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História Madness - Capítulo 11


Escrita por: YsBelieber

Capítulo 12 - Capítulo 11


Fanfic / Fanfiction Madness - Capítulo 11

"Apenas o amor pode me matar."


Dois meses atrás

Flashback On

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Meus olhos passaram pela rua onde eu me encontrava, certificando-me de que não havia ninguém por perto. O clima naquela manhã era agradável, e as folhas terminavam de cair deixando os galhos expostos ao vento gelado que já aparecia, denunciando o inverno que já havia começado. 

Apertei fraco a alça da minha mochila, respirando fundo antes de passar pelo portão preto de grades tortas com formatos peculiares e fechei logo depois, passando a trave. Fui para dentro do prédio, analisando com atenção as pinturas exibidas nas paredes, todas com uma paisagem diferente, ao aproximar-me vi que havia uma pequena legenda na moldura de cada arte que contava onde havia sido feita.

Fui até a mesa principal da recepção, tocando as duas pequenas campainhas de alarme e aguardando o homem que apareceu nas escadas em espiral. Ele estava sem camisa, e desceu rapidamente os degraus empolgado pela minha visita. Fiquei encarando-o, sorrindo ao estarmos cara a cara e deixando que ele pegasse minha mochila para levar até o quarto onde eu passaria a noite. 

— O que posso fazer por você?

— Estou aqui para começarmos a revolução.

— Com os humanos?

Balancei a cabeça que sim, ganhando atenção ao pousarmos na cama do quarto onde eu ficaria. Marcos me olhou, e eu umedeci os lábios.

— Precisamos mostrar quem somos.

Sentei-me na cadeira em frente a uma mesa e esperei que o homem abrisse minha mochila e tirasse os papéis que eu havia comentado por telefone. Ele os olhou, um por um, e depois da espera se pronunciou.

— Tá tudo aqui?

— Sim, só preciso descobrir onde fica em Maine. 

— Me entregue ao conseguir. — Ele disse, guardando os papéis na pasta novamente. — Agora, me fale sobre o Dylan.


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Flashback Off


Olhei para o lado me assustando quando ouvi gritos. Dylan e eu rapidamente esquecemos a discussão que estávamos tendo e corremos juntos até o pequeno navio de onde ele tinha vindo. Alguns homens gritavam pela engrenagem enganchada e eu subi as escadas indo até a mesa deixando minhas coisas lá e correndo até a ponta do navio onde a rede de pesca estava, ajudando a puxá-la parando quando senti as gotas de água espirrarem sobre minha pele causando ardência. 

Grunhi de dor, sentindo a água queimar toda a primeira camada de pele. Percebi que Dylan tinha me olhado, e eu tampei minha ferida desviando o olhar dele quando percebi que ele ameaçara se aproximar.

— A rede. — Falei, vendo ele desviar a atenção para puxar novamente. 

Fui para dentro do navio procurando por um banheiro e revirei todas as coisas ao encontrar, procurando por um par de luvas. As únicas que tinham eram de látex fino e transparente, e eu precisei colocá-las, cobrindo logo depois com duas sacolas de plástico, segurando-as com fita adesiva.

Voltei para a rede, puxando junto com os outros homens e ignorando os olhares estranhos, forçando o máximo que eu podia para trazer todo o tecido reforçado para dentro do navio, que a propósito estava pesado. Respirei fundo, um pouco ofegante. Soltei a rede, afastando-me logo em seguida ao perceber que eles haviam capturado uma criatura da minha espécie. Minha respiração que já estava ofegante acelerou-se mais ao ver a cena. Sua cauda estava ferida, com pequenos cortes feitos pelas grades cortantes da rede. 

Parei de andar ao sentir um corpo sólido impedir-me, e ao olhar para trás tive a sorte de encontrar com Dylan. Seus olhos encararam os meus por poucos segundos, até minha visão toda se manchar e escurecer pelas lágrimas que se formaram e logo escorreram. Seus braços me rodearam, e eu deixei que toda a minha angústia fosse exposta sendo solta pelo meu choro e soluços que escapavam involuntariamente. 

Eu esperava tudo, tudo mesmo, mas não queria ter que presenciar uma cena daquelas. Já bastava ter descoberto tudo aquilo no escritório de Justin e ainda passar por isso era pior ainda, ainda mais quando se tratava de alguém da minha espécie. Eram cenas fortes demais para mim, vê-lo naquele estado, com a cauda cortada e falta de ar. Ele se agonizava todo para passar pela transformação, e eu não sabia se era pior eu me transformar ou ver alguém se transformando e passando pela mesma dor que eu.

— Calma, Grace.

Afundei o rosto no pescoço de Dylan, tentando controlar a minha respiração inspirando fortemente, mas era impossível pois o choro era incessante, e por mais que eu tentasse eu não conseguia parar de chorar. Quando Dylan subiu uma das mãos para meu rosto, fui forçada a abrir os olhos e sentir seus dedos secarem as minhas lágrimas. 

— Respira. 

Encarei seus olhos, levando as mãos cobertas pela sacola envolta da sua cintura. Ele simulou a respiração, e eu segui inspirando o máximo de ar que conseguia podendo assim controlar aos poucos minha respiração. O choro continuava, dessa vez em silêncio, e os polegares do moreno secavam as lágrimas que caiam pelo meu rosto. Os homens ao redor cuidavam do seu trabalho que eu não fiz questão de saber como era. Foquei apenas no rapaz à minha frente, sentindo meu corpo aos poucos se acalmar e relaxar diante suas mãos que me seguravam e me abraçavam.

Fechei os olhos, retribuindo e me aninhando em seus braços que naquele caos pareciam me proteger. Seus lábios beijaram minha testa, e eu precisei respirar fundo uma última vez tendo certeza que agora eu estava mais calma. Nos afastei novamente, vendo que o corpo do rapaz já não estava mais atrás de mim. Já o tinham tirado dali. 

O navio voltou a funcionar, e eu percebi que estávamos um pouco longe do cais. Percebi que a rede já estava na água novamente, e ao olhá-la vi um golfinho aparecer e logo sumir água adentro. Dylan foi para dentro, e eu fiquei na borda de segurança olhando toda aquela imensidão azul deslocar-se em pequenas ondas para todos os sentidos. Quando o navio parou, pude ouvir uma máquina ser ligada e dar-me a visão de uma pequena esteira colocada na água, sugando algumas coisas que logo eu percebi serem lixos existentes do outro lado do navio.

— Já estamos voltando, tá bom?

Olhei para o lado, vendo Dylan. Balancei a cabeça que sim, mentalmente eu ainda não tinha me recuperado daquela cena.

— Tudo bem.

Ele pegou meu rosto, acariciando pela lateral. Olhou-me por poucos segundos e logo me beijou com calma, delicadamente envolvendo minha cintura para manter nossos corpos colados. Eu gostava de Dylan, muito mesmo, mas não era capaz de acreditar que ele estava indiretamente me manipulando para aceitar as crueldades que ele fazia.

Quando nos afastamos ele encerrou com um selinho, e eu olhei para o lado tirando as sacolas e luvas das minhas mãos, assustando-me ao perceber que a rede tinha capturado outra coisa. Dois homens se aproximaram, tentando puxar sem sucesso.

— Ficou presa.

Eu não pensei muito na hora. Lembro-me de logo depois da fala, ter tirado toda a roupa até ficar completamente nua e pular água adentro, ouvindo o grito eufórico de Dylan que correu atrás de mim e não teve tempo de puxar-me para dentro. 

Quando a água entrou em contato com minha pele, rapidamente pude sentir toda uma onda calórica subir por meu corpo, desde a ponta do pé até o último fio de cabelo. Era como se eu tivesse mergulhado diretamente no fogo. Os poros do meu corpo se dilataram, e puderam assim facilitar a penetração da água salgada em meu corpo, que logo sufocou-me impedindo-me de respirar ali dentro.

Várias bolhas apareceram ao meu redor, e todos os membros do meu corpo se contrairam e esticaram constantemente até eu não ter mais forças de debater-me sobre a agonia que era sentir toda a poluição e sal em micropartículas invadirem meu organismo. Meus olhos mudaram a cor, deixando a água verde se transformar em uma paisagem vermelha, com raios azuis e pequenos detalhes amarelo neon. O grito agudo que saiu da minha garganta e soltou-se pela água criou uma corrente de bolhas para a frente, afastando e assustando peixes ao redor. 

Minhas pernas já não existiam, colando-se de maneira dolorosa soltando pequenas gotículas de sangue pela pele que se esticava e logo depois grudava cicatrizando-se com certa dificuldade. As garras em minhas unhas se formaram, e eu pude sentir as escamas surgirem entre meus dedos ligando-os por uma espécie de cartilagem verde. 

Logo depois, o sangue já havia sumido. Procurei forças ao mover-me devagar pela água gelada, sentindo minha barbatana se acostumar ao novo ambiente e mexer-se com mais facilidade. Rodei o corpo, sentindo os pequenos traços do meu organismo finalizando o processo de transformação. Respirei fundo, inalando o máximo de oxigênio dentro daquela água.

Nadei para cima, puxando rapidamente a rede que havia se prendido nas pontas soltas do navio de Justin. Havia alguns peixes presos, e eu surpreendi-me ao encontrar uma tartaruga marinha que havia se prendido ali no meio. Ela encarou-me triste, e eu percebi que havia alguma coisa de errado.

Desviei o olhar dando a volta no material puxando os tecidos como dava, indo até a superfície e olhando ao redor imaginando o que eu poderia fazer. Tive que deixá-los ali, afastando-me rápido e nadando para o fundo do oceano, meus olhos rapidamente se acostumaram com a escuridão, produzindo sua própria luz para que eu pudesse enxergar e mover-me sem esbarrar em nada. Olhei a areia, deslizando a mão por ela até encontrar uma pedra pequena. Observei-a, analisando toda a estrutura moldada pela pressão e indo até uma rocha enorme que formava uma caverna para proteger os animais que jamais seriam descobertos pelo ser humano.

Moldei a pedra, deslizando-a pela rocha reforçada até formar uma ponta afiada e capaz de ajudar-me. Ao voltar para a rede, percebi que estava sendo puxada com mais facilidade por eu ter conseguido soltar as grades de tecido dos ferros soltos. Acelerei-me a pegar a rede e puxar com força raspando a rede de maneira que ela fosse cortada. Os peixes mexiam-se frenéticos, tentando escapar e soltando ruídos que me atrapalhavam a fazer tudo com rapidez e concentração.

Eu estava nervosa, e tentava de alguma maneira não deixar a imagem da criatura da minha espécie voltar à tona. Ter um dos meus irmãos sendo capturado assim, à luz do dia, era demais para mim. 

Puxei ar, olhando a rede ser aos poucos rasgada. Olhei para cima, vendo que alguns peixes já se debatiam por falta de oxigênio. Peguei o tecido reforçado puxando-o com força ganhando um pouco mais de tempo. Eu sabia que Dylan estava olhando pela borda, e eu tentava não pensar naquilo enquanto cortava com mais rapidez as grades dando espaço para os peixes poderem sair, mas a tartaruga ainda estava presa, e ao sobrar somente ela eu percebi que ela não tinha uma barbatana.

Meus olhos rapidamente se entristeceram, e eu tive que tirá-la com o maior cuidado da rede, mas não tive tempo de cortar o tecido para aumentar o buraco de fuga. Ele era pequeno, e prendeu-se no casco do animal que ficou detido sem tempo determinado. Minha respiração se ofegou, e eu soltei gritos agudos por sentir a rede se espremer ao nosso redor nos apertando juntas e levando-nos para fora da água. Lágrimas já escorriam pelo meu rosto, misturando-se à água do oceano que ainda estava sobre meu corpo. Abracei a tartaruga, sentindo o tecido cada vez mais se fechar ao nosso redor. 

Quando chegamos ao topo, pude ouvir alguém gritar espantado por nós, perguntando o que diabos era aquilo. Eu encarei Dylan rapidamente, vendo seu olhar surpreso focar em todo o meu rosto e logo depois descer para a tartaruga em meus braços. Ele permaneceu estático durante todo o processo, desde a rede parada até ela ser aberta no chão já limpo porém molhado do navio. Os homens fizeram questão de rasgar mais da rede, expondo-me assim ao sol que secou lentamente as gotículas de água que ainda existiam em mim. Tomaram a tartaruga dos meus braços, e eu inutilmente soltei um rosnado enfurecido jogando meus braços na tentativa de impedir o funcionário de levá-la para longe.

— Mas…

Evitei olhar para Dylan. Comecei a sentir falta de ar, puxando fortemente fazendo alguns ruídos agonizantes que imediatamente chamaram a atenção do moreno que aproximou-se e abaixou tentando me tocar, mas eu não deixei, reunindo forças para empurrá-lo com as mãos. Ele foi amortecido pela parede do navio que impediu que ele caísse na água, e eu encarei-o com raiva sentindo faíscas de cores diferentes passearem pelos meus olhos enquanto soltava gritos roucos.

Minha cauda mexeu-se, e eu senti os raios solares queimarem toda a minha pele forçando-me a rolar pela madeira quente até que toda a água evaporasse e pudesse permitir as escamas de se relaxarem e esticarem feito elástico, descolando-se e soltando vestígios pelo navio que logo se dissolveram virando pó. Minhas pernas se desgrudaram, formando os pés e dedos pouco a pouco. Mais sangue surgiu, e ele escorreu formando pequenas poças que se misturavam com a água. O sangue sempre era em maior quantidade na transformação humana. 

Minha garganta trancou-se, e eu precisei bater as mãos várias vezes no chão para tentar de alguma maneira amenizar a dor que sentia das escamas escondendo-se dentro dos meus dedos e sumindo até que não houvesse nenhum sinal da minha transformação. Havia alguns hematomas em meu corpo, com manchas roxas pelas pernas.

Respirei fundo, sentindo um pouco de falta de ar até finalmente adaptar-me ao oxigênio poluído e existente no ambiente úmido daquele oceano.

— Grace…

Encolhi meu corpo, sentindo fragmentos do vento gelado baterem em meu corpo causando um choque térmico. Suspirei ofegante, fechando os olhos e sentindo um tecido quente cobrir-me e logo depois ser envolvida e levantada, ao abrir os olhos percebi que estava sendo carregada no colo para algum lugar com sombra. Fechei os olhos novamente, adormecendo por um longo tempo.


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Era possível ouvir barulhos ao fundo, e não se tratava de ondas batendo em navios ou de animais pulando para fora da água. Eram vozes, e elas falavam baixinho demais para deixar que eu entendesse alguma coisa. Me mexi devagar, passando a mão pela estrutura onde estava e percebendo que se tratava de um sofá. Abri os olhos, coçando-os devagar e bocejando, me esticando e tentando espantar o sono que sentia por ter acabado de acordar. 

Sentei-me e percebi que estava em uma espécie de escritório. Na minha frente ficava a porta, e do lado direito ficava a mesa cheia de papéis espalhados sobre coisas que eu não tinha conhecimento. A conversa parou, e eu observei Dylan entrar na sala olhando diretamente para mim.

Eu estava usando a mesma roupa que tirei para entrar na água, e afastei o cobertor do meu corpo vendo o moreno se aproximar de mim, abaixando-se para ficar do meu tamanho.

— Você está bem?

Fiquei calada, olhando-o. Eu não me sentia a vontade para conversar com ele, e tinha informações demais para assimilar em menos de 48 horas. Respirei fundo, desviando o olhar dele antes que eu começasse a chorar novamente. Ele suspirou, e pousou uma mão em minha coxa acariciando.

— Me desculpe, eu nunca quis fazer nada de errado. — Começou, e eu me preparei para ouvir todo o seu discurso previsível. — É medicina, Grace. Medicina. 

— Melhor você corrigir esse nome para exploração. 

— Nós precisávamos mantê-las no prédio, senão não conseguiríamos as pesquisas.

— Vocês só precisam do sangue, eu sei perfeitamente como funciona a medicina.

— Não nesse caso. — Ele negou com a cabeça. — Precisamos de células que somente as sereias têm, e não se trata do sangue. É uma espécie de soro que existe dentro do organismo além do sangue. É preciso muito cuidado na hora de drenar o soro, porque se ele entrar em contato com o sangue fora do organismo do jeito errado, não poderá ser usado.

— Vocês estão pescando sereias! Não era você que dizia não acreditar que sereias existem?

— Eu falava isso até ver uma pessoalmente.

— E não fez nada para impedir.

Dylan ficou calado, me olhando. Eu desviei o olhar me levantando e fui até a porta para sair dali.

— Você sabe que isso é importante. — Disse, e eu parei de andar para ouvi-lo. — Há alguns anos minha mãe morreu de câncer, Grace, você sabe disso. Meu pai é apenas um advogado criminal e completamente amante do seu trabalho. Se eu tivesse acesso a essas pesquisas naquela época eu poderia ter salvado a vida da minha mãe. Mas não consegui. E não quero que mais ninguém perca algum parente por falta de tecnologia na ciência.

Minha mão segurava a maçaneta da porta. Eu encarei-a alguns segundos, pensando no que ele tinha dito. Continuava sendo exploração, minha espécie continuava sendo maltratada para benefício humano e eu não podia deixar isso acontecer, não mais. 

Abri a porta, saindo dali. Tive a oportunidade de afastar-me do prédio, indo até a entrada principal e procurando com os olhos Marcos. Ele saiu de dentro de um carro, e com o aceno da minha cabeça ele deu sinal para mais dois homens que saíram do veículo e foram até o prédio com galões de gasolina, espalhando-a por toda a região e logo colocando fogo. As chamas rapidamente se alastraram, engolindo a construção em meia hora até finalmente desaparecer o teto e derreter aos poucos os materiais usados no sustento. 

Meus olhos perceberam pessoas correrem para fora dali, tentando salvar suas vidas. Dylan surgiu, mas desapareceu ao jogar-se em um corredor estreito que sumia pela escuridão. Era mais ou menos seis da manhã, e eu fiquei por quase uma hora olhando aquele fogo consumir todo o prédio até ter a certeza de que os bombeiros estavam chegando.


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Depois de dois meses, fui para a superfície me alimentando de alguns peixes e olhei para o oceano vazio, com apenas alguns pássaros sobrevoando a área em busca de comida. Respirei fundo, ouvindo o barulho de engrenagens funcionando e logo depois um barco se aproximar, afundei a cabeça, sentindo a água lavar minhas mãos e boca do sangue do peixe. Meus olhos ficaram de fora observando o veículo aproximar-se cada vez mais, até eu perceber que se tratava de Dylan. Ele estava sozinho.

— Grace?

Fiquei dentro de água, abaixando-me devagar. O barco de Dylan ficou boiando no mesmo lugar, e eu percebi que ele não sairia dali tão cedo. Voltei devagar, respirando fundo ao ficar com a cabeça fora da água e aproximando-me do barco.

— Eu precisava falar com você. 

Fiquei calada, ouvindo-o.

— Você deve estar se perguntando como eu te encontrei, não é? — Ele riu, encarando um aparelho tecnológico em suas mãos. O olhei, vendo um radar apontar para um ponto vermelho no meio de ondas verdes. — Desde que você sumiu eu fiquei te procurando. Voltei para Boston, procurei você em todos os lugares possíveis, ninguém teve notícias suas na faculdade e eu comecei a ficar preocupado. Clare se recusou a me falar alguma coisa. Mas eu lembrei que Justin usava esse aparelho para capturar as criaturas marinhas. Eu precisava testar. Precisava encontrar você, nem que eu tivesse que ficar cara a cara com todas as sereias existentes até ter certeza de que era você.

Apoiei-me devagar na madeira da parede do barco, suspirando fraco enquanto o moreno falava afastando-se devagar para ficar longe de mim. Eu senti que não era para evitar contato, mas porque ele estava com medo. 

— Eu queria ter certeza de que você estava bem. Não iria conseguir seguir minha vida sem essa certeza.

Segurei a borda com as duas mãos, e pude ver seu olhar se focar nas minhas garras e escamas. Meu sustento estava na cauda, balançando devagar para eu não movesse o barco nem que eu afundasse agora. Eu precisava ouvi-lo, sentia falta dele. Precisava dele. Apesar de tudo.

— Justin perdeu todos os materiais dele no prédio. — Continuou. — Claro que não eram os únicos, haviam cópias e muitos outros materiais em Boston com Edgar, assim como parte da polícia guardava em pastas confidenciais nos departamentos. Mas eu consegui me livrar de quase tudo. Não consegui continuar depois de descobrir que você fazia parte disso. 

Ele me olhou, e em suas íris azuis eu enxerguei certo arrependimento.

— Você podia ter me contado. 

— Você me convenceria a fazer testes em mim. — Falei, ouvindo minha voz sair metálica. 

Dylan suspirou e ficou em silêncio alguns minutos, percebendo que talvez eu estaria certa.

 — Me desculpa. — Disse, enfim.

Fiquei o olhando, sem saber o que responder. O sol estava fraco naquela tarde, e só então eu percebi que Dylan usava o uniforme da empresa. Desviei o olhar do moreno, deixando que agora eu suspirasse pela situação. Eu ainda não tinha o perdoado sobre o que tinha feito e favorecido até agora. Mesmo que ele tenha mudado de opinião e decidido lutar a meu favor as feridas ainda estavam muito expostas. Mamãe já sabia de tudo, e com certeza estava preocupada.

Olhei um pouco para a infinidade do oceano, tomando impulso no barco e agarrando a corrente da pequena âncora, nadando até uma rocha que aparecia para fora da água não muito longe dali e próximo a uma ilha que era ligada aos Estados Unidos. Dylan saiu do barco, sentando-se na rocha sem se importar se estava sendo molhado.

— Quando vou ver você de novo? — Perguntou, quebrando o silêncio.

— Em breve. — Garanti, vendo nascer uma chama de esperança em sua expressão facial.

Apoiei-me na rocha sentindo sua mão correr até meu rosto e inclinei-me colando nossos lábios em um beijo intenso. A mão livre foi até sua nuca puxando-o para mim e sentindo mais do meu corpo ser consumido pela água. Dylan ficou inclinado, sem se preocupar com a posição focando apenas em nosso beijo.

Nossos lábios se moviam em sintonia, dando espaço vez ou outra para as línguas que em harmonia se encontravam e entregavam uma sensação gostosa do contato que estávamos tendo. Meus dedos se entrelaçaram nos cabelos longos que ele carregava, resultando dos dias que eu ficara sem vê-lo e que ele deixara de cuidar cortando-os. Eu já o tinha visto algumas vezes de cabelo longo, e para ser sincera eu achava muito mais bonito. 

Quando nos afastei pela falta de ar, não pude deixar de morder e puxar seu lábio na minha direção, chupando-o. Um sorriso escapou de seus lábios, e eu retribui o selinho antes de observá-lo com maior atenção.

— Preciso que me ajude a achar meu pai. — Falei. — Ele sumiu faz cinco anos, e nunca mais tive notícias dele.

— Acha que Justin está envolvido?

— Você disse que ele tinha cópias, e que a polícia do estado também está envolvida por ter parte dos conteúdos guardada em locais extremamente seguros. Eles com certeza devem ter alguma informação a respeito.

— Vou precisar falar com Edgar sobre isso.

— Faça o possível se quiser mesmo me ajudar. 

— E sua casa? Seu cachorro?

— Clare vai cuidar disso para mim. Tô com outras prioridades por agora. 

— E seu TCC?

— Foi por água abaixo. — Falei, e ele riu. — Eu gostaria de terminar, mas com todas essas informações expostas e com a minha descoberta eu prefiro esperar a poeira abaixar para ver o que faço.

Ele assentiu e sem soltar meu rosto voltou a me beijar, dessa vez com maior intensidade envolvendo minha cintura com a mão livre puxando-me para ele. Fiquei sentada na rocha, com parte da cauda dentro da água enquanto retribuía do beijo sentindo seus dedos correrem por toda a minha pele exposta, desde o rosto até o final das minhas costas, causando-me arrepios.

Acariciei seus cabelos, puxando-os levemente e gemendo fraco pelos apertos que sofria em minha cintura. Tombei a cabeça, sentindo a respiração se acelerar com os beijos úmidos de Dylan em meu pescoço.

— Grace? — Abri os olhos, encarando o céu brilhante fechar-se dando oportunidade da neve cair em inúmeros flocos. — Quanto tempo nós temos?


Notas Finais




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