1981
Paul se emocionou enquanto segurava o pequeno recém-nascido em suas mãos. Linda, sua esposa, dormia para recuperar o cansaço. Por trás dele, sua mãe entrava na sala do hospital, o andar expressando todo seu poder.
– É uma linda menina. Posso saber qual será o nome da minha neta?
– Sarah. Assim como a avó.
– Estou com boas esperanças hoje – a avó disse. – Certamente, ela é uma criança abençoada.
2016
Depois de muito tempo tentando dormi, Ally e eu cedemos. Agora, de madrugada, tomamos chá, cada um de um lado da cama. Ela quase não fala.
– Então... O que preciso saber? – tento ser gentil. Ally me lança um olhar matador e triste, tudo ao mesmo tempo.
– Eu não tenho nada pra falar.
– Por favor. Há dois anos, nós discutíamos as teorias pra saber quem era o assassino em Pettenscurt, lembra? Se isso é algum tipo de enigma, podemos desvendar de novo.
– Lá, nunca foi um enigma pra mim – posso sentir certo desprezo na voz dela. – James me deu a missão de te assistir, e foi o que eu fiz. Depois, revelei só o necessário pra você achar que tinha uma pista.
– Mas se arrependeu.
– É claro que eu me arrependi! – agora, ouço o tom de indignação. – Eu achei que nada pudesse me chocar, mas depois daquele dia no parque... O meu choque foi real, todas as vezes, a cada morte nova... A gota d’água foi quando ele atacou sua mãe.
– E por que não antes?
– Porque James nunca foi um pai pra mim. Ele até tentou, pessimamente, me criar por 11 anos. Depois disso, ele desistiu, e eu fiquei livre pro mundo. Eu senti que se ajudasse ele teria um pai de verdade pela primeira vez na vida – os olhos de Ally começam a lacrimejar. Eu me aproximo. – Me perdoa. Eu sei que falar não vai adiantar nada mas, por favor...
– Eu já perdoei – afasto o cabelo dos olhos dela. – Só que, se você acha que isso é uma mensagem e tem a ver com você, precisamos descobrir o que significa. Antes que a história se repita.
– Vai ver não podemos fazer nada – Ally se aperta contra mim. – Vai ver isso é o destino me cobrando pelo que eu fiz.
– Estou disposto a pagar o preço com você.
Depois disso, Ally ficou mais calma. Pegamos no sono juntos.
***
– Hoje vai ser um dia cheio – Ally se apronta para o primeiro dia na universidade. O clima de desconfiança ainda pairava, mas pelo menos estávamos mais leves. – É uma pena que nossos cursos sejam diferentes.
– Ah, que fofo. Tem medo de ficar sozinha?
– Não tenho. Eu sou acostumada com solidão. É por você que eu sinto medo.
– Fica fria. Depois de tudo que aconteceu em Pettenscurt, fazer contato não vai ser um desafio dos maiores.
Damos as mãos e abrimos a porta do apartamento, para o elevador. Alguns andares abaixo, Liam também entra, parecendo levemente frenético.
– Aconteceu alguma coisa? – a voz de Ally tira ele da distração.
– Nada. Problemas de relacionamento, normal. Jamie está meio estranha hoje.
– Ela não é a única.
– Não é nada demais – Liam fala exageradamente alto. – Preciso ir. Nos vemos por aí.
– O que foi isso? – pergunto quando a porta se fecha.
– Aposto em bad trip – Ally ri baixo.
Quando finalmente chegamos no campus, nosso caminho se separa. Beijo tímido. Ally vai para o lado esquerdo enquanto eu traço o caminho oposto em direção ao bloco de medicina.
– Prazer. Meu nome é Nicholas – um garoto de cabelos enrolados estende a mão pra mim enquanto subimos a escada, e eu aperto. – Está fazendo medicina?
– Isso. Meu nome é...
– Jeremy, eu sei. Como não saber? Que ótimo! Vamos ficar nas mesmas aulas então.
– Acho que sim.
Entramos na sala onde a primeira aula do curso acontecerá. Tento ir pra longe, mas Nicholas escolhe uma cadeira do meu lado. O ar parecia mais pesado.
– Preciso usar o banheiro – falo, correndo.
– Ok, eu cuido da sua bolsa.
Depois de passar tempo suficiente no banheiro, volto para a aula.
O primeiro professor que tenho se chama Sr. Walter. Surpreendentemente, ele parece não ter chego aos 40. Pego meus materiais na bolsa e tento focar minha concentração no que ele diz.
***
Já no apartamento, abro as cortinas e reviro a bolsa para verificar o calendário da semana. Um papel fino cai no chão. Me abaixo para pegá-lo.
“ELIZABETH MORGAN ERA UMA VADIA”
Sinto o sangue ferver em meu rosto. Primeiro Ally, depois isso. Alguém achou que seria divertido brincar com a gente?
Pego o telefone e aperto no nome de Rupert, ou Daniel, tremendo.
– Filho! – meu pai atende ao telefone animado – Estava esperando sua ligação. Como está aí?
– Bem – minto. – E aí? Eu... Eu queria perguntar uma coisa. Tem tempo?
– Claro. O que é?
Luto pra expulsar as palavras da minha boca.
– James ainda está preso?
Meu pai ficou em silêncio por um tempo.
– É claro que sim. Por que está perguntando? Jeremy, o que aconteceu?
– Nada, eu... – outra mentira – Você sabe que meus sonhos são complicados. Só quis ter certeza.
– Eu juro que nada de ruim vai acontecer com você outra vez.
– Ok, obrigado. Preciso ir pra aula agora. Depois te ligo outra vez. Manda um beijo pra mãe, pai.
Desligo o telefone ao mesmo tempo em que Ally entra no apartamento.
– Hora da cerimônia no ginásio. Vamos?
***
Ally e eu nos colocamos ao lado de Liam e Kyle. Torço para que Nicholas não me encontre.
– Cadê a Jamie? – Ally pergunta sussurrando para Liam.
– Não sei. Parou de falar comigo faz algumas horas.
Os professores estão organizados em fileira em cima de um palanque. Localizo Sr. Walter, e ao lado dele uma professora da mesma idade de cabelo longo e escuro. Uma de cabelo cinza se dirige para a frente.
– Bem vindos, alunos novos da Highrise University. Espero que estejam aproveitando o primeiro dia de aula. Está na hora de hastearmos as bandeiras.
Três alunos mais velhos puxaram cada um uma corda para subir a bandeira principal. Enquanto ela desliza vagarosamente para cima, todos nós notamos que há algo de errado. Eles estavam fazendo esforço demais.
Quando a bandeira do meio finalmente chega ao topo, algo vem junto, pendurado em outro pedaço de corda escondido atrás do palanque. Os gritos surgem pouco a pouco.
O rosto inconfundível de Jamie está azul como o cabelo, envolto por um nó de corda.
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