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Paris, 5 de setembro de 2016
Querida Emma, aqui é a Camille, mas acho que já deu para você perceber pelo remetente do e-mail, não é? Eu queria ter escrito (digitado) há tipo uma semana atrás para você ler essa carta no seu primeiro dia de aula, mas eu não tinha a quem endereçar, você ainda não tinha quarto ou matrícula fechada.
Eu fiquei TÃO feliz em saber que você fez uma amiga. Okay, não são amigas, mas já é uma simpatia, não é? Eu gostaria de ter notícias do Nath para te dar, mas eu não tenho tanto contato com ele, você sabe.
E essa garota do avião? Soube mais algo dela? Achei um tanto...misteriosa, toma cuidado, você é bobinha ingênua demais.
O Cooper e o Stefan estão bem, mas não param de brigar, ave Maria. As coisas continuam iguais nessa semana, mas vou te mandar um e-mail correndo caso alguma coisa seja alterada.
Olha, essa semana o seu irmão me tirou do sério (o Cooper, o Stefan é o amor da minha vida). Acredita que ele se recusou a me passar o seu e-mail porque eu iria encher sua caixa de mensagens??? Ainda bem que você sabe o meu de cór. Achei essa política de só permitirem usar o computador da biblioteca bem ultrapassada. Seu celular é caro demais para ficar mofando aff.
Emminha, eu tenho que ir trabalhar, se cuida meu bem <3
PS: tudo bem se eu passar esse seu e-mail para o Nathaniel? Acho que sim, vou passar.
PS parte 2: Saudades.
Com amor,
Camille
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Acompanhei os passos precisos de Sally. Seu cabelo loiro parecia ter sido cortado recentemente pelo estado das pontas.
Não foi problema sair do internato, até porque os alunos estavam vindo e indo. Certamente a transição era incontrolável.
As ruas do bairro são bonitinhas. Há poucas áreas comerciais e muitas casas – gigantescas.
Admito já ter entrado no bar procurando Lydia. Eu realmente quero saber mais sobre ela.
Observando o lugar, não gostei do que vi. É literalmente um bar com bebidas, pessoas comendo salgados e assistindo a um jogo de futebol americano.
Sally riu.
-Você tem um rostinho bonito, faça uma expressão a altura – ela piscou e foi até uma mulher alta que estava com o cabelo preto preso em um coque.
-Iai, Lydia – Sally sorriu.
-Oi menina – Lydia sorriu e alargou ainda mais quando me viu – Em! Que bom que você realmente veio me ver!
-Se conhecem, então? – Sally olhou Lydia com um ar provocativo e a mesma fechou a cara.
-Sallyane – Lydia a olhou firme – Pegue a chave – ela estendeu o braço – E pare de gracinhas.
Lydia que parecia tão calma estava até vermelha e ao contrário de mim, na maioria das situações, não é de vergonha. Disso tenho certeza.
-Até depois – sorri para Lydia tentando amenizar a situação.
-Tudo bem – ela suspirou parecendo se acalmar.
Por mais que Sally já tivesse saído do meu campo de visão, eu havia visto para onde ela foi e a segui. Desci uma escadaria, mas em um ponto, parei.
A onde será que isso me lavará? O lugar me parece escuro. Até demais.
Balancei minha cabeça em negação. Eu tenho que parar de pensar esse tipo de coisa. Sally foi para lá e Lydia não me impediu de descer.
Cruzei uma porta que estava aberta e o lugar em que eu entrei. Meu Deus. É completamente diferente de lá de cima.
É literalmente um salão de jogos.
-O que é isso? – apontei para uma máquina estranha.
-Qual? Tem de jogos e de sorvete – Sally que estava de costas não havia visto que eu apontava.
Examinei bem o aparelho. Pelas variadas corem deduzi ser uma máquina de sorvete.
-Sorvete, acho.
-É de sorvete sim – Sally afirmou caminhando até ela.
-Quer de que? – Sally ligou a máquina que por sua vez começou a fazer um zumbido irritante.
-Tem de flocos? – sorri meio tímida – É o meu preferido.
-O meu também – Sally sorriu de volta, mas não tímida. Ela não parece ser nem um pouco tímida.
Sally me deu o sorvete e comecei a andar pela sala.
Parei em frente a um quadro negro com várias fotos de vários lugares coladas.
-Fascinante, não? – Sally se aproximou de mim.
Concordei com a cabeça.
-As pessoas que frequentam aqui embaixo sempre deixam suas viagens registradas – ela suspirou – meu sonho sempre foi viajar para ele lugar – Sally apontou para uma foto que eu automaticamente reconheci.
-Manhattan? – por mais que soubesse a resposta, achei mais educado da minha parte em perguntar.
-Sim – ela sorriu animada – Já esteve lá?
-Já – acabei sorrindo com a lembrança que automaticamente me veio à mente.
Flash Back On
-Oh meu Deus, Cooper - eu e Stefan nos entreolhamos e corri abraçá-lo - Você deveria sempre estar bêbado.
-Emminha está na hora de mimir - Cooper começou a fazer gestos de ordem com a mão.
-Cooper! – minha mãe parou de conversar com a tia Karen e a senhora Medonza e chamou-lhe a atenção – Não haja como uma criança de vinte e dois anos bêbada!
-Mas mãe, ele é muito melhor bêbado – Stefan riu.
-E você na sua – ela o fitou firme.
Acabei rindo da cena.
-Não Clara. Eu não vou pegar bebida para você – olhei discretamente para o lado e vi Nath e Clara discutindo.
-Mas Nathzinho – ela choramingou – Você e a Emma estão bebendo.
Revirei os olhos, já irritada. Eu não suporto a Clara. Ela é terrível e para completar fica o tempo todo tentando me colocar para baixo. Como se isso fosse fazer o Nathaniel prestar mais atenção nela do que em mim.
Em aparência ela é uma gracinha.
Magrinha, baixinha, loira, olhos azuis, e o rostinho mais fofo que eu já vi.
Ela tem catorze anos e age como se tivesse nove.
-Nós estamos acostumados a beber vinho e nossos pais permitiram, Clara. Os seus deixaram bem claro que é melhor você ficar longe da bebida – ele a olhou severamente.
-Tá bem... – Clara murmurou – Mas só porque você está pedindo Nathzinho – ela sorriu e eles chegaram até mim – Ah, oi Emma.
-Oi Nath e oi Clara – sorri como se não estivesse a ponto de dar um tapa naquele rostinho de barbie.
-Eu peguei para você – Nath me estendeu uma taça de vinho.
-Obrigada – sorri para ele tentando ignorar totalmente a presença da Clara – Clarinha, por que você não pega um refri? – sorri amigavelmente para ela.
Ela parou um pouco para pensar.
-Ah, tá bem! Vamos lá, Nath? – Clara piscou os olhinhos.
-Eu preciso resolver umas coisas com a Emma, Clara – ele ficou meio vermelho. O que sempre acontece quando ele mente – Vai lá e volta aqui, pode ser?
Meio a contragosto – e pela minha surpresa – Clara concordou.
Mas também, depois de falar tanto, ela deve estar precisando de algum refresco.
Quando ela saiu, olhei para Nath esperando ele falar algo.
-Você está muito bonita – ele sorriu.
-Obrigada – sorri meio tímida – Você também.
-Desculpe, eu sei que você não é a maior fã da Clara – ele pareceu constrangido com a situação.
-Os pais dela são legais – dei de ombros.
-Nathaniel – ouvimos tio Derek o chamar – Venha cá, meu filho – ele pediu.
-Me espera só um pouquinho, raio de sol – Nath pediu meio contrariado e foi em direção ao seu pai.
Me virei procurando Cooper e Stefan, mas eles não estavam mais no mesmo lugar.
Suspirei meio frustrada, mas nem tive tempo de pensar quando senti algo molhada e frio em mim.
-Ai meu Deus – me virei rapidamente e vi Clara me olhando e tentando segurar o riso – Foi sem querer, Em!
Olhei para o meu vestido. O refrigerante havia sido totalmente derramado em mim. Em um impulso, quase virei o vinho em sua cabeça, mas achei melhor me conter.
-Como pode? – sussurrei vendo a lambança feita.
Clara deu de ombros fingindo estar ressentida e eu apressei meus passos para o banheiro.
***
Abri a porta sem o menor cuidado e me segurando para não chorar, mas assim que adentrei, outra cena me chamou a atenção.
-Camille? – balancei a cabeça constatando se realmente vi o que vi.
Camille estava sentada no chão do banheiro com seus sapatos em sua mão.
-Oi Em – ela disse meio desanimada, mas logo me olhou e estreitou os olhos – O que aconteceu com o seu vestido?
-O que aconteceu com os seus sapatos? – pensei melhor – A Clara jogou o refrigerante dela em mim, sabe um “acidente” – revirei os olhos.
Camz pareceu constrangida.
-Hm, eu meio que não consigo andar com isso – algo me diz que se sua pele fosse bem clarinha, sua bochecha teria pegado fogo.
-Ah – pensei um pouco – Qual seu número?
-Trinta e seis – ela olhou para mim meio curiosa.
-Aqui – lhe estendi as minhas sapatilhas azuis, da mesma cor do meu vestido e ela automaticamente me deu seu salto bege – É bonito – sorri – Agora uma de nós vai poder voltar a festa.
Camille negou com a cabeça.
-Nenhuma de nós vai a festa – ela afirmou – Conhece a Escadaria do Met? – neste momento nós duas sorrimos em cumplicidade e eu entendi perfeitamente o que ela queria.
-Sua câmera está em sua bolsa, não é? – olhei para o objeto prateado.
Camille sempre foi apaixonada por fotografia.
Ela concordou com a cabeça levantando.
Saímos o mais rápido que conseguimos daquela festa. O ambiente todo estilo balada já estava me fazendo enjoar. Não era a primeira vez que eu iria para o Met, na verdade. Rezei para que eu realmente soubesse o caminho, era perto, disso tenho certeza.
Não demorou para chegarmos. Camille foi na minha frente, deslumbrada.
-Oh meu Deus, Em! – É tão lindo... – ela sorriu se sentando na escadaria.
-É, não é? – sorri meio boba.
A noite a sensação era completamente diferente.
-Você não ia mesmo ir para a festa, Camz? – a fitei.
-É meio estranho, Em...eu fiquei tão feliz por também ter vindo, mas as vezes... – ela não quis continuar, como se fosse melhor guardar a conclusão para ela.
-Tudo bem – a abracei meio sem jeito devido o fato de estarmos sentadas – Você não tem que dizer.
-Não – Camille negou – Eu tenho. A sua família é maravilhosa comigo, mas a sua avó ainda está certa. Eu não sou desse meio.
-Não – concordei – Não é. Você é muito melhor que todos eles juntos.
Ela sorriu e eu acabei sorrindo também.
-Acha que o Cooper vai dar nossa falta?
Eu ri.
-Fica sossegada, Camz, o bêbado foi colocado na cama pelo Stefan – nós nos entreolhamos rindo.
-Não acredito que perdi isso.
-Daqui a pouco é ano novo – Camz me olhou após fitar a hora em seu relógio.
-Com certeza será um bom ano – eu sorri – Ano que vem eu vou fazer de tudo para estarmos aqui de novo – sorri.
-Eu também, Em – ela sorriu.
Flash Back Off
Me senti mal. Esse ano não será como o outro. Nem de longe será. O meu ano novo não vai ser com a família toda em Nova York. Eu nem sequer tenho mais a família toda.
-Você tá legal? – Sally me fitou meio preocupada.
-Não – respondi meio nostálgica – Mas vou ficar.
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