1. Spirit Fanfics >
  2. Sugar >
  3. Sugestão

História Sugar - Sugestão


Escrita por: HolySaint

Notas do Autor


Olá, gente o/
Primeira fic original minha, e primeira aqui no SS. A história está sendo postada também no Nyah, qualquer coisa fora disso é plágio e, também, crime. Estou de olho.

Espero que curtam a fic e sintam-se à vontade para mandar um feedback, positivo ou negativo, ambos são muito bem vindos e necessários.

Capítulo 1 - Sugestão


Assim que entrou em casa, Valentina sentiu o conhecido amontoado de papéis ao seus pés. Mais e mais envelopes chegavam, todos trazendo as mesmas palavras cheias de cobranças e ameaças. Ou ela os pagava aquele mês, ou seriam obrigados a tomar medidas judiciais para resolver a situação. Recolheu as cartas do chão e encaminhou-se logo para o andar de cima.

Abriu suavemente a porta do quarto do pai e viu que ele dormia tranquilamente. Ou tão tranquilamente quanto alguém em fase terminal devido ao câncer poderia estar. Foi direto para o quarto, notando a ausência do irmão. Davide provavelmente havia saído com os amigos novamente, e ela não podia culpá-lo de verdade - o clima na casa não era exatamente feliz. Serena, a irmã do pai, e maior responsável por cuidar de sua saúde, provavelmente também já estava adormecida. Sua responsabilidade na casa era, possivelmente, a mais exaustiva.

Valentina foi até o quarto e jogou os envelopes na pequena cômoda ao lado da cabeceira de sua cama, onde se juntaram a vários outros que já pereciam ali. Tirou as pesadas botas e se jogou na cadeira de frente para sua mesa. Era hora de enfrentar a rotina noturna que sempre a deixava consciente demais de sua difícil situação.

Pegou a calculadora e o seu caderno de anotações financeiras, que estava sempre atualizado. Anotou os ganhos do dia, incluindo cada centavo das gorjetas que havia conseguido com o serviço de garçonete durante o dia e os poucos euros que conseguira trabalhando como babá aquela noite. Ao final, fez o somatório da semana até aquele dia. O resultado não lhe agradou. O que havia ganho até aquela quinta feira não era nem suficiente para pagar os juros pelo atraso no pagamento da primeira parcela da dívida com o hospital, e era uma quantia ridícula se comparada ao valor total que era devido.

A tristeza e preocupação que chegavam toda noite se acomodaram sobre ela como uma massa compacta espalhando-se por seu corpo e, também, por sua mente. Valentina não sabia quanto tempo mais conseguiria lidar com aquilo. Não se arrependia em momento nenhum de ter contraído a dívida, pois a retirada do tumor do pai lhe dera mais alguns meses de vida confortável. Mas agora, com ele novamente debilitado sobre uma cama, com o tempo praticamente contado, como se fosse algo que se aproximava de um prazo de validade, tudo parecia ter menos sentido.

Será que deveria ter esperado atendimento nos hospitais públicos, ao invés de recorrer rapidamente a um hospital particular? Agora ela e o irmão seriam deixados à própria sorte, sem ambos os pais e com uma dívida de milhares de euros para pagar com seus empregos de garçonete e segurança de boates. Pelo menos, tinham um ao outro e à tia – era a única segurança que poderia considerar.

Com a cabeça cheia de preocupações, tomou um banho quase robótico e voltou ao quarto, jogando-se na cama de imediato. Sabia que tinha que dormir cedo, já que seu turno na lanchonete no dia seguinte começava logo cedo pela manhã, mas não conseguiu relaxar o suficiente. Resolveu, então, encontrar alguma distração até que o sono chegasse e a retirasse daquele mundo de tensão e preocupações.

V: Lucca, tá podendo falar?

Mandou a mensagem para o melhor amigo, esperando ansiosamente que ele estivesse desocupado. Alguns minutos depois, a resposta chegou.

L: Mais ou menos. Tô tentando terminar um projeto da faculdade pra amanhã. Aconteceu alguma coisa?

A mensagem dele apenas a relembrou sobre mais um ponto delicado em sua vida, quando teve que largar os estudos devido aos crescentes gastos com a saúde do pai.

V: Não é nada sério... é só que tava pensando em como vou conseguir pagar tudo sem me enrolar mais. Eu não tenho nem esperanças com meu salário de agora.

 

L: Quer que eu te ligue?

 

V: Não, não precisa. Só quero falar um pouco. Tô um pouco desesperada.

 

L: Vai dar tudo certo, Val. Eu entreguei seu currículo na empresa, acho que podem te chamar pra uma entrevista esses dias.

 

V: Eu não acho... não é querendo ser pessimista, mas acho difícil me chamarem pra qualquer cargo lá. Eu não tenho nem o diploma.

 

L: Você sabe que pra qualquer emergência eu estou aqui né? Não tenho muita coisa, mas não me importo mesmo de ajudar.

 

V: Eu sei Lucca. Obrigada por isso. A gente não tá passando necessidade, ainda tá tudo parecendo normal. Só as coisas tão se acumulando por trás.

 

L: Eu sei... Mas sei também que você vai arranjar um modo de lidar com tudo isso. Sempre foi assim. E eu vou estar sempre aqui com você.

 

V: Eu sei. Te amo muito, obrigada por tudo. Vou te deixar com seus trabalhos aí, tenho que dormir logo também.

 

L: Vai lá então. Te amo mana.

 

Falar com ele a deixou mais tranquila, como sempre acontecia. Conseguiu, enfim, sentir a lentidão se aproximar e usufruiu de uma noite de sono pesado.

 

Acordou com o barulho alto do despertador às seis horas da manhã seguinte. Tomou um rápido banho, vestiu o uniforme e foi ao quarto do pai. Novamente, ele estava dormindo.

- Pai? Acorda. – Ela o cutucou.

Ele não se moveu. Essa apatia dele no começo a assustava, mas hoje sabia que era apenas o efeito dos pesados remédios que tomava para se anestesiar da dor nos ossos devido ao câncer. Ele se remexeu muito de leve na cama, e abriu os olhos sonolentos, embaçados pelo sono excessivo.

- Bom dia, pai - ela o beijou carinhosamente na testa – toma esse aqui.

O pai sorriu fracamente, revelando a boca suja e os dentes amarelados. Engoliu precariamente a pílula e logo cedeu novamente sobre o colchão.

- A tia Serena deve acordar daqui a pouco e vai te limpar, está bem? Não tenho como cuidar disso agora.

Ele novamente sorriu e acenou brevemente com a cabeça, deixando os olhos se fecharem novamente. Provavelmente nem a havia escutado.

Ela saiu silenciosamente do quarto. Desceu as escadas, tomou rapidamente uma xícara de café e comeu um pretzel, indo em direção à porta com pressa. Ainda tinha cerca de uma hora para chegar ao trabalho, às oito horas.

Assim que saiu de casa, viu Lucca sentado na entrada.

- Lucca?

- Oi. Precisamos conversar. – Havia no tom de voz do amigo uma empolgação e receio que, juntos, pareciam que iam explodir nos olhos vívidos dele.

- Aconteceu alguma coisa?

- Mais ou menos – ele fez uma pequena pausa, enquanto olhava para a pequena praça em frente. – Vamos andando, te explico no caminho.

- Você não tinha um trabalho para entregar hoje? – Valentina questionou. O amigo morava próximo à faculdade, e para chegar ali, havia andado na direção contrária.

- Tinha, mas o professor passou para daqui a duas semanas. Fiquei acordado à toa. Agora para de me questionar e vamos logo, ou você vai se atrasar.

Os dois caminharam em direção à entrada da estação de metrô, na esquina do apartamento de Valentina. O bairro em que morava, San Giovanni, era de classe média, mas consideravelmente bem localizado, fruto da herança de seu avô paterno.

- E então? Me conta logo o que foi.

- Eu não sei como dizer sem soar ofensivo – disse Lucca com o rosto inexpressivo.

Valentina riu.

- Meu Deus, é assim tão sério? Você sabe que é preciso muita coisa para me ofender de verdade.

Lucca sorria de volta, mas ainda evitava olhá-la diretamente.

- Ah não... Não vai me dizer que quer sair comigo, né? Porque isso realmente seria ofensivo.

Lucca riu, mas ficou sério de repente.

- Eu acho que sei um modo de você conseguir dinheiro para pagar suas contas.

Valentina o olhou desconfiada.

- Eu não vou me prostituir, se é o que está sugerindo – brincou enquanto passava pelas catracas do metrô.

Apenas quando estava do outro lado, percebeu que Lucca havia ficado para trás. Esboçava no rosto uma expressão que variava entre o divertimento e a apreensão.

- Lucca? É sério?

 Ele passou pelas catracas finalmente, se aproximando dela novamente.

- Não, não é isso. Mas é parecido.

Ela tentou olhá-lo para estudar sua expressão, mas a intensa movimentação na estação os separou por alguns instantes.

Quando se reuniram, já prontos para embarcar, ele continuou.

- Me deixa explicar tudo de uma vez. Não me interrompe, mesmo que pareça estranho.

- Ok.

Lucca respirou fundo, como que se preparando para um sermão.

- É o seguinte. Ontem depois que nos falamos, fiquei meio distraído com o celular e acabei chegando a lugares questionáveis na internet... Não faz essa cara, Val. Enfim... Você sabe o que é uma sugar baby?

- Posso falar?

- Para de palhaçada.

- Não, não sei.

- A definição varia um pouco... Mas, de modo geral, uma sugar baby é uma jovem que tem um tipo de acordo com um homem mais velho em troca de presentes, uma quantia em dinheiro, mimos e tal. Não necessariamente envolve sexo, então não é como se fosse prostituição... Certo?

- Lucca, eu nem sei se entendi direito, você relativizou tudo. É tipo isso, mas sem isso, aí pode ter isso, mas é só às vezes. – Val falou entre risos, imitando a voz grave do amigo.

- Confesso, posso ter sido meio confuso. Mas deu para pegar a ideia geral?

- Deu, deu sim. Uma sugar baby é uma mulher que sai com um cara velho em troca do dinheiro dele. Não vejo a diferença entre isso e prostituição.

- Não é tão simples, Val. Quando o cara contrata uma prostituta, ele transa com ela e vai embora, depois de pagar a hora ou dia, sei lá. No caso da sugar baby, o cara, que é chamado de sugar daddy, quer um tipo de relacionamento. Só que geralmente são caras super ocupados, que querem pular aquela parte toda de ficar conquistando a pessoa, querer ir logo para a parte em que agem como um casal.

- Aí ele a conquista com presentes? – O metrô chegou, e os dois se esmagaram contra a multidão de pessoas que já se aglomerava ali.

- Isso. Eles gostam de poder mimar uma pessoa, e de ter alguém jovem e bonita ao lado, que eles talvez não conquistariam de outro jeito. Tem muitos benefícios, na verdade.

- Você passou a madrugada lendo sobre isso? – Val se divertia com o interesse do amigo. Lucca sempre fora muito curioso, e geralmente se empolgava demais com tudo de novo que conhecia. Até que surgia outro algo novo e ele rapidamente deixava o interesse passado para trás.

- Sim, passei. Mas o ponto não é esse.

- Eu sei, o ponto é que você acha que eu devia virar uma sugar baby e ficar sugando um velho para ser bancada.

- Eu já disse que o sexo não é obrigatório.

- Eu não quis diz-

- Eu sei, Val – Foi a vez de Lucca rir. - O que estou dizendo é que realmente acho que você podia tentar. Imagina. Você sai com um ricaço desses, vocês vão se aproximando. O cara te dá uma mesada, você já passa a ter uma renda maior que a da lanchonete. Ele é provável que vire seu amigo, ou ao menos guia em relação à carreira ou algo do tipo, já que ele deve ter muito mais experiência que você e é bem sucedido. Sexo é opcional, vocês que decidem sobre isso. E, o melhor, é uma coisa discreta. O sugar daddy não quer que as pessoas saibam que ele está de certa forma comprando a sua companhia, então a não ser que realmente vire uma coisa séria, nem deve ser algo muito público. Até porque o círculo social de um deles, com certeza não é o nosso.

- Você faz tudo parecer muito deprimente.

- Não é, cara. Val, pensa comigo. São caras ricos de verdade, que simplesmente gostam de dar dinheiro em troca de uma boa companhia. Você teria dinheiro para pagar as parcelas do hospital, quem sabe até para continuar a faculdade. Na verdade, li um monte de depoimentos de sugar babies falando que essa foi a motivação delas.

- Você realmente está levando tudo isso a sério, não é?

- Claro, estou falando disso há meia hora. Já estamos quase na sua estação. O que você acha?

- Eu nem considero um negócio desses, Lucca. Além de que eu ainda desconfio que existam caras que não exijam sexo, como eu vou arranjar um desses? Eles devem só querer as mulheres mais bonitas, mais bem sucedidas, que sejam acompanhantes à altura.

- Para de drama, você sabe que é gostosa.

- Lucca, é mais que isso. Não basta ser bonita... eu provavelmente nem tenho uma roupa adequada para ir num encontro com alguém assim.

- Tem mesmo não, mas é uma questão de investimento. Você teria que gastar alguma coisa com sua aparência, ficar com cara de rica.

Val riu, divertida com a honestidade do amigo.

- E eu vou tirar dinheiro de onde? Ficar me arrumando é um luxo que não tenho.

- Bem, eu já pensei nessa parte também. Você sabe que eu tenho um pouco de dinheiro guardado.

- Não – Val freou a ideia do amigo enquanto descia do metrô, com ele colado a seus calcanhares. – Já tem anos que você está economizando para fazer sua viagem, eu nem tenho coragem de pegar nada seu para fazer um negócio que nem deve dar certo.

- Calma. Se você não quer me deixar te ajudar em troca de nada, vai me pagando depois aos poucos, eu não vou usar esse dinheiro nem tão cedo. É sério.

- Eu nem estou realmente considerando fazer isso, Lucca.

Se aproximaram da lanchonete onde Val trabalhava, e Lucca diminuiu o passo.

- Olha, não vou te perturbar com isso mais agora, vou deixar o resto de meus argumentos para amanhã. Só te peço para ao menos considerar, está bem?

Relutante e apressada para começar logo o turno na lanchonete, Val respondeu.

- Ok. Prometo que vou passar o dia pensando nisso. À noite eu te dou uma resposta.

Lucca a olhou levemente assustado, mas divertido com a missão que seria convencê-la de se tornar uma sugar baby.

- Então quando você estiver chegando em casa, me avisa, que eu te encontro lá e a gente conversa direito.

- Aviso sim. Tenho que ir agora. Obrigada pela companhia e pela ideia maluca.

Val deu um rápido abraço no amigo e correu para a porta dos fundos da lanchonete, com a mente cheia de questionamentos. Achava tudo aquilo muito mais engraçado do que alarmante, considerando que tinha sido a solução encontrada pelo amigo para resolver seus problemas. Quem dera fossem eles assim tão simples.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Deixem um comentário, façam uma autora feliz :)
Obrigada por terem lido e até mais!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...