História Suki Kirai - 31 - Laços

 

-Hinata? –escutei Tenten me chamando assim que fechei a porta do auditório.

 

Seus passos apressados diminuíram e eu rapidamente limpei meu rosto.

 

-Desculpe a demora, a caixa estava no alto... –murmurei e estiquei meus braços em sua direção para que ela pegasse as tintas, mas mantive minha cabeça abaixada.

 

-O que aconteceu? –perguntou ignorando totalmente a caixa.

 

-Nada.

 

-Hinata! –ela praticamente gritou. –O que aconteceu?

 

-Eu... –suspirei pesadamente e a encarei. –Não quero mais fazer essa peça.

 

-O quê?! –perguntou incrédula. –Por que não?

 

-Eu não quero, isso não é para mim. –falei e coloquei as tintas no chão.

 

-Mas...

 

-Tenten, por favor. –implorei, meus olhos voltaram a se encher de lágrimas e ela se calou.

 

-Tudo bem. –disse por fim. –Mas eu vou descobrir o que te fez mudar de ideia.

 

Encarei o chão por um momento e quanto ela se afastou levantei meu olhar, vi quando Tenten deu a noticia para Ino e Sasuke que imediatamente olharam em minha direção. Ino fez uma expressão de puro terror, ela começou a fazer movimentos com as mãos e de repente ela caiu no chão. Corri em sua direção enquanto vários alunos a cercavam, uns curiosos e outros tentando ajudar.

 

-O que aconteceu?! –perguntei em um fôlego só.

 

-Ela desmaiou depois que descobriu que você não iria mais participar da peça. –Tenten explicou calmamente.

 

-Você não vai mais participar da peça? –Naruto, que até o momento estava abanando Ino, perguntou.

 

-Nã—

 

-Como assim não vai mais participar? –Gaara me cortou e uma expressão de puro desagrado se formou em seu rosto.

 

-E-Eu...

 

-Hinata, precisamos de você! –foi a vez de Sasuke se pronunciar.

 

-Me desculpa...Eu não posso. –murmurei e apertei a barra da minha saia.

 

Várias pessoas começaram a falar ao mesmo tempo, aquela mistura de vozes estava ficando tão alta que eu mal podia distinguir o que estava acontecendo.

 

-Me desculpem. –repeti antes de abrir caminho no meio deles e correr para a porta.

 

Eu tinha deixado minha mochila para trás, mas eu não podia voltar e ser bombardeada novamente por aquelas vozes. Minhas pernas doíam devido ao esforço, assim que eu estava distante o suficiente da escola parei de correr e tentei normalizar minha respiração. Eu estava agindo como uma idiota, uma completa idiota, mas o medo do que as pessoas daquele colégio poderiam fazer se descobrissem qual era o meu emprego me cegou para essa idiotice. Eles podiam ser tão repugnantes que só de imaginar meu estômago revirou. Apoiei minha mão em um muro e respirei fundo, novamente senti lágrimas escorrendo por minhas bochechas.

 

-Idiota. –murmurei e soquei o muro, o que fez uma dor aguda se espalhar por minha mão.

 

 

****

 

-Hinata? –Hanabi se surpreendeu ao me ver em casa aquele horário. –Não teve ensaio hoje?

 

-Eu não vou mais participar da peça. –expliquei enquanto subia as escadas.

 

-O QUÊ?! –ela gritou.

 

Escutei seus passos apresados subindo as escadas e antes que eu fechasse a porta do quarto ela se jogou em minha direção.

 

-Hanabi. –suspirei ao ver ela cruzar os braços.

 

-O que aconteceu?

 

-Só não estou mais afim de participar. Tenho coisas importantes para fazer. –falei e apontei para a saída do quarto, um pedido silencioso para que saísse.

 

-Mentira! –ela bateu o pé, o que me fez arregalar os olhos.

 

-Eu estou falando a verdade.

 

-Mentira, mentira, mentira! –repetiu enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro. –Eu te conheço, Hina, e isso não é verdade!

 

-Hanabi...

-Você estava dando tão duro para gravar suas falas, não diga que simplesmente tem coisas mais importantes para fazer. Isso é importante para você, para mim, para o papai, para o Sasuke, para todos! –seus olhos se encheram de lágrimas. –Sabe por quanto tempo esperamos por isso? Você ter amigos, participar dos eventos da escola, você agir como uma pessoa da sua idade!

 

-Hana...

 

-Não jogue tudo isso fora, Hinata. –sua voz estava embargada. –Você acha que a mamãe gostaria disso?

 

-Por favor, não torne as coisas mais difíceis. –pedi em um sussurro.

 

-O quê?

 

-Hanabi... Por favor, saia.

 

-Mas...

 

-Por favor! –implorei.

 

Ela ficou uns segundos paradas e suspirou pesadamente. Ela saiu do meu quarto e parou de costas para a porta.

 

-Pense direito no que está fazendo.

 

-Eu já pensei. –respondi e fechei a porta.

 

Deixei minhas pernas fraquejarem e sentei no chão, olhei para a mão que eu havia machucado ao socar o muro e encostei minha cabeça na porta.  Não eram para as coisas terem terminado assim...

 

****

 

Cheguei mais cedo na escola para procurar minha mochila e não encontrei em lugar nenhum. Era só o que me faltava! Perder a mochila com os matérias que eu levaria um bom tempo para conseguir de novo. A lei de Murphy estava agindo de uma forma cruel: tudo dando errado da pior maneira, no pior momento e de um modo que estava afetando os outros. Fui para sala e sentei na minha carteira, fechei os olhos e deixei um suspiro frustrado escapar dos meus lábios.

 

-As coisas não estão muito boas, não é? –escutei alguém perguntando e abri os meus olhos.

 

-Kiba?!

 

-Quanto tempo, Hina. –ele sorriu.

 

Abri a boca e voltei a fecha-la, eu estava realmente surpresa por ele ter vindo falar comigo, nossa última conversa não tinha terminado muito bem.

 

-Sim, bastante tempo. –concordei.

 

-A Tenten me ligou desesperada ontem, falando que você tinha abandonado a peça. –ele puxou uma cadeira para o meu lado e apoiou os braços na minha mesa.

 

-Eu não queria causar todo esse transtorno. –murmurei encarando minhas mãos pousadas em meu colo.

 

-Mas causou. –eu levantei meu olhar para encara-lo e ele sorriu. –Pode me dizer o motivo dessa mudança de ideia?

 

-Eu só não tenho tempo para essas coisas.

 

-Não precisa mentir para mim. –ele segurou meu ombro. –Eu sei que agi de forma estúpida da última vez que conversamos e peço desculpas por isso, eu não queria me afastar, mas achei que dessa forma eu conseguiria superar... –seu riso tomou conta da sala. –Mas eu estava enganado.

 

-Kiba...

 

-Não se preocupe, Hina. –ele bagunçou meu cabelo. –De qualquer forma, o que estou querendo dizer é que as vezes tomamos decisões no calor do momento e não pensamos nas consequências, sabe? E nem em quem vamos afetar.

 

Pisquei algumas vezes e encarei o chão por um momento. É, eu estava sendo egoísta de certa forma. Abri a boca para agradecer o moreno na minha frente, mas gritos ecoaram no corredor, o que fez com que levantássemos afobados ao reconhecer um deles: Tenten. Fomos até a porta da sala a tempo de ver a morena de coques prensando Sakura contra a parede.

 

-Escuta aqui sua puta rosa. –ela praticamente gritou apertando mais Sakura contra a parede. –Nunca mais faça ameaças para a Hinata, está me entendendo?

 

Os olhos esverdeados da rosada transmitiam pavor, ela se debatia, mas nenhum de seus esforços faziam a pressão que Tenten exercia diminuir.

 

-M-Me solta. –pediu com dificuldades.

 

-Se você fizer mais alguma coisa contra ela, você não vai ficar apenas com alguns arranhões.

 

-Tenten! –chamei.

 

A morena olhou em minha direção e Kiba a afastou de Sakura.

 

-O que está fazendo sua louca? –Kiba perguntou exaltado.

 

-Essa vadia estava ameaçando a Hinata, por isso ela não quer mais fazer a peça! –Tenten apontou para a Haruno, que se encolheu.

 

Kiba olhou na direção da garota, que estava tentando recuperar o fôlego, mas assim que seus olhos esverdeados encontraram os castanhos, seu corpo reuniu forças de algum lugar e se distanciou rapidamente dos dois morenos. Me aproximei deles e chequei se Tenten estava bem.

 

-Isso é verdade? Ela estava te ameaçando? –Kiba me encarou e eu apenas concordei.

 

-Por que não falou nada?! –Tenten estava inconformada.

 

-Porque ela disse que ia espalhar sobre meu emprego! –aumentei meu tom de voz. –Por isso eu...Eu...

 

Senti quando um dos braços de Kiba me puxou para perto, ele tinha feito a mesma coisa com Tenten e no momento estávamos em um abraço triplo caloroso.

 

-Não se preocupe mais com isso.

 

-Eu já estava sentindo falta disso. –Tenten comentou. –Ainda bem que se resolveram.

 

Ficamos um tempo em silêncio e eu não pude deixar de sorrir, eu tinha ótimos amigos.

 

-Obrigada, gente. –me aconcheguei mais naquele abraço e fechei meus olhos, esquecendo totalmente da ameaça de Sakura e Karin.

 

Algo que eu não deveria ter feito.