impaciente e com as bochechas rosadas da viagem na vassoura.

- É, principalmente quando escutamos as sirenes. - acrescenta Lívia.

- É, o que vocês ficaram fazendo durante todo esse tempo sozinhos em? - pergunta Kaz, sorrindo malicioso.

- Então Draco, sabe as sirenes? Foram porque encontramos um corpo e provavelmente alguém chamou a polícia e sabe que encontramos o corpo quando estávamos perseguindo Mark? Eu cai em cima do corpo ele estava todo queimado e marcado com os mesmos símbolos que encontramos no corpo de meus pais eu estou tão animado finalmente encontrei uma pista sobre tudo isso eu tenho esperanças Draco eu finalmente tenho esperança de que talvez possa fazer justiça contra os assassinos. - Fala Daniel, descontroladamente, atropelando tudo.

- Oi? - Fala Isaac, dando risada.

- Pera aí, vocês encontraram Mark? - Pergunta Lívia, olhando de mim para Daniel.

Eu estou completamente ferrada.

- Como? - Pergunta Malfoy, olhando para mim. Ele ignora totalmente Daniel, que está quase pulando de alegria.

- Então, essa é a parte complicada. - Diz Daniel, passando a mão pelo cabelo preto, nervoso.

- É, é sim. Prefiro falar sobre isso no alojamento. Será que podemos ir agora? Antes que alguém nos veja? - Digo, sorrindo.

Malfoy continua me encarando. Ele podia me matar com aquele olhar.

- Não, não. Estou morrendo de fome. Rodamos o mundo bruxo e o trouxa inteiro atrás de vocês. Ei, chefe, será que podemos passar em algum lugar trouxa comer e descansar? - Retruca Kaz.

- É, chefe vamos lá. Estou me sentindo um tatu de tanto ficar embaixo da terra. Sem falar que a comida de lá é horrível. – ajuda Isaac.

Ainda sinto o olhar de Malfoy queimando minha nuca quando me viro e enxugo o suor frio de minha testa, aliviada.

 

~~

 

Tudo no interior do pub é amarelo. As paredes amarelas, as mesas, amarelas, e quase toda a comida tem tons de amarelo. Frequentei lugares assim com meus pais. As lembranças fazem meu coração apertar.

Todos nós nos amontoamos em uma mesa no canto, e por alguns minutos tudo foi absolutamente comum: a garçonete, uma mulher alta e de cabelos ruivos veio deixar uma pilha de cardápios na mesa. Eu e Daniel, os únicos que conhecem um pouco do mundo trouxa, dividimos um cardápio. Os outros ficaram apenas observando o interior da lanchonete. Estavam apertados na mesa, e me vi pressionado contra a lateral de Malfoy. Ele estava quente, com a boca em uma linha fina e o rosto sem expressão alguma. As possibilidades de eu ser lixada rodavam a minha mente.

Acredite em mim, Gray, você não vai querer descobrir o que ele faz com traidores.

Sinto um arrepio percorrer minha espinha.

A garçonete, com um crachá que dizia Jean, piscou.

- Não temos esse prato no cardápio.

- Mas tem morango no cardápio. - Diz Kaz. - E já vi pratos passando por aqui. Então é lógico pensar que morangos possam ser colocados em um prato e trazidos para mim.

Jean fica encarando.

- Ele tem um bom argumento. - Diz Lívia - Morango é uma das opções de complemento de vários pratos. Certamente pode pegar só os morangos.

- Um prato de morangos. - Repete Jean.

- Gostaria que viessem em uma tigela. - Diz Kaz, encarando Jean e dando um sorrisinho encantador. - Já faz um tempo que não como por vontade própria. - Ele acrescenta e lança um olhar acusativo para Malfoy. - E um prato de morangos é  tudo que quero, bela dama.

Jean parece espantada.

- Certo. - Diz ela, e desaparece com os cardápios.

- Kaz. - digo - Isso realmente é necessário? Os trouxas são como nós.

Todos me olham espantados.

Merda.

Daniel dá um sorriso nervoso.

- O que ela quis dizer é que você não precisa falar como se estivesse recitando um poema medieval. - Censura Daniel. - E também não precisa dar em cima de qualquer par de peitos que ver na sua frente. Talvez devêssemos conversar sobre descrição.

- Não consigo evitar. - diz Kaz com um pequeno sorriso. – E, eu preciso mostrar para ela meu charme!

- Você precisa agir como um ser humano normal. - diz Daniel. - Quando estamos em público no mundo trouxa.

- Ei, eu sou normal! - responde Kaz, ofendido.

- Você esbarrou em um orelhão e disse ''me perdoe, senhorita'' quando estávamos entrando. - diz Daniel exasperado.

- É educado pedir desculpas. - responde Kaz, com o mesmo sorriso discreto.

- Não para objetos inanimados.

- Certo, chega. - digo.

Conto rapidamente os acontecidos que se passaram na casa Trouxa. Deixando de fora o motivo pelo qual sai de perto da ''patrulha''.

- Você tem certeza que eram as mesmas marcas no corpo de seu pai, Daniel? - Pergunta Malfoy.

- Absoluta, você sabe que sim. Fiquei obcecado pelas marcas durante anos, não falaria uma coisa assim sem ter certeza. - responde Daniel.

- Lembro quando o mundo bruxo publicou em todos os jornais sobre a morte bizarra deles, cara. - comenta Isaac.

Os corpos dos pais de Daniel foram encontrados cinco anos atrás, mortos por afogamento e com misteriosas marcas negras espalhadas por todo o corpo. O mundo bruxo pensou que era um sinal da volta de Voldemort, ou que talvez fosse uma das vítimas dele.

Aparentemente não, se fosse, por que diabos Daniel estaria servindo o assassino de seus pais?

Interessante.

- Nunca consegui encontrar nenhuma pista sobre a morte deles. O ministério da magia não conseguiu resolver porra nenhuma.

- Nunca consegue. – acrescenta Malfoy. - Será que podemos voltar e analisar o copo?

- Não podemos. - diz Lívia. - A polícia trouxa já deve estar presente em peso. Não vamos conseguir nem chegar perto por uns dias.

Daniel suspira exasperado.

- Pelo menos tirei algumas fotos.

- Deixe-me ver. - diz Malfoy, se inclinando sobre a mesa para pegar o objeto trouxa. - Já disse que se Lucius descobrir que você usa essas coisas trouxas ele corta sua língua. Aliás, se descobrir que estamos aqui ele mata todos nós

A garçonete volta com a comida. Queijo quente para Isaac, sanduíche de peru para Mare e Lívia, um de bacon, tomate e alface para Malfoy, waffles para mim e Dan, e o prato de morangos para Kaz.

- Por que você chama seu pai de Lucius? - Pergunta Isaac com a boca cheia de queijo e pão.

Malfoy ainda observando as fotos do corpo, levanta o olhar para Isaac e por uma fração de segundos parece confuso, depois a boca vira uma linha fina e ele responde, duro:

- Não sei, costume, talvez. Todo mundo chama ele assim.

Interessante. Muito interessante.

Kaz parecendo um santo, pega o xarope de bordo da mesa e o despeja sobre os morangos. Pega um e o coloca na boca, com a folha e tudo. Daniel fica olhando para ele.

- O que foi? - diz Kaz. - É uma escolha alimentícia perfeitamente normal.

- Certamente. - diz Daniel. - Se você for um passarinho.

Kaz ergue uma sobrancelha.

- É sério, cara. Não sei qual é o seu problema ou o que o mundo trouxa faz com você, mas, por favor, aja como um trouxa qualquer... normal, está chamando muita atenção. - diz Daniel, sério, fazendo movimentos com os braços e olhando em volta.

- Eu sou normal! - Responde Kaz, cerrando os dentes de raiva.

Os outros dão risadinhas e Kaz fica vermelho como um pimentão.

Kaz se levanta e atravessa o recinto.

- O que ele está fazendo? - pergunto a Daniel. Kaz vai até uma mesa próxima de meninas trouxas tatuadas e cheias de piercing, elas dão risinhos descontrolados enquanto falam com Kaz.

- Pelos sete infernos! - Daniel coloca dinheiro trouxa na mesa e se levanta, se afastando da mesa. Me apresso em segui-lo, assim como os outros.

- Posso ter liberdade com seu alface, princesa? - Diz Kaz para uma menina de cabelos roxo e uma pilha de salada no prato. Ela empurra o prato para ele, sorrindo.

- Você é lindo - diz ela - Esqueça a alface, você pode ter liberdade com...

- Tudo bem, você provou seu argumento. Chega. - Malfoy pega Mark, que estava comendo uma cenourinha alegremente, pelo pulso e tenta puxá-lo até a porta. - Perdoem-me, senhoritas. - fala quando um coro de protestos se eleva.

A menina de cabelo roxo se levanta.

- Se ele quiser ficar, ele pode ficar - fala. - E quem é você, aliás?

Demora menos de 2 segundos para Malfoy responder.

- Sou o irmão dele. - Diz.

- Vocês não se parecem em nada. - Retruca ela, olhando Malfoy de cima a baixo com uma cara de desdém.

Um engasgo soa alto, em seguida outro.

- Isso foi grosseiro. - Falo com Daniel ao mesmo tempo.

Lívia emite um ruído exasperado, dá um passo à frente e pega Kaz pela parte de trás da camisa.

- Você não quer nada com ele - fala ela para a garota de cabelo rosa. - Ele tem sífilis.

A menina fica encarando.

- Sífilis?

- Cinco por cento da população desse país tem. - Diz Isaac, ajudando.

- Não tenho sífilis. - Retruca Kaz, irritado. - Não existe doença sexualmente transmissível no mundo bruxo!

As garotas trouxas imediatamente se calam.

- Desculpe. - Diz Daniel. - Vocês sabem como é a sífilis. Ataca o cérebro. 

As meninas ficam boquiabertas quando Lívia e Malfoy puxam Kaz pela camisa por todo o restaurante e até o estacionamento, com o restante do grupo atrás.

Assim que saímos e a porta se fecha, solto uma gargalhada. Me apoio em Daniel, que também ri, enquanto Lívia solta Kaz e ajeita a própria saia, que parece amassada.

- Desculpe. - Digo - É que... sífilis?

- Isaac estava lendo sobre isso hoje. - Responde Lívia.

Daniel que estava agachado e segurando a barriga de tanto rir olha espantado para Isaac.

- Por que estava lendo sobre sífilis? - Diz ele, limpando uma lágrima.

Isaac dá de ombros.

- Pesquisa.

- Isso realmente era necessário? - Pergunta Kaz. - Eu só estava batendo um papo. Achei que devesse praticar meu charme bruxo com as trouxas.

- Você estava bancando o ridículo de propósito. - Retruco, sorrindo.

- Não podemos falar com os trouxas - diz Malfoy. - É o básico. Uma das primeiras coisas que aprendemos quando entramos para o exército do Lorde. Lembra?

Meu estômago embrulha.

- Eu falei com aquelas trouxas, e ninguém explodiu ou pegou fogo. - Diz Kaz. - Nenhuma maldição nos assolou. Vê? - Ele dá uma voltinha.

- Cala boca cara. - Diz Daniel, ainda rindo.

- Tudo bem. Chega. Vamos embora. - Ordena Malfoy, escondendo um sorriso.

Nos dirigimos para nossas vassouras escondidas.

- Ei cara, você pode me emprestar seu livro sobre sífilis? - Escuto Daniel perguntar para Isaac enquanto alçamos voo.

 

~~

 

Já no subsolo ou gaiola, segundo Kaz, como preferir, me dirijo aos dormitórios. Em uma tentativa de escapar da fúria e do interrogatório de Malfoy. Minha cabeça dói e estou exausta. Portanto, deixo todos os meus inquilinos/inimigos para trás, é cedo ainda, chegamos bem na hora que estão servindo o jantar. O grupo, principalmente Daniel, fez questão de contar a todos os outros 2 mil soldados sobre os ocorridos de hoje. Patético.

No banho, com água escaldante, esfrego o sangue, a sujeira e o suor. Observo a água correr rosada pelo ralo. Eu não sei dizer quantas vezes isso já aconteceu, a frequência com que sangro em batalhas e treinamentos. Tenho cicatrizes pelo tronco e pelos ombros, nos braços, nas partes de trás dos joelhos. E só faz três semanas que estou aqui. Estarei marcada para sempre.

Não sei mais o que fazer nem pensar. As pessoas com que convivo não parecem más. Talvez estejam só lutando pelo ideal errado.

Estou me transformando em uma traidora. Me acostumando a essas pessoas, as personalidades, ao jeito de cada uma. Às vezes, esqueço o porquê estou aqui e quem eu sou e pelo o que luto.

Confusão.

Agora, corro o risco de ser descoberta e massacrada por esses babacas.

Penso na sensação de ver o rosto desolado de Daniel quando viu as mesmas marcas do corpo de seus pais no homem morto. Penso na adrenalina do poder quando corri com Daniel atrás de Mark. Adrenalina do poder fazer algo. Da liberdade.

Eu preciso sair daqui o quanto antes ou eu só preciso de algo para lembrar quem são os inimigos e quem são os aliados. Fui uma idiota por não ter bolado um plano para ir atrás de Mark.

Dois dias antes enviei uma carta para Harry dizendo que iriamos nos encontrar no Gordon's Wine com um cara que possivelmente teria uma pista ou até mesmo uma Horcrux consigo.  Era uma pequena missão que Malfoy liberou nossa presença para ver como funciona tudo para a missão na Capital semana que vem.

10 minutos antes de sair, recebi uma carta de Dumbledore me indicando um endereço trouxa onde estaria de fato Mark. Ele disse que tinha cuidado de tudo para que Mark estivesse nesse local e para mim poder encontra-lo e tomar as devidas providências. Ele disse que a A.D não poderia ir porque seria arriscado demais e o ministério estava em cima dia e noite. Fiquei frustrada na hora por tal egoísmo, faz três semanas que não vejo meus amigos de fato e aquela poderia ser uma oportunidade. Agora, agradeço aos céus por Dumbledore ter tomado tal decisão.

Dez minutos, o que eu poderia ter feito? O que eu poderia ter bolado com dez minutos e seis pessoas me botando pressão para agilizar?

Sim, eu poderia ter feito algo se eu fosse suficiente.

Na hora, vendo o grupo voando até o Gordon's Wine só pensei em me distanciar e seguir em direção ao local correto. Três minutos depois percebi que Daniel estava me seguindo. Diabos, por que Daniel tem que ser tão intrometido? Sinto a raiva tomar conta de mim e tento afasta-la.

Tenho de pensar na desculpa que devo dar a Malfoy. Na melhor das hipóteses ele irá me proibir de ir para a Capital e acreditar na minha mentira.

A água havia esfriado. Desligo o chuveiro com um giro selvagem de pulso, saio do boxe e seco o cabelo com a toalha. Encontro uma camisola no cesto de roupa limpa, me visto e saio do banheiro.

Para dar de cara com Mare sentada na cama dela.

- Ah - disse. - Não sabia que você estava aqui! Eu poderia ter saído do banheiro nua ou coisa do tipo.

- Duvido que você tenha alguma coisa que eu não tenho. - diz ela, distraída; os cabelos escuros penteados em tranças, e ela mexe os dedos como faz quando está preocupada.

- Está tudo bem? - Pergunto, sentando na beira da cama. - Você parece... incomodada.

Mare pousa os olhos feito lascas de ônix em mim.

- Talvez seja besteira o que irei perguntar e com certeza é, mas... se não saber a resposta não irei conseguir dormir. - Diz ela, rápido demais, nervosa.

- Pode falar.

- O que você e Daniel fizeram quando estavam sozinhos? - Pergunta ela, desviando o olhar, envergonhada.

- O que? - Digo, rindo - Que ideia absurda, Mare. Qual é? Pirou? Você acha que..acha que eu tenho algo com Greengrass? - Respondo, rindo, incrédula com a pergunta.

Mare levanta o olhar e me encara, ela começa a corar, muito...

- Não.. Eu não. É só que.... Ah quer saber, eu só vim aqui pegar um livro, tudo bem? Pode continuar o que você estava... fazendo.  - Diz ela, toda atrapalhada, ela se levanta e pega um livro na cômoda ao lado e corre para a porta.

- Ei, Mare.

Ela para na porta.

- Se você contar isso para alguém eu te mato. - Ela diz, séria.

- Se eu fosse você não me ameaçaria, querida. Não esquece que te vi corando pelo Daniel.

- Ridícula. - Ela diz, apaga a luz e sai, batendo a porta com força.

Rio da cena bizarra.

Estou prestes a entrar debaixo das cobertas quando ouço uma batida na porta.

Provavelmente Daniel vindo se desculpar por ter gritado comigo mais cedo.

Porém, então abro a porta.

- Evangeline? Posso entrar?

Ó. Meu Deus.

- O que você está fazendo aqui? - Eu grito/sussurro encarando-o

Logo depois percebo o quão estúpida foi a pergunta.

Ele sorri.

- Acho que você as vezes esquece que eu mando aqui, amor. Vamos, preciso falar com você.

- Agora? Você precisa falar comigo agora?

Preciso ganhar tempo.

- Sim. É importante. Cinco minutos no máximo. Vamos.

Respiro fundo. Espio Malfoy.

Ele está sorrindo. Não parece estar querendo me matar.

Ele desliza para dentro e senta-se diretamente na minha cama.

Fecho a porta, atravesso até o lado oposto a ele e sento-me na cama de Kaz, de repente consciente demais do que estou vestindo e do quão incrivelmente exposta me sinto. Cruzo os braços por cima do algodão fino que se agarra ao meu peito - embora tenha certeza de que ele não pode me ver - e faço um esforço para ignorar o frio no ar. Sempre me esqueço do quanto meu traje ajuda a controlar minha temperatura tão abaixo do solo.

- E então... O que foi? - Pergunto a Malfoy.

Não consigo ver nada nesta escuridão, mal consigo definir a forma da silhueta dele.

- Por que se distanciou da patrulha?

Meu coração quase sai pela boca.

Algumas batidas de silêncio.

Estou me sentindo nervosa agora. Ansiosa. Preocupada. Tremendo um pouco e não por causa do frio.

- Queria visitar o mundo trouxa.

Mais silêncio.

- Está mentindo.

- Já me viu mentir antes?

- Os melhores mentirosos são aqueles que dizem a verdade na maior parte das vezes.

Não tenho certeza se ainda estou respirando.

- Já disse, chefe. Queria visitar um pouco o mundo trouxa, sair dessa gaiola, estou tão exausta disso aqui. Eu pensei que... que se eu ficasse um pouco ausente vocês não sentiriam a minha falta, eu juro, juro que ia alcançar vocês, só queria cinco minutos. Mas aí... aí quando estava voando a 1 metro do chão, eu vi... vi o cara, Mark, você tinha mostrado a foto dele lembra? Tudo aconteceu tão rápido... Logo Daniel estava atrás de mim, me fazendo pousar no telhado em cima da Casa Trouxa onde Mark estava roubando. E aí aconteceu tudo que eu e Daniel relatamos.

Jorro as palavras, estou balançando a cabeça, de novo e de novo e de novo e esqueço como se respira.

Silencio

1

2

3 4 5 6 7 8 9

10

- Onde está seu rosto? Sinto como se estivesse falando com um fantasma.

- Estou bem aqui.

- Onde?

Levanto-me.

- Estou aqui.

- Ainda não consigo vê-la - ele diz, mas sua voz está de repente muito mais perto do que antes. - Você consegue me ver?

- Não - eu minto e estou tentando ignorar a tensão imediata, a eletricidade zumbindo no ar entre nós.

Dou um passo para trás.

Sinto as mãos dele nos meus braços, sinto a pele dele contra a minha pele e estou prendendo a respiração. Não me mexo nem um centímetro. Não digo nem uma palavra conforme as mãos dele baixam para a minha cintura.

O ar está imóvel.

Minha pele está com medo.

Até meus pensamentos estão sussurrando.

Dois

Quatro

Seis segundos em que me esqueço de respirar.

Ele se afasta. Eu me afasto.

E ele se inclina, com muito cuidado. Respirando e sem respirar e corações batendo entre nós e ele está muito perto, ele está muito perto e não consigo mais sentir minhas pernas. Não consigo sentir meus dedos ou o frio ou o vazio deste quarto porque tudo que sinto é ele, por toda parte, preenchendo tudo.

- O que você está fazendo? - Pergunto, rouca.

- Por favor. Por favor não esteja mentindo para mim.

E ele me beija.

Ele tem centenas, milhares, milhões de beijos e está dando todos para mim.

Suas mãos

Deslizam

Para baixo

Em meu corpo

Abro os olhos.

Há algo neste momento de silêncio que me confunde; algo neste momento e na sensação dele em minha língua que destrava outras partes do meu cérebro e há algo ali, algo empurrando e puxando minha pele e tentando me lembrar, tentando me dizer e

levo um tapa na cara

levo um soco no queixo

sou jogada no meio do oceano.

- Malfoy.

Draco Malfoy. O inimigo. O garoto que me perseguiu por seis anos. Que me ofendia, me ridicularizava. Filho do Chefe dos Comensais. Os que querem trazer Voldemort de volta. Frio. Desumano.

Me afasto.

- O que diabos pensa que está fazendo? Está louco?

Meus ossos estão cheios de gelo. Todo o meu ser quer vomitar. Estou saindo, cambaleando, de debaixo dele e me afastando e quase caio direto no chão e esta sensação, esta sensação,  uma faca afiada demais, grossa demais, letal demais para que eu permaneça em pé e estou me agarrando a mim mesma, tentando não chorar e dizendo não, não, não isto não pode acontecer isto não pode estar acontecendo eu estou aqui por Harry, pela minha missão. Por todos que amo. Eu não sou uma traidora.

Mas ele não está ouvindo.

Ele está balançando a cabeça de novo e de novo e de novo e está olhando para as mãos como se estivesse esperando o momento em que alguém lhe diz que isto não é real e sussurra:

- O que está acontecendo comigo? Estou sonhando?

Porque isso nunca devia ter acontecido.

Foi um erro.

Ele se aproxima.

- Por que retribuiu se não queria? - Ele olha no fundo dos meus olhos. - Essa foi a jogada de uma covarde - ele diz. - Pensei que você fosse muito melhor que isso.

Eu não sei mais o que estou fazendo.

Meus punhos estão cheios de moedinhas do azar e meu coração é um jukebox que exige algumas moedas e minha cabeça está jogando moedas cara ou coroa, cara ou coroa, cara ou coroa, cara ou coroa...

Fico em silêncio tentando fazer minhas pernas funcionarem.

- Estou perdendo a cabeça. - Ele sussurra, passa as mãos pelo cabelo e me olha. Ele ri.

- Eu não estava tentando magoa-lo. Não me interprete mal. - Digo, tentado aliviar, pensando em que merda fui me meter.

Ele aponta um dedo acusativo para mim.

- Você não vai me fazer de palhaço.

Antes de fechar a porta, ele para, vira-se para mim sem expressão nenhuma.

- Você fez besteira, Gray.

Ele sai.

E é isso. Esse era o toque de realidade que eu precisava.

Sinto que o mundo está se despedaçando, e os pedaços estão caindo ao meu redor.
 


Notas Finais


eai?
Leitores Fantasmas comentem, plsss!
ouvi muito essa música enquanto escrevia esse cap: Lost Frequencies - Beautiful Life.
beijoss, até a próxima! <33


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