História Stronger Than Dragon - Capítulo XVI - Recomeço

Quando Scarlet, acordou era tarde e Lillian já havia se levantado, deixando a guerreira sozinha na cama. Ao abrir as janelas de madeira, ela pôde ver um belo céu azul que era iluminado pelo sol que brilhava enquanto pessoas trabalhavam lá em baixo e não resistiu, abrindo um satisfeito sorriso.  Finalmente aquele lugar estava recuperando a sua paz.

Depois de cuidar de si mesma, a mulher saiu do quarto e foi procurar por StarLight para saber como ele estava, já que ele havia se ferido gravemente no dia anterior e era obrigação dela cuidar de seu melhor amigo. Ela caminhou até o estábulo e ao chegar lá viu o cavalo branco dormir tranquilamente no celeiro, enquanto Zea se encontrava jogada sobre um monte de feno e várias coisas de Mino estavam espalhadas pelo local.

– Ela ficou cuidando dele a noite inteira e nem sequer pediu ajuda. Agora os dois precisam descansar um bocado, não acha? – Mino apareceu no local e deu um sorriso simpático para a guerreira, vendo em seguida a mulher que dormia sem se incomodar com a falta de conforto.

– Eu nunca tinha a visto dormir antes. – Scarlet foi até a mulher e ajeitou os fios de cabelo que caíam sobre seu rosto, sorrindo. – Desse jeito nem parece que é uma fera...

– Pois é, Zea não é muito de dormir. Ela costuma ficar acordada durante dias sem precisar de descanso, mas quando precisa... Deve ter percebido que ela não é muito de escolher um bom lugar.

– E quanto ao StarLight? Ele vai ficar bem?

– Bobinha, ele já está bem. Apenas um pouco cansado pela batalha, mas não se preocupe. Em poucas horas ele já estará correndo por esse castelo e fazendo todas aquelas coisas que os cavalos fazem.

Scarlet deu uma leve risada junto ao mago e então um minuto de silêncio se fez, até que a guerreira o cortou de forma desconfortável.

– Hm, Mino... Sabe onde a Lillian está? Ela já tinha levantado quando eu acordei e não me avisou nada, então...

– Se não me engano ela e a mãe estão atendendo um grupo de mercadores pela cidade, ouvi dizer que eles possuem certa especialidade em casamentos e trouxeram várias especiarias.

As bochechas da mulher ficaram vermelhas, o que fez com que Mino soltasse uma leve risada. Não demorou muito para que StarLight acordasse, indo até a dona e fazendo seus cabelos esvoaçarem com uma bufada.

– Er... Casamentos? – Scarlet abraçou o cavalo e o encheu de beijos, para em seguida o analisar e ver que ele estava perfeitamente bem. Zea realmente havia feito um ótimo trabalho.

– Qual o problema, Scarlet? Tenho certeza que ninguém nesse reino impediria o casamento das duas. Você a salvou duas vezes, e salvou todo o reino também. Além disso, vocês duas se amam, não?

– É claro que eu a amo! Mesmo assim...

-Shiu, sua boba. Se você a ama, isso já é o suficiente. Agora, acho que vou deixar você e seu amigo sozinhos um bocado, quem sabe assim você não alinha melhor seus pensamentos?

O mago saiu dali e não demorou muito para que Scarlet fizesse o mesmo junto de StarLight, levando a adormecida Zea até uma cama confortável no castelo. No salão real (que já havia sido devidamente limpo e  retomado seus tons originais) Helena e Lillian atendiam mercadores estrangeiros que traziam diversos vestidos, joias, flores das mais belas espécies entre muitas outras coisas.

– Basta nos mostrar o lugar que iremos deixá-lo lindo para a cerimônia. Já escolheu algum vestido, princesa? – Um dos mercadores mostrava mais e mais vestidos para Lillian, enquanto Helena se encarregava em cuidar da decoração.

– Eu acho que sim... Todos eles são tão bonitos, mas eu quero esse. – Lillian apontou para um dos vários vestidos que estavam sobre a mesa no centro do salão, enquanto a rainha e o vendedor o avaliavam.

– É realmente uma ótima escolha, majestade. Já tem algo para o noivo vestir na cerimônia?

– Na verdade... – Helena largou de lado as flores e sentou próxima da filha, segurando a enorme barriga com as duas mãos. – Não sabemos o que Scarlet gostaria de usar... Acho que ela já se viu obrigada a usar muita roupa masculina, não?

Os vendedores olharam para as majestades sem entender muita coisa, até que Lillian decidiu explicar a situação.

– Scarlet, minha noiva, é uma mulher. Ela salvou esse a mim e todo o reino de um terrível dragão, duas vezes. Nós nos amamos e estamos prontas pra encarar o mundo caso seja necessário.

– Er, Lillian... - Scarlet apareceu no salão e se encolheu ao perceber que era analisada minuciosamente pelos estrangeiros, que a puxaram até o centro do lugar e a mostraram um monte de coisas.

– Temos vestidos, e roupas masculinas também. Pode ficar á vontade! Felicidades ao casal! – Alguns dos comerciantes jogavam cada vez mais coisas na guerreira, a deixando completamente confusa – E então, já decidiu o que a majestade deseja?

Lillian e Helena não puderam deixar de rir, enquanto Scarlet dava um jeito de se desvencilhar de tudo aquilo e sentava próxima a princesa, sussurrando no ouvido da mesma. – Nós não conversamos nada sobre isso.

– Hm, com licença todos vocês. Irei conversar com minha querida esposa a sós. - Lillian puxou Scarlet pelos braços e saiu com ela dali, indo parar nos corredores do castelo. Alguns empregados recém contratados que estavam trabalhando ali decidiram deixar o local, para que as duas pudessem ter a tão almejada privacidade.  – Qual o problema, querida?

– Eu ainda nem te pedi em noivado e já estão falando em casamento, e sem ao menos me consultar!

– Mas bobinha, estamos noivas desde que me salvou do dragão pela primeira vez. Esqueceu? – Lillian sorriu, passando uma das mãos no rosto de Scarlet.

– Eu sei, mas... Devia ter conversado comigo antes! Quer dizer, veja tudo aquilo, aqueles mercadores exagerados... Pra quê tantas flores perto da sua mãe? Quem diabos compra flores?

– Então você não quer se casar? Se quiser, não tem problema. – Lillian abaixou a cabeça e Scarlet a abraçou com força, sentindo o cheiro dos cabelos dela.

– É claro que eu quero me casar com você, bobinha. Só não pensei que seria tão cedo, mas não tem problemas. E quanto aquilo que conversamos ontem, já falou com a sua mãe?

– Sim, eu conversei mais cedo e ela prefere que fiquemos por aqui, mas já que você quer tanto voltar para o seu antigo lar... Ela acabou aceitando. E se é isso que você quer, eu também quero...

Scarlet depositou um beijo demorado na testa de Lillian, a aconchegando entre os braços e afagando seus cabelos enquanto a princesa fechava os olhos, aproveitando para sentir o perfume de sua amada. As duas ficaram ali por um bom tempo, até serem procuradas por Helena.

– Lillian, que tal voltar pra lá e ir escolhendo as coisas? Desejo ter umas palavrinhas com Scarlet.

– Tudo bem, mamãe. – A princesa voltou para o salão e deixou as duas mulheres a sós, que se observaram durante alguns segundos.

– Scarlet, eu quero te pedir desculpas pelo jeito que te tratei quando nos conhecemos... Eu não tinha o direito de te julgar mal ou te humilhar e...

– Que eu me lembre não sofri nenhuma humilhação de sua parte, majestade. Não tem motivos para pedir desculpas.

– Mas, Scarlet...

– Shiiiiiiiu, já disse que não há motivos. – A mais alta sorriu, se permitindo bagunçar os cabelos da rainha que estranhou a situação, mas a permitiu mesmo assim.

– Hm... Scarlet...? – A rainha se apoiou na parede, segurando a guerreira pelos ombros.

– Majestade, está tudo bem? O que aconteceu, quer que eu chame alguém?

– Ele já vai nascer, me ajude...

– Hã? – Scarlet entrou em desespero quando Helena a abraçou com força, soltando um longo grito enquanto a guerreira se mantinha paralisada. Ela não tinha a mínima ideia do que fazer.

--//--

Lillian, Scarlet e Mino estavam inquietos na porta do quarto, esperando alguma notícia sobre a rainha e o bebê. Zea estava ajudando Helena com o parto, e do lado de fora o que mais se ouvia eram gritos assustadores.

– Será que a rainha vai ficar bem? – Scarlet perguntou preocupada, enquanto Lillian caminhava de um lado para o outro ouvindo os gritos agonizantes da mãe.

– Não se preocupe, minha amiga. Tudo vai dar certo no final... Se ela ainda tiver voz quando chegar lá. – Mino passava as mãos por suas barbas grisalhas, observando a inquietude da princesa.

– Eu quero saber como está a minha mãe! – Gritou Lillian, batendo na porta depois de se conter bastante.

– E EU QUERO QUE ESSA MALDITA DOR ACABE LOGO, PUTA MERDA! – Helena gritou de dentro do quarto enquanto Zea tentava acalma-la e realizar o parto ao mesmo tempo, o que era um tanto difícil até mesmo para ela.

– Mais força, Helena! Força! Já está quase saindo, ande logo mulher!

– CALA A PORRA DA BOCA, ACHA QUE EU NÃO ESTOU FAZENDO FORÇA O SUFICIENTE?

Do lado de fora, os três que se encontravam ansiosos até poucos minutos atrás agora olhavam atentamente para a porta, mantendo toda a distância possível da mesma.

– Não sabia que sua mãe tinha esse lado agressivo, querida. Acho melhor sairmos logo daqui e...

– Espera, você ouviu?

Um choro podia ser ouvido de dentro do quarto, e os gritos de Helena haviam finalmente cessado. Não demorou muito para que Zea abrisse a porta e deixasse que todos vissem o novo menino, que ainda sujo de sangue descansava nos braços da mãe.

– Ele não é lindo? Vai se chamar Brian, o que acham?

– É um belo nome, majestade. – Mino sorriu para a rainha, que entregou o pequeno Brian para que Zea o limpasse.

– Ele lembra bastante o papai... Aposto que ele deve estar bastante feliz lá em cima.

– Sim, ele está. – Helena retribuiu os sorrisos e não demorou muito para que tivesse outra vez o filho nos braços, pegando no sono junto dele.