História Summer Nightmares - Capítulo Único

Apesar de ser apaixonado por ele durante toda a sua vida adulta e maior parte da sua adolescência, Hansol nunca pretendeu ceder aos avanços de Johnny Seo. Mas quando Johnny vem até ele, com aqueles seus olhos reluzentes e aquela sua voz que derrete cada parte sua, Hansol sabe exatamente o que se passa.

- Não te lembras? – Johnny pergunta num murmúrio baixo e gentil, aproximando o seu rosto suficientemente para que a sua respiração se mesclasse com a do loiro. – Não te lembras daqueles verões? Não te lembras de como costumávamos ser melhores amigos? Não te lembras da maneira como me olhavas? Não te lembras, Hansol?

Eram perguntas estúpidas e inúteis porque claro que Hansol se recordava. Eram como lembranças frescas na sua memória, tatuadas em todo o seu âmago. Ele lembrava-se de cada minuto daqueles gloriosos, ingênuos dias. Ele lembrava-se de tudo e um pouco mais.

Na realidade, mesmo que ele quisesse apagar cada cena, ele não conseguia. Não conseguia esquecer aqueles húmidos dias de verão, quando eles tinham catorze, quinze, dezasseis anos, quando ele e Johnny se encontravam todos os dias e partilhavam histórias e criavam recordações. Aqueles dias em que corriam pelas ruas recentemente alcatroadas e gritavam de felicidade à medida que os seus pés nus entravam em contacto com a quentura do pavimento. Entravam energicamente na pequena loja de conveniência, riam às gargalhadas enquanto tentavam controlar a respiração ofegante e granjeavam-se com dois cones de gelado pelo preço de um. Acabavam sempre no jardim da senhora Wang e ali brincavam e conversavam a tarde toda, até que as mães de ambos os chamassem para jantar. Mesmo durante a noite, não se separavam, e tendo as estrelas e a lua como únicas testemunhas, entravam sorrateiramente no parque da vila e deitavam-se confortavelmente na relva, olhando as estrelas e fazendo as suas próprias constelações.

Em outras noites, enquanto ouvia o concerto das cigarras, Hansol fechava os olhos e recriava o sorriso de Johnny, as mãos de Johnny sob a sua derme, os quadris de Johnny. Imaginava a voz de Johnny a sussurrar-lhe lenta e suavemente ao ouvido todo um conjunto de palavras doces; os cabelos desalinhados, longos e rebeldes; os lábios cheios e roliços; os quadris a corcovearem-se contra os seus. Não se impedia de se tocar, alcançando a sua ereção através dos seus calções de algodão até que tivesse de morder os lábios para impedir sons impuros de escaparem; e quando se vinha, era sempre com um grunhido camuflado, pois Hansol nunca conseguia manter-se calado quando fantasiava com Johnny.

Assim sendo, quando Johnny lhe pergunta se ele se lembra, quando Johnny olha para Hansol com aqueles olhos e lhe fala com aquela voz, faz com ele se sinta como o adolescente de dezasseis de anos novamente, o adolescente apaixonado pelo melhor amigo e desesperado pelo seu amor.

Há centenas de coisas erradas nesta fotografia, Hansol sabe-o, mas os lábios de Johnny estão orvalhados e os seus olhos são quentes. Ele é o perfeito pesadelo de verão de Hansol.

Ele não pretendia ceder, mas fê-lo.

Johnny é tudo o que Hansol alguma vez fantasiou e muito mais. Johnny é também tudo o Hansol alguma vez esperou. Assim, quando Hansol acorda a meio da madrugada, ele já há muito que partira, deixando somente uma impressão do seu corpo nos lençóis já frios ao lado de Hansol. Ele arremessa-os para o chão. Com eles, jazem os vestígios de Johnny, todos os traços da sua visita apagados, mas Hansol ainda pode sentir alguns deles cravados no seu corpo.

O calor daquele verão carimba o toque de Johnny na sua pele.

Hansol verte lágrimas em silêncio.

Lá fora, as cigarras começam a chilrar.