História Strawberry Trapper - Capítulo Um

- Kanan, espere!

- Não adianta Mari, ela não vai escutar. – Dia colocou a mão em meu ombro, me fazendo parar de correr.

Fizemos uma pausa, apoiei as mãos sobre os joelhos e tentei ganhar fôlego novamente. Quando levantei o olhar para frente notei que Kanan tinha finalmente percebido que estávamos muito atrás. Ela veio sorrindo, sem sequer derramar uma gota de suor enquanto eu parecia ter entrado no mar.

- É assim que querem se tornar school idols? – Kanan ficou dando pequenos saltos, de um pé para o outro repetitivamente. A energia dela às vezes me assusta, mas é algo que admiro.

Dia se deixou motivar pelas curtas palavras de Kanan e voltou a ficar de pé, pronta pra correr. Eu senti vontade de voltar pra casa e descansar, já tínhamos corrido bastante e não queria me esforçar mais.

- Mari, quer ajuda?

Eu mal tive tempo de olhar para o rosto de Kanan. Seus longos fios azulados passaram na frente dos meus olhos, exibindo um brilho intenso e um cheiro incrivelmente bom. Logo a vi colocando meu braço sobre seu pescoço, segurando firme a minha mão e me fazendo ficar de pé.

- É a última volta, daí vocês dormem na minha casa já que é mais perto, certo?

Corei levemente com o sorriso dela, o que me fez retribuir com uma risada tímida e acabei concordando. Dia me abraçou pelo outro lado, ela apertou os lábios e evitou me olhar nos olhos. Eu e Kanan sabíamos bem que ela tinha um pouco de ciúmes quando ficávamos muito próximas, então sempre gostamos de aproveitar um pouco disso.

- Ei Mari, eu só tenho um colchão sobrando em casa, você pode dormir na minha cama. – Kanan deu um sorriso malicioso, porém engraçado, não conseguíamos não rir da situação.

- E acha que precisamos deixar a Dia em outro quarto? Talvez ela não consiga dormir. – Fiquei encarando Dia até ela reagir.

O rosto dela ficou completamente vermelho, mostrando que tinha chegado ao seu limite. Dia mal conseguia abrir os olhos, parecia uma criança que queria chorar. Quando eu e Kanan demos uma risada alta, Dia me soltou e saiu correndo. Eu chamei por ela, mas fui ignorada, então deixei Kanan rindo e fui atrás dela. Eu mal tinha começado a correr quando ela olhou pra trás e tentou correr ainda mais rápido.

- Me deixa em paz, vai ficar com a Kanan!

- Dia, volte aqui!

Não conseguia pegar tanta velocidade, sentia algumas dores nas pernas, mas não desisti de correr atrás dela. Não via nenhum sinal da Kanan, então fiquei mais um tempo correndo até Dia se cansar. Ela se apoiou na calçada e sentou, seu uniforme ficou molhado de suor e eu estava tão cansada quanto ela.

- Que dor! – Sentei ao seu lado, esticando as pernas. – Acho que nem precisamos mais dar a última volta!

- Ei, Mari. – Dia puxou a manga da minha blusa. Olhei pra ela, mas a mesma ainda evitava olhar nos meus olhos. – Vamos todas dormir no mesmo quarto, certo?

- Dia, você precisa aprender quando estamos apenas te provocando. - A puxei para um abraço e apertei seu rosto contra o meu. – Você fica tão fofa com ciúmes!

- Me solta, você está suada!

Dia conseguiu colocar as mãos sobre meus ombros e tentou me empurrar para longe, mas assim eu apenas sentia mais vontade de abraça-la. Enquanto estava fazendo de tudo pra não soltar Dia, logo Kanan se aproximou, mas não muito. Ela apenas nos chamou para irmos embora, pois estava ficando tarde.

Levantei e ajeitei minha saia, estendi a mão para Dia e, ainda sem querer me olhar, ela aceitou minha ajuda. A segurei para caminhar comigo de mãos dadas comigo, seu rosto tinha voltado a ficar corado.

- Não precisa pegar na minha mão. – Ela tentou se soltar, mas insisti em segurá-la.

- Mas eu quero. Você não quer?

Propositalmente aproximei meu rosto ao dela. Dia deu um pulo pra trás e começou a gaguejar. Acabei rindo de sua reação e sem querer a deixei irritada. Ela saiu andando na minha frente, mas não perdi a oportunidade de correr e a abraça-la por trás.

- Já falei pra me soltar! – Ela retrucou.

- Deixa de ser boba e vamos logo! – Corri para frente e segurei sua mão. – Vou pedir a Kanan para dormirmos juntas, ok?

Fiquei caminhando a frente segurando a mão de Dia. Eu não tinha olhado para seu rosto, mas sentia que ela tinha um sorriso tímido nos lábios finos depois de ter dito bem baixinho: ‘ok’.

°°°

- A casa é de vocês! – Kanan esticou os braços e foi se jogando no sofá.

- Eu vou ligar para a Ruby, ela deve estar preocupada.

Dia se afastou, indo para a varanda enquanto tirava o celular da bolsa. Fiquei de pé até Kanan me chamar à atenção para sentar no sofá com ela. Ficamos assistindo televisão até ouvirmos Dia dar um grito. Ela ficou perto da porta, balançando a cabeça várias vezes e logo desligou o celular.

- O que foi? – Kanan inclinou sobre meu colo.

- Ruby disse que está vindo pra cá com as outras. Você as convidou?

- Então, achei que seria legal ter todas reunidas. - Kanan soltou uma risada forçada e se afastou.

- Amanhã tem aula pra todas nós, sem contar que elas também andam treinando muito e-

Puxei Dia pelo braço e a fiz sentar ao meu lado. Tampei a boca dela para que ela parasse de falar, me irritava um pouco essa preocupação exagerada. Ela ficou brava por eu a ter cortado, mas não saiu do meu lado.

- Bom, eu vou arrumar o quarto pra todo mundo dormir, mas algumas terão que ficar na sala. Enquanto isso vocês tomam banho. – Kanan deu um pulo do sofá e foi saltitando até seu quarto. Pra mim ela estava empolgada demais.

- Eu tomo banho primeiro. – Dia levantou e parou em frente o corredor. – Kanan, tem toalhas aqui?

Com a voz bem abafada e difícil de escutar, Kanan gritou para Dia a escutar.

- Sim! E quando acabar venham para meu quarto, vou emprestar umas roupas minhas.

Dia deixou sua bolsa ao lado do sofá e andou até a porta do banheiro. Sua mão ficou na maçaneta por um tempo, então bem lentamente ela virou o rosto até finalmente me olhar. Meu coração acelerou ao ver o rosto dela corado e os olhos transbordando brilho.

- Mari, não entre.

Eu acabei rindo do pedido. Provavelmente ela ficou traumatizada com a última vez que dormimos aqui. Kanan insistiu para que nós três entrássemos no banho juntas e ela provocou muito a Dia.

- Não prometo nada.

- Mari!

- It’s Joke! Vá logo que eu quero tirar essa roupa.

Dia retrucou alguma coisa que não entendi e entrou no banheiro. Ela nunca trancava a porta por medo de ficar presa, sempre achei um amor esse charme dela.

Enquanto esperava, decidi assistir televisão, mas nada me agradava. Meus olhos ficaram cansados e me deitei no sofá, me aguentando para não acabar dormindo. Por sorte, quando senti que estava caindo no sono, ouvi uma buzina e passos apressados.

Levantei a cabeça e fiquei observando pela grande janela da varanda as garotas descendo de um carro com bolsas e mochilas. Decidi me levantar e avisar Kanan. Ela parecia ter escutado sem eu precisar falar, ela veio correndo pelo corredor, quase me fazendo cair.

- Foi mal Mari! Vou receber as meninas, tire a Dia do banheiro.

Kanan saiu correndo, já chamando pelas meninas. Fiquei em frente à porta do banheiro, escutando o barulho da água caindo. Tire a Dia do banheiro.”, dei um sorriso lembrando do que Kanan havia pedido.

- Bom, tenho que obedecer a dona da casa.

Coloquei a mão na porta e, assim que a abri, dei de cara com Dia enrolada em uma toalha curta e branca. Ela tinha acabado de fechar o chuveiro e, assim que me viu ficou paralisada com uma expressão estranha.

- Ma-Mari, eu pedi pra não entrar! – Ela colocou as mãos na tentativa se esconder, mas então percebeu que já usava toalha.

- Não precisa ficar com vergonha. – Dei uma risada enquanto me aproximava dela. – A Chika e as outras chegaram, Kanan pediu para te chamar.

- Era só esperar mais um pouco. – Dia passou por mim e pegou suas roupas que estava num canto. – Vai ficar aí parada me olhando? Sinto-me desconfortável.

- Sente mesmo? – Aproximei dela, a encarando quase sem piscar.

- Não começa Mari. – Dia desviou o olhar.

Ela nem percebeu que tinha se afastado e acabou ficando contra a parede. Não pensei duas vezes em prendê-la ali. Não entendo exatamente a minha necessidade em ver Dia constrangida por minha causa. Apenas adoro ver seu rosto ficar avermelhado e ouvir a sua voz manhosa chamando meu nome.

- Você está perto demais. – Ela levantou os braços para me empurrar, mas segurei em suas mãos. – Mari, está me irritando!

Aos poucos ela ficava mais vermelha, mas ainda não era o suficiente pra mim. Assim que meus olhos pararam na pinta perto de sua boca não resisti em dar um leve beijo. A reação dela foi previsível. Seu rosto corou por completo, ela fechou os olhos e começou a me xingar. Ela bateu várias vezes em meu ombro enquanto eu segurava a risada. Ouvimos as vozes das outras meninas, o que deixou Dia ainda mais desesperada.

- Elas vão nos ver assim, me deixa sair logo.

- O que será que elas vão pensar ao nos ver saindo juntas? Você somente de toalha e com meu batom na sua pinta, o que a Ruby pensaria? – Levei uma mão até o rosto fingir estar preocupada.

- Oh não, a Ruby! – A jovem irmãzinha sempre foi o ponto fraco de Dia, sua expressão de preocupação era engraçada enquanto tentava tirar meu batom de seu rosto. – Que droga Mari, o que vamos fazer agora?

- Acho que elas estão aqui, zura!

Eu e Dia seguramos a respiração quando ouvimos a voz de Hanamaru próxima à porta. Não tinha saído da posição de antes e meu rosto ainda estava próximo ao de Dia, mas pelo nervosismo repentino eu fiquei paralisada.

- Eu vou na frente. – Dia sussurrou, pegando suas roupas e caminhando devagar até a porta.

- Não, espera. – Eu tentei mante o tom de voz mais baixo possível.

Assim que Dia parou em frente à porta eu perdi o equilíbrio e segurei em seu ombro, mas de repente ela virou o a porá se abriu, nos fazendo cair no chão.

Não sei qual a visão que as meninas estavam tendo, mas seus olhares eram de choque. Eu acabei caindo de frente com a Dia, e, por conta disso, sua toalha quase saiu de seu corpo. Ficamos olhando para as meninas sem saber como reagir, então vi Kanan espiando por trás delas.

- Opa. – Ela arregalou os olhos quando nos viu, mas como o de sempre, acabou rindo. – Se quiserem posso deixar meu quarto só pra vocês.

Dia me empurrou e me fez rolar pro chão. Ela ajeitou a toalha e tentou se explicar com Ruby, que era a que menos estava entendendo a situação. Kanan me ajudou a levantar e me puxou para o canto enquanto as meninas ficavam cercando Dia.

- O que aprontou dessa vez? – Kanan soltou uma risada engraçada. Logo ela virou para Dia e a chamou, fazendo a menina a olhar com raiva nos olhos. – Você errou na hora de passar o batom?

As meninas olharam para o rosto de Dia e viram a marca de batom que eu tinha deixado sobre sua pinta. Eu apertei Kanan e a xinguei mentalmente por aquilo, sem contar que, deixou Dia ainda mais brava.

- Meninas, vamos deixar ela se vestir, enquanto isso arrumamos as coisas para dormirmos na sala. – Disse Riko, separando o grupo e deixando Dia mais tranquila.

Assim elas se separaram, cada uma pegando sua mochila e arrumando vários colchões no chão da sala. Soltei Kanan e fui andando escondida atrás de Dia. Quando ela chegou a abrir a porta do quarto eu pulei em suas costas, a assustando.

- Mari, já tivemos muito por hoje. – Ela tentou manter a postura séria, mas sua voz estava trêmula. – Não brinque comigo dessa forma, por favor. Eu sei que você não é assim.

Sorri enquanto olhava seu rosto, o olhar tímido. Levei uma mão até seu cabelo molhado e peguei uma mecha. Aproximei de seu rosto e deixei meus lábios perto de sua orelha.

- Eu não estava brincando, Dia.

- Oh, vocês estão juntas de novo, zura.

- Hanamaru! - Dei um pulo e levei as mãos para cima. Forcei um sorriso e corri até ela. – Você ouviu algo?

- Acho que sim.

- Então faça de conta que não!

- Eh, mas todas já vimos vocês no banheiro e-

Eu dei uma abraço apertado nela e tampei sua boca. Dia aproximou pra me afastar dela, estava quase deixando a coitada sem ar.

- Me desculpa se fiz algo, zura! Eu juro que não vi ou ouvi nada, zura! – Hanamaru começou a se curvar e não parava de repetir ‘zura’ no final de cada frase.

- Está tudo bem, vamos ajudar as garotas enquanto a Dia se troca. – Coloquei o braço por trás dela e a levei até a sala.

Deixei Hanamaru ir na frente, eu queria olhar pela última vez naquele momento para Dia, que ainda se encontrava de toalha e com a mão na maçaneta da porta. Meu coração batia rápido pela situação e sabia que o de Dia também estava, eu senti da melhor maneira possível. Demos um sorriso, uma para a outra e então ela fechou a porta. Nós duas sabíamos que a noite estava apenas começando.