História Subconsciente - Capítulo Único

A cada dia, ela vive menos.

Ela inspira menos da vida e expira mais dos sonhos. Ela fecha os olhos e se recusa a participar da realidade, das suas ações e dos seus dias.

Ela não sabe há quanto tempo vem sobrevivendo desta forma, se alimentando de ilusões e não vivenciando o que lhe cerca, mas já é um tempo suficientemente grande para se preocupar com sua sanidade.

Eu não sou louca. Eu só não aguento mais tudo isso.

Ela já perdeu as contas de quantas cenas fantasiou em sua mente, ou de quantos finais felizes já aconteceram nos seus roteiros subconscientes. Isso tudo não seria um problema, se ela não tivesse se tornado cega para a própria vida.

“Aquele que não sonha, enlouquece”, eles dizem.

Mas, e aquele que não vive?

“Não vale a pena viver nos sonhos, e se esquecer de viver”, ele diz.

Eu já me esqueci.

Quando tudo está desmoronando à sua volta, ela se fecha para o mundo e se abre para a mente. Ela entra no seu próprio universo paralelo e recria os acontecimentos da sua vida, onde tudo é perfeito.

“Meus pais não se separaram. Minhas amigas não fingem que gostam de mim. Ele me ama.”

Mentiras do subconsciente: ilusões.

Parece mais fácil viver das ilusões. É como uma droga anestesiante, que suprime os problemas e gera um alívio momentâneo. Mas, quando o seu efeito passa, as dores vêm mais fortes.

De vez em sempre, a vida a chacoalha e lhe mostra que ela não é nenhuma escritora de romances e, muito menos, uma personagem de seu próprio livro. Ela é uma fracassada.

Covarde e fracassada.

Ela foge dos seus problemas no seu próprio imaginário. Ela não encara desafios, porque na história que construiu, ela já venceu todos eles.

Eu não venci nada. Eu não me arrisquei em nada. Eu sou um nada.

Até que ela o conhece. Ele é perfeito, como qualquer príncipe deveria ser. Ele leva-lhe flores todos os dias, ele diz o quão linda ela é, ele a ama mais do que a qualquer outra. Ele é como um sonho.

Não. Ele é um sonho.

Ele é uma ilusão. Ele não existe.

As marcas de hematomas em seu pescoço, provam isso. O cheiro de outra nas roupas dele, prova isso. O sangue dela em suas mãos, prova isso.

Mas, ela não quer acreditar. Ela se recusa a acreditar. Ela se exila novamente no seu universo de fantasias e lhe cria uma imagem que ele não possui.

Ele faz isso, porque me ama. Esta foi a última vez. Ele me ama.

Ela foge da realidade, porque a realidade é muito dura.

Eu não tenho amigos, eu não tenho talentos, eu não tenho amor.

Ela não quer essas verdades para si. Ela quer apenas as que ela pode criar.

Ela só queria ter sucesso e amor, mas ela nunca conseguiu lutar por isso. Ela nunca conseguiu lutar por nada. Os sonhos drenavam sua força, sua energia, sua motivação. Eles a tornaram uma marionete de suas próprias criações. Eles eram um vício ilusório e psicodélico de que sempre esteve tudo bem.

Está tudo bem.

Os sonhos a fizeram acreditar que ela não precisava reagir. Ela não precisava viver.

Eu não preciso viver.

Um dia, ela abriu seu universo paralelo e imergiu nele pela última vez, ela fechou os olhos para a realidade.

Ela deixou de inspirar a vida e passou a respirar nos sonhos.