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História Madness - Capítulo 03


Escrita por: YsBelieber

Capítulo 4 - Capítulo 03


Fanfic / Fanfiction Madness - Capítulo 03

"Todos os monstros são humanos."

 

Quando cheguei no dia seguinte ao departamento, percebi uma pequena movimentação no primeiro andar. Ao entrar, me deparei com dois homens desconhecidos por mim que usavam terno e observavam um homem nos fundos da recepção, perto dos armários. Eu andei mais devagar, mas em direção do elevador que ao abrir, eu tive a visão de um homem saindo com as mãos nas costas acompanhado de outro homem usando terno.

Ele me olhou, passando seus olhos verdes por todo o meu rosto me analisando. Fiquei estática esperando que ele atravessasse o corredor. Quando eu entrei e me virei no elevador para olhar as portas se fechando, o homem ainda encarava-me e desviou fazendo seu trabalho logo que percebeu que eu o olhara novamente. 

Estranho.

— Bom dia. — Falei a Dylan, vendo que ele imprimia alguns papéis. Ele me olhou, devolveu o bom dia e se sentou para fazer seu trabalho. — O que está acontecendo no primeiro andar? 

— Não faço ideia. — Respondeu. — Edgar saiu daqui há alguns minutos e proibiu que falássemos a respeito. Ninguém quis me informar do que aconteceu.

Balancei a cabeça assentindo e me sentei na minha mesa, vendo o chocolate quente. Ri fraco, bebendo do mesmo sentindo as frutinhas trituradas no liquidificador dando um gostinho a mais no líquido. Quando organizei minhas pastas, eu as afastei pegando minha pasta da mochila e abrindo para organizar as anotações da faculdade em meu caderno e assim estudar para a prova que eu teria daqui dois dias. 

— É para você. 

Eu olhei para cima, vendo que Dylan me ofereceria algumas folhas impressas. Quando peguei, passei rapidamente o olhar por cima delas passando folha por folha.

— Acho que pode te ajudar nos estudos para sua prova. 

Eu sorri sem jeito, e ele se abaixou para sentar na cadeira à minha frente.

— Tem algumas anotações que eu fiz. — Ele pegou com delicadeza as folhas da minha mão, e eu umedeci os lábios enquanto o olhava falar. — São anotações que eu achei importante você lembrar, com alguns macetes que podem te ajudar a se lembrar dos conceitos. Aqui.

Me afastei para que Dylan apoiasse as folhas na minha mesa e o vi usar o marcador de texto pintando os conceitos que eu achava importante, ri fraco, retribuindo o selinho que ele me deu em seguida.

— Obrigada, Dylan. Vai me ajudar muito. — Eu sorri, vendo que ele fez o mesmo depois.

— Não vai me agradecer de outro jeito?

Eu o encarei alguns segundos e comecei a rir logo depois sem saber o que falar pela vergonha que senti com sua fala.

— Para com isso, já basta você ter me beijado aqui, estamos em local de trabalho. Vão achar que a gente namora.

— Ficar é quase a mesma coisa. 

— Mas não é! — Eu repreendi, rindo logo depois pela situação em que me encontrava. 

Depois que Dylan se levantou, olhei para os textos que ele tinha impresso, percebendo que estavam bem mais esclarecidos que os resumos que o professor tinha nos entregado para estudar. Anotei as partes que ele tinha sublinhado para mim e estudei elas com mais clareza pesquisando sobre os assuntos no computador, parando apenas quando deu a hora de almoçar. 

Guardei minhas coisas deixando apenas a pasta por cima da minha mesa e respirei fundo, tirando os óculos para coçar os olhos e descansar a cabeça. Levantei-me, arrumando meu casaco e saindo com Dylan para o restaurante próximo do departamento para podermos almoçar juntos.

Ele era um bom rapaz. Dylan já era formado em Biologia Marinha, na especialidade de pesquisas ambientais, assim como eu, para preservação da natureza em si. Ele trabalhava o dia inteiro, e à noite, com seus vinte e sete anos e mestre na biologia, dava aula em uma faculdade de Boston. Levava uma vida boa, era humilde apesar da família ter bastante dinheiro graças à advocacia e o irmão gêmeo que ele tinha que também atuava como advogado. 

Quando fiz meu pedido, a garçonete se retirou deixando que nós conversássemos mais um pouco. Eu o olhei, apoiando o queixo na palma da mão sustentada pelo braço na mesa. Sorri sem mostrar os dentes, desviando logo o olhar para o forro xadrez.

— Preciso passar nessa prova. — Desabafei, suspirando em seguida. — Senão terei que ficar mais um semestre pagando aulas. 

— Você vai conseguir, é inteligente o bastante para isso.

Dylan era a pessoa que mais acreditava em mim, as vezes nem mamãe me levantava a autoestima tanto quanto aquele rapaz na minha frente. Era de certo modo engraçado vê-lo bravo quando eu dizia que não iria conseguir fazer alguma coisa, ele inteiro se borbulhava de raiva e não sossegava enquanto eu não retirasse o que dizia.

— Você fazia assim. — Fiz uma careta, enchendo as bochechas de ar e apertando as sobrancelhas entre si.

Ri logo depois, vendo ele me acompanhar negando com a cabeça. 

— Parecia um peixe balão quando incha. — Disse ainda rindo. — As vezes eu continuava falando só para ver você ficar bravo.

— Para você é engraçado, mas para mim nunca foi. — Comentou, entretanto não parou de rir quando o imitei. — Tudo bem, você ganhou.

Sorri com sua fala, rindo mais um pouco e olhando a garçonete distribuir nossos pratos. Eu esperei pela água gelada que ela serviu a mim, agradecendo logo depois e observando Dylan se deliciar com seu vinho enquanto eu mastigava minha comida.

— Ainda vou fazer você beber no almoço.

— Espere deitado.

O almoço foi agradável, entre risadas que vez ou outra nós soltavamos pelas brincadeiras que fazíamos. A companhia de Dylan me ajudava a esquecer parte dos meus problemas, como se a faculdade não fosse me estrangular a qualquer momento. Ela era fácil no começo, porque depois do segundo ano e meio de curso, os professores nos enchiam até o queixo de seminário atrás de seminário, trabalhos para imprimir, aulas práticas, fora o TCC e as aulas que precisávamos pagar, atividades extracurriculares e relatórios do estágio. 

Era uma bagunça.

— O que vai fazer esse fim de semana?

— Comemorar pelo fim das provas. — Brinquei, terminando de comer minha refeição. — Acho que só descansar por enquanto. Se o resultado das minhas notas sair ainda na sexta, eu irei tentar visitar minha mãe.

— E segunda?

— É feriado. — O lembrei, vendo ele balançar a cabeça.

Dylan se recusou a me deixar pagar, e ao terminarmos, voltamos para o departamento que agora estava sem movimentação alguma, tirando a imagem de mais cedo. Quem olhava por fora nem imaginava que tinham levado alguém dali, que eu deduzi completamente ter sido preso.

— Vou visitar meu pai e ficar com ele até domingo, se você se interessar podemos ir juntos.

— Como namorados? — Eu ri.

— Você sabe que eu não me importaria. — Ele riu, mas eu sabia que falava sério.

Era de certo modo desconfortável termos essa intimidade um com o outro e vez ou outra falarmos sobre namoro. Dylan sabia que eu não estava pronta para uma relação agora, não enquanto estivesse na reta final da faculdade que, para mim, era a pior de todas, até a formação oficial do curso.

Também não era algo que eu procurava por isso, mas realmente, não me via em um relacionamento por agora.

— Vou pensar no seu caso. — Respondi enfim, vendo-o balançar a cabeça e se sentar.

Quando meu turno acabou, eu cheguei em casa exausta, deixando todas as minhas coisas de estudo na cama fazendo Thor se assustar. Beijei-o algumas vezes, lhe dando carinho e saindo de casa logo depois, caminhando em silêncio pelas pessoas até chegar na floresta que tinha nos fundos do bairro onde eu morava. Ela era cercada e eu tive que atravessar a corrente de metal que separava as árvores da rua principal. Ao encontrar a ponte, eu passei devagar indo para o outro lado e adentrando a pequena floresta.

O silêncio tornava o lugar um pouco assustador para as pessoas que visitassem pela primeira vez, mas como eu era familiarizada com o local, eu me alegrei pelo canto dos pássaros que de vez em quando chegavam aos meus ouvidos. O som das águas se encontrando estava cada vez mais perto, e quando cheguei na trilha, sorri por ver Clare, abraçando-a forte em sinal de agradecimento.

— O que a amizade não faz, ein? — Ela brincou, e eu ri nos afastando. — Vamos logo que você só tem duas horas até nossa aula começar. 

Fui com ela para perto da cachoeira e me apoiei com cuidado nas pedras, me escondendo por trás dos pequenos arbustos gelados. Arrepiei com as gotículas frias, respirando fundo antes de me despir completamente e entregar as peças a Clare, que devolveu o gesto entregando-me um frasco. Eu abri passando rapidamente o creme consistente por toda a minha pele, soltando o cabelo e esperando alguns segundos antes de rapidamente pular para dentro da água, soltando um grito longo por sentir toda a minha pele se contrair levando-me a encolher o corpo e abraçar os meus membros, soltando logo depois e esticando-me dentro da água.

Meu peito estufou, e eu pude sentir meus pulmões encolherem de tamanho, levando-me à falta de ar que resultou em gritos agudos que se abafavam pela grande quantidade de água que caía das altas rochas na cachoeira, levando-me a uma tortura silenciosa. Podia sentir os peixinhos se afastando assustados pela minha agonia, e dentro da água eu era capaz de ouvir meu coração pulsar em alta velocidade. 

A pele em meus dedos começou a se rasgar liberando uma camada de pele externa que uniu meus dedos, assim como minhas pernas que aos poucos eram obrigadas a se juntar e colar-se, causando dor. Gotículas de sangue eram jogadas para fora da minha pele, que logo se misturaram na água e sumiam. Quando eu finalmente pude respirar, puxei fortemente o oxigênio presente na água para dentro do meu corpo podendo assim me acalmar.

Respirei fundo, pouco a pouco me adaptando e acostumando-me com o novo lugar em que me encontrava. Balancei minha cauda com rapidez, girando o corpo para criar um redemoinho que terminou de penetrar água salgada no meu corpo e transformar-me por completo. Clare ainda olhava-me por fora da água, e ao emergir na superfície vi que já estava pronta com sua caixa de isopor cheia de gelo ao lado. 

— Seja rápida.

Balancei a cabeça assentindo e voltei para dentro de água onde nadei até o fundo, passando os dedos pela areia submersa e tirando assim a cobertura que tínhamos feito para outras pessoas não encontrarem. Pelo impacto da água na cachoeira, era mais difícil que eu controlasse toda a situação com rapidez, então tive que improvisar pegando a corda que sustentava a fechadura do metal, nadando rápido para a superfície e puxando assim a tampa abrindo-a.

Logo em seguida pude sentir a pressão da água tornar-se maior, fazendo mais água entrar e sair naquela pequena piscina onde eu estava. Quando voltei para o fundo, acostumei-me com a escuridão que o corredor submerso me entregava, entrando dentro do mesmo e nadando o mais rápido que eu conseguia para o outro lado, demorando alguns minutos para chegar no estuário.

Subi na superfície, passando os dedos pelo rosto e respirando fundo algumas vezes antes de mergulhar novamente e nadar até o barco que estava parado um pouco depois da corrente que separava o mar aberto da jornada fina de água do estuário. Puxei a corrente de metal certificando-me de que a âncora estava bem presa na areia e subi, tocando algumas vezes o material do barco. Bati algumas vezes, simulando uma porta trancada. Quando eu alcancei a rede coberta de peixes, analisei o tecido usado para aquela pesca. Pensei um pouco, os deixando para nadar até o fundo onde eu demorei a encontrar uma pedra afiada que ajudou-me a rasgar as fibras do pano, logo vendo os peixes nadando desesperados para longe dali. Antes que todos sumissem, capturei dois com minhas garras e apertei com força para matá-los, pegando um terceiro para saciar-me da fome que sentia.  

Segurei-os com a mão esquerda, usando a direita para cutucar o barco mais uma vez, batendo dessa vez com mais força até formar um buraco que fez água entrar dentro. Larguei a pedra, nadando para as profundezas que me levariam de volta à cachoeira.

— Clare. — Chamei, com a voz metálica, vendo-a tirar a atenção do celular e me olhar.

Ela aproximou-se para pegar os peixes e guardou-os dentro da caixa, me ajudando logo depois a sair dali. 

Quando terminamos tudo, voltamos para casa onde eu me arrumei junto a Clare e de lá fomos para a faculdade, pegando as cinco primeiras aulas até termos juntas a aula que apresentaríamos os peixes capturados. 

— Já está tudo pronto? — Perguntei.

— Só falta uma coisa.

Ela correu até sua mochila e tirou de lá um canivete ao qual usou para espetar os furos que fiz com minha unha, rodando logo depois o material para parecer que fora morto por materiais construídos por humanos. Assenti com a cabeça, limpando as mãos logo depois vendo o professor chegar pedindo organização entre os grupos. 

Respirei fundo, lembrando-me mentalmente do que eu tinha para falar quando nossa vez de apresentar chegou, mostrando-lhe a espécie de peixe que tínhamos capturado e explicando acerca dela. Clare falou um pouco sobre a alimentação e deixou que eu explicasse sobre a reprodução e se os riscos de extinção eram grandes. Quando acabamos, ele nos avaliou dando a nota e dirigiu-se a outro grupo.

Olhei Clare, sorrindo pela nota que recebemos.

— Precisamos comemorar. — Eu disse, quando acabou a aula. 

— Que tal chamarmos a Bruna para ir a uma balada?

— Não quero ir a uma balada.

— Pare disso, Grace. Você também é uma humana, vale se divertir um pouco.

Eu sabia disso, só não sentia vontade de me divertir assim. Quando eu procurei por Clare, vi que ela já falava com a Bruna. Umedeci os lábios suspirando e esperei por ela, quando a última aula acabou Clare veio até mim e levou-me em casa, nos arrumando juntas para depois chegarmos na casa de Bruna.

Quando me acomodei no seu quarto, percebi algumas mudanças. Sua cama agora era virada na mesma direção que a janela, e o guarda roupa ficava de frente para a cama. Havia uma mesinha onde ela estudava mais no canto, e na porta onde normalmente ficaria as roupas dela, ela optou por fazer uma sapateira com prateleiras para encher de livros.

Bruna amava ler. E isso era ótimo porque eu também não ficava atrás no assunto.

— Então me diz, o que vocês preferem, roxo ou vermelho? 

— Roxo, combina mais com você. — Disse Clare.

— E Grace?

— Roxo também.

— Vocês dizem isso porque sabem que roxo é minha cor favorita e se acostumaram a me ver usando essa cor em todas as minhas coisas. 

 Eu ri fraco, e a ajudei a se vestir para irmos à tal balada. 


Notas Finais




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