História Strong - Everything Or Nothing

Eu não queria um novo encontro com Cavani. Afinal, ele é famoso e a cada dia que nos vemos, nos aproximamos mais. E isso não pode acontecer. Definitivamente, não. Pois, quando chegar a hora de eu partir, ele será mais uma pessoa para carregar a dor da saudade. E isso é tudo o que eu menos quero.

Já há pessoas demais envolvidas no meu drama.

Viver doente, é viver na incerteza. Num dia você está bem; os remédios fazem efeito e seu corpo corresponde ao tratamento. Mas em outro, você simplesmente está em um leito hospitalar, respirando por máquinas, e vendo todos à sua volta se lamentando.

Quanto mais feliz e bem disposta eu estiver, mais esqueço que minha morte lenta e dolorosa está chegando. Se eu ficar infeliz e depressiva, mais doente vou estar. E eu me esforço mais a cada dia para viver minha vida da melhor maneira possível, no intuito de aliviar meu triste destino, e evitar uma visita ao hospital. Ele já foi minha morada por um longo tempo. É horrível. Você se vê doente; mais do que está. Você vê outros morrendo. Você vê tudo branco. Clínico. Depressivo.

Por isso, que a última coisa que eu quero, é voltar para lá.

Havia feito de tudo para expulsar o jogador da minha vida. Mas ele não estava se mostrando disposto à colaborar. Insisti o máximo que pude para apenas destrocarmos de uma vez as drogas dos celulares, mas Edinson se mostrou irredutível. E por fim, virá me buscar para jantar, amanhã.

Havia acordado essa manhã com um pouco de falta de ar. Meus pulmões pareciam estar sendo comprimidos em meu interior, e tampões inexistentes impediam a passagem de ar pelas minhas narinas. Com cuidado e calma, me levantei e tomei banho; depois, peguei um táxi e segui rumo ao hospital público do centro de Paris. Se eu não tinha dinheiro para comprar um aparelho de aerossol descente, quem diria dinheiro para um plano de saúde. Mas ainda sim, não tinha do que reclamar. A saúde pública parisiense é uma das melhores já existentes, e grande parte da equipe do hospital central já me conhecia; facilitando assim, meu atendimento.

⁃ Hey, Jude. - cumprimentei a recepcionista que já fora minha ouvinte por vários dias.

⁃ Diane! Quanto tempo! Não sei se fico feliz por você estar aqui ou se fico apreensiva. - ela estava meio sem graça.

⁃ É... Não tive nenhuma crise nos últimos dias. - sorri - Mas enfim, tem algum aparelho respiratório disponível? - soltei a bomba.

⁃ Você não tem jeito, heim? - ela se levantou para chamar uma enfermeira.

⁃ Infelizmente, não. - sussurrei baixo.

Após ficar poucos, porém longos minutos esperando, Jude apareceu com um aparelho de aerossol na mão, seguida pelo doutor Jacques.

Ótimo. É hoje que eu ouço.

⁃ Diane...

⁃ Doutor...

⁃ Você ainda não comprou um desses? - ele apontou para o aparelho.

⁃ Não vai nem perguntar como eu estou?

⁃ E precisa? - suspirou - Di, você tem que se cuidar. Já te alertei sobre os riscos que você corre por não ter um remédio em casa. E se não der tempo de você chegar aqui?

Jacques era um homem de meia-idade, cabelos grisalhos devido ao estresse, porém um excelente médico, capaz de te fazer esquecer de todos os pepinos da vida enquanto você está internado. Fora ele quem "cuidou" de mim desde que chegara na capital francesa.

⁃ Bom... Aí eu morro.

⁃ Diane!

⁃ Doutor, eu ia comprar, juro que ia. Mas Adrianne me demitiu antes que eu recebesse meu primeiro salário. O que posso fazer? - sorri cínica.

⁃ Ra. - pelo menos uma risada eu arrancara dele. - Venha cá. - abriu os braços. - Confesso que senti sua falta.

Eu o abracei.

De uma certa e estranha forma, Jacques havia se tornado uma espécie de pai para mim nesses últimos meses. Era para ele que eu recorria quando estava com problemas, e ele os solucionava na maioria das vezes.

⁃ E quanto à químio? - estava demorando.

⁃ Jacques... Você sabe o que eu penso. Todas as pessoas só pioram quando a iniciam. É um tiro no escuro. Se eu tenho pouco tempo, prefiro aproveitá-lo bem, do que ter que me deixar mais fraca.

⁃ Mas você está ficando mais fraca a cada dia, Diane.

⁃ Mas eu não estou vendo isso, doutor. E é aí que está.

⁃ Tudo bem. - outro suspiro. - Não vou insistir mais. Se isso é o que você quer... Não posso fazer nada.

⁃ Garanto que é. - sacudi sua mão numa forma de carinho.

⁃ Bom, vou atender aos outros pacientes. Faça seu aerossol aí, e quando for embora, venha se despedir de mim.

⁃ Pode deixar. - pisquei.

Após ficar uma hora com aquele trem quente, porém muito aliviador, em meu rosto, me despedi de Jacques, e agradeci a Jude pela ajuda.

⁃ Hey, Diane, espera.

⁃ Sim... - me virei para Jude.

⁃ Não pude deixar de ouvir sua conversa com o doutor... E se você ainda estiver precisando de emprego... Minha tia-avó está procurando alguém para trabalhar no período da tarde em sua biblioteca. Posso te passar o endereço, e você vai lá se candidatar. O quê acha? O salário não é grande coisa... Mas ainda sim é alguma coisa.

⁃ Meu Deus, Jude. É sério isso?

⁃ Aham.

⁃ E-eu eu quero, é claro. - a felicidade me invadiu.

⁃ Aqui, - ela escrevera algo num pedaço de papel e me entregara - o endereço.

⁃ Jude, muito, muito, muito obrigada! Não sei como te agradecer! - a abracei apertado.

⁃ Só prometa que vai se cuidar.

⁃ Prometo. Prometo sim. - sorri e a abracei uma última vez, antes de ir embora.

Este dia, definitivamente, estava surpreendente. Assim que saí do hospital, passei numa cafeteria, e depois fui direto à biblioteca da tia-avó de Jude. Eu estava com um bom pressentimento, e precisava conseguir aquela vaga. É tudo ou nada.