História Stronger Than a Brand - Momentary melancholy

                  "Melancolia momentânea"

  Mas não estava pensando em como voltar, meus pensamentos eram tomados por outra coisa. Eu jamais esperaria que Jeongguk chegasse a esse ponto, muitas pessoas que eu conheci não gostavam de mim por diversos motivos, mas eu nunca imaginei que alguém poderia chegar a me odiar.

 Não como Jeongguk parecia fazer.

  Nas primeiras horas da manhã aluém veio bater na porta. Não consegui dormir depois daquilo de ontem, toda vez que eu estava quase pegando no sono novamente as lembranças sempre o tirava de mim, me incomodando e não deixando com que eu descansasse. Então decidi ficar acordado apenas olhando pela janela o dia se formando.

 As batidas continuaram e eu estava tão entregue aos meus devaneios que sequer fui atender a quem batia na porta, ainda avoado levantei para abri-la, dando de cara com o beta.

 Jimin nem sequer se agitou em seu sono na cama ao lado.

 —  Taehyung…—  Diz Jin com uma expressão indecifrável no rosto.

 —  Aconteceu alguma coisa? 

  Ele hesitou antes de prosseguir, o que me deu uma sensação de mal estar.

 —  Os líderes estão te chamando para ir até a casa deles, precisamos conversar.

 Não podia ser, eles não podiam ter descoberto. Eu tinha medo de qual poderia ser a reação de Jeongguk caso isso acontecesse, ele de certo acharia que eu que contei.

 —  É algo sério? —  Perguntei hesitante.

 —  É melhor que os líderes respondam isso. —  Jin respondeu sem me olhar nos olhos.

  Apenas assenti vestindo um moletom por cima do pijama e calçando um par de tênis. Saímos da casa e seguimos o caminho até a mansão em silêncio, não havia muitos lobos acordados.

 Assim que chegamos a casa dos líderes, Jin deu leves batidas na porta, e entramos em seguida. 

 —  Vocês queriam conversar comigo? —  Disse num tom baixo pelo nervosismo que me abateu ao ver o esboço em seus rostos.  

 —  Sim Taehyung, pode se sentar —  Disse Namjoon indicando o sofá a sua frente, em nenhum momento suavizando a expressão.

   Me sentei no sofá analisando todos os movimentos do alfa. Namjoon guiou seu olhar até Jin e fez um meneio de cabeça para que ele se sentasse ao meu lado, então prontamente o beta fez o que lhe foi dito e pegou em minha mão.

  —  Como nós dissemos dois dias atrás, ontem mandamos três guerreiros alfa da matilha para ir até sua casa. Eles foram à noite, já que era o único horário em que a polícia não estava rondando. —  Namjoon iria continuar falando, mas eu o interrompi.

 —  Meus pais estão lá? Eles estão bem? — Faço uma enxurrada de perguntas, um sentimento esperançoso se apossa de mim.

 Queria acreditar que agora tudo ficaria bem, voltaríamos para casa e eu poderia dizer o quanto os amo.

  —  Taehyung... —  Jin fala com a voz mansa e o aperto em minha mão se intensifica.

  —  A sua casa estava isolada Tae, não havia ninguém lá. E os seus pais eles... eles... —   o alfa não completou a frase. Sua expressão antes seria, agora era de puro pesar. 

 Eu fiquei assustado, já imaginava o que poderia ser, mas não queria acreditar. Aquela possibilidade era apenas negatividade da minha cabeça.

  —  Eles o que!? O que aconteceu, onde eles estão? —  Perguntei aumentando meu tom. Meus pais poderiam estar machucados nesse exato momento.

  —  Tae, os seus pais… —   Jin não terminou porque de súbito Jeongguk (até agora quieto) o interrompeu.

 —  Vocês não estão ajudando em nada. Simplesmente digam logo! —  Disse num tom seco, suspirando em seguida e me olhando —  Me desculpe humano, mas os seus pais não resistiram. 

 Eu poderia dizer que naquele exato momento meu mundo caiu, mas na verdade eu entrei em uma espécie de transe, fiquei olhando para o nada enquanto sentia o olhar de todos sobre mim.   

 —  Tá bom. —  Falei simples ainda sentindo aquele torpor que a notícia me causou. 

 Acho que eu ainda estava tentando digerir.

 —  Vocês o tratam como se ele fosse criança, ele tem direito de saber o que se passa na vida dele. Precisa encarar a realidade das coisas. —  Jeongguk continua dizendo ainda seco.        

 Senti as lágrimas se formando em meus olhos, finalmente a notícia estava começando a fazer sentindo na minha cabeça. O ar sumiu dos meus pulmões assim que meu coração apertou forte.

  —  Jeongguk, não é bem assim que as coisas funcionam, ele acabou de perder os pais —  Hoseok falou num tom manso.

  Eu não aguentava passar mais nem um minuto lá dentro, a falta de ar estava me sufocando cada vez mais.

  M-meus pais, eles não podiam.... isso não podia estar acontecendo.

 Senti como se eu fosse uma criancinha que acorda de noite, não vê a mãe e assim começa a chorar desesperadamente a chamando. A única diferença era que meu choro era silencioso, e que se eu chamasse, minha mãe não iria me responder, não iria me abraçar e dizer que estava tudo bem e que ela estava ali o tempo todo.

  Não conseguindo encarar mais ninguém. Sai correndo para fora da mansão com a visão embaçada, meu desespero agora não tinha mais nível, me sentia como se tivessem enfiado uma adaga em meu coração.

 Ouço meu nome ser chamado, mas não atendo nenhum comando, corri desesperadamente até que não aguentei mais e desabei debaixo de uma árvore qualquer. Apenas desejava que tudo isso fosse apenas mais um pesadelo me atormentando. 

 Me sentia um covarde, um covarde que apenas saiu correndo sabendo que aqueles sanguessugas fariam mal a família, agora eu sou um covarde sozinho, não tenho ninguém. Por que eu tinha que ser tão fraco?

    *Stronger Than a Brand*     

  Acordo sentindo uma enorme dor de cabeça, olho em volta e percebo que estou em meu quarto, eu sonhei com meus pais, eles estavam vivos, e assim que eu cheguei da escola eles estavam ali para me receber e perguntar como havia sido meu dia, deixando claro que aquela história de que eles morreram era tudo um sonho, me sento na cama e me escoro na cabeceira sentindo todos os meus músculos doloridos.

 Acordei no meu quarto, com uma enorme dor de cabeça e uma sensação de vazio. Sentei na cama escorado na cabeceira, sentindo todos os meus músculos das pernas doloridos. Aos poucos as lembranças foram voltando, 

  —  Que bom que acordou Tae! —  Jimin disse em um sussurro animado.

 Ele e Jin estavam parados na porta, e o menor veio sentar- se na ponta da cama assim que me viu. Jin, mais contido, ficou parado um pouco mais distante me encarando.

  —  Como eu vim parar aqui? —  Perguntei direto. Minha última lembrança era estar na floresta, sozinho.

  —  Achamos você adormecido debaixo de uma árvore um pouco afastada da matilha —  O beta disse.

  —  Jeongguk. Te carregou até aqui —  Jimin acrescentou em seguida  —  Foi ele quem te encontrou e trouxe para cá.

 Não soube o que dizer. De cabeça baixa senti a dor de cabeça e o peso do mundo sobre meus ombros.

 Sentindo minha visão embaçando novamente e lágrimas escorrerem por minhas bochechas sem permissão.

  Uma mão carinhosa ergueu meu queixo, quando olhei para cima me deparei com os olhos termos de Jin.

  —  Ei Tae, pode chorar, não quero que você guarde tudo aí dentro. —  Colocou a mão sob meu peito.

 Balançei a cabeça negativamente e ele me recebeu em um abraço caloros.

  —  Eu conversei com Namjoon, e ele disse que você pode ficar conosco ok!? Não precisa voltar sozinho.

 —  M-Mas.... —  tento falar, mas Jin me interrompe.

  —  Vai ficar tudo bem.

 Mas não ia, eu não queria ouvir aquilo, mas não tinha forças para o repreender. E eu precisava deles.

  —  Eu não tenho mais família. 

 Chorei com o rosto no seu ombro.

   —  Nós vamos ser sua família.

Um mês depois

 Eu me sentia grato, já fazia um pouco mais de um mês que eu estava na matilha sendo acolhido e tratado como se fosse um deles. Já me sentia bem mais confortável do que sequer imaginei me sentir lá um dia. 

 Claro que com pensamentos de tudo que havia acontecido desde que eu cheguei ali e lembrar de meus pais ainda me deixava entristecido. Mas aos poucos tentava ao máximo ocupar toda essa dor com sentimentos bons e momentos inesquecíveis que tive com eles.

 E estava recebendo muita ajuda para isso.

 Para agradecer a todos os sorrisos e palavras de conforto direcionados a mim durante meu estado de melancolia e tempo de luto, tive a ideia de fazer um café da manhã especial para a matilha.

  —  Jimin? Jimin, acorda! —  Chamei pelo ômega que estava dormindo serenamente.

 Ele se remexeu e resmungou um pouco, mas não demorou a acordar. Yoongi não estava no quarto, mas era comum dele sair cedo.

  —  Anh? O que foi Tae? —  Perguntou me encarando com seus olhinhos pequenos de sono.

  —  Eu preciso da sua ajuda —  Digo manhoso, se ele não quisesse me ajudar então não conseguiria fazer sozinho —  Eu preciso que você me ajude a organizar o refeitório e preparar o café da manhã.

  — Mas não acha que é muito cedo, Tae? A matilha toda só vai para o refeitório uma hora antes de começar o treino dos guerreiros 

  —  Sim eu sei, masqueria fazer algo especial agradecendo a todos vocês por terem me acolhido e cuidado tão bem. —  apelido para o coração do ômega, que era bem derretido —  Então você me ajuda? 

 Ele não pensou muito depois disso, suspirou um última vez e afastou o lençol para longe.

 —  Vamos então Tae! —  Disse se levantando —  Apenas me deixe trocar de roupa e já saímos.

 Alguns minutos depois é já estávamos prontos e fora de casa. Não pude deixar de notar o quanto Jimin havia se animado em tão pouco tempo, ele devia ter uma fonte inesgotável de energia.

 —  E então, o que pretende fazer para o café? - Perguntou enquanto íamos em direção ao refeitório.

 —  Pensei em fazer Bulgogi já que eles gostam tanto de carne. Algumas panquecas, e para as crianças bolinho de arroz doce e colorido. 

 Eu realmente queria fazer algo delicioso e comidas caseiras me deixavam nostálgico das vezes em que minha omma as preparava para mim.

 — Vai ficar tudo ótimo Taehyung! E as crianças vão ficar muito felizes pelo bolinho, não é todo dia que temos comidas assim. —  Ele sorriu de uma forma tão doce que me fez ter vontade de abraçá-lo.

 Jimin era uma pessoa tão bondosa e tranquila, me inspirava muitos sentimentos bons.

 Não demorou muito para que chegássemos ao refeitório, então separamos a grande maioria dos utensílios que iríamos precisar. A cozinha era grande, as porções de comida que precisávamos ainda maior, então teríamos que começar o mais rápido possível.

  —  O que podemos começar a preparar primeiro Tae?

 — Você pode preparar a mistura das omeletes para mim? —  Ele acenou pegando o que precisava —  Ótimo. Eu vou temperar a carne para o bulgogi e lavar alguns vegetais.

 Conforme os ingredientes iam sendo adicionados a cada preparo, o cheiro delicioso ia se instalando por toda a parte. Eu e Jimin nos divertimos enquanto estávamos fazendo tudo, não queria pedir ajuda aos cozinheiros, já que o café também é para eles. Então acordei umas três horas antes, para conseguir fazer tudo somente com Jimin.

 Conseguimos terminar antes do previsto. E o cheiro da cozinha estava ainda melhor com a combinação das comidas.

 Saímos da cozinha para o refeitório. Jimin pegou panelas e bandejas, distribuindo sob as mesas enquanto eu colocava cada alimento dentro dos recipientes.Não queria que ninguém tivesse que ficar em filas.

 No meio da tarefa ouvimos um barulho de porta sendo abertas. Fiquei aliviado porque era apenas Jin chegando.

 —  Então vocês estão aqui!! O que estão aprontando? —  O beta perguntou em um tom divertido.

  —  Como sabia que estávamos aqui? —  Perguntei.

 —  Vocês não estavam em casa, então vim procurar. E quando senti esse cheirinho maravilhoso tão cedo imaginei que fossem vocês aprontando. 

 Jin se esticou para perto de uma mesa para ver o que tínhamos por ali.

 —  Tae quer fazer um agradecimento para toda a matilha por termos o acolhido. —  Jimin disse.

 Ele se virou em seguida e disfarçadamente pegou um bolinho e enfiou na boca. Fingi não ver pra não deixá-lo envergonhado, a fome de Jimin era interminável, mas ele parecia ter algum tipo de problema em demonstrar isso.

 —  Por que não me chamaram, eu poderia ajudar.

 —  Na verdade, já acabamos por aqui. Mas eu preciso de você para um favor —  Disse apontando o indicador para ele.

 —  Estou à disposição.

 —  Preciso que vá chamar os líderes. Os lobos já vão chegar, seria bom se eles comessem a comida quentinha. —  Pedi sorrindo.

 Jin não demorou em fazer o que havia pedido. Tudo estava pronto, agora só resta esperar, eu estava nervoso com a reação de todos, mesmo sabendo que seria positiva. 

 Passou cerca de vinte minutos até percebermos uma movimentação no local, todos estavam chegando, e conforme percebiam o que estava acontecendo seus rostos se transfiguravam com expressões surpresas e felizes, principalmente as crianças ao verem as pilhas de bolinhos coloridos dispostas sobre as mesas. 

 Yoongi também estava lá, era difícil vê-lo junto dos outros. O que me deixou ainda mais feliz.

 —  O que é isso?! —  Hoseok diz impressionado. Não respondi, mas sinalizei para ele se sentar junto dos irmãos. 

  Escutar todos os murmúrios de satisfação e elogios do quanto tudo estava bom era gratificante. Aproveitei o momento para agradecê-los com palavras pelo que faziam por mim, e por permitirem que eu tomasse o tempo necessário na matilha enquanto não decidia o que fazer com minha vida.

 Até Jeongguk comia, quando levava o garfo com a comida até a boca fechava os olhos, talvez aproveitando o sabor; dessa vez nada sujou o chão. 

 Eu não teria conseguido bons resultados se não fosse pela a ajuda de Jimin, lembraria de agradecê-lo melhor mais tarde.

 Quando todos estavam devidamente alimentados, alguns lobos que trabalhavam na cozinha começaram a recolher as louças sujas. Eu iria ajudá-los, porque não sabia se seria bem visto me ausentar das tarefas só porque fiz o café. 

 Mas Hoseok segurou meu braço me impedindo de levantar.

  —  Gostaria de ir ao treino conosco Tae? —  Perguntou sorridente.

  —  Achei que não teriam treino hoje, já que os guerreiros ficaram muito tempo aqui no café da manhã —  Eles sempre saiam bem mais cedo do que hoje, por essas horas em um dia normal eu já estaria em busca de mais alguma tarefa para realizar depois de limpar a cozinha.

  —  O treino dos guerreiros é importante demais, mesmo com alguns imprevistos precisa ser feito. Jin disse que era um assunto urgente demais, então já estava em nossos planos um treino reduzido —  Ri do exagero de Jin. Ao menos ele não havia mentido uma ameaça de invasão.

 —  Então, vai conosco? —  Perguntou novamente. 

 —  Eu não sei... —  Digo meio hesitante. Eu queria ir para não ter que organizar tudo, mas Jeongguk estaria lá.

 —  Ah, vamos Tae, Você vai gostar —  Insistiu, olhei para a cozinha vendo todos ali trabalhando. Parece que o alfa entendeu meu gesto pois logo se pronunciou: 

  —  Não se preocupe com isso, você já fez muito hoje e estava tudo maravilhoso, eles não vão se incomodar. E ninguém vai se incomodar se você for.

 —  Tudo bem, vamos. —  Suspirei cedendo, mas feliz por não ter que lavar louça.

 Para chegar até o campo de treino tínhamos que passar por uma trilha, na volta das árvores já podia se ver alguns guerreiros treinando em suas formas humanas, outros estavam em suas formas de lobo, todos concentrados demais para perceber presenças alheias.

 Conforme nos aproximávamos, pude perceber duas presenças conhecidas: Namjoon e Jeongguk. Eles estavam instruindo alguns jovens nas atividades mas pararam ao ouvirem o pigarreio de Hoseok, assim que Namjoon me viu deu um sorriso contido, que o retribui no mesmo tom, mas o alfa ao seu lado contorceu o rosto em uma expressão emburrada.

  —  O que ele está fazendo aqui? —  Perguntou de cara.

 —  Eu o convidei. —  A maneira como Hoseok falou me fez rir internamente, ver Jeongguk contrariado era bom em diversos aspectos. 

  — Eu não vou treinar com esse humano aqui.

  —  Apenas continue com o que estava fazendo —  Namjoon mandou entediado.

 —  Que seja. —  Bufou irritado e caminhando até os lobos que estavam lutando corpo a corpo.

 Eu esperava que ele não se transformasse, não sabia como iria reagir em ver o enorme lobo cinzento depois do que havia acontecido na floresta a dias atrás. 

  —  E então Taehyung. Já praticou luta, arco e flecha ou alguma coisa do gênero? —  Namjoon se dirige a mim.

 —  Na verdade, o máximo que já fiz foi jogar futebol na escola. —  E ainda sim era uma negação em qualquer tipo de esporte.

  — Bem, Hoseok pode te ensinar alguns ataques. —  Namjoon ofereceu o irmão, olhei para Hoseok e ele sorriu acenando com a cabeça positivamente.

  —  Não custa tentar..

 Logo após o alfa já estava me mostrando alguns ataques como se eu fosse seu oponente. Ele fazia e depois pedia para que eu os repetisse, na maioria deles eu reproduzia de forma errada, e nos contra-ataques eu nunca conseguia revidar.

 Com mais alguns ataques e contra-ataques, e um chute certeiro na parte de trás do meu joelho me fez desistir por completo daquela ideia ridícula. 

 Custou e muito tentar.

  —  Luta... realmente não é para mim. —  Digo um pouco ofegante pelo esforço. 

  —  Que tal nós tentarmos outra coisa? Talvez arco e flecha. —  Disse Hoseok. O que mais me surpreendeu foi que ele não se demonstrou nenhum pouco arrependido de ter me nocauteado. 

 —  Você viu que eu não sirvo para essas coisas.

 De qualquer forma já estávamos perto dos suportes feitos de madeira em que haviam várias armas dispostas, incluindo arcos e flechas. Um pouco mais longe haviam os alvos, dos mais pertos aos mais longe eu tinha certeza que não acertaria nenhum.

 Um beta que estava próximo aos alvos me encarava de uma forma debochada, como se duvidasse que eu ao menos consiga pegar em um arco de maneira correta. E isso de fato me deixou um pouco incomodado, mesmo que eu não tivesse expectativas sobre tal prática. 

 Vejo o beta se aproximando, então percebi que era o menino que tinha vindo me avisar que Jeongguk me chamava na floresta. Então ele sabia de tudo.

 —  O que essa criança está fazendo no local de treinamento dos guerreiros? —  disse cínico, o sorriso adornando os lábios. 

 —  Não comece com as suas investidas desgostosas Kwan — Hoseok o repreendeu.

  —  Eu apenas estou dizendo o que vejo.

 Esse beta está passando dos limites e começando a me irritar. Quando penso em retrucá-lo uma voz soou firme. 

 Jeongguk.

 —  O que está acontecendo aqui? 

 Ele se aproximou junto de Namjoon com a expressão séria, deve ter percebido a "confusão" que aquele tal de Kwan estava começando. O beta foi se arrastando até ele e acariciou seu braço.

 —  Não está acontecendo nada líder, eu apenas estou curioso sobre o que o humano faz no local de treino —  cinismo e deboche é a única coisa que estampa a face daquele beta. O sorriso falso pareceu ter aumentado com a presença se Jeongguk.

  —  Por acaso você está vendo graça em alguma coisa, Kwan? —  Pergunta Namjoon. 

  —  Eu não estou vendo graça em nada. Mas se esse humano não é a criança sem habilidades que visualizei no treino de luta, então porque ele não nos mostra do que é capaz com o arco e flecha? —  Pergunta convencido.

 —  Taehyung não fará nada que ele não queira. —  Hoseok disse sério.

 Mesmo que eu não queira fazer nada que aquele beta propôs, não iria me deixar ser desrespeitado e humilhado por ninguém, e foi num impulso que me pronunciei pela primeira vez. 

 —  Eu aceito —   Digo confiante, sem demonstrar toda a insegurança e nervosismo que estava em meu interior.

 —  Tae... Você não precisa fazer isso. —  Hoseok coloca a mão em meu ombro me alertando.

  —  Não, tudo bem, eu quero.

  O beta foi ao suporte pegando dois arcos e com cada um deles três flechas, voltando ao meu encontro e me entregando um arco e as três flechas.

 —  Você tem que acertar em uma das três divisões de cada alvo. —  Disse apontando para os círculos pintados um dentro do outro em cada um dos alvos —  Mas duvido muito que você consiga pelo menos acertar o primeiro. Gostaria de fazer as honras?   

 —  Faça você. —  Digo rude.

 Ele posicionou a flecha rápido no arco, com a naturalidade de quem fazia aquilo todos os dias. Tentei acompanhar cada um de seus movimentos até os mínimos detalhes, para que quando chegasse minha vez. 

 Kwan puxou o pequeno pedaço de madeira junto com o cordão do arco até mais ou menos a extremidade do rosto; e quando soltou flecha voou veloz rasgando e abrindo espaço no ar, até se chocar contra o alvo: o segundo maior círculo.

 Ele parou para analisar o alvo, não parecia ter gostado do resultado, mas logo foi parando em frente ao segundo alvo, fazendo o mesmo do que no primeiro e dessa vez a flecha atingiu o centro do alvo. No terceiro alvo e último alvo ele repetiu o mesmo processo, e a flecha acertou novamente o centro do alvo.

 — Sua vez. —  Ele parecia ainda mais orgulhoso quando percebeu que seu showzinho acabou atraindo a atenção dos guerreiros.

 Seguro o arco pela base tentando posicionar a flecha corretamente, me atrapalhando um pouco no ato e ouvindo algumas risadas de algumas alfas ali perto. Respiro fundo tentando ignorar tudo ao meu redor e posicionar a flecha novamente, dessa vez conseguindo. Faço como o beta fez anteriormente e puxo a flecha até a extremidade de meu rosto, soltei a flecha e fechei meus olhos ao mesmo tempo.

 Quando abro os olhos a flecha estava na segunda linha ao lado da do beta. Me enchi de um sentimento de familiaridade ao olhar atentamente o arco que estava em minhas mãos.

 Foco minha atenção no segundo alvo fazendo tudo de novo, com uma velocidade impressionante para mim mesmo, dessa vez a flecha se crava no menor círculo do alvo. Me senti orgulhoso ao ouvir a surpresa dos guerreiros, eu sentia que sabia o que devia ser feito mesmo nunca tendo praticado.

 No terceiro alvo me senti inquieto, sabia que estava sendo observado por um olhar intenso e não tinha certeza se era minha imaginação, mas eu sentia ele me olhando. Espiei pelo canto do olho na direção de Jeongguk e de fato suas atenções estavam em mim.

 Na hora em que soltei a flecha, segui seu percurso com o olhar até que chegasse ao seu destino. A flecha estava no centro exatamente onde a do beta estava, o impacto cortante havia feito com que ela se soltasse do alvo e caísse inerte no chão. 

 A surpresa foi tão grande que fiquei alguns minutos na mesma posição, mas então me deparei com o que estava ao meu redor. Todos me olhavam surpresos, me encarando e me analisando, uma súbita onda de vergonha me atingiu. 

 —  Como você fez isso? —  Kwan perguntou indignado vindo para próximo de mim.

 — Eu não sei —  Digo nervoso. 

 —  Como não sabe? —  A voz dele se alterou.

 —  Já deu Kwan, sai. —  Jeongguk disse olhando para o beta, que o obedeceu no mesmo instante.

 Me senti agradecido por ele ter afastado o homem de perto de mim.

 —  Tem certeza que nunca praticou arco e flecha Taehyung? —  Namjoon perguntou se aproximando junto com Hoseok. 

  —  Tenho. Eu realmente não sei como fiz isso.

  —  Parece que você teve sorte para um principiante. —  Kwan disse ainda olhando enviesado para Jeongguk.

 —  Ele pode ter tido tudo Kwan, mas com certeza sorte de principiante não está na lista. —  Namjoon garantiu —  Mas há muitas hipóteses possíveis. 

 Namjoon terminou pensativo, deixando os guerreiros em um incômodo silêncio e enchendo meus pensamentos de confusão.