Já havia três horas que estávamos naquela sala de espera. As pessoas passavam de um lado para o outro e nos encaravam com um olhar estranho, provavelmente por causa de nossas roupas, mas eu estava pouco me fodendo para isso, a única coisa que me preocupava era o estado da Candice.
Chaz andava de um lado para o outro, passava as mãos pelos fios rebeldes de seus cabelos e encarava o relógio. Faltava pouco furar o chão. A impaciência dele estava me deixando ainda mais irritada e preocupada, mas quem sou eu para falar alguma coisa?
Ninguém dava noticia, ninguém dava as caras. Dos médicos que levaram Candy nenhum deles voltou para dar noticias. Nem mesmo um enfermeiro. O que me preocupava também era o resto do pessoal, ninguém havia ligado, ou coisa do tipo, eu estava totalmente sem noticias.
Levantei do sofá e caminhei até Chaz, o mesmo estava totalmente desnorteado e se assustou quando encostei em seu ombro.
―Eu vou lá fora tomar um ar fresco. ― falei.
Ele apenas assentiu. Caminhei até o exterior do hospital e sentei no meio fio. Minha cabeça estava doendo, assim como todo o meu corpo, era uma fadiga fora do normal. Mas eu tenho que permanecer firme, não posso vacilar, pois existem pessoas em situações piores que as minhas e precisando da minha ajuda. Olhei para um dos lados e vi a ambulância que nos trouxe estacionada e do lado de fora um cara de branco. Deveria ser um dos peões.
Levantei do meio fio e caminhei disfarçadamente até a ambulância. Quando cheguei perto do cara e toquei seu ombro o mesmo se assustou e quase engoliu o cigarro que tentava acender.
―Você teve noticias dos outros? ― fui objetiva.
―Não senhora. ― jogou o cigarro no chão e o apagou com o pé.
―Pode fazer contato com um deles?
―Vou tentar fazer contato com um dos seguranças. ― assenti.
Ele se afastou e pegou o telefone discando algum numero. Fiquei parada esperando impacientemente um parecer. Mas só depois de cinco minutos que eu o recebi. O peão se aproximou de mim novamente e me encarou.
―Um dos nossos falou que os patrões estão vindo para cá. Eles passaram na casa para esconder tudo e trocar de roupa.
Respirei mais aliviada.
―Você ainda está com um deles na linha?
―Não, senhora.
―Ok. ― bufei.
***
Eu ainda estava do lado de hora do hospital quando vi os carros se aproximando. Eles estacionaram alinhadamente e desceram dos carros. Justin foi o primeiro a correr ao meu encontro.
―Você está bem? ― perguntou enquanto me abraçava.
―Sim. ― respondi cansada. ― Ai. ― reclamei.
―O que aconteceu? ― se afastou.
―Meu ombro dói. ― fiz cara feia.
―Por que você ainda não viu isso? Você está nessa porra de hospital para que? ― foi ríspido.
―Menos, Justin. Eu estou aqui pela Candy. Tá legal? ― falei no mesmo tom.
Ele bufou alto e passou as mãos pelo rosto.
―Ok. ―Relaxou os músculos. ―Vamos para o carro, trouxe roupa para você.
Assenti e o acompanhei até um dos carros. Entramos no mesmo e fechamos a porta.
―Cadê a roupa? ― logo falei.
―Aqui. ― me entregou uma pequena mala.
A pequei e passei para o banco de trás. Fui tirando a roupa com cuidado, meu ombro doía pra caramba e eu não estava nem um pouco a fim de piora-lo.
―Você tem noticias da Candice? ― me encarou pelo espelho retrovisor interno.
―Não. ― fiz cara feia. ― ninguém disse nada. ― gemi. ― acende a luz, por favor. ― pedi.
Ele acendeu e eu quase tomei um susto ao olhar para meu ombro.
―Droga. ― falei.
―Eu avisei. ― ele olhou para trás.
―Não começa Justin. Agora não é hora nem lugar. ― bufei.
―Faz o seguinte. ― tirou a jaqueta. ― veste essa blusa. ― ele tirou a blusa azul que estava vestindo. ― Não vai te machucar. ― a jogou para mim.
―Valeu. ― agradeci.
―Não sei como vocês, mulheres, conseguem vesti roupas tão apertadas. ― me encarou pelo espelho retrovisor interno, enquanto vestia a jaqueta apenas. ―Vocês ficam gostosas, mas isso é de outro mundo. ― riu.
―Você vai ficar só de jaqueta? ― perguntei enquanto vestia sua blusa.
―Vou. ― deu de ombro. ― não dá para eu vesti essa sua blusinha apertada. ― riu fraco. ― por quê?
―Não quero que você ande assim. ―acabei de ajeitar a blusa. ― há mulheres naquele hospital e vão ficar te olhando. Seu corpo não passa despercebido pelos olhares femininos. Na verdade, você não passa despercebido.
―Tá com ciúmes é? ― riu de lado.
―Tô, qual o problema? ― o encarei.
Balançou a cabeça negativamente e abriu a porta do carro saindo logo em seguida. Não dei bobeira e sai também.
―Já falei. ― o prensei contra o carro. ― tenho ciúmes do que é meu. ― ele sorriu cafajeste.
―Ui. ― debochou.
Eu o olhava com um olhar psicopata. Fechei a jaqueta com força quase o enforcando, logo depois abaixei um pouco o fecho. Ele me olhou um pouco assustado, mas isso logo mudou quando colocou um sorriso debochado nos lábios.
―Assim está melhor. ―sorri sem mostrar os dentes.
―Você é louca. ― riu e tentou se afastar do carro.
―A onde você vai? ― o prensei contra o carro novamente. ―Tá faltando uma coisa.
Não respondi o que era, mas fiz melhor, eu o mostrei. O beijei com urgência entrelaçando meus dedos em seus cabelos. Ele como um bom “aproveitador” apertou meus glúteos com força e aprofundou o beijo.
Vi que o negocio estava ficando muito “pra frente” e nos separe rapidamente.
―Agora não é hora e nem lugar. ― passei o indicador sobre seus lábios.
Peguei uma de suas mãos entrelaçando nossos dedos e caminhamos até o interior do hospital.
***
A passos largos chegamos ao interior do hospital, logo na entrada encontramos o pessoal. Aproximamo-nos rapidamente deles.
―Tiveram noticias da Candice? ―Justin perguntou.
―Ainda não, mano. ―Chris respondeu. ―Chaz está uma pilha de nervos. O cara não diz uma palavra.
―Essa demora não deve ser algo bom. ― falei.
―Também acho. ― Vick concordou.
―Bom, eu vou à emergência com a Ly. ― Justin falou. ―A burra levou um tiro de raspão no ombro e até agora não cuidou do ferimento.
―Burra é sua bunda. ― dei um soco em seu braço.
Justin revirou os olhos e foi me puxando até a enfermaria. Quando chegamos à ala desejada fomos até uma recepcionista que ali estava.
―Pois não. Em que posso ajuda-lo? ― a recepcionista falou assim que chegamos no balcão.
Porem a pergunta foi para Justin, e não para mim. Ela falava como se eu não estivesse ali.
―Nós fomos vitimas de um assalto, um dos assaltantes atirou e a bala passou de raspão no ombro dela. ― Justin falou da forma mais educada possível. Parecia até outra pessoa.
―Ah. ― ela respondeu com frustração. ― é só seguir por ali. ― apontou para a nossa esquerda. ― há um enfermeiro de plantão.
―Obrigado. ― Justin deu um sorriso forçado.
Caminhamos até a tal sala. Lá dentro era amplo e só havia uma pessoa bem lá no canto. Bati na porta para chamar a atenção.
―Com licença. ― falei.
Um homem alto, moreno de sol que vestia um jaleco branco virou para mim e logo sorriu.
―Pode entrar. ― pediu.
Sorri sem mostrar os dentes. Justin me acompanhou, e é obvio que ele já estava olhado o enfermeiro de cara feia.
―O que aconteceu com você? ― perguntou vindo ao meu encontro.
―Bala de raspão. ― Justin respondeu rapidamente.
―Ah, sim. ― falou. ― sente na maca.
Soltei a mão de Justin, coisa que foi mega difícil, e caminhei até a maca. Sentei e logo em seguida o enfermeiro veio até mim.
―Tire a blusa, por favor. ― pediu.
Justin rosnou.
―É para que ver o ferimento. ― o enfermeiro logo falou.
Fiz o que ele pediu. Apesar de a blusa ficar enorme em mim foi difícil de tira-la. A entreguei para Justin, que já estava grudado na maca.
―Com licença. ― o enfermeiro pediu. Assenti.
Ele desceu a alça do meu sutiã, do lado do ferimento, e começou a passar gaze com soro.
―Ai. ― reclamei.
―Calma, já está acabando. ― assenti.
Ele limpou todo o ferimento e jogou as gazes no lixo.
―Pronto. ― falou. ― poderia prender o cabelo dela? ― olhou para Justin.
O mesmo trincou os dentes e assentiu. Justin pegou meus cabelos e o deu um nó na tentativa de fazer um coque frouxo.
―Muito obrigado. ― agradeceu.
―Não a de que. ― Justin respondeu entre os dentes.
O clima estava pesado naquela sala.
―Agora peço que aquente firme, pois vai doer um pouquinho. ― falou enquanto preparava uma injeção.
Murmurei. Eu simplesmente odeio injeções. Ele aplicou no machucado causando uma dor insuportável. Na tentativa de aliviar mordi meus lábios e apertei os olhos com força.
―Shiuu. Calma. ― falou com voz rouca. ―Já acabou. ― respirei mais aliviada. ― Agora é só esperar alguns segundos para começar fazer efeito. Vou dar alguns pontos você já pode ir.
―Ok. ― confirmei.
A injeção começou a fazer efeito e ele não perdeu tempo e começou a dar os pontos. Isso não demorou, afinal o ferimento era pequeno. Em cinco minutos tudo já havia acabado e eu estava vestindo a blusa novamente.
―Vocês moram na cidade? ― ele perguntou.
―Não. Somos da capital. ―Justin respondeu.
―Ah, sim. Então quando der sete dias você pode retirar os pontos.
―Está bem. Muito obrigado. ― falei.
***
Estávamos andando pelos corredores de volta para recepção, onde provavelmente os outros estavam.
―Não gostei daquele cara. - Justin resmungou. ― Ele ficou olhando para seus peitos.
Bufei alto e revirei os olhos.
―Justin, para de nóia. Ele não estava olhando para meus seios.
―Você que pensa. ― me olhou de canto de olho.
Revirei os olhos e apresei em andar mais rápido. Eu estava muito ansiosa para saber sobre o estado da Candice. Logo que viramos um corredor avistamos os outros, e do lado oposto vinha o medico que levou Candice. Apresei em chegar perto.
―Quero saber quem é o responsável pela paciente Candice Bieber. ― o medico perguntou assim que chegamos.
―Sou eu, doutor. ― Chaz respondeu rapidamente.
―Pode me acompanhar? Precisamos conversar sobre a paciente. ―O medico disse.
―É grave? ― perguntei.
―Prefiro falar com o responsável primeiro. Depois ele dá a noticia para vocês. ― respondeu.
―Posso acompanha-lo? ―Justin perguntou. ― Sou irmão dela.
―Sim, pode. Mas só os dois.
―Vamos parar de enrolação. ― Chaz falou aflito. ― todos somos uma família. Seja qual for a noticia que tem que dar, pode falar na frente de todos. ―Encarou o medico.
―Tudo bem. ― o doutor respirou fundo. ― colocamos a paciente está em coma induzido. Só a tiraremos do coma daqui a alguns dias.
―O que? Mas por quê? ― Chaz perguntou.
―Ela sofreu uma lesão na coluna por causa da queda. Se fosse só isso poderíamos dar um diagnostico mais preciso. Mas a paciente estava gravida e isso muda tudo.
―Como está o meu filho? Diz pra mim que está bem. ― Chaz perguntou desesperado.
―Infelizmente não conseguimos salvar o bebê. Por causa da queda ela sofreu um aborto, por isso o sangramento excessivo. Quando ela chegou aqui não havia nada a ser feito em relação a ele. Eu sinto muito.
Eu não estava conseguindo processar a informação direito, mas o Chaz processou mais rápido do que todos nós. Vi seu corpo estremecer e cair sentado no sofá com a cabeça entre as mãos. Ele olhava somente para o chão, mas dava para saber que ele estava chorando por causa da sua respiração.
―Vocês tem que esperar até ela sair do coma para sabermos o que acontecera. ― o medico chamou nossa atenção.
―Já não basta ela ter perdido o nosso filho. ― Chaz encarou o medico. ― ainda tem mais?
Seus olhos estavam vermelhos, assim como seu rosto, por conta das lagrimas.
―Ela caiu de uma altura muito grande e isso afeitou a coluna. Nós desconfiamos que a medula foi afetada gravemente. Isso pode deixa-la sem o movimento de algumas partes do corpo.
―Mas a lesão foi aonde mais ou menos? ― Ryan perguntou.
―Não dá para saber especificamente. Mas não fui muito em cima. Se ela perder os movimentos será da cintura para baixo.
―E isso pode ser reversível? ― Adam perguntou.
―Não sabemos ainda. Temos que esperar ela acordar para saber. ― assentimos. ―peço que tenha calma e paciência. Eu estarei no hospital, qualquer coisa é só me procurar.
―Ok. ― agradeci.
Ele se afastou e sumiu depois da curva do corredor.
Voltamos nossa atenção para Chaz, mas o mesmo levantou rapidamente e saiu rasgando.
―Deixa que eu falo com ele. ― Donna falou.
Assenti.
―Droga. ― Justin deu um soco na parede. ―Isso é tudo culpa minha. ― bagunçou os cabelos com raiva.
―Calma Justin. Ficar se culpando não vai adiantar nada. ― falei e caminhei até ele.
―Claro que foi, Lilyan. ― me encarou. ― Foi eu quem permitiu que ela entrasse nessa vida. Eu poderia ter impedido. Eu tive duas oportunidades e eu não fiz a coisa certa. ― passou as mãos pelo rosto. ―Que droga.
O encarei sem dizer nenhuma palavra. Confesso que naquela hora eu estava sem o que dizer. Essa não é uma situação em que você passa a mão no ombro da pessoa e diz um “ vai ficar tudo bem.”. Isso é uma mentira totalmente deslavada, pois nada vai ficar bem. Nada nunca fica bem.
―Justin, olha para mim. ―o chamei. Mas ele se negou a olhar. ― Justin, olhe nos meus olhos.
Ele levantou o rosto e me encarou fixamente. Um fenômeno raro estava acontecendo, o grande Bieber estava em seu momento de fraqueza, estava tão indefeso quanto um bebê recém-nascido. Justin estava chorando e tinha medo em sua expressão.
―Não vai adiantar nada ficar jogando a culpa em si próprio. ― Limpei as lagrimas dele com delicadeza. ― Nada acontece por acaso. ― o encarei. ― Se você não tivesse sido cafajeste naquela festa, você nunca teria me conhecido. E se isso não tivesse acontecido nada que nós vivemos, os filhos que tivemos, os amigos que fizemos e a vida que construímos, tudo isso não existiria. ― beijei suas lagrimas. ― Por isso não se culpe, tenha fé que tudo irá melhorar.
Assentiu e me abraçou forte.
―Eu vou está sempre com você. ― sussurrei em seu ouvido. Ele assentiu. ― Temos que ser forte, pois agora quem precisa de nossa ajuda é o Chaz e a Candy.
―Tem razão. ― me encarou.
Sorri e o beijei com calma.
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