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História Strange Love - "Spleen" e vinhos


Escrita por: AnaLothbrok

Notas do Autor


Oi gente, td bom com vcs?
Comentei no capítulo anterior que esse seria o último dessa fase, só que como ficou grande, achei melhor dividir. Tem personagem novo aparecendo (:
Se td der certo postarei o próximo amanhã.


O moço da foto do capítulo é o grande ator Tobias Menzies, é mais ou menos como imagino o senhor Fernando. :)

Até as notas finais.
Boa leitura
:D

Capítulo 7 - "Spleen" e vinhos


Fanfic / Fanfiction Strange Love - "Spleen" e vinhos

Quando saiu do escritório, senhor Fernando encontrou Camélia na sala, ela ainda tinha a expressão de raiva, mas desanuviou quando o viu.

− O senhor está bem? – perguntou por reparar que ele estava pálido e o olhar parecia abatido.

− Estou, é que meus filhos às vezes me cansam. – ele desculpou-se com um sorriso fraco.

− São crianças. – disse sorrindo e colocando as mãos em seus ombros. Ele a olhou assustado com a aproximação repentina e afastou-se gentilmente. Ela desculpou-se e virou-se fitando a janela.

− Bem, o que quer resolver agora? – ele questionou. Camélia havia ido lá para resolver os últimos ajustes para a cerimônia que aconteceria no dia seguinte.

− Podemos ver onde ficará cada mesa?

 − Claro, vamos. – lhe deu o braço e foram até o jardim.

Ela ia falando para os empregados como e onde queria cada coisa e seu noivo apenas assentia concordando, começou a falar empolgada sobre cada detalhe, as flores, as fitas e as toalhas que cobririam as mesas, as velas, as louças e os vinhos.

− Quais vinhos teremos senhor Fernando? – ele estava com o olhar perdido e então voltou-se para ela que esperava sua resposta.

− Ah sim. Bem, teremos vinhos do sul e de Porto também. Mas porque a pergunta? – ele não entendia que diferença isso faria para ela.

− Ah, só me preocupo em oferecer o melhor. Mas claro, sei que o senhor só tem o melhor para dar. – disse sorrindo. Senhor Fernando limitou-se a erguer as sobrancelhas.

Quando a mãe dela, senhora Vanda chegou, ele suspirou e depois de cumprimentá-la, não tinha mais nenhuma paciência para ficar ouvindo falarem de detalhes tão supérfluos. Desculpou-se que estava cansado e teria um jantar com seus amigos à noite e despediu-se.

− Ele não está com humor de noivo nas vésperas das núpcias. – Vanda comentou com a filha quando ficaram a sós debaixo do caramanchão que havia sido montado para a cerimônia. Camélia suspirou e falou.

− De fato. Mas também, com filhos como estes. Mamãe, não acredita no que a menina teve o topete de me falar!

− O quê? Ai, aquela menina é uma peste!

− Disse que ela será a senhora dessa casa e que eu não tenho classe e que nunca chegarei aos pés da mãe dela! – Camélia estava indignada e seu rosto corado de raiva, sua mãe ficou chocada e depois irritada também.

− Credo! Mas, felizmente, ela vive longe, bem longe. Escute filha, uma vez que esses moleques voltem para a Europa, trate de fazer este homem esquecer a finada!

− Ai mamãe, que horror! – Camélia afastou-se e Vanda a puxou pelo braço.

− Falo sério. Ele ainda é ligado à mulher, vive ainda deprimido. Você tem que fazê-lo esquecê-la ou de fato, como a menina falou, nunca será senhora daqui.

− Como sabe essas coisas? – indagou à mãe.

− Ora, tenho meus passarinhos. – Vanda respondeu misteriosa e Camélia ficou desconfiada, mas decidiu acatar o que ela lhe dizia.

Depois de tudo acertado, foram à Casa Grande para despedirem-se do senhor Fernando, mas Zulma disse que o “sinhô” estava nos aposentos, recolhido. Camélia bufou e junto da mãe, saíram num farfalhar de saias. Da janela do quarto, Luísa as viu indo embora e voltou à cama onde chorou, depois de um tempo começou a rezar baixinho pedindo à santo Ambrósio que tirasse as teimosias do pai. Á tardinha, Ceiça apareceu lhe levando um lanche e disse que o patrão não estava bem.

− Como assim? Ai o quê que é Ceiça? Desembucha! – exigiu saber e a moça lhe contou tudo.

Senhor Fernando estava sentado em seu escritório, esperando os convidados para o jantar, seria algo simples, apenas ele e seus dois grandes amigos, Brás e Leopoldo. Estava perdido em pensamentos de quando Lívia morava ali com ele, ela pertencia à família Lins Prado, que morava em Nova Friburgo, o pai, senhor Carlos, era um próspero fazendeiro e amigo do pai de Fernando, logo fizeram o acerto e os filhos se conheceram. Ele apaixonou-se assim que a viu, Lívia tinha os cabelos castanhos em cachos que chegavam na altura dos ombros, os olhos verdes eram meigos e sua voz era doce. Tinha aptidão para música e gostava de tocar piano e cantar peças líricas para o marido que a ouvia extasiado,quando cantava, ela parecia uma figura etérea e o fazia se apaixonar ainda mais. Namoraram por dois anos e passaram sete anos casados, até o dia em que durante um inverno rigoroso, Lívia caiu doente e mesmo com os cuidados do doutor Eustácio, médico da família, não levantou mais, deixando Fernando desnorteado e duas crianças pequenas inconsoláveis.

A tristeza que ele sentiu foi tão grande que logo ficou deprimido e doente, antes, um homem rijo, agora, cheio de doenças respiratórias. Doutor Eustácio se desesperou e chegou ao ponto de levá-lo a outro médico amigo seu, um alienista. Doutor Rubem acreditava que a asma que acometia o senhor Fernando, podia ser fruto de seu estado emocional e conversou com ele algumas vezes, no entanto, nem isso parecia ajudá-lo e os problemas só se agravavam, doutor Eustácio espantou-se com tal quadro clínico. O tratamento então, constituiu-se em remédios, caminhadas ao ar livre e poucas atividades que exigissem esforço, emplastros e as conversas com o alienista que lhe abriu os olhos de que ele tinha duas crianças que precisavam de seus cuidados. Os dois médicos chegaram à conclusão de que foi o amor por seus filhos que fez com que aos poucos, senhor Fernando voltasse a querer viver, embora continuasse doente e sua saúde não tenha voltado a ser a mesma.

Estava com a expressão perdida e triste, ao recordar de uma vez em que estava naquele mesmo escritório com Lívia, olhando bem dentro dos seus olhos e acariciando seu rosto.

− Você é a luz da minha vida, meu amor. – ela lhe sorria tímida, como era de seu feitio.

− Você é a minha vida Fernando, eu te amo.

Aquelas palavras ficaram dançando em sua mente e as imagens passavam a sua frente, tão nítidas como se tivessem acontecido naquele mesmo dia, mais cedo. Fechou os olhos e respirou fundo, absorvendo todas aquelas sensações, sabia que estava mais fragilizado, pois receberia a visita de Leopoldo, irmão mais velho de sua esposa e era inevitável não falarem nela. A porta do escritório abriu-se e ele viu Luísa entrar, fechou o rosto e virou a cadeira dando as costas à menina.

− Papai, o senhor está bem?

− Estou. O que deseja?

− Ceiça me disse que o senhor está mal. – Fernando virou-se e a olhou.

− Não estou, só estava cansado. – Luísa não acreditou.

− Ela disse que o senhor respira com dificuldade e que o doutor Eustácio está sempre aqui. – ele irritou-se com a indiscrição da empregada.

− É claro que ele vem aqui, é um amigo da família.

− Mas ela disse que o senhor já esteve muito mal. Papai me desculpe, eu e Hugo só temos o senhor, se algo lhe acontecer, nós... – interrompeu-se por conta de uma torrente de lágrimas que lhe escaparam.

Senhor Fernando apiedou-se da filha e levantando-se, a tomou nos braços.

− Não chore, eu estou bem. – Luísa parou de chorar e o olhou ele sorriu um pouco e sentou-se nas cadeiras com ela ao seu lado.

− Ceiça disse que o senhor já passou muito mal várias vezes, disse que em três ocasiões acharam que o senhor não veria o outro dia! – Fernando virou o rosto de lado, para que a filha não visse e amaldiçoou Ceiça.

− Maldita Ceiça. – depois virou-se para a filha que tinha a expressão tão triste que lhe doía o coração e falou.

− Todos sentimos muito a morte de sua mãe, não foi? – ela assentiu.

− Eu fiquei muito doente quando ela se foi, mas melhorei com o tempo e bem, não é natural que pegue um resfriado ou uma gripe de vez em quando? Estou aqui, não estou? – Luísa assentiu novamente.

− Você e Hugo são tudo o que tenho, mesmo quando me fazem raiva, não os deixo de amar, isso seria impossível. – sorriu e Luísa o abraçou forte.

− Também amo muito o senhor, nós amamos. Por isso gostaríamos que nos ouvisse. – ele suspirou cansado, mas perguntou.

− O que querem que eu faça?

− Que desista. Desmanche enquanto é tempo, mas se quiser fazer isso só na hora, tanto melhor. – sorriu petulante ao imaginar a cara que Camélia faria.

− Que horror Luísa, não deseje essas coisas! Olha, eu dei minha palavra, não posso descumpri-la, caso, pois tenho que fazer isso, são... Convenções sociais, enfim, você ainda é muito jovem para entender. Mas te rogo, não insista nisso. – ele tinha a expressão tão abatida que Luísa cedeu.

Está bem. – Fernando suspirou aliviado. Pouco tempo depois, Iara apareceu anunciando o senhor Leopoldo Prado e eles foram até a sala recebê-lo.

Se abraçaram e o tio estava cheio de presentes para os sobrinhos, quando Hugo desceu, ficaram conversando e depois as crianças subiram e Fernando o levou até o escritório, Leopoldo havia levado várias garrafas de vinho que seriam para o casamento mas fez questão de abrir uma que veio do Sul, bebiam e conversavam.

− Seus pais não vem? – Fernando perguntou.

− Não, nem Leôncio. Desculpe Fernando, mas eles não gostaram muito dessa notícia.

− Imagino. – Fernando assentiu triste.

− Meus sobrinhos estão enormes e tão inteligentes! Luísa lembra Lívia, alguns traços e o modo como ela olha, embora Hugo seja bem mais parecido, aquele jeitinho tímido, apesar de que agora ele está um homenzinho não é? Só fala em esgrima! – riram e Fernando estava todo orgulhoso.

− No fim das contas, acho que foi bom mandá-los para a Europa. – Leopoldo ergueu uma sobrancelha e aproximou-se mais dele.

− Na verdade, não precisava ter feito isso, no Rio e em Petrópolis há ótimas escolas, mas entendo seu desejo. Meus pais ficaram muito irritados quando souberam, temem que você queira afastar os netos e a notícia de que vai casar de novo, bem, não agradou nada.

− Eu imagino, mandei uma carta os convidando para vir e nem responderam, a que mandei para Leôncio voltou. Mas não é verdade, Leopoldo, eu jamais afastaria as crianças, vocês são a única família que eles tem!

− Eu sei disso, te defendi lá em casa, mas papai não quis responder sua carta, Leôncio está no Rio, por isso a carta voltou, está indo bem com um empreendimento no Porto, pensa em expandir para São Paulo.

− Que bom, fico feliz. – Fernando comentou sincero e Leopoldo assentiu.

− Fernando, eu vim por você, mas percebo que não parece contente. Sabe que pode se abrir comigo, sempre fomos tão amigos! – Leopoldo o olhava com intensidade e Fernando suspirou.

− Não estou muito animado, devo admitir. Ainda mais que meus filhos não gostam nada da ideia, já me disseram cada coisa, principalmente Luísa. Ah! Leopoldo, há momentos em que não sei se sinto orgulho da inteligência dela ou se temo que quando cresça, entre em alguma confusão. – Leopoldo riu orgulhoso.

− Seus filhos são duas joias raras. Um dia, quando me sentir chamado, quero ter filhos iguais aos seus. – os dois riram e iam bebendo o vinho que por sinal, era de uma ótima safra.

− Meu caro amigo, tem que ter paciência, eles e minha família ainda não superaram a falta de Lívia. – Fernando ficou triste e comentou.

− Nem eu. – Leopoldo admirou-se.

− Ainda a amo e não há um só dia em que não pense nela.

− Também lembro muito dela. Mas você tem que focar nos momentos bons, Lívia te deu essas duas crianças, siga em frente por eles. Ela te amava, sei que só iria querer te ver bem. – sorriu e Fernando lhe sorriu de volta.

− Não amo Camélia, mas minha saúde é frágil, tenho que ter alguém aqui, você sabe. – Leopoldo assentiu e Fernando assumiu uma expressão séria.

− Leopoldo, já falei isso com Brás, que por sinal, está atrasado, mas sei que devo lhe falar também. – Leopoldo o olhou atento.

− Se algo me acontecer, cuide de meus filhos, você e seus pais.

− Fernando, nada vai lhe acontecer agora. Pare com isso homem! Sei que o casamento é uma forca, mas não é para tanto. – brincou e eles riram.

− Mas, é claro que se precisar, meus sobrinhos tem uma casa em Friburgo, você sabe. – ele assentiu e brindaram.

− Senhorita Camélia Correia, ouvi dizer que é bonita. – comentou Leopoldo.

− É. – Fernando falou sem muita emoção. Leopoldo riu e depois de alguns minutos houve uma batida na porta e Brás entrou.

− Boa noite, desculpe o atraso é que um cliente me procurou quando estava para sair. – cumprimentou Fernando e virou-se para o outro.

− Senhor Leopoldo Prado é uma honra revê-lo. – apertou a mão dele que retribuiu.

− Doutor Brás Costa, a honra é minha. – riram e se abraçaram. Sentaram- se e Fernando ofereceu.

− Brás, prove desse vinho que Leopoldo trouxe dos vinhedos do sul do país.

− Ainda bem que você ofereceu, estava para servir-me. – Brás gracejou arrancando risos dos amigos.

− Então, do que falavam? – Leopoldo deu de ombros e apontou para Fernando.

− Eu estava admirado da animação de Fernando com o casamento. – Brás olhou para o amigo e percebeu a ironia na fala de Leopoldo, então brincou.

− Ah Fernando, ânimo! Amanhã esta hora, estará tendo sua noite de núpcias e espera-se que esteja bem animado. – Caiu em gargalhadas com Leopoldo enquanto Fernando ficava ruborizado. Recompondo-se, quis devolver a brincadeira e pediu ao advogado que falasse de suas impressões sobre a terra da Rainha, pois como tinha feito no dia anterior, sabia que ele falaria todo meloso de apenas uma pessoa: Rose Smith.  Assim ele fez e Leopoldo riu ainda mais ao constatar que o amigo estava caído de amores.

Depois disso, foram jantar e continuaram conversando sobre diversos assuntos, Fernando falava da fazenda e de suas expectativas para a próxima colheita, Leopoldo também falava da fazenda do pai, que ele ajudava a tocare do negócio do irmão, no porto e Brás contava das causas que ganhara e da vontade de ir estudar na Inglaterra, o que arrancou gargalhadas dos amigos. Ao terminarem, foram até a sala onde iniciaram uma partida de dominó, seguiram com isso noite adentro e quando já se sentiam cansados, senhor Fernando anunciou.

− Devo dizer que esta foi de longe a melhor noite que tive desde muito tempo. Estava triste e me sentindo só, mas graças aos Céus que tive a ideia desse jantar, pois a companhia de vocês me salvou. Muito obrigado. – suas palavras sinceras emocionaram os companheiros.

− Que é isso Fernando, nos conhecemos há muito tempo e esse é o papel dos amigos não? Acompanhar e apoiar nos momentos tristes e alegrar o outro. – Brás falou sorrindo e erguendo sua taça na direção do anfitrião.

− Mais que amigos, somos cunhados, e isso me soa como irmãos. Para mim, estes laços são indissolúveis. – Leopoldo declarou. Fernando sorriu emocionado e eles brindaram, o último da noite, depois recolheram-se, as visitas dormiriam em Ouro Verde naquela noite, quando passava para seu quarto, seu cunhado lhe chamou.

− Descanse bem, amanhã, será uma nova fase em sua vida.

− Leopoldo, esse casamento não é como foi o outro, espero que meus filhos estejam errados. – o amigo o ouviu sem entender direito o que ele queria falar, despediram-se e Fernando deitou pensando se não estaria de fato cometendo um erro ou precipitando-se, afinal, era a fazenda de sua família que estava em jogo ali. De manhã cedo, teria uma conversa sobre seus documentos com Brás, só por precaução, tratou então de dormir, afinal, seria um longo dia.

 


Notas Finais


"Spleen" é um termo francês que quer dizer algo como tristeza, melancolia, tédio. Ficou bastante conhecido no século XVIII por Charles Baudelaire, poeta francês, aqui no Brasil, o maior representante desse "mal do século" foi Álvares de Azevedo, que em sua "Lira dos Vinte Anos" tem uma série de poesias intitulada "Spleen" e Charutos.

Então, quais suas expectativas para o grande dia? Será que Fernando vai mesmo colocar a corda no pescoço? kkkkk
Camélia e sua mãe são duas cobras né kkkkk
Até o próximo

xoxo.


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