Lauren Pov
Já era segunda-feira. Karla não falava comigo desde sábado e eu já estava preocupada. Ela não tweetava nada desde esse dia. O que aconteceu com aquela latina?
— bom dia gostosa
— bom dia Mani
— agora você já pode explicar porque não foi na festa sábado
— eu estava um pouco cansada – menti
— tudo bem, eu entendo – ela pareceu estar convencida, então logo mudou de assunto — vamos ao shopping hoje?
— claro
Ficamos conversando até a aula começar. Estávamos discutindo sobre a adoção em casos de pais homossexuais. Preciso dizer que adorei? Acho que não.
— eu acho que esses casais podem dar o amor e carinho que os pais héteros não dariam, afinal, foram os mesmos que abandonaram a criança – Camila falou algo descente? Não acredito
— concordo – falei simplesmente e ela me encarou com a sobrancelha arqueada
Continuamos falando sobre o assunto. Em vários momentos alguns alunos soltaram comentários preconceituosos, eu rebatia todos eles. Até que, em algum momento, Camila e eu começamos a completar o comentário uma da outra.
— eu acho que isso se tornou uma coisa cultural, para a maioria das pessoas, o certo é homem e mulher e só eles podem ter filhos ou adotar
— as pessoas crescem com esse preconceito, o assunto é pouco tratado e as pessoas influenciam de certa forma nisso, deveria haver uma orientação desde criança
E foi assim por mais um tempo, até a aula acabar. Por mim aquela aula não acabaria mais. Saí da sala com Mani, que me olhava de um jeito estranho.
— o que foi?
— você e Camila, muito estranho
— era uma situação diferente, estávamos apenas expressando nossas opiniões
Ela deu de ombros e continuou andando. Conferi o celular para ver se havia alguma notificação do twitter, mas nada. Karla havia realmente sumido.
— oi Jauregui – Harry falou sentando na mesma mesa que nós
— oi Harry – sorri
— achei que ia ir na minha festa sábado
— era sua? – mordi o lábio nervosa — me desculpa, eu estava cansada
— tudo bem, mas... Vai na festa do Louis sábado
— prometo ir – só não sei se vou cumprir
— é isso aí
Bati minha mão na dele e nós continuamos conversando. Nossos "amigos" se aproximaram, sentando na mesa também.
— oi Laur
— oi Brad
— fiquei esperando por você sábado
— jura? Que pena
— mas cara, você estava com a... – James começou
— cala a boca James – Brad interrompeu
Revirei os olhos. O que esse garoto acha que eu sou? Idiota? Fala sério.
— então...
— cala a boca Brad – falei da mesma forma que o mesmo havia falado minutos antes
Ele apenas se virou e saiu levando James. Vi que Austin estava me encarando e devolvi o olhar. Hoje o dia está difícil.
— você tem algum problema comigo? – respondi me levantando e ainda olhando para Austin
— talvez eu tenha Jauregui, o que você vai fazer sobre isso?
— vou quebrar a sua cara
Estava indo até ele, quando Normani segurou meu braço. Sabia que ia me ferrar se fosse bater nele, mas não estava ligando. Seria uma boa forma de descontar a tensão dos últimos meses.
— Laur, por favor – minha melhor amiga pediu e eu acabei me acalmando
Deixei que ela me levasse até o banheiro. Precisava mesmo respirar longe daquele povo. Ao entrar, me deparei com Camila sentada no chão, com um livro na mão.
— era só o que me faltava – reclamei e ela se assustou
— já estou saindo – falou baixo e saiu do banheiro
Molhei meu rosto e respirei fundo.
— por que está tão estressada? – Mani perguntou me encarando
— não sei
A verdade é que eu estava cansada de tudo. Das pessoas falsas ao meu redor, dos meus pais brigando todos os dias, da minha rotina chatinha, das mesmas pessoas sempre, do mesmo lugar. Eu queria sair e conhecer pessoas de verdade, não essas que você que você conhece em festa e depois nunca mais conversa.
— tudo vai ficar bem Laur – me abraçou forte
— obrigada – sorri — se importa se eu voltar pra sala? Quero ficar sozinha um pouco
— vai lá
Entrei na sala, me sentei em minha cadeira e deitei minha cabeça sobre meus braços. Tentei dormir, mas logo senti duas mãos em minhas costas.
— sou eu – logo reconheci a voz, era Ashley
A loira fazia uma massagem maravilhosa em minhas costas e ombros. Depositava beijos em minha nuca, fazendo meu corpo todo arrepiar. Porra. Logo o sinal bateu e ela parou com os movimentos.
— se precisar de outra massagem é só chamar – piscou e saiu rebolando, como sempre
Fiquei com a cabeça abaixada até Normani voltar para a sala. Assim que ela sentou atrás de mim, eu me virei.
— o que estava fazendo aqui sozinha com essa daí? – perguntou apontando para Ashley
— eu estava tentando dormir e ela entrou aqui – me defendi
— você não beijou ela né?
— não
Ela ficou me olhando até ter certeza que eu não estava mentindo. Ela sempre sabia quando eu mentia.
— prova em dupla, se juntem – o professor de química entrou falando
— você não avisou – reclamei
— surpresa – sorriu como se estivesse ganhando o dia com aquilo
Vi que Camila e Austin estavam fazendo dupla e comecei a rir. Não aguentei e tive que falar alguma coisa. Fui até eles, parando na frente de ambos.
— olha, dois fracassados juntos – falei rindo — daria um belo casal
Voltei ao meu lugar e me juntei a minha melhor amiga para fazer a prova. Minutos depois, o professor entregou as folhas e nós começamos a responder.
— eu não entendo nada de tabela periódica
— eu não entendo nada de química – revirei os olhos
Respondemos o que deu e entregamos. O professor logo começou a corrigir.
— a melhor nota foi de Camila e Austin, parabéns
— incrível – debochei
— e a pior nota foi a sua Jauregui
Desde quando esses professores estão assim? Revirei os olhos, como sempre.
— parabéns Jauregui – Austin passou por mim e debochou
Não permiti que aquele idiota me irritasse. Peguei meu celular e entrei no twitter. Abri minha conversa com Karla e fiquei lendo. Ela havia me animado um pouco. Aquela cara de pau dela fazia falta.
— ela não para de olhar pra cá – Mani resmungou olhando para Ashley
— deixa ela – olhei para a loira e pisquei
Talvez Ashley possa ser minha nova distração.
Camila Pov
Eu estava sentada no banco do parque há mais de uma hora. Minhas pernas estavam dobradas, meu rosto apoiado nelas, enquanto eu chorava compulsivamente. Eu me sentia sozinha. O fato de eu ter criado Karla, só mostrou o quão ridícula eu sou.
— Camila? – escutei uma voz familiar e levantei a cabeça
— oi Austin – sorri
— posso sentar?
— claro
— por que estava chorando? – perguntou enquanto passava a mão em meu rosto, secando-o.
— problemas – sorri fraco
— quer me contar?
Apenas neguei com a cabeça. Ele arqueou a sobrancelha e abriu os braços. Gostava da sensação de não estar tão sozinha.
— acho melhor te levar pra casa, vai chover
Olhei para cima e vi que o céu estava escurecendo. Levantei e Austin me seguiu.
— vai me levar?
— claro – sorriu
Fomos o caminho todo conversando, quando chegamos em minha casa, não senti vontade de me despedir do menino.
— quer entrar?
— até queria, mas não posso
— tudo bem, nos vemos amanhã?
— com certeza – beijou meu rosto e logo se afastou — até amanhã, se cuida
— até, se cuida
Demorei um tempo para entrar em casa. Já me sentia melhor, graças ao Austin.
— oi mãe – beijei seu rosto e o de Sofi — oi Sofi
— onde estava?
— no parque
— com quem?
— com um amigo
Minha mãe me olhava desconfiada. Apesar dela ser a única com quem eu posso desabafar, isso não acontecia. Normalmente via ela apenas no café da manhã e no jantar. Sinu sabia pouco sobre mim, mas se esforçava para ser uma boa mãe. Falhava muitas vezes, mas eu reconhecia que ela tentava.
— se arrume, daqui a pouco vou colocar o jantar mesa
Assenti e subi para o quarto. Fui tirando minhas roupas e jogando-as pelo quarto, até chegar no banheiro. Tomei um banho demorado e logo me vesti. Penteei meu cabelo e desci.
— demorou Kaki – Sofi reclamou
— desculpa pequena
Jantamos como todos os dias, com Sofi falando sobre seu dia. Eu não fazia questão de contar sobre o meu, até porque era a mesma coisa todos os dias.
— boa noite – falei depois de arrumar a cozinha
Mandei um beijo para minha irmã e fui para o meu quarto. Virei de um lado para o outro na cama até conseguir pegar no sono. Minha vida estava cada vez mais difícil. O pior é que a culpa é minha.
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