História Sugar - Cap.6 - Clark

Quando o relógio marcou 12:00h em ponto, eu levantei de minha mesa e caminhei até a maçaneta enquanto escancarava a porta de meu escritório.

- Katy, desmarque minha reunião das 13:30h. - passei por sua mesa e ela imediatamente largou o bolinho que comia e restaurou sua postura ereta.

- Sim, senhor, - ela ajeitou seu crachá e pirragueou como se disse "leia meu nome aqui, idiota", e então descobri que seu nome era Kanye. Eu teria que gravar esse nome, ou então ao menos me dar ao trabalho de ler seu crachá da próxima vez. - mais alguma coisa?

- Diga ao Jason que almoçarei fora.

- Claro. - ela assentiu anotando tudo por mais que não fosse preciso. - Quer que eu anote seus recados, senhor?

- Sim. - murmurei enquanto passava pela porta. Entrei no elevador e esperei que ele me levasse até o estacionamento para andar entre as multidões de carro e entrar no meu.

Dentro dele havia um cheiro insuportávelmente erótico - ou não - de colônia. E eu soube quase imediatamente que era de Kent. Ele estava sempre esbanjando perfume pelos cantos e eu não me surpreenderia se ele estivesse passado aqui também.

Enruguei o nariz e abaixei os vidros da janela sentindo o ar fresco entrar. Liguei o rádio e Ed Sheeran estava dando os últimos acordes de - Don't -, aumentei um pouquinho mais o volume e me encostei no banco do carro. Era hora de começar meu plano de vingança contra Kent Parker, mas primeiro eu teria que conhecer o terreno - não que eu estivesse interessado, isso tudo é pura vingança. Apenas isso.

Quando cheguei a faculdade, estacionei meu carro ao meio fio e pulei para fora. Comecei uma curta caminhada entre os universitários, e todos me observavam com algum tipo de interesse estranho. Talvez Jason tenha razão quando diz que sou meio intimidador as vezes, é uma pena que esse meu lado não parece funcionar com Kent.

Caminhei em passos longos e apressados até o que parecia ser a cantina da faculdade e atravessei o olhar por todas as mesas até encontrar ele.

Kent estava lá sentado a penúltima mesa com uma garota á sua frente, ele usava fones da ouvido e parecia prestar mais atenção em sua comida do que na garota. Estreitei os olhos quando me percebi sua roupa. Ele usava uma blusa cinza escrito "My name is Beyoncé", e uma camisa xadrez cobria sua cintura, suas calças eram a coisa mais horripilante que eu vi na minha vida. Eram uma floresta. Ele tinha uma floricultura nas pernas. Por Deus.

Balancei a cabeça desacreditado enquanto caminhava em sua direção, Kent ainda não havia me percebido, pois parecia estar atento demais em sua música para olhar para cima. Quando terminei de atravessar a sala e cheguei ao pé da mesa em que ele estava, a garota olhou para cima e seus olhos se arregalaram, sua boca se abriu e ela piscou descontroladamente.

- K-Kent. - ela sussurrou cutucando o braço de Kent fazendo-o erguer o olhar. Primeiro ele arregalou os olhos e depois franziu a testa, seus olhos se estreitando, virando duas fendas brilhantes.

- O que diabos você está fazendo aqui, Nicholls? - ele tirou seus fones se endireitando em um novo ângulo. Agora olhando para mim.

- Vim te ver. - dei um sorriso preguiçoso e me sentei na cadeira ao seu lado.

- O quê? - riu, com ironia. - no pouco tempo que te conheço já percebi o quanto mente mal, Clark.

Arqueei as sobrancelhas e olhei para a garota que nos observava em silêncio.

- Você pode sair?

- Sair? - ela piscou atordoada.

- Não faça o que ele manda, Ellen. Esse cara é um idiota. - Kent exclamou em seu familiar tom afobado e histérico. Havia uma pitada de tom femino em sua voz.

- É melhor eu ir. - Ellen pegou sua mochila e saiu quase desesperadamente da mesa. Kent bufou.

- Ótimo. Estragou a pouca chance de amizade que eu tinha com a pobre garota. - balançou a cabeça. - agora diga logo antes que eu encha a sua cara de...

- Beijos? - sussurrei baixinho. A boca de Kent se abriu e então se fechou.

- Não seja nojento. - respondeu finalmente. - agora diga. Está me fazendo perder um tempo valioso.

Eu não tinha certeza se Kent tinha algo precioso na vida já que ele tratava tudo e todos como strass caídos de unhas postiças. Aquelas pedrinhas minúsculas que não fazem diferença na vida de ninguém ae caírem por qualquer lugar.

- Eu vim aqui para te dar a chance de se desculpar. - respondi com o rosto tão impassível quanto a voz.

Depois de alguns segundos ele caiu na gargalhada agitando suas mãos em gestos vagos.

- Escute, - ele puxou o ar com força secando os cantos dos olhos. - não se humilhe tanto assim, Clark. Nem mesmo um bofe como você devia se menosprezar tanto.

- O quê? - murmurei confuso.

- Vir até com a esperança de me intimidar? - ele continuou e caiu na risada mais uma vez. - para quem diz ser um cara brilhante você parece ser muito...

- Eu não quero ouvir suas ofensas. - disse, asperamente. - Elas não me interessam.

- Bem, o que eu posso fazer? - ele levantou as mãos e se inclinou um pouco. - Foi você que veio atrás de mim, não foi?

Que maldito humor ácido. Eu queria fazê-lo pagar por todas suas palavras.

- Eu não sou um homem de promessas vazias, - meus olhos brilharam com desafio. - foi bom te ver Kent Parker.

Levantei da mesa e dei um tapinha em sua cabeça. Ele espantou minha mão em um piscar de olhos e se levantou, seguindo-me.

- Quem você acha que é? - ele caminhava em passos rápidos tentando me acompanhar.

- Clark Nicholls, CEO da...

- Não. - Kent parou de andar e levantou um dedo, olhei para ele e vi que estava pintado de roxo. Arqueei as sobrancelhas e ele corou escondendo a mão no bolso de sua calça. - você é Clark O Idiota Nicholls, CEO de Merda Nenhuma.

- Não. - bufei e me senti infantil por estar discutindo com um universitário no meio de uma multidão. - Eu sou Kent Patético Parker, CEO das Roupas Mais Ridículas Do Mundo...

- Não... - ele começou mais o interrompi.

- Agora, sou Clark Nicholls e minha resposta é "Vai se foder". - girei nos calcanhares, andando em direção a saída.

- Vai se foder você! - ele grita. - Dê uma boa tarde para seus clientes, seu gigolô de merda!

Assim que pisei na grama verde me permiti soltar um gargalhada. Oque tinha acontecido ali? Porque sempre que eu encontrava Kent nós discutíamos? Mas a pergunta que mais rondava minha cabeça era onde estava o Kent de dias atrás? O Kent que dançou com uma idosa. O Kent que foi gentil e engraçado comigo? O Kent que eu quis beij...

Não. Nada disso, Clark. Tudo oque Kent Park precisa de você é a vingança e ele a terá. Fria e com um gosto muito, muito amargo.

E foi aí que eu tive minha primeira idéia.

- Kessia? - murmurei e após ouvir minha secretaria suspirar do outro lado da linha, repreendi a mim mesmo. Kanye, idiota, Kanye. - cancele todos os meus comprimissos de hoje.

- Como quiser, senhor. - ela murmurou e então tossiu. - e senhor, um homem chamado Kent Parker deixou quinze recados.

Ergui um sobrancelha enquanto o vento soprava meu cabelo.

- E o que dizia eles?

Ela pareceu surpresa por eu ter perguntado. Bem, era minha caixa postal, minha empresa, meu telefone, minha linha e eu tinha todo o direiro de saber.

- Bom... - ela engoliu em seco. - em cada mensagem ele dizia como iria mata-lo...

Oh-oh. Kent Parker estava furioso. Interessante.

- Desvie as mensagens para meu e-mail, Kanye. Isso é tudo, obrigado.

- Sim, senhor. - ela parecia feliz e sem dúvida era por eu ter acertado seu nome.

Encerrei a chamada e coloquei o celular no bolso, caminhando até meu carro. Antes de voltar para casa, passei no Supermercado e comprei massas prontas para Wafles e depois passei na casa de Jason, mas era evidente que ele estava ocupado demais se distraíndo com a presença de Suzy que nem ao menos me percebeu. Suzy parecia ser o Sol que iluminava todos os seus dias, e eu a parabenizei por isso, pois poucas garotas conseguiam conquistar o coração duro de Jason. Quando cheguei em casa Kent já estava na cozinha cantarolando - Mercy - em voz baixa. Apesar da música estar bem baixa a voz de Shaw Mendes não deixava de mergulhar pela casa e um cheiro delicioso de bolinhos encheu cada canto da cozinha. Fui direto para o quarto tentando evitar qualquer tipo de confronto com Kent, e por mais que a idéia de vê-lo furioso fosse tentadora eu ainda tinha amor a vida.

Quando me deixei em minha cama, peguei meu notebook e abri minha caixa de e-mails. Havia vários áudios de Kent e eu os cliquei rapidamente, ansioso para ouvir.

"Clark Nicholls, seu estúpido poço de coisas ruins!" Ele gritou e eu abaixei um pouco o volume "Você é tão... tão... tão insuportável! Tão... babaca! Eu quero mencionar aqui que sua tentativa de amedrontamento foi péssima e me serviu apenas para me deixar furioso!" E então ele desliga de repente.

"Desculpe a ligação caiu... não, eu não devia pedir desculpas! Você é o errado aqui!" Um suspiro "Você realmente me confunde. Apenas quero compartilhar com você minha agradável vontade de esfaquea-lo" desliga.

"E depois eu o jogaria de um carro em movimento" desliga novamente.

"E o carro seria atropelado por um tanque de guerra trinta vezes" Chamada Encerrada.

"E eu iria pegar seus restos, te reconstruir novamente. Depois iria faze-lo comer um pudim gigante!" Chamada Encerrada.

"E logo depois encheria todos os buracos do seu corpo com milhares de jujubas rosas!"

Antes que eu pudesse escutar a próxima mensagem meu notebook desligou por estar com a bateria esgotada. Soltei um grunhido. Eu mal uso essa porcaria, como pode descarregar tão rápido? Talvez deva comprar outro notebook. Sim, eu definitivamente compraria outro.

Depois mais de quatro horas trancado no quarto, decide me aventurar por lugares perigos e caminhei em passos firmes até a sala. Kent estava lá assistindo tevê com uma concentração assustadora.

- Não... não! - ele sacode a cabeça. - a Megan não pode sair! Ela é a luz nessas trevas!

Olhei para a TV e semicerrei os olhos.

- Oh, Cesária, - dizia a mulher na TV. - você é tão forte! Queria ser exatamente como você!

Olhei para Kent que piscava sem parar, sem desviar os olhos da tela.

- Não se preocupe, Megan! Ninguém vai leva-la aqui! - a tal Cesária agarrou as mãos da supostamente Megan e então uma voz do nada disse "Mas o que Cesária não esperava era que Luís Alberto voltasse para acertar contas do passado!".

- O Luís Alberto voltou! - Kent pulou do sofá e agarrou seu celular, digitando furiosamente. - Suzy! Suzy! O Luís Alberto voltou! - uma pausa. - ah, pouco me importa se são 20h da noite! - ele gritou e fez mais uma pausa para escutar. - e também não me interessa se você está no seu curso de administração!

E então ele desligou de repente virando-se para mim com uma careta indignada.

- Dá para acreditar nisso? - bateu os cílios. - Eu, em toda a minha magníficencia sendo tro-cado...

- Eu não acredito é na sua maneira de soletrar. - franzi o cenho andando até o balcão, e em cima dele - como eu imaginei - estavam os Wafles de Kent. Ele piscou para mim.

- Não toque nos meus bebês. - ele chiou ameaçadoramente.

Levantei as mãos em sinal de rendição e ele pareceu relaxar um pouco.

- Vou tirar meu sono da beleza. - anunciou ele. - não tente nada estúpido.

- Ou você vai me esfaquear, me jogar de um carro em movimento que irá ser atropelado trinta vezes por um tanque de guerra. E depois o que mesmo... - coloquei a mão no queixo pensativo. - ah, sim, irá me recontruir e tampar meu "buracos" com jujubas rosas?

Kent passou de branco - sua cor natural - para um vermelho intenso. E então ele levantou a mão e me mostrou seu dedo do meio.

- Oh, Parker estou cho-ca-do! - afinei minha voz. - Que bofe mais indelicado.

Depois que Kent entrou em seu quarto com direito a bater a porta e tudo, corri até o meu e peguei a sacolas de compras que eu tinha feito. Tirei tudo e coloquei em cima do balcão lendo o modo de preparo no lado de trás da caixa de massa. Depois de seguir toda a receita colocando alguns ingredientes á mais como; detergente, sal, canela, mel, e ketchup - coloquei os Bolinhos Monstros no forno e escondi a caixa de Kent, trocando os dele pelos meus. Sem dúvida era uma ótima vingança, é uma pena que ainda é a primeira parte do meu plano. Deitei no sofá com um sorriso sombrio no rosto.

Como Luís Alberto, eu também iria acertar minhas contas.