O sono pesado teve um fim abrupto justamente no meio da madrugada; 3h33min marcava o relógio despertador. Os olhos verdes e grandes abriram-se de imediato, enquanto o rapaz sufocado sentava-se na cama. O peito dolorido subia e descia em uma velocidade inacreditável e a fadiga era intensa tal e qual tivesse corrido uma maratona.
Há exatos dois meses havia começado o desassossego, e a perturbação era sempre repetitiva: o pesadelo da noite atual sendo exatamente idêntico ao da noite anterior. Sonhava estar num quarto escuro, completamente sozinho, e do nada o chão lhe faltava. O local sólido por onde andava, transformava-se em águas profundas e frias... e Eren caía.
O corpo magro boiava na superfície durante míseros segundos e então era violentamente puxado, afundando mais e mais. De imediato buscava o ar, mas ao entreabrir os lábios e inspirar, a água salgada e de gosto metálico, similar ao sangue, invadia-lhe a boca e as narinas, preenchendo os pulmões. O liquido frio tomava conta de seu interior e respirar já não era mais possível. Sempre que tentava, afogava-se ainda mais.
O desespero e o medo eram quase palpáveis, e como última opção, em meio a certeza de que a morte logo viria, Eren balançava os braços e as pernas insistentemente, impulsionando-se para cima, contudo, o feito não surtia resultado. O desconhecido continuava a prendê-lo pelos pés e conforme a água entrava em seu interior, a vida se esvaia, abandonando-o.
Os movimentos então cessavam e ele, resignado, aceitava e acolhia o fim. Não adiantava mais lutar e no exato momento em que morria, os olhos verdes abriam e ele despertava assustado, sentando-se na cama. Exatamente como tinha despertado poucos minutos atrás.
E o pescoço curto doía como se tivesse sido espremido por um par de mãos. A testa carregava inúmeras gotas de suor, como se o rapaz realmente tivesse feito imenso esforço para permanecer vivo. O gosto metálico ainda permanecia na boca. O peito doía e a respiração era intensa e dificultosa. “Foi apenas um sonho ruim.”, murmurava para si mesmo, “Apenas um sonho ruim.”
Mas mesmo sabendo que havia sido apenas mais um pesadelo, o jovem não conseguia sentir-se aliviado. Tudo em que conseguia pensar era no quanto estava apreensivo e amedrontado. Temia dormir, temia parar de respirar outra vez, temia até mesmo a escuridão incompleta que se fazia presente no quarto.
Adoraria pode voltar a ser apenas uma criança assustada. Uma garotinho que tem a oportunidade de correr para a cama dos pais, no meio da noite, quando o medo torna-se intenso demais, mas já era homem feito e morava sozinho. Não havia a quem recorrer.
Sendo assim, logo que a respiração foi controlada de vez, voltou a acomodar-se na cama, direcionando preces à um Deus no qual não sabia se acreditava. Apoiou as costas no colchão macio e a cabeça no travesseiro. Fechou os olhos e assim que puxou o cobertor azul, procurando cobrir o corpo, percebeu que o tecido comprido estava preso em algo.
Assustado, virou-se para o lado, e o que viu foi as costas nuas do namorado, e também o tal cobertor preso embaixo dele. Levi, o homem de cabelos negros e estatura mediana, mantinha-se imóvel, com o rosto voltado para à parede branca. Naquele instante, ele passava a impressão de ser embalado pelo mais pesado e duradouro sono.
Que alivio, não? Eren agora poderia dormir um pouco mais tranquilamente, pois tinha a companhia que tanto ansiava ter. Poderia acomodar-se junto ao seu amor e aproveitar-se do calor aconchegante e acolhedor que emanasse dele.
Poderia, claro, se a pessoa que jazia deitada ao seu lado não estivesse fria e dura. Tudo estaria bem se o seu companheiro não tivesse morrido afogado, há exatamente dois meses. E seria ainda um grande alivio ter companhia, se o corpo que estava ali, intacto, já não tivesse sido consumido pelos vermes da terra várias semanas atrás.
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