POV Natasha
Empurro Glenn para o chão com o ombro e ergo os dois braços – puxando minha mão que até então estava segurando a dele - em uma proteção ridícula que não me atinja diretamente da cabeça.
O impacto daquela coisa contra mim me joga para trás e eu não tento firmar meu corpo, meu instinto dizendo algo sobre aguentar o impacto ser perigoso. Sinto a pele do meu braço se rasgar profundamente, grande parte ficando naquele arame.
Dói. Dói como o inferno e as lágrimas que já desciam por meu rosto descem em maior quantidade. Não me lembro de ter sentido uma dor assim em toda a minha vida.
-Uou- ouço Negan dizer e vejo por entre o borrado que as lagrimas me fazem enxergar, ele empurrar Glenn para o lado e chegar até mim. Acho que ouço o grito do Daryl no fundo, mas não tenho certeza. Negan me puxa pelos cabelos até que eu esteja sobre meus joelhos novamente.- Tenho que admitir que isso foi surpreendente.
Ele aproxima o rosto do meu e ri de lado. Não consigo me focar em nada a não ser o sangue que desce sem parar por meus braços rasgados.
-Isso sim foi coragem. Bem diferente do que vocês bundões fizeram desde que chegaram aqui- murmura ainda sem se afastar de mim.- Hm, interessante. Proteger alguém assim...É.
Ele começa a me arrastar para o centro, e faz sinal para que levem Daryl de volta para a fila. Dor. Sinto tanta dor. Tento focar nos rostos mas está meio difícil. Acho que Carl está absurdamente pálido, e Daryl desesperado, mas não sei com certeza. Tenho uma vaga consciência de soluços, angustia, e entendo. Sinto o mesmo.
-O que te faz pensar que não vou matar o carinha ali depois do seu sacrifício, belezinha?- pergunta novamente muito próximo.
Sinto uma vontade absurda de lhe dar uma cabeçada e quebrar esse nariz, ou até mesmo de cuspir em sua cara, mas não é hora de ser durona. Não é hora de ser eu. Nem sequer acho que tenho forças para isso no momento. Puxo as palavras do fundo de mim e engulo o orgulho.
-Por favor não o mate- peço com a voz mais dócil que consigo encontrar. –Por favor não mate mais ninguém.
-Hmmmm, eu gosto quando me pedem as coisas. Assim mesmo. Na verdade gosto quando imploram, mas pedir também é bom.- ele se afasta e inclina a cabeça, ainda me olhando.- Tão bonita... Tão interessante.
Mantenho meus olhos fixos nele. Dor. Dor. Sangue escorrendo. Nojo desse homem. Raiva reprimida. Perda de um amigo. Misto de sentimentos, aperto no peito. Tudo confuso e embolado assim. Uma vaga tonteira, que imagino ser pelo sangue perdido.
-Eu disse que acabaria na porrada com um de vocês se fizessem merda- ele me olha fixamente com um sorrisinho- Posso fazer isso com você e deixa-los. Mas você é mulher, e eu não bato em mulher...Arat venha aqui.
-Sim, senhor?- uma voz feminina responde.
-Você vai encher essa belezinha aqui de porrada, e ela não vai revidar ou se proteger porque esse é o trato- diz voltando a se aproximar de meu rosto.- vamos ver se ela aguenta. Ah, e não acerte esse rostinho bonito. Puta merda, acertar esse rostinho bonito seria um desperdício.
Ele solta meus cabelos e caio para frente. Apoio as mãos no chão e ergo um pouco do corpo, levantando a cabeça e olhando fixamente para Daryl.
“Sinto muito, me desculpe” digo movendo os lábios, sem realmente soltar um som, sabendo que me colocar em risco desse jeito atinge-o diretamente, além de quebrar, parcialmente, promessas que já fiz a ele. Vejo em seus olhos a compreensão, e então estou no chão novamente.
Sinto chutes nos braços, barriga e costelas. Respirar fica difícil, mas não me movo. O sangue continua a fluir dos rasgados em meus braços e tudo dói. Lágrimas descem silenciosas por meu rosto, mas aguento. Parece estar no corpo todo.
-Pare.- ele diz e é só isso que precisa. Os golpes param.
Estou zonza, muito próxima da inconsciência. Ouço Glenn me chamando baixinho, “Tasha” ecoando muito longe. Negan se abaixa e testa meu pulso. Um gemido de dor escapa.
-Viva. Muito bem, belezinha. Que porra de força de vontade você tem.- diz – Meu médico pode te curar rapidinho.
Tento forçar minha visão mais um pouco, mas isso falha e a escuridão me puxa bruscamente.
POV Daryl
Já aconteceram coisas dolorosas comigo. Inúmeras delas, desde a minha infância, mas nenhuma delas chegou perto da dor que eu senti ao ter que assistir a mulher que eu amo apanhar na minha frente sem que pudesse fazer nada para protege-la. Pior ainda, que tudo isso foi indiscutivelmente minha culpa. Se eu tivesse ficado quieto...
Ela ainda me pediu desculpas. Pediu desculpas de um jeito mudo e olhar expressivo, e meu coração simplesmente parou de bater. Meu peito dói e minha garganta está um nó.
Eu queria odia-la por ter sempre que fazer alguma coisa, mas aquela ali é Natasha Wayland. É claro que ela faria algo pelo coreano. Teria feito algo por Abe também, se tivesse tido chance. Ela vive fazendo aquelas promessas horrorosas.
Tudo passa em câmera lenta, e só consigo desejar que aqueles golpes sejam em mim. Eu merecia aqueles golpes. Não consigo respirar. E depois do que parece uma eternidade, isso para.
Ele fala mais algumas coisas, e ela perde a consciência depois de um gemido de dor, que ecoa dentro de mim.
-Vou te matar- ouço Rick dizer, e me sinto entrar em desespero por dentro, um medo descomunal que isso resulte na morte de Natasha ou de mais alguém.
-O que?- ele pergunta chegando mais perto- Não te ouvi direito.
-Não hoje, não amanha- diz Rick fuzilando o filho da puta com os olhos- Mas vou matar você.
-Simon, o que ele tem?- pergunta olhando fixamente para Rick- Uma faca, um facão, o que?
-Um machado.
-Me dê.- diz estendendo a mão, e na mesma hora alguém entrega para ele.
E então Negan arrasta Rick para o trailer, e logo os dois somem. O tempo passa. O dia começa a amanhecer. Meus olhos não se desviam de Natasha nem por um momento, que ainda está inconsciente no chão. O sangue que ela perdeu pelos machucados no braço me atormentando.
Depois de uma eternidade eles voltam. Negan ameaça cortar o braço de Carl. Novamente me sinto impotente, desesperado, e cheio de raiva. Noto que minha loira está parcialmente consciente, mas sem forças para expressar qualquer coisa.
É um momento tenso de merda, e não há nada que eu possa fazer. Odeio isso. Odeio com todo o meu ser. Quero gritar, quero socar, quero bater. Quero fazer o desgraçado engolir cada desaforo, e enfiar aquele taco ridículo no rabo dele, mas não posso.
Ele poupa o braço de Carl no ultimo segundo, anda ao nosso redor e fala alguma merda sobre submissão. Para a minha frente e aponta pra mim.
-Você daria um ótimo soldado para mim. É.- sorri daquele jeito psicopata e balança a cabeça- Estava planejando te levar comigo, mas tenho uma ideia melhor. Não que você esteja fora da jogada...
Vira as costas e para entre um Rick ajoelhado no chão próximo ao Carl deitado e uma Natasha inconsciente.
-Vou visitar o lugar daqui a uma semana e vocês vão abrir as portas para mim de imediato. E quero recolher várias coisas, então é bom trabalharem bastante. Vou deixar uma picape para encherem de coisas para mim. Estamos entendidos?
-Sim- responde Rick de cabeça baixa.
-Bom- diz e então faz sinal para Dwight e um outro cara no canto.- Peguem a loirinha.
Todos paramos de respirar quando os dois vão em direção a Beth. Ian trinca os dentes.
-Não, não essa loira- resmunga parando os dois com um movimento. Se aproxima de Beth e encara de cima a baixo- Essa é mesmo um anjo, simplesmente linda e fodidamente gostosa, mas estou curioso quanto aquela ali.
Meu sistema nervoso entra em colapso quando ele aponta pra Natasha. Meu corpo inteiro treme e não sei mais como respirar. Rick faz um movimento mínimo mas chama a atenção do cara.
-Vou leva-la comigo como garantia. Ela vai ser bem cuidada- para por um momento, parecendo analisar as coisas- Bem, mais ou menos isso. É bom não fazerem merda, porque ela quem vai pagar.
Ele vai até ela, que está nos braços dos dois caras e passa a mão no rosto dela.
-Uma belezinha mesmo- diz e então balança a cabeça.- Não me façam judiar de uma mulher dessa.
Ela é colocada no caminhão que estávamos antes, e todos os outros começam a se encaminhar para seus respectivos carros rapidamente. Ninguém tem força para se mover. Um desgraçado tira foto de Abe, e então se vai.
Ficamos em estado catatônico por um longo e silencioso momento, até que estamos sozinhos. Sasha chora sem parar, Maggie, Glenn, Beth, também o fazem.
Maggie é a primeira a reagir. Se levanta com dificuldade, dá um abraço reconfortante em Sasha, e vem em minha direção, seguida rapidamente por Glenn.
-Vamos recupera-la- diz me olhando firme nos olhos- Natasha sempre fez de tudo por nós, e vamos fazer o mesmo por ela agora.
Concordo com a cabeça, ainda jogado no chão, me sentindo vazio. Pensar nela faz vários cliques ativarem meu cérebro novamente. Maggie está gravida e precisa de cuidados, e não estamos perdendo esse bebê.
-Não vamos fazer nada agora- digo finalmente erguendo a cabeça- Além de ir a Hilltop cuidar desse bebê. Não vamos perder esse bebê. Simplesmente não vamos.
-Até porque Natasha espanca a gente se voltar e souber que deixamos isso acontecer- diz Beth, jogada nos braços de Ian e com o rosto vermelhe, respiração difícil e lágrimas constantes.
Sorrio de lado só de pensar na cena.
Movemos Abe, decidindo que iremos enterra-lo dignamente, que ele merece nada menos que isso.
Me levanto, mas ainda me sinto da mesma maneira: vazio. Mais vazio do que eu costumava ser antes de conhece-la, com toda a certeza.
-Eu sinto muito- diz Glenn quando estamos entrando no trailer- É minha culpa.
-Não.- digo bruscamente- É minha culpa.
-Daryl não é sua...
-É sim.- interrompo-o, e não fico por perto para ouvir mais nada.
Ela precisa ficar bem, precisa aguentar até nós podermos ajuda-la, porque não acho que consigo viver sem ela.
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