1. Spirit Fanfics >
  2. Madness >
  3. Capítulo 06

História Madness - Capítulo 06


Escrita por: YsBelieber

Capítulo 7 - Capítulo 06


Fanfic / Fanfiction Madness - Capítulo 06

"Faça mais do que existir."


Sete Meses Atrás

Flashback On

-------------------------


— Boa tarde. — Cumprimentei ao entrar no prédio envidraçado.

O edifício era composto por paredes e pilastras, acompanhados de uma linha verde fazendo a divisão entre o banco na parte de cima e o bege abaixo da linha. Os salões - embora pequenos - eram preenchidos por cabines de atendimento, onde os funcionários ficavam sentados de frente a um computador, alguns atendendo clientes, outros apenas cumprindo horário.

Sua frente tinha um balcão em formato redondo, com dois atendentes na parte de dentro. Era possível ver a quantidade de papéis espalhados pela mesa onde eles se apoiavam e trabalhavam, enquanto mais ao fundo, perto das janelas de vidro e que davam visão para o centro movimentado da cidade, tinha alguns quadros de enfeite. Quando olhei para minha direita, percebi uma escada espiral com degraus de madeira lisa, coberta por verniz devido ao brilho perceptível, que levava para o segundo andar, e que eu deduzia ter mais andares já que o prédio não era pequeno e - com certeza - Edgar não dividiria com ninguém.

— Você pode me informar onde que fica o pessoal que cuida da limpeza marinha?

— Terceiro andar, no corredor à esquerda.

 Eu disse.

— Obrigada. — Sorri simpática.

Me afastei do balcão indo para as escadas já que o elevador estava sendo usado e subi em silêncio, observando os detalhes no corrimão. Eram formas que eu nunca tinha visto antes, algo como uma mistura entre pinturas rupestres e mensagens egípcias, não entendia muito de arte contemporânea. 

Ri fraco desviando o olhar e andei alguns passos até subir de novo a escada. Não pude deixar de reparar nos enfeites que as paredes continham, além das pinturas que combinavam entre si como os formatos que entregavam que aquele realmente era um prédio composto por pessoas que amavam a natureza e principalmente, o mar.

 O terceiro andar tinha uma pintura enorme do oceano na sala principal, que ao terminar as escadas você rapidamente dava de cara com ela. Havia golfinhos, tubarões, diferentes espécies de peixes e até mesmo uma baleia ilustrada. Era lindo saber que, não somente ali, mas também de perto que casa era linda. Era um verdadeiro paraíso.

Andei pelos corredores da esquerda até encontrar algumas portas e parei de frente a uma que já estava meio aberta. Havia dois homens de costas conversando sobre alguma coisa e me olharam assim que bati para ganhar a atenção.

— Oi, tudo bem? — Sorri pequeno. Meus olhos se fixaram no moreno à minha frente, quando percebi tratar-se da pessoa que eu estava procurando. — Atrapalho?

— Não, já estávamos acabando. Podemos ajudar?

 O segundo rapaz eu não conhecia, mas sei que era alguém do departamento pois usava um uniforme com o nome da empresa de Edgar e o departamento em baixo.

— Edgar me disse para falar com você so…

— Ah, certo! — Ele pareceu se lembrar de algo. — Você é a Grace, né? 

Balancei a cabeça que sim. Ele sussurrou alguma coisa para o rapaz que ainda estava na sala e lhe entregou algumas pastas, logo observando ele sair. Dei um sorriso fraco para ele que me olhou e umedeci os lábios fechando a porta atrás de mim, me aproximando de Dylan.

— Para sua sorte não existe muita dificuldade nesse trabalho, é só pegar a prática. — Ele começou, se sentando na cadeira dele. Me sentei de frente a sua mesa, prestando atenção em tudo o que falava. — Você sabe o que eu faço, certo?

— Edgar me disse apenas que você cuida da separação do lixo que saem das águas que vocês limpam.

— Isso. Parece fácil mas é preciso um pouco de atenção em certas coisas. 

Dylan pegou uma folha branca entre os papéis espalhados e com a ajuda de uma caneta, começou a fazer alguns rabiscos para que eu entendesse sua explicação.

— O lixo que mais polui o meio ambiente e, principalmente as águas, é o plástico. Sacolas, garrafas de água, embalagens de produtos, alguns produtos feitos de plástico também, e tudo mais. Coisas que demoram mais de 400 anos para se decompor. 

— Certo.

— Nossa rede colhe muitas sacolas de plástico e garrafas, é o que mais encontramos no nosso trabalho então esses materiais são colocados em sacolões de pano reforçados que são levados para as fábricas de reciclagem. Antes que pergunte os sacolões são nossos então nossa equipe leva, se encarrega de entregar o lixo e voltar com os sacolões. Nós temos as mulheres que cuidam da limpeza desses sacolões para utilizarmos até onde puder. Quando elas não estão, nós que lavamos. Muitos podem achar nojento, mas acredito que tudo é questão de higiene. Lavando bem, não tem nada de nojento nisso.

— Sim, exatamente. — Balancei a cabeça concordando. — E o restante dos lixos?

— Tem alguns lixos recicláveis que nós mandamos para essas comunidades que fazem coleta seletiva. Quando o material não está em condições de mandar para as indústrias, a gente separa direitinho, lava e entrega para essas instituições, comunidades, e tudo mais. Muitas das coisas são garrafas pets, potes de creme e copos descartáveis que se destruíram um pouco, racharam no meio, aí como as fábricas e indústrias aceitam somente materiais que estejam inteiros, os que contém esses defeitos a gente separa e doa.

— Entendi.

— Você já tem seu uniforme?

— Esqueci de perguntar a Edgar onde eu consigo.

— Vem.

Me levantei da mesa quando Dylan o fez e o segui para fora de seu escritório. Em alguns passos, já estávamos no corredor da direção contrária a qual eu tinha entrado e logo conheci a sala onde funcionava uma espécie de dispensa.

— Seu tamanho é P?

— M. — Ri fraco, me encostando na parede da sala.

Ela era normal, não havia muita coisa interessante para que eu a descrevesse. Era como uma dispensa mesmo, cheia de prateleiras com caixas e objetos do trabalho que qualquer pessoa poderia precisar em algum momento. 

Dylan tinha pego uma das caixas na prateleira mais alta e tirado uma camiseta de dentro do plástico, provavelmente para não pegar poeira. Quando me entregou, eu cheirei antes de olhar a peça de roupa. Força do hábito. 

— Você pode ficar com essa, mas é bom que converse com a Sonia, ela fica no segundo andar e é responsável pelas camisetas da empresa. Você será encaminhada para a costureira que pegará suas medidas se você quiser e fará seu nome na camiseta, aqui todos temos camisetas com nossos nomes, assim, se você sumir o prejuízo é só seu. 

— Tudo bem. 

Tirei meu casaco segurando a camiseta com minhas pernas, Dylan se afastou segurando a porta da sala me esperando de costas e eu aproveitei para tirar minha blusa. Vesti a camiseta da empresa e minhas peças de roupa eu guardei dentro da mochila que até agora estava em meu ombro.

— Onde eu deixo minha mochila?

— Pode colocar na minha sala. — Ele a tomou da minha mão.

Esperei que ele voltasse de seu escritório enquanto eu tirava fios de cabelo de dentro da roupa e o segui para os andares de baixo, logo indo para o carro. O silêncio entre Dylan e eu era de certo modo confortável. Eu não sabia muito o dizer. Quando olhava para ele, imaginava que ele fosse como Edgar que, apesar de novo já era casado e tinha uma família, mas quando eu olhava para sua mão e não via aliança, me perguntava se ele era solteiro por escolha.

— Pode entrar.


-------------------------

Flashback Off


 Quando me encostei nas grades do cais, Clare acompanhou-me em silêncio, observando o mar que mais ao longe se unia com o céu, desaparecendo. Não havia ondas, e pelo azul esverdeado era possível encontrar alguns peixes nadando perto da superfície.

Sorri de lado ao ver um de nossa espécie emergir em um salto rápido e logo desaparecer. Era possível que eu os ouvisse me chamando de volta para a água, fazendo-me apertar as correntes que me separavam da água. Gotas se chocavam na madeira da ponte onde eu estava, e em um suspirar pesado eu fechei os olhos, ouvindo de longe a voz de Becca se comunicando com os outros. Era capaz de escutar meu nome, levando-me a crer que me chamava para perto deles.

— Grace?

Abri os olhos, sentindo a mão de Clare em cima da minha. Quando a olhei, percebi que estava de braços levantados prestes a tirar minha camiseta. Ela olhou-me em silêncio, e eu, devagar voltei a abaixar a peça de roupa, respirando fundo soltando as correntes e me afastando das grades.

— Vamos para casa. 

Clare não disse nada, apenas me acompanhou ficando com Thor na sala ao chegarmos, peguei meu celular indo para o quarto. 

— Oi, mãe. — Sorri ao ouvi-la atender. — Sim, estou bem, e a senhora como está? 

Fazia tempo que eu não a via. Alice era mais reservada, era conhecida apenas por seu trabalho na lanchonete e pelos artesanatos que fazia em casa para vender. Minha irmã morava com papai, no fundo do mar, entretanto visitava mamãe sempre que podia. 

A última vez que vi mamãe eu tinha tirado férias da faculdade e conseguira viajar pelas águas profundas. Mamãe era muito guerreira por todas as coisas que passou, e papai muito mais, por apesar de todos os problemas sempre ter ficado do lado de Alice, embora distante.

— Estamos em Setembro, mas prometo que assim que as férias chegarem em Dezembro eu dou um jeito de visitar a senhora, está bem? — Fiz uma pausa para ouvi-la. — Eu sei que o semestre acaba no meio do ano, mamãe, mas eu vou precisar ficar até Dezembro, preciso pagar algumas aulas para recuperar a nota de algumas matérias, senão não conseguirei tirar férias. 

Minhas mãos se ocupavam em colocar a banheira para encher. A água balançava pelo impacto do líquido que caía da torneira, e enquanto ela era preenchida eu preparei os sais naturais que recolhi do oceano para jogar no superficial daquela água. 

— Tudo bem, prometo sim te visitar o quanto antes. — Sorri. — A senhora falou com papai? 

Já fazia um ano que papai não aparecia. Becca vez ou outra surgia para dizer que ainda estava viva, mas nada que me fizesse entender do seu sumiço. Eu desconfiava que seja da grande pescaria investida pelos homens, de uns meses para cá cresceu muito e isso estava sendo uma catástrofe, atitudes como essa obrigavam nossa espécie a se esconder nos lugares mais profundos do oceano para não serem pegos, nossos povos já eram pequenos o bastante, não podiam terminar de executá-los.

— Não, não consegui encontrá-lo. Mas vou continuar tentando, pode deixar. — Suspirei.

Eu precisava encontrar papai.

— Tudo bem, depois nos falamos, mamãe. Te amo.

Após desligar, deixei o celular em cima do mármore da pia e despi-me, afundando-me dentro da banheira por uma hora. As lágrimas escapavam pelas laterais dos meus olhos, misturando-se com a água e levando-me a uma ilusão longe de se tornar real. Eu era capaz de ouvir as profundezas do oceano chamando-me, e por mais que eu quisesse eu lutava para não ter que me entregar ao azul daquele mar. Eu inalava oxigênio com força, levando-me a crer que meus pulmões explodiriam de tanto ar ali dentro. Quando pensei em sair da água, segurei na barra da banheira ouvindo passos profundos e suaves aproximarem-se cada vez mais. Abri os olhos. Com as ondas pequenas da limpa água balançando-se e sintonizando-se à luz do banheiro, eu reconheci Clare.

Ela sentou-se na borda, acariciando as escamas da minha mão que pouco a pouco paravam de doer. Eu tinha um frasco que usava de enfeite no quarto com água pura do oceano. Sempre que a jogava na banheira ao lavar-me, a dor da transformação amenizava, afinal, não era capaz de me transformar em qualquer água. Era preciso ter pelo menos uma substância marinha dentro, algo como algas, folhas, areia e o mais fácil, claro, a própria água, suja, poluída e salgada.   

Infelizmente ela estava acabando e eu precisava recolher mais, assim como precisava de outros frascos para maior estoque. Quando Clare tocou meus dedos, eu afastei devagar afundando-me mais e fechando os olhos com força podendo ver miragens do oceano, abrindo rapidamente quando encontrei com mergulhadores invadindo o abrigo que nos escondíamos.

Saí da água, respirando fundo e passando a mão no rosto para afastar excesso do líquido. Quando pus a banheira para escorrer, minhas narinas começaram a se entupir de oxigênio levando-me a uma dor eterna que rasgou minhas escamas e expôs-me à luz lamparina, o que resultou em um grito agudo atravessando todos os tubos existentes na garganta para expressar a dor em ter uma cauda marinha separando-se em duas partes que aos poucos viraram pernas humanas.

Tussi, vendo respingos de sangue expelirem dos meus lábios e sujarem a borda da banheira, junto aos pedaços de escamas que se descolaram dos meus pés e coxas, dissolvendo pela água que lentamente cruzava o ralo e voltava para sua origem. Que sorte dela, poder voltar para o lugar de onde veio.

— Grace...

Minha garganta estava rouca, e eu puxava ar como se tivesse levado um soco na boca do estômago. Uma dor tão grande que certamente me impedia de respirar normalmente. Bati na borda da banheira, imaginando que pela força o acrílico racharia e derramaria assim toda a água que ainda descia pelos furos. Quando puxei o ar novamente, minhas cavidades bucais e nasais já se adaptavam ao oxigênio presente no ambiente.

Minha mão agarrou seu braço, e involuntariamente apertei as unhas em sua pele. Minhas pernas e braços se esticavam e dobravam ao mesmo tempo, simulando contorções causadas pela dor dos meus ossos e órgãos adaptando-se aos meios humanos existentes. Quando abri os olhos novamente, as mechas do meu cabelo escureciam soltando fumaça e voltando à cor amarronzada. Meus olhos que antes eram azul-claros, quase branco, agora estavam em azul marinho, com resquícios esverdeados dançando pela minha íris. 

Olhei para Clare novamente, normalizando aos poucos minha respiração e tranquilizando-me devagar.

— Você tem que parar com isso. 

Peguei minha toalha, me secando e levantando-me da banheira indo para meu quarto enrolada no algodão vestindo-me depois.

— Grace, eu estou falando com você. — Clare continuou, e eu segurei-me enquanto me vestia. Hoje era sábado e eu não tinha muita coisa para fazer, então seria difícil fugir daquela discussão. — Está piorando, Grace. E você sabe disso.

— O que está piorando, Clare? — A olhei pelo reflexo do espelho, penteando meu cabelo.

— Isso! — Indagou. — Suas transformações estão se tornando mais frequentes, você está tendo que usar água pura para isso, porque as superficiais não estão mais te ajudando, você está sofrendo, Grace.

— É exatamente isso que eu quero. Você entende assim como eu, Clare. É horrível não poder nem sair com os amigos porque algum líquido pode cair em minha mão e transformar-me em sereia. Acha que isso é fácil? Eu não gosto disso, eu nunca gostei.

— Você não pode forçar seu corpo a se transformar somente com a água salgada.

— Posso, e é exatamente isso que estou fazendo. 

Quando terminei de enxugar as pontas, joguei a toalha no suporte para que secasse naturalmente e guardei minhas coisas no armário. 

— E você não tem moral nenhuma para falar comigo. Você nem se transforma mais, Clare. Você negou sua espécie!

— Você sabe que eu fiz isso pelos meus pais. — Respondeu, alterando a voz. Ela odiava quando eu tocava no assunto.

— Seus pais devem estar muito orgulhosos, não é mesmo? — A olhei, me irritando agora. Fechei a porta do meu guarda-roupa com força fazendo Thor se assustar e pular para fora da minha cama. — Por que acha que ainda estou aqui? Ein, Clare? Você sabe porquê. Nós prometemos que iríamos encontrar um jeito de ajudar nossa espécie a ter uma vida melhor. Nossas escolhas nos trouxeram aqui, e é por isso que ainda estou lutando, me esforçando para não desistir de tudo e sair procurando pelo meu pai. Você sabe que eu quero voltar para a água, mas não é a hora certa.

— Se torturar tomando banho todos os dias com água salgada não vai trazer o seu pai de volta.

— Negar a sua espécie trouxe os seus? 

Clare ficou calada. Ela pensou em dizer algo, pois abriu a boca e fechou logo depois, trocando o peso do corpo de uma perna para a outra. Eu respirei fundo, ainda a encarando. Não iria baixar a guarda.

— Somos amigas desde que nascemos, praticamente. Tínhamos maior facilidade em nos transformar, mas com o tempo você decidiu que teria uma vida aqui, que ia preferir ficar aqui sem passar por dificuldades ou outra coisa, mas para isso precisaria parar de se transformar, assim nunca seria descoberta. Poderia sair quando quisesse, tomar banho quando quisesse, lavar o rosto, beber água, ir na praia sem o medo das pessoas verem sua cauda. Agora que tem o John sua decisão se fortaleceu mais ainda. 

— Grace…

— Mas você foge, Clare. — Não deixei que falasse. — Você fez tudo isso, não para ter uma vida humana normal como qualquer outra pessoa, e sim porque cansou de procurar pelos responsáveis que mataram os seus pais quando você era criança. A dor ainda está aí dentro, Clare. Você que ignora e finge que tá tudo bem, quando na verdade não está. Se você não quer assumir nossa espécie, a qual te acolheu com a morte dos seus pais e que você preferiu dar as costas para viver com minha mãe, tudo bem, mas se esconder por trás do belo par de pernas que você tem não vai resolver seus problemas. E um dia você vai ter que encará-los. Você sabe disso.

Quando terminei de arrumar minhas coisas no guarda-roupa, Clare estava sentada no sofá, olhando para a televisão sem som. Fui para a cozinha, ocupando a cabeça em fazer o almoço. Eu sei que tinha pegado pesado com ela, e eu também não era nenhuma santa para falar nada. Ela estava certa em querer me aconselhar sobre o fato de que eu tentava me aproximar da nossa espécie em banhos de água salgada, estava errada em me torturar procurando por respostas que eu não tinha, e mesmo assim continuava fazendo porque achava que de alguma forma isso me ajudaria. 

Nenhuma de nós estava sabendo resolver seus problemas, e julgar uma à outra não era a solução. Clare e eu fomos criadas juntas, nossos pais conviveram juntos, embora minha mãe fosse a única humana da família, o que me tornava a única híbrida entre nós, mas isso não nos afastava, muito pelo contrário, mamãe sempre nos ajudou e nunca impediu que papai me levasse a passeios nas profundezas do oceano. Por isso eu era tão ligada a ele, por isso eu me conectava de alguma forma com o mar. Mas depois que os pais de Clare foram mortos as coisas nunca mais foram as mesmas. O mundo de Clare desabou, e ela apegou-se em minha mãe para viver o resto de sua vida em terra firme, sem contato com a água. Ela tinha trauma da água, ela não queria voltar para lá pois sempre que o fazia, só conseguia pensar em seus pais e na lembrança de encontrá-los flutuando no meio do oceano. Era difícil para ela lidar com isso, e mais difícil ainda não ter com quem conversar sobre aquilo, se não minha mãe e eu. 

Suspirei, levando as panelas para o suporte de madeira na mesa. Chamei Clare, vendo-a aparecer em silêncio para comer, enquanto eu me contentei com o peixe descongelado.

— Desculpa. — Falei, enfim, quebrando o silêncio entre nós duas.

A loira terminou de comer e eu me levantei indo até ela a abraçando. Ela retribuiu, afundando o rosto em meu pescoço para soltar todas as lágrimas que segurou talvez por anos. Eu acariciei seus fios claros, olhando para o vazio tentando afastar os pensamentos ruins que me vinham à cabeça. Seus braços que me rodeavam vez ou outra me apertavam, e eu fiz o possível para ficarmos confortáveis naquela cadeira da cozinha. 

Quando seu choro diminuiu, eu nos afastei pegando seu rosto o secando e acariciando, depositando um beijo em sua testa e depois a colando à minha, em sinal de respeito e lealdade. Fechei os olhos respirando fundo.




Notas Finais




Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...