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História Sunken - A frozen ship.


Escrita por: lilyboots

Notas do Autor


não vou dizer muita coisa, só que eu quase chorei enquanto escrevia.
é isso aí, boa leitura. 💙

[trata-se de uma fanfic angst, só pra constar mesmo]

Capítulo 1 - A frozen ship.


Ele sempre foi de beber bastante. Como seu melhor e mais sóbrio amigo, meu dever, em todas as festas, era levá-lo para casa enquanto ele dizia aquelas coisas desconexas, que me faziam rir como um louco ou chorar feito um condenado. Ele costumava ser assim, um pouco bipolar, tsundere, ou qualquer expressão que denote mudanças súbitas de humor. Eu estava acostumado com isso, com aquela dor profunda e euforia dele, mas parecia que ele próprio não estava.

E, como a mudança era algo intrínseco do garoto Yoongi, era comum vê-lo trocar a cor do cabelo a cada semana. Às vezes acontecia alguma merda e ele deixava o cabelo ficar desbotado até parecer com aquelas roupas velhas da Sra. Min; entretanto era engraçado o fato de que ele continuava muito bonito mesmo quando estava largado e cansado da vida. Na verdade, aquele era o seu maior charme, mas ao mesmo tempo, seu maior problema.

Naquele dia, nós estávamos sentados no cais de Ansan, bebendo uma garrafa de vodka e observando o mar e o céu, a dicotomia daquela imensidão azul. As mãos dele seguravam-se fortemente naquela madeira, seus braços estavam esticados e firmes naquela superfície enquanto seus ombros estavam encolhidos e tensionados.

Ele observava o mar.

Sua fascinação pelo mar era algo estranho para quem morria de medo de nadar. Talvez fosse a mesma fascinação que eu tinha por ele ligada ao medo de me apaixonar perdidamente. Será que eu já estava? Não conseguia saber. Meus sentimentos eram como um guarda-roupa bagunçado e levaria tempo até que eu o arrumasse. Bem, eu nunca arrumei. Sempre fui um babaca preguiçoso, digo, emocionalmente falando.

Eu estava um pouco mais arrumado que ele com meu sobretudo azul e meu sapato social. Ele mantinha seu estilo de sempre, um moletom grande e estampado, uma calça jeans surrada, all-stars velhos e sujos e o seu característico gorro preto. Naquele dia, o seu cabelo estava verde desbotado, como a cor de sorvete de menta. Suas pernas iam pra frente e pra trás, no mesmo ritmo, mas às vezes elas perdiam a sintonia naquela singela dança. Não consigo ao menos descrever as outras partes do cenário porque dediquei toda a minha atenção para guardar seus mínimos detalhes como uma fotografia perfeita na minha mente.

— É estranho. — Ele disse, ou melhor, sussurrou. Sua voz quase se perdendo em meio ao barulho do mar e do fluxo violento dos meus pensamentos.

— O que houve? — Perguntei observando seus olhos voltados para o mar.

— Eu sinto que o mar está me chamando — Disse um pouco mais alto, com a voz grave e rouca — Hoseok, às vezes eu me sinto muito só.

Aquilo partiu o meu coração.

— Não se sinta. Eu estou aqui, Yoongi. — Apertei sua coxa e sorri.

— Não é dessa solidão que eu falo. É alguma coisa muito mais... profunda. E confusa. — Fez uma pausa. — Não quis desmerecer a sua companhia, Hoseok. O problema é comigo mesmo.

Ele fez outra pausa e olhou novamente para o mar. Eu o imitei. Fixei meus olhos em um ponto específico das águas para tentar vê-las com os mesmos olhos de Yoongi. Não consegui.

— Eu te amo, Hobi. — Yoongi disse com a voz embargada, me deixando perplexo. Olhei-o com os olhos estupefatos enquanto os seus estavam marejados, seus lábios se contraindo como se todo o seu rosto pudesse desabar em um pranto miseravelmente esperado por tanto tempo. Contudo, bastou-se. Os lábios voltaram ao normal. As lágrimas não caíram. O semblante sério voltou.

— Yoongi... — Disse cálido enquanto me inclinava para puxá-lo para um abraço um tanto pegajoso, diferente de todos os outros abraços que tivemos antes. — Eu amo você também. Muito.

Por que eu sentia que aquilo era uma despedida?

A tez de seu pescoço tinha um cheiro era doce e contrastava com aquele aroma de vodka que emanava de suas roupas. Apertei-o um pouco mais, com medo de que ele pudesse ir embora e me deixar completamente desamparado. O vento ficou mais forte e era estranho, porque eu sentia como se ele nos afastasse, como se ele quisesse levá-lo para longe de mim.

Deixei uma lágrima cair. Apenas uma, que foi absorvida pelo tecido do moletom.

Levantamo-nos apenas quando o sol já estava quase se pondo. Naquele dia, nenhum barco ou navio iria ancorar naquele cais, então nos restava apenas guardar na memória aquelas águas refletindo o brilho do sol, juntamente com o céu colorido de tons avermelhados e arroxeados. Olhei-o novamente e quis entrelaçar nossas mãos, ele não gostava tanto desse tipo de coisa e por isso eu hesitei alguns segundos antes dele mesmo segurar a minha mão e apertá-la levemente. Então entrelacei nossas mãos, aquilo durou uns poucos minutos. Quando finalmente escureceu, fomos para casa.

Após aquilo, ele ficou mais reservado e mais frio do que já era, por mais incrível que possa parecer.  Não quis incomodá-lo com perguntas, porém também não sabia o que falar para amansar seu coração violento e bagunçado, não sabia como agir para que ele ficasse bem. Como seria um Yoongi desperto para a vida? Eu nunca soube. Mas, naquele momento, faria tudo o que pudesse, nem que precisasse doar todas as minhas lágrimas e meu sangue em várias garrafas de vodka.

 

.  .  .

 

Não era como se as coisas estivessem fáceis para mim também. Como um bom pessimista, eu não tinha o costume de ver o lado bom da minha vida. Aprendi isso da pior forma possível, após algumas crises emocionais e poucas sessões de terapia. Meus pais negligenciavam minha quase invisível doença, mas eu agi pior quando fingi que a dor não existia, e ela apenas continuou a crescer.

Yoongi, de quando em quando, visitava-me pelas madrugadas, chamando a minha atenção com aquelas pequenas pedras jogadas na janela. Naquele tempo ele ainda possuía mais um pouco de energia, porém foi nesse estágio que as coisas começaram a piorar. Seu irmão havia acabado de matar um homem e estava preso, sua mãe o culpava por não ser o hyung perfeito, e ele mesmo se machucava achando que tudo aquilo era a mais implacável verdade. Sua vida estava um caos, e seu interior estava enfraquecido pela quantidade de ardis psicológicos que o flechavam.

Começamos a beber — algo que juramos que nunca faríamos —, ir para festas e até mesmo usar algumas drogas de colégio. Queríamos nos livrar da realidade maldita que nos cercava entregando nossos próprios corpos em sacrifício, como se não valessem de nada. Eu queria ajudá-lo, eu deveria tê-lo ajudado, mas não consegui, porque também precisava ser ajudado. Éramos duas almas perdidas em busca de alívio, mesmo que fosse temporário ou doloroso. Eu era um outono cansado de tudo e ele era um inverno violento e mortal. Eu era folhas mortas e ele era a própria árvore seca. Estávamos juntos, mas nossas dores eram solitárias. Nunca conhecemos a primavera.

 

Yoongi, eu nunca pensei que sua dor fosse maior do que a minha.

Queria estar lá para você quando você precisava. Como pude ser tão tolo em não entender as suas palavras? Eu deveria ter feito um esforço, por mais confusas que fossem...

 

Meus problemas psicológicos atingiram um quadro grave quando ele se jogou e morreu nas mesmas águas que costumávamos admirar. Eu podia imaginá-lo se debatendo em busca de oxigênio, clamando por socorro, arrependendo-se. Sua consciência se esvaindo, seus pulmões sendo invadidos pela força da água... Onde estaria o seu corpo?

Ainda podia imaginar o cheiro fraco e doce que ele possuía, a maciez da tez de seu pescoço. Em seguida eu podia vê-lo em completude: seus olhos ferinos, seu semblante desesperançado, o cabelo trocando de cores a cada segundo naquele pensamento ansioso e mirabolante, suas roupas com cheiro de vodka e frustração. Lembro-me de que eu entrelaçava minhas duas mãos como se uma fosse sua e chorava por uma madrugada inteira, às vezes eu gritava, mas não havia ninguém para me ouvir. Estava prestes a sucumbir de tanta culpa e ódio que dilaceravam meus bons pensamentos sobre mim, que desintegravam lentamente todas as minhas ideias do que era belo.

 

"Eu te amo, Hobi."

 

Eu o amava mais do que eu ligava para mim mesmo. E agora eu sinto tanta saudade dele e da pessoa que eu era quando ele estava do meu lado. Do sorriso dele e dos meus também, de quando sonhávamos juntos, imaginando como seria fugir de casa, enquanto observávamos as estrelas deitados no telhado. De todas as coisas engraçadas e as vergonhas que eu passei ao tentar levá-lo em segurança para casa, e que agora são apenas memórias nas quais eu não posso me agarrar. Risadas, quedas, vivacidades. Agora eu posso entender a solidão de Yoongi, e me dói saber que não fui capaz de convertê-la, me dói saber que o meu amor não foi o suficiente. E eu o amava tanto que chegava a doer minhas costelas, chegava a faltar o oxigênio.

Perder ele foi como perder a mim mesmo. Como se, após o outono, não houvesse mais o inverno, e eu precisasse dele para obter a minha primavera.

Ela nunca veio. E nunca vai vir.

Me perdoe, realmente me perdoe, Yoongi...


Notas Finais


:(

espero que tenham gostado, de verdade.
tô abalado até agora, nunca uma estória me abalou tanto e eu sou muito sádico ao compartilhar isso com vocês jajsjxn
perdãozinho e até a próxima 💙


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