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História Suicidal - Capítulo Único


Escrita por: Renai

Notas do Autor


— Essa oneshot é baseada em um fato real que aconteceu na China, ainda assim diante das alterações, é de minha total autoria;
— Não há relação homossexual entre Justin e o personagem do Troye;
— Me envolvi cem por cento nisso, mesmo que seja apenas um capítulo, sendo assim, houve pesquisas e experiências pessoais;
— A ideia de que o curto enredo envolvesse Justin e Troye Sivan foi do Eduardo, dessa forma ele acabou me ajudando muito a desenvolver a ideia. Dedico essa oneshot a ele e agradeço pela ajuda com as opiniões;
— A parte toda destacada em itálico, é a carta de suicídio que Justin escrevera.

Tenham uma boa leitura!

Capítulo 1 - Capítulo Único


Fanfic / Fanfiction Suicidal - Capítulo Único

Quinta tentativa, quinta carta.

Sou taxado como egoísta todas às vezes em que comento o fato de que morrer é a única solução para essa dor incurável em meu peito. Pensei dessa forma durante algum tempo, mas após minha última tentativa falha, finalmente entendi que não, os grandes egoístas são vocês. Não estou reclamando e nem quero que interpretem dessa forma, no entanto, recordo que quando tinha dezesseis anos e fui hospitalizado após ter uma overdose de remédios, fui visitado por papai que saiu do trabalho às pressas para ir me ver e sua mais natural reação após voltarmos para casa, foi gritar comigo, chamou-me de pirralho, imaturo e que merecia ir ao inferno por trazer problemas a minha própria família. A morte seria realmente um problema ou a solução?

Questionei-me durante aquela noite enquanto ouvia meus pais discutirem, falavam sobre me colocar em um colégio interno ou me levar para morar com minha avô já que parecia ser a única a ser paciente com meus "dramas". Não sei em que momento percebi que precisava de ajuda, entretanto o fato é que nenhum de vocês perceberam isso.

Um suicida não precisa de críticas, precisa de abraços, pessoas que realmente se importam e até um "eu te amo" às vezes cai bem. A ironia em minha vida é que após minha segunda tentativa fui diagnosticado com depressão e levado a um psiquiatra. A única pessoa em que pensei que podia confiar e contar todos os meus problemas olhou para mim e disse: "— Garoto, olhe ao seu redor, existem pessoas com problemas piores do que levar um fora da namorada ou sofrer bullying". É um fato, todavia, a profissão dele seria me ajudar, certo? Ainda não entendo porque tenho que absorver a dor de outras pessoas quando tenho a minha me fazendo companhia noite e dia. Não é drama, não sirvo para isso, apenas estou farto de as pessoas acharem que sabem de tudo, mas não sabem.

Sou um jovem que teria a vida inteira pela frente — como mamãe costuma dizer —, porém, perdi os motivos para levantar da cama de manhã e enfrentar o mundo.

Sou chamado de monstro pelas pessoas aos meu redor, acham que sou insensível pela minha ignorância, acreditam que crio brigas por ser adolescente e não ter autocontrole, acham que minhas tentativas de tirar minha própria vida não é nada mais do que querer chamar atenção. Eu não sou um monstro, apenas estou machucado e ninguém percebe isso.

Eu amo todos vocês do fundo do meu coração, mesmo diante de tudo, apesar da raiva que senti diversas vezes por sempre estarem me criticando e nunca ao menos tentarem me ajudar. Nunca recebi uma mão para me levantar e mostrar que a vida ainda pode ser boa, mesmo que agora não encontre motivos. Não é passageiro, porque se realmente fosse, durante esses dois anos teria encontrado a droga de um propósito ou alguém que simplesmente entendesse o que sinto, sem pressão, simplesmente queria algo para tirar todo esse sofrimento da minha vida e ter meu renascimento. 

Saibam que não foi fácil tomar uma decisão tão drástica, tenho certeza que doeu despedir-me de vocês, familiares e amigos, mas quero que tenham a visão que estou melhor agora, finalmente encontrei a paz que tanto queria.

Com todo o amor,

Justin

 

Leio a carta pela última vez antes de colocá-la em um envelope dentro de meu armário escolar. Decidi que essa seria a melhor forma de saberem o que eu sentia, provavelmente após o anúncio de minha morte irão desocupar meu armário e alguém terá que achá-la. 

O sinal toca declarando que é nossa deixa para ir para casa, e no meu caso, a hora de me despedir de meus amigos e de Teresa, uma garota com que estou saindo. Ela é divertida, engraçada e principalmente, muito bonita. É egocentrismo saber que apenas decidi aproximar-me dela para descobrir se o que tenho é solidão, a falta de um amor poderia me salvar de mim mesmo, entretanto, não preencheu o vazio que fez moradia em mim. Não a culpo, é atenciosa, todavia não é o tipo de paquera que pode ir mais além, possivelmente também está me usando para não se sentir sozinha.

O corredor se enche de alunos em questão de segundos, respiro fundo pensando que dessa vez não vou anunciar minha tentativa, apenas irei fazê-la.

Teresa é a primeira a aparecer saindo de sua aula de cálculo, da qual decidi por não ir. Cumprimenta-me com um doce beijo e ouço Oscar fazer um comentário ridículo sobre nós dois. Ele é o famoso "valentão", pega no meu pé a quatro anos e apesar de meus amigos acharem que sente inveja de mim, penso que faz parte dos garotos que se aproveitam dos mais fracos para se sentirem superiores. No fim, imagino que seja um cara muito mais triste do que eu.

— Por que queria que nos encontrássemos aqui? — Henry questiona assim que se aproxima junto aos dois garotos e as três garotas.

Olho para cada rosto como uma forma de me despedir, parece que flashs se passam em minha mente dos momentos bons que tivemos, são pessoas legais, só são orgulhosos demais para enxergar o outro.

Não tenho o que dizer, para ser sincero, apenas queria poder abraçar todos eles e logo depois mandá-los se foder por serem como são.

Mas ao invés disso, respiro fundo e tento iniciar um discurso:

— Eu queria poder dizer que toda dor é passageira e que pode ser facilmente retirada com água — o que acho que pode funcionar para mim —, porém sou a prova de que isso tudo é bobagem. Poderia culpá-los por nunca terem tentado me ajudar, por terem me assistido sangrar durante todos esses anos e manterem os braços cruzados aguardando minha morte. Não os culpo. Cada um tem sua vida de certa forma agradável demais e se não me telefonam durante as férias, por que podia esperar que se sentariam comigo para tomar um café e ouvir o que tenho a dizer? — Forço um sorriso e noto o rosto de alguns ganhar um tom avermelhado, quase como se estivessem prestes a chorar. — Mas não posso ser egoísta, sei que o que me fez aguentar a escola foi o fato de vir até aqui e encontrá-los. Então muito obrigado por serem meus amigos e por terem sido de alguma forma um motivo para que pudesse levantar de manhã. Eu amo vocês. 

Pierre que é meu melhor amigo é o primeiro a se aproximar e me abraçar, logo os outros se aproximam formando um abraço em grupo. É bom sentir esse afeto vindo deles, só gostaria de ter tido isso antes.

 

O caminho para a ponte Golden Gate é longo, é um ponto turístico da Califórnia e uma das sete maravilhas do mundo. Escolhi aqui para ser o último lugar em que serei visto vivo porque: 1) a visão que se tem da ponte é linda, seria uma ótima última memória para mim; 2) ao me jogar irei cair na baía, o que me garante uma morte rápida e sem chance de sobrevivência e 3) a probabilidade de alguém me impedir é curta, normalmente é cercada de turistas e se alguém te ver passando da grade, provavelmente irá achar que só quer ter uma visão mais próxima. Mesmo sendo um local comum para se cometer suicídios, muitas pessoas só sabem olhar para o próprio umbigo e é isso que com certeza causa dor maior em quem pensa em ir até lá para isso. Um simples "eu me importo com você" poderia ter salvo diversas vidas, mas a verdade é que ninguém está preocupado com isso.

Sinto-me dessa forma enquanto em meio ao pranto caminho até o lugar que me parece ser o mais fundo. A sensação de que essa dor vai ter um fim é de certa forma boa, no entanto, lembrar de tudo o que meus pais e amigos diziam quando pedia por socorro é doloroso.

Sou um problemático, dramático, revoltado, um monstro. Sou a ovelha negra da família, o antissocial idiota e egoísta. Nem me lembro da última vez em que fiz algo e ouvi minha mãe dizer que estava orgulhosa de mim, é sempre "você podia fazer melhor", acho que minha vida toda foi assim. 

Eu quero paz, quero me sentir livre e saber que posso ser quem sou sem ter amigos apontando o dedo e dizendo que é errado. Quero sentir qualquer outra coisa que não seja dor. Talvez o máximo de liberdade que sentirei será quando meu corpo se chocar com a água.

O vento bate em meu rosto, sinto que é minha hora. Respiro fundo e olho ao redor antes de pular a grade. 

A visão é de uma neblina e montanhas, sorrio por perceber o quão belo é.

De olhos fechados e braços abertos, recito para mim uma poesia de Pietro Metastásio, um último desabafo:

— "Não é verdade que a morte / é o pior de todos os males, / é um alívio dos mortais / que estão cansados de sofrer."

Com o vento forte batendo em meu corpo, dou um último suspiro, antes de relaxar e sentir braços me puxando de volta a grade.

Um rapaz de olhos azuis e cabelos cacheados. Tento reagir a sua tentativa de me impedir, entretanto, afasta suas mãos e mostra corte em seus pulsos. Fico em choque, tudo o que precisava era de alguém que entendesse o que tanto me incomoda e meio que por acaso, encontrei.

— Eu não sei o que está acontecendo para ter chegado ao ponto de tirar sua própria vida, todavia, espero que saiba que não está sozinho. Há dois meses estive aqui para fazer a mesma coisa que você e um garoto me impediu, agora somos namorados. Acredite em mim: a morte não é a melhor solução. Tudo pode melhorar daqui para frente. Saiba que me importo com você, mesmo que não tenha esse sentimento por si próprio. — Como em questão de segundos caio em lágrimas novamente, tudo o que precisava ouvir foi dito por um desconhecido, algo que minha própria família podia ter feito. Ele me envolve em seus braços e não nego o abraço, de uma forma estranha, essa é a primeira vez que senti algum conforto em anos. — Reavalie sua vida e ignorando toda a dor se pergunte: minha vida tem mesmo que acabar assim?

Não, ela não tem.


Notas Finais


Resolvi não estender porque quero passar a mensagem de que é possível SIM deter um suicídio, não importa o quanto a pessoa diga que não quer mais viver ou de que nada a fará mudar de ideia. São registrados mais de dez milhões de casos de suicídio por ano e boa parte deles podiam ter sido evitados com um simples "eu me importo com você" ou "me diga o que sente, estou aqui para te ouvir". Como disse, me envolvi cem por cento nisso e diante dos documentários e relatos reais pude sentir que uma conversa pode fazer maravilhas para alguém que está nesse estado.
Foi emocionante para mim escrever essa oneshot e espero do fundo do coração que tenham gostado.


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