História Suicide Vale - Sempre comigo?

Após ouvir as estranhas boas vindas de Daisuke, Miyako continuou confuso como sempre, ele só conseguia pensar que nada iria se esclarecer tão rapidamente. Os passos contínuos e lentos daquelas pessoas soavam como uma música agoniante nos ouvidos de Miyako, ele então decidiu começar a fazer perguntas para Daisuke:
- Suicide Vale? Que lugar é esse?
- É aqui que vamos ficar durante toda nossa... "existência".
- O quê? Eu vou ficar aqui pra sempre!? Você tá louco! Eu preciso ver minha mãe, ela devia ter caído junto com a gente!
- Aquela coisa nem é sua mãe.
- N-não? O que era então? 
- Se eu repondesse suas perguntas, não faria sentido continuarmos andando.
- Isso só me deixou mais confuso...
- É hora de começar a pensar, garoto. Esqueça sua mãe, ela está bem. Tudo que acontecer agora girará em torno de você. 
- De mim?
- Sim, é isso ou você vai continuar com essa cara de tonto.
 Miyako parou de fazer perguntas e começou a pensar, de alguma forma, ele sentia que podia confiar em Daisuke, apesar daquilo tudo ser tão estranho. Após andarem muito, todos param. O lugar era diferente, cheio de rochas e uma neblina. Todos olhavam inexpressivamente para lá. Daisuke, com um olhar calmo, diz para Miyako:
- É, parece que daqui pra frente nós vamos seguir sozinhos.
- Sozinhos? Como assim? Por que eles não querem ir? O que tem lá?
- Você é um turbilhão de perguntas, vamos logo.
 Os dois seguiram e ouviram um barulho alto, Miyako assustou-se ao ver um homem voando por cima de algumas rochas.
- Q-que porra foi isso? O que fizeram com ele? - Perguntou Miyako assustado.
- Vamos. - Disse Daisuke.
 Andando discretamente pelas rochas, os dois tentam evitar deixar o mínimo rastro de sua existência, até que ouvem uma voz feminina dizendo:
- Ei, vocês! Cuidado aí!
 Os dois olham, era uma garota escondida atrás de uma rocha. Ela parecia mais animada do que as outras pessoas que estavam andando com eles. Miyako repara na aparência da garota, que tinha um cabelo castanho preso, olhos castanhos, uma blusa de rock bem folgada e pernas à mostra.
- Me chamo Anne! - Diz a garota que parecia estar com medo e animada ao mesmo tempo.
- Eu... Me chamo Miyako...
- E você, grandão? - Pergunta  a garota para Daisuke.
- Você não precisa saber quem eu sou.
- Nossa, okay.
 Miyako olha para a garota e tenta entender o que ela faz ali, parecia ser uma garota normal. 
- Ele quase me pegou. - Diz Anne.
- Quem? - Pergunta Miyako
- Uma coisa esquisita e grande, dá até arrepio.
- Precisamos sair daqui - Diz Daisuke, interrompendo os dois.
 Mas, antes que eles pudessem se mover, um som estranho de algo sendo arrastado no chão deixa- os atentos. Observando por cima da rocha, era possível ver a criatura, parecia ser um homem gigante, bem forte, mas não possuia braços que, aparentemente foram decepados. Um tecido sujo e rasgado cobria seu rosto e outro semelhante cobria sua cintura. O que causava o barulho de algo sendo arrastando era um objeto que se parecia com uma espada, uma espada bem grande, a qual a criatura parecia segurar com sua boca, mas não dava para ter certeza, pois não era possível ver seu rosto.
- O-o que é aquilo, Daisuke!? - Pergunta Miyako.
- É dele que nós precisamos fugir.
 A criatura caminha em direção ao trio, que permanece imóvel, na esperança de não seram notados. Com a respiração presa, Miyako olha para Anne e Daisuke. Por um momento, Miyako percebe um movimento rápido, a criatura parte a rocha ao meio. Estranhamente, nenhum dos três foram feridos, aproveitando a sorte, eles começam a correr. O monstro é lento ao andar, mas consegue mover sua espada rapidamente, destruindo mais rochas enquanto tenta acertar o trio. Os pedaços das rochas voam para todos os lados e uma deles acerta a cabeça de Miyako, que desmaia.
 Miyako acorda em seu quarto, com os olhos arregalados, tentando retornar à sua consciência. O garoto se perguntava se aquilo tudo não havia passado de um sonho. Ele se levanta e caminha para a porta, vem alguém vindo pelo corredor. Assutado, o garoto se esconde e percebe que vinham um homem e uma criança. Mas não era um homem qualquer, Miyako percebeu que aquele se tratava de seu pai. Ele corre em direção ao homem e tenta falar com ele, mas fica chocado quando o homem o atravessa junto com o menino, como se ele não estivesse ali, como se ele não fosse nada.
- Pai!? - Diz Miyako numa tentavia frustrada de ser percebido.
Ele segue os dois, que estão indo para seu quarto. Miyako observa seu pai colocando o garotinho na cama. Mas o menino parecia ser muito familiar, Miyako observou até perceber que o garoto se tratava de si mesmo, só que mais novo, com aparentemente 4 ou 5 anos. Ele ouve seu pai falando:
- Pronto, filho, agora você vai dormir, certo?
- Não, papa! - Diz o menino - Eu estou com medo.
- Medo, filho? Medo de quê?
- Não sei... 
- Calma, eu vou ficar aqui com você, tá bom?
- Eba! Papa vai ficar!
- Sim, filho, eu sempre estarei com você.
 Miyako observava vidrado a cena. Lembrou-se de quando seu pai ainda vivia com ele e sua mãe. Após o divórcio, Miyako raramente via seu pai, e já estava a três anos sem vê-lo. Após sair do quarto, Miyako senta no chão e observa a si mesmo dormindo. Após alguns minutos, ele se assusta ao ver a estranha criatura que o atacou no início, ela estava no canto do teto do quarto, com a cabeça balançando rapidamente. Miyako fica imóvel observando, até que a criatura começa a se aproximar, e solta um ruído perturbador. Miyako grita assustado, e seu outro eu parece não estar percebendo nada, Miyako abre a porta e corre pelo corredor. Ao chegar na porta do quarto de sua mãe, ele vê seu outro eu, um pouco mai velho, agora com 10 ou 11 anos, com a orelha encostada na porta, aparentemente ouvindo a conversa dos pais. Miyako se abaixa e encosta o ouvido da porta, sua outra versão também não repara que ele está lá. Miyako ouve seus pais falando sobre se separar, nesse momento, ele começa a se lembrar de quando sua vida começou a piorar. Após um certo tempo de conversa, seu outro eu coloca a mão na maçaneta, e Miyako observa enquanto ele abre a porta. Esperando ver seus pais, Miyako se assusta ao ver a criatura que havia atacado ele, Daisuke e Anne. Ele corre descendo as escadas, até passar pela sala e abrir a porta que o levaria para a rua, mas, por mais estranho que seja, Miyako acaba parando em um campo de futebol. Ele observa as arquibancadas cheias e sua outra versão, agora com 12 ou 13 anos, vai em encontro à sua mãe, que está na plateia. Miyako não consegue ver sua mãe de frente. Ele apenas vê seu outro eu falando com ela e, em meio a todo o barulho das pessoas nas arquibancadas, consegue ouvir o que sua outra versão falava com sua mãe:
- Mãe! Estou ancioso, cadê o papai? 
- É... Filho... Então...
- Eu quero mostrar pra ele como eu melhorei minhas habilidades, ele vai ficar orgulhoso de mim!
- Miyako... Me escuta filho...
- Vou fazer um gol, você vai ver, mãe! Quero falar com o papai antes de jogar...
- Miyako! Escute! Seu pai não veio, tá bom? Ele não pôde vir.
- O quê!? Mas por quê!?
- Não sei, ele sempre faz isso, por que achar estranho? Isso é normal vindo dele.
- Mãe... Não... Ele tem que estar aqui, treinei tanto pra quando ele viesse me ver jogar...
 Miyako observava a cena com uma certa revolta, apesar de tudo que estava passando, ele conseguia sentir o que sentiu naquele dia, mas ele retoma ao seu estado de medo quando vê o monstro no meio do campo, vindo em direção à ele. Miyako volta pela porta por onde entrou, indo parar na sala.  Ele agora vê outra versão sua, com a mesma idade da anterior, discutindo com sua mãe. Ela dizia para ele não ir e ele, falando muito alto, dizendo que iria de qualquer jeito, saindo pela porta e deixando sua mãe chorando na sala. Miyako abre a porta e segue seu outro eu, chegando à uma rua chuvosa. Ele vê sua outra versão olhando pela janela de uma casa. Ele se aproxima, já com a consciência de que não vai ser notado. Olhando atravês do vidro molhado pela chuva, Miyako vê seu pai, com outra mulher e com duas crianças no colo, sorrindo feliz e abraçando-os. Tristemente, ele vê a si mesmo obsevando aquilo, e com um olhar profundo,  estende  a mão e tenta tocá-lo, mas não consegue. Miyako agora foi inexplicavelmente levado para seu quarto, onde volta a ver a cena de seu pai colocando-o para dormir. Ele ouvia seu pai dizendo:
- Sim, filho, eu sempre estarei com você.
 O rosto de Miyako toma uma expressão de pura raiva e ele grita:
- Mentiroso! Mentiroso! 
 A criatura que estava no teto começa a rugir, mas ele não se importa, apenas continua  a falar:
- Você me abandonou! Tudo que você disse era mentira! Eu te odeio, pai!
 Miyako continua a gritar e quando percebe, ele está no chão daquele lugar estranho e o monstro está com a espada levantada, pronto para matá-lo, mas, por algum motivo, o monstro desaparece antes de se mexer.
- O que houve!? - Pergunta Anne surpresa.
- O que... Ué... - Diz Miyako confuso.
 Daisuke olha para Miyako atentamente, nem ele parecia entender o que havia acontecido, mas nem ele e nem Anne sabiam o que havia acontecido enquanto Miyako estava desmaiado. Miyako olha para baixo pensando no que havia acontecido, mas antes que pudesse continuar a pensar, Daisuke o interrompe e diz que eles precisam seguir em frente.
 Após andarem por algum tempo, o trio chega em outro lugar estranho, agora estava frio, havia gelo, e uma nevasca que castigava os corpos dos três, que não estavam vestidos adequadamente. Observando ao seu redor, Miyako vê uma imagem feminina, que rapidamente associa à Misa, sua ex namorada. Miyako a segue até um precipício.
- Miyako? - Pergunta a garota.
- Misa... Você aqui...
- Chegue mais perto - Diz Misa, calmamente.
 Enquanto Miyako se aproximava, Daisuke  e Anne que estavam a seguí-lo se chocam ao ver a cena seguinte: Misa havia empurrado Miyako no precipício.