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História Surf Trip - Cloudbreak - Tavarua


Escrita por: RED_BOSS

Notas do Autor


Último capítulo de Surf Trip \o/ Espero que tenham gostado, eu pesquisei muito sobre esse esporte e acho que consegui deixar bastante real :D
Romance não é meu forte, mas espero que tenha conseguido arrancar alguns suspiros haha

É isso, boa leitura! *u*

Capítulo 3 - Cloudbreak - Tavarua


 

 

O ponteiro do relógio da cozinha parecia estar quebrado, pois andava muito devagar, Xiumin nunca viu as horas passarem tão lentamente quanto naquela noite.  Ele dormia no chão, com um travesseiro improvisado com roupas suas e uma fronha amarelada que pediu emprestado em um dos quartos da pousada, Chanyeol dormia no sofá, fazendo muito barulho, e todos os outros dividiam o único quarto, inclusive Baekhyun que aceitou ir junto com o grupo de surfistas.

Xiumin, encarando o teto da sala, ficava vislumbrando o hotel em que os universitários estavam, ficava em Hobart e era luxuoso, de dentro do carro, enquanto esperavam Baekhyun pegar suas coisas,  podiam ver o piso brilhante de ouro ou bronze, todas as janelas possuíam molduras desenhadas e as portas eram todas de vidro, havia um jardim na calçada do prédio, as flores eram coloridas e formavam as iniciais J.P., as mesmas que estavam em cima do hall de entrada; o surfista não conseguia imaginar Baekhyun, acostumado ao luxo dentro de um pequeno cômodo minúsculo, tendo que dividir as poucas camas e o único banheiro, mas lá estava ele, encolhido na beliche de baixo, Jongdae na parte de cima e as garotas dividindo uma cama de casal no mesmo quarto. 

Eram quatro da manhã e o surfista perambulava pelo apartamento, decidiu que ficaria mais tranquilo se pudesse observar o mar, por isso abriu a porta de correr da cozinha e ficou escorado do parapeito da varanda, ele tinha a visão da praia, podia ver que o vento estava forte. As pranchas estavam em pé perto da porta, elas já tinham ido em cada lugar, surfado cada onda e Xiumin planejava fazer aquelas viagens até seu último suspiro. 

— Ah, está acordado? — Ouviu perguntarem atrás de si, a voz não estava sonolenta ou cansada, o que lhe dizia que mais alguém estava tendo insônias naquela noite.

Baekhyun segurava uma garrafa de água fazia nas mãos, usava a mesma bermuda e estava sem blusa, revelando um abdômen liso e uma pele bronzeada.

— Não consegui dormir. — Disse o surfista, chamando com a cabeça o garoto. Ele apontou para um lugar muito distante, atrás de uma pequena ilha. — Nós vamos para lá. Depois da ilha tem um rochedo, pertence ao parque nacional. É ali que iremos surfar. 

— Vocês. — Corrigiu, com pressa, Baekhyun. — Eu ficarei olhando... de longe.

O universitário observou que Xiumin estava com os pensamentos distantes, o surfista observava o horizonte e Baekhyun queria muito descobrir o que se passava naquela cabeça.

— Nunca pensou em voltar? Para a Coréia?

Xiumin negou, sem tirar os olhos do mar.

— Não tem nada lá que me faça feliz.

Baekhyun, por algum motivo que ele estava começando a entender, ficou com a respiração fraca por alguns segundos.

— E se você encontrasse alguém? Não deixaria o surf de lado?

O surfista encarou o garoto com cabelos castanhos e traços delicados, olhou-o e viu alguém que valia a pena conhecer, entretanto suas palavras não saíram amigáveis como gostaria.

— Surfar é minha vida. — Disse com as palavras secas. — Qualquer um que se aproxime de mim precisa ter isso em mente.

O garoto assentiu, sentindo novamente a respiração falhar.

— Quando fugi de casa, — continuou Xiumin, — eu jurei que iria conhecer cada ponto, cada arrebentação, cada área de surf que eu pudesse.

Baekhyun novamente assentiu, ele gostaria de saber como seria amar tanto algo a ponto de abandonar tudo, conforto, casa, família, parecia o tipo de amor que duraria para sempre.

— Vou acordar os outros. — Anunciou o surfista, retirando-se da varanda e deixando Baekhyun sozinho, com uma tristeza estranha e uma curiosidade absurda.  

Jongdae foi o primeiro a levantar, seguido das duas garotas com quem dividiu o quarto e de Chanyeol, sendo o último e o mais difícil do grupo de acordar.  A cara de todos estava amassada e os olhos fundos, mas tal como Xiumin, todos ali gostavam do contato com a água, por isso em nenhum momento reclamaram do horário.

Pegaram as roupas, utensílios para limpar a prancha, as próprias pranchas e a chave de um carro velho que os cinco amigos tinham comprado com algumas economias, aquilo já fazia três bons anos.   

— Ligou para Dia? — Questionou Jongdae, entrando no banco do carona, enquanto Baekhyun e as duas garotas iam atrás e Chanyeol esparramava-se no assento móvel; suas pranchas estavam na parte de cima, bem presas e seguras. Era tudo o que precisavam.

— Ele estará lá. — Respondeu Xiumin, ligando o carro em seguida.

E depois de quarenta minutos ouvindo a rádio litoral, que indicava para os surfistas a temperatura da água, velocidade do vento e altura das ondas, encontraram o velho surfista encostado na porta de sua casa, ele tinha um rádio nas mãos e escutava a mesma frequência que os surfistas vieram ouvindo no carro.        

— Tem certeza que vão surfar nesse frio?! – Questionou Baekhyun, aproximando-se de Xiumin que caminhava atrás do grupo.

—  Aqui na Tasmânia as ondas ficam melhores quando o dia é mais frio.

— Melhores em que sentido?

— Maiores. — Respondeu Jongdae, atrevendo-se a virar apenas parte do rosto para ver o universitário, este vinha com um casaco e uma touca, aquilo fazia-o parecer doente já que todos os outros vestiam roupas soltas e frescas.  

Baekhyun refletiu se aquele era o momento certo para comentar sobre seu pequeno problema com água, mas tudo desapareceu quando Xiumin deu-lhe um sorriso carinhoso e ofereceu-lhe uma maça.

Enquanto os surfistas se alongavam, Dia soltava as cordas que seguravam o barco; apenas Jongdae e Xiumin vestiam sua Long John, eles eram os únicos que iriam se arriscar naquelas ondas.

O garoto magricela encontrava-se apavorado, estavam no meio do oceano e o pequeno barco em que estavam saltava quase dois metros sempre que atingiam uma marola um pouco maior. O mar estava agitado e ali era mais frio do que qualquer outro lugar que Baekhyun já havia ido, até mesmo do país de onde vinha.

— Tome isso. – Disse Xiumin, estendendo uma manta térmica para Baekhyun. O surfista agachou-se na frente do universitário, eles estavam dentro da cabine; Jongdae tinha um pequeno rádio nas mãos, era um objeto muito antiquado, mas que dava as melhores previsões da intensidade e direção dos ventos, o período da ondulação, o tamanho das ondas e se seria bom ou não o surfista sair de casa aquela manhã. — Não sei se foi uma boa ideia ter trazido você.

Xiumin sentia-se preocupado, o mar não estava amigável naquela manhã e as ondas estariam maiores e muito mais frias. Ele olhava para Baekhyun e só conseguia sentir culpa. Nem todos estão acostumados com aquele tipo de vida, principalmente quando essa pessoa vive coberta por luxo e conforto.

— Não! — Rebateu Baekhyun com pressa. Ele tremia, mas fazia de tudo para que o surfista não percebesse seu desespero, ele evitava olhar para a água, focava apenas em Xiumin, que parecia muito calmo diante da fúria da água que batia na polpa do barco. — Não, eu... eu estou empolgado. Sério. Nunca fiz passeios assim antes.

Xiumin sorriu, revelando aqueles dentes brancos e a boca aberta nas laterais que Baekhyun parecia amar cada vez mais.

—  O truque para não morrer de frio, — falou o surfista, sentando-se ao lado de Baekhyun, tão próximo que o universitário podia ouvir sua respiração, — é se aquecer com calor humano.

Seus braços aconchegaram o garoto com cabelos castanhos e Baekhyun permitiu que tal contato fosse feito, mesmo que de onde ele vinha aquilo significa uma relação muito intima para dois desconhecidos.

— Calor humano... isso parece bom.

Jongdae tentava ajeitar sua roupa apertada, mas aquela parecia encolher a cada dia que passava, ou ele estaria engordando por comer tanta merda? Não sabia dizer, mas sabia que nunca virá seu melhor amigo agir daquela forma; Xiumin abraçava Baekhyun por cima de um cobertor térmico, o surfista já usava as roupas adequadas para cair na água e as duas pranchas estavam encostadas aos seus pés, eles já haviam passado parafina nelas antes de entrar no barco, portanto estavam prontas para uso.

— Nunca surfou antes Baekhyun? — Questionou Jongdae, atrapalhando alguns sussurros que o casal dizia um para o outro.  

O garoto que parecia muito mais novo para Jongdae negou com a cabeça, evitando perder o contato com o ombro de Xiumin.

— Quantos anos tem? — Questionou novamente Jongdae, deixando Xiumin apreensivo.

— Vinte e quatro.

O surfista assentiu. Eles tinham a mesma idade, afinal.

— Deve estar batendo vinte pés. — Anunciou Dia, o dono do barco.

Os surfistas sentiram seus corpos arderem em chamas, apenas por imaginar aquelas monstruosidades erguendo-se.

— Irá descer desta vez? — Perguntou Xiumin para seu amigo.

— E você? — Rebateu o outro com pressa.

Xiumin achou estranho o jeito que o outro surfista falava, mas estava empolgado demais para perguntar o que estava havendo.

Dava para ver as muralhas mortais que cercavam o Tasman National Park, um deslize e o surfista podia ser jogado para aquele penhasco de formação rochosa, o que resultaria em uma morte brutal, para melhorar a situação O Ponto do Diabo era recheado de tubarões e apresentava um coral raso, as ondas quebravam de um jeito nada amigável, arrebentando-se em duas partes, deixando sua parede ondulada e quase impossível de se estabilizar, sendo assim, aquele era um dos locais mais perigosos para se surfar.

O barco parou com uma distância segura da arrebentação. Os surfistas analisaram, saindo da cabine, que as ondas não estavam espaçadas, vinham uma atrás da outra, o que causou preocupações em ambos.  

— O mar não está bom. — Comentou Dia, o velho tinha um cachimbo nos lábios enrugados, ele certamente entendia do mar. — Sete metros com doze de comprimento. Ondulações constantes e altas. Os tubarões não devem aparecer.

— E então? — Perguntou Xiumin. — Não temos tubarões hoje.

— Sete metros... Vale a pena arriscar.

Os dois surfistas se olharam e não precisaram dizer mais nada. As pranchas já estavam em suas mãos antes mesmo de um piscar de olhos.

— Você vai mesmo?! — Indagou Baekhyun puxando Xiumin pelo braço, o universitário estava enjoado pelo movimento frenético do barco e podia ter certeza que a água que era jogada em seu rosto não era fria comparada com a que os surfistas teriam que enfrentar.

Xiumin empurrou gentilmente o garoto para dentro da cabine, certificando-se de que ele continuaria com o coberto térmico envolta do corpo.

— Já fiz isso antes. — Sua mão livre sacudiu os fios castanhos do outro. Jongdae o chamava e o velho Dia continuava a citar fatores meteorológicos. — Mas se eu morrer lá

— Meu Deus! Xiumin! — Baekhyun tapou o rosto, mas estapeou o peito do surfista antes, este gargalhou diante da reação do universitário. — Não brinque com essas coisas.

— As ondas tão esfriando! – Berrou o outro surfista.

Xiumin balançou as mãos para o amigo, ele queria muito fazer algo e não sabia se podia. Seria tão terrível assim se antes de cair nas ondas ele recebesse um beijo do universitário? Ele não sabia, mas aproximou-se de Baekhyun mesmo que não tivesse uma resposta. Sua mão puxou com suavidade a cabeça do outro, deixando que suas bocas encostassem com calma uma na outra, os movimentos deveriam ter sido calmos mas logo o beijo transformou-se em uma explosão de fúria e paixão; Xiumin teve medo de que aquele beijo pudesse ser mais perigoso do que as ondas que ele iria enfrentar.

— P-por que fez isso? — Perguntou Baekhyun, ele respirava ofegante pela boca, tinha as mãos firmes de Xiumin em seu pescoço e ali podia sentir o tal calor humano.

As respostas não vinham. O surfista só sabia que precisava daquele beijo.

— Eu não sei.

Baekhyun, quase tão confuso quanto Xiumin, assentiu.

— Xiumin! — Berrou Jongdae vendo seu melhor amigo beijando o garoto da festa.

Ambos caíram na água congelante juntos e remaram juntos para onde as ondas estavam se formando. Xiumin estava ali, mas sua cabeça não parecia estar ali, ele só sentia sua mão na cabeça do outro, sua boca junta na do outro. Ele não percebeu quando seu amigo empurrou sua prancha com os pés e logo em seguida jogou água na sua cara.

— Tá de caô?! Estamos na arrebentação. — Resmungou Jongdae, ele via seu amigo perdido e aquilo era um absurdo, Xiumin jamais ficava perdido ou com a cabeça distante quando estava no mar. — Tasmânia, lembra? Morte, ondas perigosas... qual é a tua?!

Brow, eu não consigo pensar em nada. — Admitiu repentinamente o surfista, ele via as marolas se transformando em ondas gigantescas não muito longe de onde eles estavam, sabia do perigo, mas estava começando a pensar que exista perigos piores na vida.

Seu amigo encarava o outro perplexo, nunca tinha visto Xiumin daquela forma e tampouco compreendia o que estava acontecendo.

— Ele vai embora. — Anunciou, despreocupado. — Nós vamos embora. Em dois dias. Acho melhor você começar a pensar mais rápido. Agora, — continuou ele, virando a cabeça do amigo para as ondas que vinham com força para eles, — eu quero que tu pegue aquela onda como se fosse a primeira, tá certo?

Xiumin viu a onda se formar, era rápida e arrebentou-se em duas partes, ele assentiu, ainda vidrado com a quantidade de espuma que se espalhava no oceano. Era disso que ele gostava, era aquilo que fazia ele feliz, ele vivia para amar as ondas e caçar elas ao redor do mundo.

— Tá certo.

E ambos foram. Xiumin levou um caldo logo na primeira tentativa, levou outro em seguida e viu Jongdae rindo sempre que ele emergia após a turbulência da onda. Seu amigo dropou a primeira onda caindo fora com um salto; era impossível fazer um Hang Five naquele lugar, contudo o surfista tentou e levou o caldo mais sinistro de sua vida.

— Virou prego?! — Zombou Xiumin quando ele e Jongdae juntaram-se novamente.

Os dois amigos riam um do outro, estavam cansados e famintos, o sol ao contrário do que previram apareceu no céu queimando tudo ao redor. Do barco, Baekhyun tremia, temia e tossia, o velho Dia continuava fumando o cachimbo e não parecia querer parar mesmo com as tosses do universitário. Ele observava os dois surfistas e a cada tombo que eles levavam seu coração parecia parar, mas logo retornava a bater quando uma cabeça aparecia na água; a cabeça sempre aparecia rindo, eles eram loucos, entretanto Baekhyun estava achando brilhante a ideia, os surfistas se desafiavam livremente, sem apostas com dinheiro ou ofensas, eles curtiam o que estavam fazendo e aquilo fez Baekhyun sentir-se um pouco menos enjoado.

Entre as ondas, Xiumin parecia mais relaxado, mais confiante também, mas toda sua confiança e suas respostas desapareceram quando eles retornaram ao barco.

— Como foi? — Quis saber Dia, ajudando os rapazes com as pranchas.

— Surreal. — Respondeu-lhe Jongdae, chacoalhando seus cabelos e sentindo naquele momento o frio que fazia ali. — Lá dentro... no tubo... é uma loucura.

Dia observou as ondas, observou os jovens que para ele eram realmente jovens e imaginou como seria se ele tivesse aquela idade novamente.

— Se formos viver sem cometer nenhuma loucura, — disse o velho, ainda com o olhar no horizonte — não estaremos vivendo realmente.

 

-ooOooOooOoo-

 

Eram dez horas e estava um calor insuportável, os surfistas se despediram de Dia, pagaram-lhe e agradeceram pela disposição do velho. Encontraram o restante do grupo jogando vôlei, as bolsas ficaram jogadas na areia sem nenhuma preocupação, não havia ninguém além deles naquela praia. Xiumin fincou sua prancha na areia e Jongdae o seguiu.

— Vou dar um mergulho. — Anunciou Jongdae, motivando a Elisa e Chanyeol para irem juntos.

Xiumin ficou sozinho com Baekhyun e Angélica que espalhava protetor solar em suas pernas negras, o surfista ficou em pé do lado do garoto, incapacitado de falar qualquer coisa agradável.

— Você não quer ir nadar com eles? — Ofereceu Xiumin, lembrando-se do beijo que havia dado no universitário enquanto estavam no barco.

— Estou bem. — Ele havia largado seu casaco e em seu lugar usava uma blusa branca regata.

Xiumin não era o cara enérgico como Jongdae e Chanyeol, gostava do silêncio e da calmaria, mas odiava o silêncio constrangido e por isso resolveu dar ao universitário aquilo que ele mesmo havia proposto.

— Angélica? O que acha de ensinar Baekhyun a tomar uns caldos?

A surfista jogou os cabelos cacheados para trás, trazia um sorriso gigante no rosto e aquilo parecia preocupante na visão de Baekhyun.

— O mar tá flat hoje, tá perfeito! Bora lá. 

Xiumin mandou o garoto retirar sua blusa e puxou-o pelo braço até a água, Angélica ia na frente levando uma Funboard; Baekhyun sentiu todo o seu corpo tremer quando a água fria encostou em suas canelas, ele ia sendo arrastado para dentro do mar e os mesmos enjoos retornaram.

— Vai rolar a temporada lá no Hawaii, — comentou Angélica, a prancha com cores quentes ia sendo arrastada como uma boia e Baekhyun começou a se sentir como aquela prancha, ele tinha as mãos de Xiumin em seu pulso ainda e eram mãos grossas e firmes, deixando mais difícil que o universitário se soltasse. — Acha que conseguimos pegar?

— Vai tá caótico lá, em! — Murmurou o surfista, já imaginando as ondas alucinantes que o Hawaii iria proporcionar. — Vamos ficar uns meses por lá, teremos tempo.

Já estavam com a água pela cintura e a cada ondinha que vinha para cima deles a altura parecia aumentar.

— Não está bom aqui? — Indagou Baekhyun, sua respiração estava irregular, ele respirava pela boca ofegante e tremia toda vez que uma nova onda vinha para cima de seu corpo. Os surfistas não pararam, eles iam cada vez mais para o fundo. — Aqui está bom!

Xiumin jogava água no corpo para que este se acostumasse com a temperatura da água quando o garoto de cabelos castanhos se soltou dele apavorado.

— Vai meter a cara na areia se ficar aqui. — Disse Angélica, a surfista já tinha água quase nos seios e já possuía o cabelo cacheado todo encharcado.

— Ela tem razão, — falou Xiumin dando um passo na direção do universitário, mas este recuou imaginando que seria puxado a força para dentro do mar. — Você está bem?

Baekhyun negou com a cabeça, evitando olhar para o horizonte azulado que cercava cada ponto daquele lugar.

— Eu não sei nadar. — Murmurou ele em um som inaudível, Xiumin aproximou-se até conseguir tocar os ombros do garoto, ele tremia e o surfista suspeitou que não fosse somente pelo frio. — Eu não sei nadar.

— É isso? — Riu, dando tapinhas no pescoço de Baekhyun. — Nós estávamos em mar aberto e isso não foi problema para você.

— Estávamos dentro de um barco, — resmungou ele, sentindo-se incompreendido — com coletes salva-vidas embaixo dos bancos.

Angélica não conseguia escutar o que o casal conversava, mas sabia que era algo muito bobo pois Xiumin ria. Ela decidiu remar até a arrebentação e esperar algumas ondas enquanto os outros discutiam.

— Tá com medo de se afogar?! — Indagou Xiumin, aquilo parecia bizarro já que a ideia de ficar um dia na água veio totalmente de Baekhyun. — Por que quis vir, então?

O garoto teria batido os pés se não estivesse nervoso demais, ele via a surfista nadando para longe deles e ela se afastava com agilidade.

— Eu queria saber como era. — Respondeu ele, omitindo a parte de que queria ficar um pouco mais ao lado do surfista. — Saber como é viver assim... e isso parece incrível. Acho vocês loucos por se arriscarem naquelas ondas, mas continua sendo incrível.

Xiumin escutou as palavras agitadas com calma. Olhando para Baekhyun, todo preocupado e paranoico, ele teve a certeza que o garoto valia a pena; inconscientemente passou a mão molhada pelo rosto do outro, alisou-o por segundos, tocando sua bochecha com o polegar enquanto os outros dedos percorriam seu maxilar, nuca e orelha.   

— Você poderia fazer parte disso.

Algumas risadas podiam ser ouvidas não muito longe, o vento forte batia nas árvores formando um som muito bonito, eles estavam naquela praia sozinhos e deveria ser preocupante se não fosse maravilhoso. Um silêncio estranho se perpetuo entre o casal, Baekhyun não conseguia retirar os pés do chão mesmo com as ondas batendo em sua barriga e fazendo-o tremer.

— E largar a faculdade? — Indagou Baekhyun após encontrar palavras, refletindo somente depois que sua pergunta dava a entender que ele cogitava tal ideia. — Eu não posso... eu

— Seus pais não deixariam, não é? Eles que decidem o que fazer da sua vida.

Xiumin não se importou com suas palavras grosseiras, era a verdade e o garoto sabia disso. Retirou suas mãos do rosto de Baekhyun dando dois passos para trás, sentindo o impacto de uma onda em suas costas desnudas.

— Se quer viver sua vida estudando algo que não gosta, morando onde não gosta... e como é mesmo? Fazendo amigos de quem não gosta, a escolha é sua. — Disse o surfista, irritado. Como alguém iria preferir viver uma vida terrível, sem paixão ou sonhos quando uma porta gigantesca estava sendo aberta para si?

Baekhyun caminhou de volta a praia, assustado demais com o que ouvirá, assustado com as verdades que o surfista havia atirado em cima dele. Xiumin retornou para a areia somente depois de alguns mergulhos, ele viu Angélica deslizando em algumas ondas e seus amigos arremessando a bola de vôlei um para o outro, ele teve a certeza de que Baekhyun havia saído da água para chorar e teve a certeza quando encontrou o universitário com os olhos inchados e vermelhos. Sentou-se de frente para o outro, mas nenhum deles se atreveu a dizer nada.

A praia em que estavam, por sorte era deserta, sem quiosques para atrair turistas ou gritaria, era aquele tipo de lugar que fazia o coração do surfista relaxar, sem multidões, com a natureza em primeiro plano e a noite um som agradável de animais na mata.

O grupo passou a tarde na praia, eram como crianças, crianças sem pais, crianças independentes e livres. Chanyeol era o mais agitado e Jongdae o seguia nesta agitação, eles correram toda a extensão da praia, acharam troncos de areia para se sentarem e alguns outros para fazer uma fogueira; Angélica deixou que os outros a cobrissem com terra, tudo ficou na memória é claro, pois entre eles eram proibido o uso de qualquer aparelho que os distraíssem.

Elisa e Baekhyun descobriram que amavam as mesmas bebidas, sonhavam em comer as mesmas comidas e gostavam de jogos de tabuleiros.

A noite caiu e a pequena fogueira foi acessa. Apenas os seis, a lua e o som das ondas batendo nas rochas.  

Xiumin sentava-se ao lado de Elisa, dividindo o mesmo tronco de madeira; Jongdae e Baekhyun em sua frente e Chanyeol e Angélica dançavam, entre algumas caricias discretas e piadas idiotas.

A surfista insistia em empurrar Xiumin sempre que caia na gargalhada, fazendo com que o amigo se juntasse a ela. A noite tinha um clima agradável, mas todos sabiam que logo iria esfriar, pois era assim que funcionava na Tasmânia, as temperaturas subiam e desciam e iam aos extremos sem aviso prévio. O universitário se enturmava com facilidade, Xiumin percebeu isso, ele parecia conhecer as piadas dos surfistas e parecia gostar do que ouvia, parecia se sentir à vontade.

Baekhyun ria junto daqueles surfistas e parecia que sua vida na capital da Coréia havia sido em outra época, uma época distante, muito distante. Entre eles parecia não haver problemas, as histórias que contavam eram sempre alegres, divertidas e nostálgicas; nada envolvendo dinheiro ou responsabilidades abusivas, para eles isso não existia.

Os cinco surfistas pareciam como uma família, acordavam juntos, saiam juntos, conversavam e riam juntos, discutiam coisas estranhas e coisas sérias juntos, eles pareciam o tipo de gente que se acolhia. Baekhyun sentiu-se estranho, ele ria, mas tudo parecia passar em câmara lenta, aquela vida era bonita demais, simples demais, louca demais.

— Talvez bêbado você seja mais engraçado. — Riu Xiumin, jogando um pedaço de madeira muito pequeno na direção de Chanyeol que insistia em piadas que todos estavam cansados de ouvir, mas que mesmo assim levavam todos a gargalhadas.  

— Faça melhor, então! — Rebateu o surfista, após sentar na areia.

Tudo era muito engraçado, entretanto ninguém parecia ver os olhos de Baekhyun ficando úmidos; o garoto de cabelos castanhos olhava para Xiumin rindo junto com Jongdae e Elisa e sua respiração parecia querer falhar, estava agitada e o nariz formigava enquanto ele segurava as lágrimas.

— Está decidido! — Berrou Elisa. — Xiumin irá pintar o cabelo de rosa por ser tão sem graça. O que acha Baekhyun?

O universitário não achava nada.

— Desculpa, eu preciso... — disse com pressa, levantando-se agitado do tronco de madeira, — com licença.

E então ele correu.

— O que houve? — Indagou Angélica, levantando seu corpo preocupada, mas sendo impedida por Xiumin que correu atrás do outro.

O surfista tinha o corpo em forma, contudo deixou que eles estivessem longe o suficiente para que pudesse parar o garoto. Este não fazia ideia de para onde estava indo, correu sem rumo algum, seus olhos estavam molhados e o nariz vermelho; Xiumin não sabia o que fazer, todos os seus amigos eram duros como pedra, não choravam por muitos motivos.               

— Por que me trouxe até aqui?! — Berrou Baekhyun com fúria para cima do surfista, sua voz transformando-se em um eco estrondoso. — Você não devia ter feito aquilo!

Xiumin tentou tocá-lo, mas foi rejeitado com um empurrão agressivo.

— Eu fiz... algo de errado?

Baekhyun gritou. Estava desesperado, sentia-se sufocado pelas mentiras que havia criado com a intenção de se conformar com a vida que levava.

— Eu odeio minha vida! — Rugiu, entredentes. As lágrimas caiando de raiva pelo seu rosto. — Eu odeio o que faço! Odeio me sentir vazio o tempo todo... eu

O surfista não teve escolhas, ele imaginou se aquilo era algum ataque de pânico ou coisa parecida e tinha a certeza de que havia uma maneira rápida para acabar com aquilo. Então, ele o beijou, novamente. Os lábios ficaram grudados, enquanto o universitário tentava empurrar, sem êxito algum o surfista. Xiumin não o largou, manteve seus corpos próximos e os rostos colados, até que Baekhyun finalmente cedeu e se deixou levar pelo beijo do surfista.

Veio lento, com o barulho das ondas atrás deles e as gargalhadas do grupo dos surfistas muito longe de onde estavam.            

— Por que fica me beijando? — Indagou Baekhyun ofegante pela tentativa falha de se soltar e ofegante pelo beijo, mesmo que este tenha sido calmo.

Xiumin ergueu os ombros, mas não deixou que Baekhyun se afastasse. Ele, enfim, tinha uma resposta.

— Eu gosto de te beijar. — O surfista deixou que seus dedos subissem pelo braço do garoto, percorrendo seu pescoço e acariciando o seu rosto. — Você gosta?

Sim, ele gostava, mas estava com muito medo para falar aquilo. Baekhyun queria ficar naqueles braços para sempre, sentia-se seguro e muito confortável.

— Eu não quero voltar. — Falou, ainda encarando Xiumin que não havia parado de acaricia-lo. — Não quero voltar para a Coréia.

A resposta era simples e Xiumin gostou de pronunciá-la.

— Não vá. Fique... fique comigo.

Os olhos do garoto pareciam ainda mais tristes e o surfista não estava suportando mais aquilo. Ele deixou que sua boca encostasse na testa de Baekhyun e pronunciou novamente o que tinha acabado de dizer.

Xiumin não era rico, não possuía casa fixa e trabalhava apenas o suficiente para pagar sua próxima viagem. Era algo muito diferente do que Baekhyun, coberto de carros caros, roupas de marca e restaurantes disputados, tinha.

— Você não gosta da sua faculdade, - falou Xiumin, repetindo o que já havia dito, repetindo o que o próprio Baekhyun já havia dito, sua boca continuou encostada na testa dele. — Não gosta do dia-a-dia em Seoul... você não é feliz lá. Eu poderia te fazer feliz.

O surfista segurou a cabeça do outro com ambas as mãos, olhando olho no olho.

— Baekhyun, nada me faria mais feliz se... se você quisesse ficar. — Nenhum deles parecia sentir, ver ou ouvir nada ao redor, estavam paralisados. E as palavras que Xiumin queria dizer, as palavras que ele prometeu dizer eram difíceis de sair, mas seis meses podiam mudar tudo e o surfista não queria que nada mudasse, ele queria que tudo fosse como aquele dia na praia. — Baekhyun, eu estou apaixonado por você.

O garoto estava submerso as palavras de Xiumin e aos poucos foi-se aproximando, deixando que os hálitos se misturassem e que novamente as bocas fossem unidas.

— Nos conhecemos a três dias. — Murmurou Baekhyun, afastando-se o suficiente para conseguir ver os olhos marejados do surfista, eles não tinham a cor da água, mas possuíam toda a adrenalina que o mar oferecia.

Xiumin sorriu, aquele sorriso aberto mostrando os dentes e gengiva.     

— Já vi casais se conhecendo ás nove e casando ás dez. Ninguém dita as regras aqui.

Eles se beijaram novamente, com mais força, mais fúria, se beijaram como o mar.

 

-ooOooOooOoo-

 

Uma mensagem rápida e recheadas de explicações foram ditas a mãe de Baekhyun, esta gritava desesperada no telefone, imaginando que seu único filho tivesse sido sequestrado. Arthur foi seu cúmplice, o universitário vindo do Reino Unido iria manter a mãe do amigo longe da delegacia, alegando que Baekhyun sabia o que estava fazendo e que prometia telefonar sempre que parassem em alguma cidade movimentada.

O carro ia sendo carregado de malas, ele ficaria na casa de um conhecido de Chanyeol que morava em Sidney, enquanto o grupo livre de surfistas iria pegar o avião para ir até Fiji.

— Bonitinho, — disse Elisa, chamando Baekhyun pelo apelido carinhoso — não vai poder levar todos esses sapatos, vai ter que escolher.

O ex-universitário estava sentado no sofá junto com Xiumin, ambos dividiam um pote de sorvete de frutas vermelhas.

— Deixe isso na rua. Alguém deve precisar mais do que eu.

Xiumin soltou um riso abafado, os dois últimos dias tinham se passado muito rápido e ele encontrava-se mais apaixonado pelo garoto de vinte e quatro anos a cada dia que passava.

— E depois? — Quis saber Baekhyun, seu corpo estava virado para Xiumin, enquanto este terminava de lamber o fundo do pote de sorvete.

— Depois do que?

— Depois de Fiji.

O surfista pensou em todas as oportunidades que tinham para fazer, pensou também no dinheiro que eles possuíam e na próxima cidade onde todos teriam que arrumar um bico por alguns meses. Pensou, com muito entusiasmo nas ondas alucinantes de Cloudbreak.

— Depois? — Perguntou, encarando Baekhyun que o olhava como uma criança sedenta de informações. Ele não pode deixar de puxar o garoto para perto dele e beijá-lo mais uma vez. — Nós iremos para Tonga.

Tonga? — Repetiu Baekhyun, deixando e gostando que o surfista o beijasse seguidamente pelo pescoço.

Niue. — Dois beijos em seu pescoço. — Samoa. — Outros mais. — Papeete. — Xiumin beijou o outro lado do pescoço de Baekhyun. — E depois...depois nós descansamos no Hawaii.

O surfista sorriu satisfeito e seu companheiro parecia tão satisfeito quanto. Kim Minseok fugiu de casa pelo amor ao surf, pelo amor ao esporte que não tinha pena em matar seus praticantes, mas agora ele amava algo que não iria sumir depois virasse de costas, Byun Baekhyun estaria ali. Agora, os momentos que alegravam o seu coração estavam na terra também e o surfista tinha um motivo a mais para ficar com os pés firmes no solo.


Notas Finais


The end!
Na história tem várias expressões e gírias que os surfistas usam, como por exemplo "droppar" que "seria descer a onda", assim como "caldo" e "prego" que respectivamente significam "cair da onda" e "surfistas que não surfam muito bem ou se acham bons, mas não são". Caso fique confuso é só me dizer que eu faço uma listinha explicando tudo ^^

Obrigada por aqueles que leram e ficarei feliz se tiverem gostado. Críticas são sempre bem vindas e também ficarei feliz em recebê-las <3

Gostaria de deixar o link das ondas de Fiji - Cloudbreak para os interessados, é criado um tubo perfeito e é lindo! <3 https://www.youtube.com/watch?v=40mQdxq0SUk


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