História Sua voz - Namjin - Eu não te conheço tão bem quanto pensei

   -Os efeitos psicológicos das anfetaminas incluem: ansiedade, nervosismo, euforia, percepção de energia elevada, comportamento repetitivo, excitabilidade, sensação de poder ou superioridade. Ocasionalmente há psicose por anfetaminas, geralmente com doses altas ou uso crônico. -Suspirei ouvindo atento, mesmo não querendo, o que o médico dizia- Quando anfetaminas são usadas indevidamente sem supervisão médica, a sua interrupção pode causar efeitos de abstinência, que podem incluir ansiedade, depressão, agitação, fadiga, sono excessivo, apetite aumentado, psicose e pensamentos suicidas. O dependente se torna agressivo. 

-Doutor, me desculpa, mas eu não estou aqui para ter aulas com o senhor. Por que está me dizendo tudo isso?

-Para você ter noção do quão grave é o estado do seu namorado. -engoli em seco ao ouvir aquilo. 

-G-grave? Ele está bem? 

-Por pouco, mas por muito pouco mesmo, ele não entra em coma. 

-Mas o que houve?

-Nós encontramos em seu organismo essas duas drogas e uma grande quantidade de Benzodiazepina. Essa droga é muito forte. O seu namorado consumiu esses dois tipos de drogas, e não é de hoje que ele vem usando isso. Você tem noção que ele poderia ter morrido?

-Prefiro não pensar nisso. 

-Sugiro que você pense nisso, porque assim poderá ajuda-lo. Você sabe se ele tem depressão, ansiedade ou algum problema psicológico?

-O Hoseok? O Hoseok é o cara mais iluminado e alegre que eu conheço, ele é a última pessoa que eu diria ter depressão. -falo e o médico ri sem humor. 

-Meu jovem, grande parte de pessoas com depressão não se mostram triste para outras pessoas. Muitas delas colocam um sorriso no rosto e fingem estar tudo bem. 

-Mas o Hoseok é diferente, eu conheço ele melhor que ninguém. 

-Você tem certeza? -lógico, ninguém conhece o Hobi melhor que eu. -Yoongi, ninguém toma esse tipo de remédio apenas por não ter nada para fazer. 

-E-eu posso vê-lo?

-Ele está dormindo, assim que ele acordar eu mando avisar. Agora eu tenho que ver meus outros pacientes. 

-Eu posso ficar um momento aqui?

-Claro, fique a vontade. -dito isso, ele saiu me deixando sozinho com meus  pensamentos. 

Será que eu realmente não conheço o Hoseok como eu imaginei conhecer? Será que ele tem algum problema psicológico? Não, não o meu Hoseok. 

Pensar que ele poderia ter morrido fez eu me arrepiar todo. Logo lágrimas de puro desespero rolaram pelo meu rosto. 

Fiquei horas ali sentado, sozinho, pensando. 

-Oh, ainda aqui? -olhei para ele sem me pronunciar. -Seu namorado acordou agora pouco. -levantei num pulo e corri até o quarto onde Hoseok estava. 

Abri a porta com presa e vi Hoseok sentado encostado na cabeceira da cama olhando distraidamente para a janela. Quando ele me viu, desviou seu olhar para baixo. Corri até ele e o abracei. 

-Você está bem? 

-Estou sim, mas você está me machucando. -o soltei e olhei para o seu braço. -É horrível tomar soro. -diz sorrindo fraco. 

-O que aconteceu, Hoseok? Por que tomou tantos remédios?

-Eu... -desviou o olhar novamente. -Eu apenas tomei os errados. 

-Não minta para mim. 

-Eu esqueci que você me conhece melhor do que ninguém. 

-Pelo que parece eu não lhe conheço tão bem assim. -ficamos alguns segundos em silêncio. 

-Me desculpa. 

-Por que está se desculpando comigo? 

-Por eu ter escondido de você. 

-Escondido o que exatamente? -ele suspirou antes de começar a falar:

-Há mais ou menos um ano eu ouvi uma conversa do meu pai com uma mulher pelo telefone. Naquele dia eu descobri que... Que meu pai tinha outra família. -arregalei os olhos. -Essas constantes viagens que ele faz é para ir visitar a outra família dele. Ele soube que eu descobri e mandou que eu ficasse quieto em nome da felicidade da minha mãe. Eu não queria que a minha mãe ficasse triste com tudo isso, eu não queria que ela sofresse, então eu não falei nada 'pra ela. Você não sabe como foi difícil ver meu pai e minha mãe trocando carícias e dizendo o quanto se amavam. Aquilo me dava nojo, e meu nojo aumentou quando eu soube que tinha uma irmã. Não nojo da minha irmã, mas sim nojo por saber que ela é mais velha que eu, ou seja, eles não são a outra família, nós é que somos. -lágrimas começaram a escorrer pelos seus olhos, essas a quais ele enxugou de imediato. -Eu não estava conseguindo lidar com tudo isso sozinho, eu não podia desabafar com ninguém então eu recorri para a dança, para os meninos e para você, mas nada andiantou. Eu já não tinha mais tanta força de vontade 'pra dançar como antes, as minhas brincadeiras de sempre pareciam não animar vocês como antes, e você...

-Eu o que?

-Nada, não quero que se sinta culpado. 

-Diga Hoseok. -disse sério. Ele suspirou e continuou: 

-Os momentos que eu tinha com você eram maravilhosos, era como uma fuga da minha realidade, mas depois que nossos momentos acabavam e você me ignorava eu... Eu pensava que o errado era eu. Todos estavam me deixando, ou na real nunca estiveram comigo. Teve incontáveis natais que eu esperava meu pai com um presente em mãos, mas ele nunca aparecia. Eu comecei a me sentir sozinho, ficava triste de repente. Um dia no colégio eu não aguentei e me tranquei no banheiro chorando. O Taehyung me viu, então eu meio que fui obrigado a contar 'pra ele o que estava acontecendo. A irmã dele é psicóloga, então ele disse 'pra mim ir conversar com ela, já que não me sentia a vontade conversando com meus amigos, pois não queria preocupar vocês. Então eu fui, eu sempre gostei de conversar então eu não vi problemas em conversar com uma psicóloga. Depois de algumas consultas e de confirmar que eu estava com depressão, ela me recomendou  voltar a dançar e me deu uns calmantes para conseguir dormir. Eu tomava os calmantes quase todos os dias, eu dependia deles muitas vezes para poder dormir. Mas eu ainda não tinha vontade de dançar, então eu tomei uns estimulantes que me davam energia, só que eu não sabia que iria ficar dependente deles. Eu amo dançar e não queria parar de fazer aquilo, então eu tomava muito desses remédios, mas por muitas vezes eu me via descontrolado, agressivo e não conseguia dormir, por isso comecei a tomar com mais frequência os calmantes o que me fizeram dependentes também. Mês passado a minha mãe descobriu sobre a vida dupla do meu pai, mas ela não me contou para que eu não sofresse com isso. -começou a chorar mais, então eu segurei em sua mão. -Mal ela sabia que eu descobri a muito mais tempo que ela. Minha mãe pediu o divórcio para o meu pai, mas ele não queria dar, não sei o porquê, afinal ele tem outra família, não precisa de nós. Hoje de manhã Ele estava arrumando as malas dele para viajar, eu fiquei com raiva e ao invés de tomar o calmante eu tomei o outro e isso fez eu ficar agressivo, então ao ouvir a discussão dos meus pais eu... Acabei batendo no meu pai, então a minha mãe soube que eu já sabia sobre tudo a mais tempo do que ela. Ela ficou brava comigo, disse que eu estava do lado do meu pai e que era 'pra mim ir embora com ele. Quando os dois saíram eu tomei uma pílula de calmante, porém não estava fazendo efeito, então eu tomei mais algumas e apaguei. Acordei aqui. 

-Por que não me contou? 

-Não queria que ninguém soubesse, eu obriguei o Taehyung a ficar quieto. Eu estava com medo de mim mesmo, não me reconhecia mais. Eu me envolvi em uma briga com o JB. -riu sem humor. -Eu odeio brigas. Eu mudei, sei disso, mas não conseguia parar. 

-Eu me sinto um lixo por não ter ficado ao seu lado esse tempo todo. Eu te odeio por não ter contado 'pra mim. Estou aliviado que nada de ruim aconteceu com você, e eu estou com uma grande vontade de bater no Taehyung por ter escondido isso de mim, e com vontade de bater em você por estar jogando a sua vida fora desse jeito. 

-Me desculpa. -abaixou a cabeça. 

-Não, não vou te desculpar. -levantou a cabeça me fitando. -Você é um egoísta por não ter pensado que se você morresse, eu morreria junto. Eu não te desculpo porque agora eu estou me odiando por não perceber o quanto você sofria, eu não fiz nada, eu não estive ao seu lado. Eu me odeio por isso. 

-Não me perdoe, mas também não se odeie. A culpa não é sua, ela é toda minha. Você não estava comigo antes, mas está agora. -apertou a minha mão. 

-Eu estou com você, nós vamos enfrentar isso juntos como deveria ter sido desde o começo.