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História Stronger Feeling - Capítulo 6


Escrita por: IzaaBlack

Capítulo 6 - Capítulo 6


POV Daryl

Quando Sophia saiu daquele celeiro senti algo em mim se quebrar. Seguro Carol em meus braços sem nem me dar conta de que realmente o faço. Maldição. Era apenas uma criança inocente que esse mundo de merda engoliu sem dó nem piedade. O choro compulsivo de uma mulher que perdeu a filha é tão dolorido e sem volta, que sinto aquela dor só de ouvir. A jovem Greene também chora compulsivamente por alguém, sendo aparada por Natasha, que aparentemente sente meu olhar e me encara de volta. Em algum momento solto Carol, e deixo que as coisas fluam, ajudo T-Dog e Andrea no primeiro carregamento de corpos, mas perco a paciência e deixo a tarefa só para eles.

 Na tentativa de acalmar meus nervos, vou em direção a floresta e caço. Fico andando sem rumo, acertando qualquer animal que encontre por quase toda a tarde. Se uma criança inocente não é poupada ninguém mais pode ser.  É tanta raiva acumulada, revolta. Entrar nesse maldito grupo foi um erro, são idiotas fracos e bons que vão morrer. Vão todos morrer, e não vou me responsabilizar por isso. Que morram todos então.

Volto decidido a me afastar, então em silencio desmonto minha barraca, pego minhas coisas e  vou para um lugar mais afastado. Não consigo evitar um olhar para a barraca de Natasha e isso só me deixa mais irritado.

Quando já estou com a barraca montada  e uma fogueira acesa, ela aparece

—Mudando para o subúrbio?- pergunta parada em pé me encarando. Está com o cabelo amarrado, o que deixa seu rosto mais a mostra e só consigo encara-la idiotamente por uns segundos, antes de finalmente acordar.

—Sim- meio respondo, meio rosno. Acho o comentário desnecessário, mas ele serve para me lembrar das muitas diferenças existentes entre mim e ela.  Sempre fui do subúrbio,  mas ela não aparenta ter vivido em um lugar assim.

Ela abre a boca para falar mais alguma coisa, mas eu viro para outro lado, deixando claro que não quero sua presença, que não quero sua companhia. Ouço o coreano chamar por ela , e sei que ela vai, já que os dois são irritantemente grudados.

—Você obviamente quer ficar sozinho. Tudo bem, foi um longo dia. Boa noite Dixon- diz com uma voz neutra, mas forte. Sinto vontade de virar para ela, de olha-la, mas me obrigo a não faze-lo.

Os dois dias seguintes eu passo a distância. Carol vem até mim algumas vezes, dizendo que faço parte do grupo, que não pode me perder, e coisas assim. Tento não ser grosso com alguém que perdeu a filha a tão pouco tempo, mas não tenho paciência.

Vejo Natasha apenas a distância, sempre envolvida  com alguma atividade, principalmente acompanhada de Maggie e Glenn. Tem uma expressão preocupada no rosto na maioria das vezes, e geralmente me encara de volta intensamente, antes de voltar ao que está fazendo.

Nesse segundo dia, esbarro com ela em uma de minhas caças. Está com alguns esquilos amarrados as costas, uma bolsa aberta onde posso ver algum coelho. Sua faca de arremesso atinge um coelho ao mesmo tempo que minha flecha, e a olho irritado.

—É meu coelho.- digo assim que a avisto, está com as saís nas costas, uma faca na mão esquerda e arqueia uma sobrancelha divertida.

—Minha faca atingiu ele primeiro, caçador.

—Sem chance, loira.- rosno e ela ri.

—Você é um bom caçador?- pergunta pegando a faca que está no coelho, limpando e guardando  no suporte do cinto. Aperto os olhos em sua direção- Sei que é. Então vai caçar outro para você.

Então joga minha flecha aos meus pés, joga um beijo no ar, e se vira para  o lado leste da floresta.

—Então só cace no lado leste maluca.

—Só porque eu estou boazinha hoje- responde ainda de costas, e observo ela sumir mata adentro.

(...)

Natasha está sorrindo para mim, um daqueles que ilumina todo seu rosto perfeito e que chega aos olhos verdes. Me abraça e apoio o queixo em sua cabeça enquanto retribuo. Ela ri em meu peito, murmura alguma coisa e se afasta. Tento alcança-la, mas se esquiva.

—É um bom caçador?- pergunta arqueando a sobrancelha daquele jeito que sempre faz.

—Você sabe que sim- rosno e acabo sorrindo com um pensamento- cacei você não foi? Corri atrás de uma louca machucada no ombro, encontrei o rastro, e trouxe para cá.

— Me sequestrou- diz e então sorri de novo – Mas se é tão bom, que me cace de novo.

E então ela corre. Sem pensar a respeito corro atrás, seguindo sua risada, sempre com a cabeleira loira a vista. A alcanço, puxo pela cintura fazendo que seu corpo bata contra o meu. Ela joga a cabeça para trás rindo, e quando ela volta a me olhar a puxo para mais perto e a beijo.

Acordo em um rompante, irritado. Franzo a testa. Que coisa mais estúpida, penso. Coisa de adolescente idiota. Só porque a mulher é bonita venho sonhar com ela? Que porra é essa? Levanto mal humorado, xingando em voz baixa. Pego as caças do dia anterior, quando encontrei a maluca, e começo a limpar. Os ponho em um varal improvisado, e arrumo algumas coisas no meu acampamento improvisado.

Estou tomando café quando a maldita aparece. Desta vez, está com os cabelos soltos, o que só a deixa ainda melhor. Fico irritado pelo pensamento e fecho a cara.

—O varal de horrores tem a função de afastar as pessoas? – pergunta se aproximando e parando a minha frente.

—Está funcionando? – pergunto finalmente encarando-a.

—Tanto quanto rosnar comigo- responde e sei que quer dizer que quer dizer que não a afeta.

—O que quer?- pergunto por fim franzindo a testa para ela.

—Te irritar- responde sorrindo, contornando a fogueira improvisada e parando ao meu lado. Estou sentado em um tronco caído e a olho confuso- Chega pra lá, caipira.

Sem opção abro espaço, resmungando.

—Continua de mau humor? Digo, mais que o normal de Daryl Dixon.- pergunta agora sentada ao meu lado.

—Estou. Pode ir embora agora.

—Sabe de uma coisa? Já chega. Se afastou de todo mundo, se fechando no seu mundinho depois de Sophia, mas faz parte daquele grupo, caipira.- diz com o rosto virado para mim, os olhos fixos no meu.- Sinto muito pela sua perda.

—Não era meu problema- digo encarando de volta e depois desviando o olhar.

—Mas sentia como se fosse. É por isso que está se afastando?

—Vão todos morrer, são todos uns fracos. Não são meu grupo.

—São muito mais seu grupo do que meu.- diz  e sei que fala sério. Ela sempre fala.

—Você ganhou seu espaço-me vejo dizendo, mesmo não querendo esticar o assunto.

—Eu sei- me sorri – Eu sou muito sociável, legal e agradável. O seu oposto total. Deu a maior sorte de me achar no mato, Dixon.

—Eu já acho que foi o maior azar- respondo bufando.

—Talvez- responde e me da um meio sorriso. – Agora vou te contar o que aconteceu nos últimos dois dias, enquanto você estava escondido aqui.

—Não me importa. E não estava escondido. Estou bem a vista, não é minha culpa se ficaram cegos em algum momento, só não sou obrigado a ficar de babá para todos vocês. Pode entender ou é demais para uma loira?- uso a grosseria que consigo encontrar nesse momento

—Entendo bem mais do que imagina. A questão nem sequer era o quão próximo era da menina, o que acho que você não era, mas o fato de tê-la perdido e não ter recuperado. Era uma criança inocente que teve que passar por coisas sozinha naquela floresta e isso te atormenta demais. Não é sua culpa, não é culpa de ninguém. Estava assustada, se perdeu e não soube se defender.

—Uma vez, quando eu tinha uns nove anos me perdi na floresta. Fiquei alguns dias por lá, sobrevivendo de frutas e limpando a bunda com folhas. – conto sem saber porque infernos estou contando.

—E te encontraram?- pergunta e está séria.

—Nem chegaram a procurar. Encontrei o caminho de volta sozinho e ao chegar em casa corri para a cozinha preparando um sanduiche pra mim. O único problema foi minha bunda que ficou coçando por dias- termino a historia com um meio sorriso, e ela perde toda a seriedade caindo na risada.

—Então é esse o ponto- diz quando consegue parar de rir – sabe como é estar lá fora sozinho e com medo. Bem, eu sei de uma diferença drástica entre vocês.

—Eu sobrevivi e ela não - digo o obvio.

—Não. Procuraram por ela desde o primeiro momento. Não desistiram em nenhum momento. Encontraram-na, mesmo que não do jeito que queríamos.

Está certa, apesar de tudo. Ficamos em silencio por um momento, mas ela não desiste de conversar.

—Eu disse que contaria o que aconteceu nos últimos dois dias. E vou, quer você queira, quer não. Fica ai com esse papinho de não me importo, mas importa sim.- diz enquanto amarra cos cabelos. Cruza as pernas em  forma borboleta no tronco virada para mim. Só consigo pensar que vai cair para o lado.- Hershel ficou inconformado, sumiu por uns tempos nos pastos. Maggie quase enlouqueceu de preocupação.  Beth entrou em estado de choque, ficando simplesmente  parada olhando para o nada. Hershel voltou e nos ajudou a cuidar dela, que acordou.  Lori descobriu que ela queria tentar se matar então nos revezamos para que não ficasse sozinha.  Andrea a deixou sozinha de proposito dizendo que a escolha de viver ou morrer era dela, e ela tentou realmente. Maggie a encontrou, Hershel deu uns pontos no pulso. Andrea foi expulsa da casa pela irmã mais velha, que deixou bem claro não querer nem ver a cara dela.

—Dias cheios em?- me ouço dizer, o que contradiz tudo o que eu quero. Não queria ter prestado atenção, mas o faço mesmo assim.

—Nem me fale. Entendo o  ponto de vista Andrea, mas isso era com a família. Pelo menos depois disso Beth escolheu viver.- ela suspira cansada e fecha os olhos por um momento.

—Se preocupa- acuso e ela não nega.

—Sim. Não a conheço direito, mas quando cheguei aqui, uma estranha com um machucado no ombro e propensa a fazer cara feia para todo mundo ela me sorriu e foi gentil. É uma espécie de amiga.- morde o lábio pensativa e desvio o olhar desconfortável, pois aquele gesto me convida. Me lembro do sonho estupido, e pior ainda, me lembro do quase beijo de antes. Rosno comigo mesmo e ela me olha confusa

—É estupidez. Ela não foi feita para esse mundo. É boa demais. - digo sério e ela aperta os olhos para mim.

—Nenhum de nós foi. Ela aprendeu a atirar em umas aulas com Shane, pelo que eu soube. Tem razão quanto ao fato de que é boa demais. É uma pena que o mundo tenha acabado sendo como é, tenho certeza que procuraria um emprego que ajudasse os outros, e faria muito bem o que escolhesse.

—Faria- concordo.

—Carol me contou das grosserias- diz e sinto acusação em sua voz.- Olhe, sei que é seu jeito se ser, mas já disse antes, os rosnados assustam a maioria.

—É para assustar mesmo. Quero distância. O que diabos tenho que fazer para conseguir isso de você também?-observo uma expressão divertida se apoderar de seu rosto.

—Segredo de estado. Não vai se livrar de mim, Dixon.  Assinou um contrato de me aguentar quando me acertou uma flecha no ombro. Ficou até cicatriz- diz com um sorriso, arredando a alça da regata e mostrando uma pequena cicatriz no ombro, próxima a clavícula.

—Uau, uma cicatriz enorme- digo debochando – Tenho certeza que quase morreu.

—Oh, com certeza. Se ainda estivéssemos no mundo de verdade, eu não poderia usar biquíni sem alça- diz brincando de volta. Depois se levanta e dá uma espécie de espreguiçada- Até mais, caipira.

—Aonde vai?- pergunto sem me conter, quando vejo indo em direção a floresta.

—Abrir um registro que puxa água do riacho. O que estava aberto deu defeito- responde  com um dar de ombros.

—Sozinha?

—Não, eu e toda a minha turma da faculdade- responde debochada por cima do ombro, logo se virando e caminhando para a floresta.

Resmungando e amaldiçoando pego minha besta e vou atrás dela. Não gosto de pensar nela sozinha andando pela floresta, apesar de saber que ela o faz constantemente.  Está um pouco a frente, os cabelos caindo nas costas, tampando o X que o suporta das Saís faz.

— O que diabos?- pergunta olhando para mim sem parar de andar.

—Ir sozinha é burrice. – digo seco e ela balança a cabeça negativamente.

—Ando sozinha o tempo todo- diz enquanto desvia de um galho.- Caço sozinha, esperto.

—Como eu disse, é burrice. – digo com um dar de ombros e ela me olha indignada

—Até porque você caça em bando, não é?

—Estou garantindo que não vai acabar brigando com alguém por ai – digo me referindo a quando a encontramos, e ela partiu para cima de mim.

—Está se referindo a quando me sequestraram?- pergunta olhando para mim- aprendi a lição.

—Se acha invencível com essas espadinhas, né?- pergunto irritado e divertido ao mesmo tempo apontando as saís nas costas dela.

—Se acha invencível com essa besta, não é?-joga a pergunta de volta e me limito a balançar a cabeça em negação.

Encontramos o registro próximo ao riacho e ela faz o que tem que fazer rapidamente. Então se levanta, tira a poeira das calças e diz um “pronto” sorridente. Viro as costas e começo a caminhar de volta a fazenda, e demoro uns minutos para me dar conta que ela não me segue.

—Qual o seu problema?- pergunto me virando e encontrando ela na margem do riacho.

—Nenhum. –responde sem se virar para mim. Xingo alto e vou até ela.

— O que está fazendo?- pergunto enquanto assisto a mesma  se sentando em uma pedra a margem e tirando as botas de trilha.

—Se chama “nada” - responde sorrindo e dobrando as calças o melhor que pode, para depois colocar os pés na água. Não tenho mais nenhum compromisso para hoje, você tem?

—Maluca, estamos no meio de uma floresta, os errantes podem aparecer a qualquer momento.- digo irritado- Quer morrer ou o que?

—Morrer? Nem de longe. Estou  é vivendo mesmo. Esta tudo tranquilo, Daryl.- diz tranquila mexendo os pés na água.- Sente se também. Não vai te matar relaxar por um segundo. O segredo é não abaixar a guarda.

—Podem chegar aos montes- digo serio, cruzando os braços no peito em sinal de impaciência – E ai?

—Se forem poucos, você lida com eles com suas flechas infernais sem nem ter que levantar. Se forem muitos, corremos. – diz como com simplicidade.

—Até você por os sapatos já estamos mortos.- acuso e ela balança a cabeça em negação.

—Existe uma coisa chamada correr descaço. – diz debochando novamente e seguro um sorriso -Eu pegaria as botas, mas calçaria elas só quando estivesse em segurança. Para de marra e senta aqui.

Depois de uns momentos de relutância, acabo seguindo o exemplo da maluca. Não faço essa coisa de por o pé na água, mas me sento ao seu lado mesmo assim. Ela me lança um daqueles sorrisos que ofusca qualquer coisa. Se abaixa e joga água em mim com as mãos, como uma criança brincalhona. Rosno com ela que balança a mão com descaso para mim rindo.

—O que aconteceu com sua mão?- pergunto franzindo a testa e encarando uns esfolados na mão direita. Ela me olha surpresa e cora.- Natasha.

—Não é da sua conta.

—Natasha.

—Está bem, está bem, eu confesso. Dei um murro na cara de Shane. - diz exasperada. Primeiramente imagino a cena, e quero rir só de pensar nele recebendo um murro dela. Sei, por experiência própria, que ela é mais forte do que aparenta. Depois fico preocupado pensando no motivo de algo assim ter acontecido.

—Por quê? –pergunto cautelosamente, sentindo uma preocupação que me é nova. Assisto ela morder os lábios e apertar os olhos, aparentemente se lembrando. Parece irritada só de lembrar.

—Veio bancar o líder mandão para cima de mim, o que eu prontamente ignorei. Então ele se aproximou demais, colocou a mão na minha cintura e insinuou coisas.  Enfiei um murro na cara dele, e dei dois bons chutes. Teria dado outro soco se Carol não tivesse aparecido e pedido que eu parasse. Pronto, contei. Satisfeito?

Ah, nem perto disso. Quero eu mesmo quebrar o idiota, quebrar pra valer, de um jeito que não sobre nem um pedacinho pra contar historia desse pedaço de merda. Ah, eu vou fazer isso. Vou mesmo.

—Opa- diz me encarando de olhos arregalados, aparentemente minha fúria fica exposta em minha cara- vamos com calma ai, caçador.

—Vou quebrar o desgraçado- aviso a encarando e ela me da um sorriso carinhoso. Franzo a testa ante esse sorriso novo.

—Eu já fiz isso, já passou. Rick teve alguma conversa com ele, acho. E de qualquer forma aposto que ele não chegara nem perto de mim de novo. Em meio aos chutes, eu meio que avisei que se chegasse perto de mim novamente, desde para ordens idiotas que eu não escuto a qualquer gracinha, eu cortaria a cabeça dele com minhas saís.

—Bom plano- digo, e acabo soltando um sorriso ao imaginar a cena.

—Ai sim, caçador. Achei que nunca sorriria totalmente. Fica bonito assim.- diz divertida e desvio os olhos, constrangido.

—Deixe me ver a mão.- peço e ela me estende a mão a contra gosto. Analiso com cuidado e quando me certifico que está tudo bem, fico aliviado.- Sabe mesmo bater que nem homem em.

Ela se limita a um dar de ombros. Ficamos ambos  em silencio olhando para o riacho por um tempo. Ouço a distancia um errante e olho para ela que concorda com a cabeça, me mostrando que também ouviu.

Me levanto e preparo a besta enquanto ela tira os pés da água, sacode e calça as botas. O zumbi aparece e acabo  com ele sem dificuldades, logo depois indo recuperar a flecha.

Caminhamos lado a lado de volta ao acampamento em silencio, mas não um silencio ruim, um agradável. Assim que saímos começo a me encaminhar para meu acampamento solitário, mas ela me puxa pelo braço

—Vamos almoçar com os outros- pede e a encaro por um momento.- Prometo que ninguém morde.

Balanço a cabeça negativamente para ela e sua referencia idiota sobre o apocalipse.

—Se eu for, me deixa em paz pelo resto do dia?- pergunto por fim.

—Feito.

—Não acredito e você – brinco e ela me sorri.

—Já disse antes caipira, só tenho minha palavra a oferecer.- me lembrando dela falando isso respondo o de sempre.

—Sua palavra não vale nada para mim.- respondo e depois dou de ombros.- Vou pegar alguns dos meus esquilos para o almoço.

—Poxa, vai esvaziar o varal do terror?- brinca comigo, colocando as mãos na cintura.

—Vou, você  me mostrou que ele não tem o efeito esperado.- respondo virando as costas para ela indo até lá.

Chegamos juntos para o almoço e começo a me sentir desconfortável , mas ela ignora isso, arranca os esquilos a minha mão, que já estão limpos, e entrega a Carol, que sorri tanto para ela quanto para mim.

—Tasha-  o coreano brota do chão em nossa frente- achei que tinha fugido

—Sim, vou fugir para Disney- responde divertida enquanto ele a abraça sorridente.

—Sabe que dia é hoje?- pergunta ele todo sorridente, sem solta-la.

—Claro que não. Eu não sabia nem quando o mundo era normal, quem dirá agora. Não tenho nem celular para me localizar nessa loucura- responde franzindo a testa.

—Dale tem relógio, daqueles antigos que tem data, sabe?- diz se afastando dela, mas ainda sorrindo.

—Sim, e dai?

—E dai que hoje é 19 de novembro, gracinha- responde ele com um sorriso enorme do rosto, que faz os olhos dele parecerem fechados. Ele pega uma sacolinha que aparenta ter algum daqueles salgadinhos de supermercado e estende para ela- Parabéns Tasha. Tudo de bom sempre.

Ela pula nos braços dele rindo, e enche a bochecha dele de beijos. Se antes estava desconfortável, agora estou no pior dos piores momentos. O resto do acampamento dá parabéns a ela, Carl abraçando ela demoradamente, etc etc. Maggie e Beth também estão ali, e a abraçam com todo o carinho.  Quero dar os parabéns para ela também, mas não sei como fazer isso. Ninguém na minha família foi muito dado a datas, e não só o meu aniversario, mas o de Merle,  a única pessoa que me importava, sempre era esquecido.

Depois da roda de abraços, ela  de forma surpreendente volta para o meu lado. Não me olha esperando parabéns ou algo assim, só fica perto mesmo .

—Só você Glenn, para se lembrar de uma coisa dessas no fim dos tempos – diz sorrindo – e ainda me dá Doritos Pimenta!

—Eu queria algo mais legal, mas as opções são limitadas. Foi o ultimo que encontrei no mercado, e sei que era seu vicio.

—Você é um amorzinho.- responde rindo.  A encaro por um momento, esse negocio de aniversario me lembrando de todas as minhas duvidas quanto a idade dela

—Quantos anos você tem?- pergunta Carl curioso e eu quase agradeço o menino por fazer essa pergunta que fica rondando minha cabeça.

—Bem, a partir de agora tenho vinte anos – responde sorrindo,  e não sei se essa idade dela me dá alívio por saber que ela não é realmente uma adolescentezinha,  ou se é um tapa na cara porque ainda assim ela é muito jovem. E inferno, eu estou querendo essa mulher.

 Fico parado, piscando bobamente para eles. Cumpro com o combinado, e almoço com eles. Rick puxa uns assuntos sobre o grupo e eu me envolvo. É estranho, pois apesar de estar focado nos assuntos estou sempre ciente da presença dela, aqui e ali, principalmente conversando com Maggie e Glenn.

—Parabéns, loira maluca- sussurro para ela, antes de me virar para ir. Ela me olha surpresa, abre um sorriso lindo e murmura um obrigado.

Vou embora e ela cumpre com sua parte no trato, não aparecendo pelo resto do dia. Quando já é quase noite Lori aparece enchendo o saco para eu ir atrás de Rick e Glenn que foram atrás de Hershel que surtou. Apesar de conversar com Natasha ter aberto algumas portas não abriu todas elas e mando a magrela ir ela mesma atrás deles.

Algumas horas depois Shane aparece perguntando por ela, e só de ve-lo sinto uma raiva crescente, que só alivia ao ver seu nariz ainda mais torto do que normalmente era e inchado. A maluca não me avisou que tinha quebrado o nariz dele. Dou uma resposta seca qualquer e deixo que vá.

A noite é uma bagunça, acabo indo até eles depois de pensar que Natasha e Maggie podem sair juntas atrás dos caras. Eles chegam tarde, com um garoto machucado a tira colo. Estupidez traze-lo, é o que é.  Shane briga e da chilique como sempre, sendo muito ignorado dessa vez.

Observo de longe Glenn sair da casa com uma expressão atordoada, e alguns minutos depois ser seguido por uma Natasha furiosa. Ouço algumas palavras da conversa que eles tem na varanda, onde ela diz que medo de amar é burrice, que vão todos morrer e que ele ter medo só vai piorar. “Isso é mais que sobreviver, Glenn.  Você tem que viver também, sentir. Se tem essa chance, agarre-a.” é o que ela diz, antes de entrar batendo a porta e sumir em um dos cômodos da casa. Não consigo evitar pensar que os namoradinhos estão em crise. Recrimino-me por me sentir bem com isso.

Eu, Shane e Rick discutimos sobre o garoto. O prendemos no celeiro e deixamos para resolver as coisas no dia seguinte.

Eles curam o garoto da melhor maneira possível e resolvem que vão manda-lo embora. Não interfiro na decisão.

—Seu prazo de paz acabou- brinca Natasha aparecendo do nada.

—Ah, isso é uma pena- respondo e ela suspira.

—Loucura esse negócio do menino.

—Menino?- me viro para ela divertido.- Ele tem 17. Você é quase da idade dele, menina.

—Vai de danar- responde fechando a cara para mim.- Sou de maior.

—Vou caçar- aviso- Meu varal dos horrores, como você diz,  esvaziou totalmente.

—Relaxa, Daryl- diz toda tranquila- O que eu cacei para o grupo dá pra hoje. E você pode comer conosco.

—Posso, realmente. Vamos caçar para amanhã então.

—Vamos?- me olha surpresa e seguro um sorriso.

—É loira, vamos.

Caçamos pelo resto do dia, de modo que tenhamos o que comer no dia seguinte no almoço e na janta. Ao chegarmos descobrimos que o garoto foi trazido de volta. Rick conta toda a historia de como foram soltar o garoto e as coisas deram errado, errantes por toda parte,  Shane preso no ônibus e eles voltando. Sei que oculta alguma coisa, por tanto ele quanto Shane estão com esfoliações na cara de briga no mano a mano, mas não comento nada.

Logo pela manhã vou até o celeiro, e acaba que fico com a função de interrogar, já que Rick é um homem integro demais para isso. Não é agradável, mas faço o que tenho que fazer. Ele conta das atrocidades de seu grupo, que estrupam mulheres, e matam homens e crianças. Penso nas mulheres do grupo, penso em Carl, penso em tudo.

Conto ao grupo o que descobri, enquanto sinto o olhar de reprovação de Dale e Carol em mim. Procuro pela loira maluca com os olhos, e a encontro olhando para minhas mãos esfoladas e sujas do sangue do menino. Me dou conta que talvez esse seja o limite e que ela vá se afastar, e estranhamente não me sinto feliz com isso.

Chego em meu acampamento isolado irritado, chutando o que encontro pelo caminho.

—É, o garoto de irritou pra valer- alguém fala as minhas costas e nem preciso me virar para saber que é Natasha.

—O que quer? Veio me dizer o quão errado é torturar alguém?- pergunto me virando e encarando aqueles olhos verdes que me tiram do sério.

—  Você não precisa que eu diga- responde séria, se aproximando de mim. – Sabe que não é legal, e esse sente mal por isso. Não vou te criticar, e nem reclamar do que aconteceu. Sei que de um jeito muito perturbado é o que podiam fazer e que só querem proteger o resto de nós. Deixe me ver suas mãos.

Olho para ela surpreso e nego com a cabeça. Ela bufa irritada e pega minhas mãos a força. Analisa e só solta quando se convence que está tudo bem. Me entrega um lenço úmido para eu limpar o sangue e fica parada observando enquanto eu o faço.

—Está tudo bem com você?- acabo perguntando.

—Sim, estou bem. Um pouco preocupada com toda a situação, claro, mas superaremos isso.

—Sim.- concordo, e volto a atenção para minhas mãos. Mesmo depois de limpas sinto que estão sujas e fica as encarando. Ouço a voz de Merle me chamando de bichinha ao longe, e acabo concordando mentalmente.

E então ela se aproxima, tira o lenço de minha mão, e para a maior surpresa que eu poderia ter no ano, me abraça. Não retribuo, confuso e sem saber como fazer,  mas ela não se importa. Depois me solta, e corada me acena em despedida, sumindo noite adentro em direção ao acampamento. Fico parado como um idiota assisto ela ir, e só entro quando a luz se sua lanterna some.

(...)

O garoto é condenado a morte. Dale acha um absurdo e começa a argumentação. Sei que ele conversa com todos separadamente,  diz que somos  apenas pessoas, não podemos julgar que morre e quem vive, não somos juiz e carrasco e mais umas baboseiras assim. Escuto um pouco do que diz, deixo clara minha posição.

Na reunião oficial, apenas Andrea e Carol ficam ao lado do velho. Vejo nos olhos de Natasha que ela não gosta das opções, mas é o tipo de pessoa que sabe o que tem que ser feito. Ele sai chateado porta afora e ela vai atrás.  Aparece na fogueira do grupo depois de um tempo, e conta que ele pediu para ficar um pouco sozinho. Parece aliviada de ter conversado com ele e se senta ao meu lado, enquanto conversa com Glenn e Maggie que passa mais tempo conosco do que na casa.

Ouvimos um grito ao longe e todos pegamos nossas armas e corremos. Em um dos gritos mais altos me dou conta que é Dale. Natasha passa como um tiro ao meu lado e me forço a acompanhar seu ritmo. Quando chegamos Andrea chora no chão, um errante está morto no chão. Dale sangra muito, a barriga aberta.

—Chame Hershel- ouço Natasha gritar com a voz embargada para ninguém em especial e vejo Glenn correr até a casa.

Instantes depois Hershel aparece, faz que não com a cabeça e sabemos que não a o que ser feito.

—Ele está sofrendo- diz Andrea, e Rick pega a arma para dar um fim ao sofrimento do velho.  A arma treme e sei que não vai fazer. Natasha também percebe, e pega sua arma no coldre. Antes que ela possa mirar, assumo a situação, pego a arma de Rick e aponto ao velho.

—Sinto muito, parceiro- Digo e sou sincero. Ele assente com a cabeça, os olhos fixos em mim. Aperto o gatilho.

 Vejo Glenn apoiando Natasha e a abraçando. Algumas lagrimas silenciosas descem por suas bochechas e quero consola-la mas não sei fazer isso. Ela se acalma rapidamente e ajuda no enterro. Em homenagem a Dale, resolve-se que o garoto não vai ser morto.

É uma longa e triste noite.

(...)

Ouço alguém abrir a minha barraca e instantaneamente pego minha faca. A pessoa mal me puxa e eu já rolei ficando por cima e prensando a faca no pescoço. Uma cabeleira loura atrapalha minha visão e me dou conta de que é Natasha. Sua mão delicada está no meu pescoço, as unhas ameaçando se enfiar na carne.

—Porra, Daryl- resmunga afrouxando o aperto ao mesmo tempo em que tiro a faca de seu pescoço. Com a mão que não está armada jogo seus cabelos para trás  revelando o rosto que me atormenta desde que ela chegou.

—O que diabos está fazendo?-rosno ainda em cima dela, sem nem me dar conta.

—Rick pediu para eu te acordar- diz e se remexe querendo sair de baixo de mim. Ao fazer isso sinto o quão perto seu corpo está do meu. Me forço a quebrar o contato e me jogo ao seu lado.

—O que aconteceu?- pergunto ficando meio de lado, olhando para ela . Ela arregala os olhos, como se lembrasse do porque veio, se levanta rapidamente, arrumando as saís nas costas  e começa a sair da barraca. Não tem noção disso, mas me dá uma ótima visão.

— O garoto, Randall, fugiu ou foi levado para a morte por Shane- ela diz já de fora me esperando, enquanto calço os sapatos e coloco o colete. - Vamos.

A sigo com a besta a postos, e enquanto analisamos o lugar, Shane aparece, o rosto sujo de sangue. Diz alguma bobeira de que foi subjugado, que o menino pegou sua arma e coisas assim. Divide se duas duplas. Inicialmente era Natasha e Rick, eu e Glenn, mas Shane diz que quer ir, acabar ele mesmo com o menino. Acaba que ficam ele e Rick, eu e a maluca. Shane aponta um caminho qualquer e seguimos.

—Não tem nada aqui- resmunga Natasha  depois de vários minutos andando em círculos na direção que Shane apontou,e sou obrigado a concordar. Penso por uns momentos, e a puxo pela mão de volta ao ponto inicial.

Ali, começamos a encontrar rastros, seguimos em silencio.

—Não ouve luta aqui- diz ela como se lesse meus pensamentos- ambos andaram aqui por vontade própria. As pegadas de Shane inclusive estão atrás.

—E acaba aqui. Algumas folhas estão remexidas aqui, mas não sei ao certo, parece alguém se levantando- digo apontando e ela concorda. Estamos distraídos e quando ouço os grunhidos do morto ele já esta muito próximo.

Natasha tropeça em uma raiz e o treco vai para cima dela, eles rolam, eu o puxo de cima dela, que se vira para mim e tenta enfiar os dentes em minha carne. Minha besta caiu e não alcanço a faca. Ela o empurra de cima de mim com um chute e enfia uma das saís no olho da coisa. Com um susto, nos damos conta de que é Randall.

Estudo o corpo, e descubro que a causa da morte foi pescoço quebrado.

—Tem certeza?- me pergunta se abaixando ao meu lado.

—Absoluta- respondo sério e sei o que está pensando. Se morreu assim, como diabos se transformou?

—Temos que voltar.- Diz e eu concordo

Voltamos a passos rápidos para a casa na fazenda, onde os outros estão esperando. Ao chegarmos descobrimos que os outros dois ainda não voltaram, e Carl sumiu.  Digo que vou atrás dele, mas antes que eu possa fazer qualquer coisa a loira me cutuca o ombro e aponta uma horda enorme de zumbis. Xingo todos os nomes feios que me lembro, e começamos a nos organizar. Um plano de atrair os errantes para fora da propriedade aparece e nos preparamos para ele. Vou atrás da minha moto, guardo o essencial rapidamente para o caso de ter que fugir e vou para a casa. Encontro Natasha enfiando a mochila em um carro, e mais algumas bolsas.

—O que está fazendo?- pergunta Maggie baixinho.

—Garantindo algumas chances se tivermos que ir.- responde de volta. – pegue algumas coisas suas também, e rápido. A maioria dos carros tem alguma coisa, mas vá logo.

Maggie não discute e  tenho que admitir que foi esperto da parte de Natasha.

O plano se inicia, ela vai no carro com Glenn e Maggie. Não a vejo mais.

Tudo vira um caos, o celeiro pega fogo, vejo Rick e Carl saindo de lá. O garoto Jimmy morre tenho uma vaga visão dos outros correndo para carros. Procuro o carro que Glenn , Maggie e ela estão mas não encontro. Sem opção, mando minha moto para fora da propriedade, agora tomada por errante.

Assim que passo pela cerca, a vejo. O carro em que estava está m ais para o lado da cerca e ela fechada do lado que estou. Mata zumbis com uma velocidade absurda, e só consigo compara-la com uma maquina.

—NATASHA- grito para que me escute, e quando me vê corre em minha direção. Sobe na garupa, guarda as Saís e me abraça pela cintura. Assim que ela sobe o carro em que estava segue.

Passamos pela porteira segundaria, já que não podemos chegar a porteira principal. Ela me abraça mais forte  e suspira cansada, apoiando a testa em meu ombro. Suspiro também, e sorrio pela proximidade aproveitando que ela não pode ver.

Chegamos a estrada, o ponto de encontro, e a maioria de nós está vivo. Ela corre até Glenn e Maggie, depois é abraçada por Beth e Carl também reivindica um abraço. Acho bonito de ver. Carol a abraça agradecendo por, pelo que eu entendo, ter salvado sua vida.

Encontramos um lugar qualquer para ficar, fazemos uma fogueira, T-Dog  fica com a primeira vigia.

Alguém reclama de medo, e Rick explode.

—Matei meu melhor amigo para protege-los – diz e Carl cai no colo da mãe chorando. - Fiz tudo o que pude para mantê-los vivos. Não podem deixar o medo comandar vocês. Se quiserem ficar, vou continuar tentando fazer isso. Mas já aviso, isso não é mais uma democracia.

Não me importo. Vou ficar. Vejo que todos vão.

Vejo que não vou conseguir dormir, então digo a T-Dog para dormir e pego o turno. Algumas horas depois, Natasha aparece ao meu lado.

—Não consegue dormir?-pergunto a encarando.

—Mais ou menos isso. A estrada não é novidade para mim, só...não sei. – responde se sentando ao meu lado e concordo com a cabeça.

Em um gesto impensado ela deita em meu ombro, e eu a acolho em um meio abraço.

—Isso é novidade – ela brinca- esperava que me empurrasse para longe.

—Ainda posso fazer isso – brinco de volta, ela ri baixinho e nega. – Dorme loira.

—Me acorda para o próximo turno?- pede se aconchegando.

—Sim.- respondo apesar de não ter certeza.

—Bom.

Sinto que aos poucos ela adormece. Olho para a noite sem fim e sei de todos os problemas que estão por vir, mas só consigo pensar que ela está viva, e isso já é bom o suficiente.



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