História Surrender 2 - Roleta russa

2001

Sarah observava a avó na cama do hospital. Tinha carisma o suficiente pra ficar sozinha na sala sem enfermeiras por perto.

O coração da idosa não aguentou a notícia da morte do filho, e ela teve que ser internada às pressas. “Morreu no trabalho”, eles disseram, mas Sarah sabia que seu primo e os ajudantes tinham feito o serviço direito.

Agora, só faltava a avó. Os olhos dela se abriram, perdidos. Sarah sorriu.

– Obrigada, avó Sarah, pelo nome e por ter criado seu império. Mas chegou a hora desse império ser meu.

As veias dos olhos da idosa se dilataram. Ela já tinha suspeitado antes, e se recusou a acreditar. Naquele momento, ela soube que era real, e soube o que viria em seguida. Uma lágrima escorreu.

– Que Deus ou qualquer coisa assim te receba bem, seja pra onde a senhora for – a neta disse, antes de desconectar os aparelhos que mantinham a avó viva.

2016

–  Jeremy! – Emily arregala os olhos ao me ver, mas Liam aperta a faca com mais firmeza.

– Sem uma palavra – ele diz pra ela, e se vira pra mim. – Cadê a Ally?

– É o que eu vim descobrir – respondo, tentando não tremer, mas sinto o suor se formando na minha testa. Emily talvez soubesse, mas não podia fazer nada daquele jeito. – Liam, por que está fazendo isso?

– Pra proteger minha amiga. Não e a Ally que ela quer, é você.

– Ela quem?

– Sarah. A irmã.

Agora havia uma resposta a mais, mas pouco daquilo fazia sentido. Ally tinha uma irmã. Só que se a tal Sarah sabia que Ally era irmã dela, por que resolveu iniciar assassinatos em série ao invés de tentar simplesmente um reencontro amoroso?

Eu sabia o que tinha que fazer. Da primeira vez, tinha funcionado. Eu consigo atirar nele a tempo.

O problema é que, se eu fizer isso, todas as respostas se vão com ele.

– Jamie. Você sabia? – faço outra pergunta.

– Sim. E sobre Nicholas também.

– Por isso atirou nele antes que ele contasse.

– Nós só estávamos fazendo o que Sarah pedia.

– Liam, Nicholas matou Jamie. Ele matou sua namorada.

– Não, não matou. Eu estava lá. Era eu no vídeo que Nicholas enfiou na minha boca. Eu matei Jamie.

Aquilo foi um choque. Como, depois de tudo que passamos, Ally e eu não percebemos o que estava acontecendo? Absolutamente todos a nossa volta estavam envolvidos naquilo.

– Eu e Nicholas tivemos que correr – ele continua. – Eu tinha acabado de tirar o disfarce quando vocês apareceram no elevador.

– Kyle também era cúmplice?

Liam ri.

– O coitado não sabia de nada. Era tão quietinho. Logo o suspeito mais clichê. O misterioso. Mas ele era uma boa pessoa. Vai ser vingado. Vou descobrir quem fez.

– Então você não sabe?

– Sarah não conta tudo. Só conta o que precisamos saber.

– Bom, ela mentiu. Ally também recebeu ameaças. Essa... Sarah, não queria proteger ela de nada. Ela é tão louca quanto vocês.

Quando volto meu olhar pra Emily, percebo que ela está chorando. Só queria dar um fim naquilo. Minha mão já estava na arma quando a voz surgiu por trás de mim.

– Como pôde, Liam? – me viro imediatamente pra ver Ally. Ela anda devagar, cansada. Corro pra abraça-la, mas ela não usa tanta força quanto eu.

– Ally, que alívio – Liam afasta a faca de Emily, e ela corre. – O que aconteceu?

– Não se atreva. Você viu o que aconteceu. E não fez nada quando aquele caminhoneiro nojento me levou. Ele me amarrou lá, num lugar escroto. Só consegui me soltar agora.

– Ele me obrigou a vir pra cá e esperar – com a faca na mão, Liam se aproxima. – Me obrigou a manter a outra sob a faca até que Jeremy chegasse.

Emily aproveitou pra vir pro nosso lado. Saco a arma do bolso, e Ally segura no meu braço que não estava levantado. Liam para de caminhar.

– Ally, não deixa ele fazer isso. Eu aceitei tudo isso pra te proteger.

– Eu ouvi tudo. Você é meu amigo. Era. Por que aceitou fazer isso? Por que virou um assassino?

– Desculpa, Ally, mas ela é tão convincente...

– O namoro com Jamie foi real?

– Não – Liam agora desaba. – Tivemos que fingir que era pra quando vocês chegassem.

– Depois de tudo... E eu te dei um espaço no meu coração, que nunca coube quase ninguém! – Ally também chora. Abraço ela com força. Emily permanece em choque.

– Ally, eu sei que você também se envolveu. Todas as notícias sobre o caso em Pettenscurt te apontavam como cúmplice. Eu fui manipulado, como você foi. Você tem que entender...

Antes que eu pudesse me dar conta de qualquer coisa, Ally tira a arma da minha mão e dá um tiro certeiro no peito de Liam. Ele tenta tatear alguma coisa antes de cair completamente, e alguma frase morreu na boca aberta, até que não resta mais vida.

A arma causa um eco estrondoso na madeireira ao cair no chão.

– Jeremy, o que foi que eu fiz? – Ally cai sobre mim, segurando na minha camiseta. Vamos pro chão, e Emily participa do abraço.

Apesar de tudo, Ally nunca tinha sido uma assassina.

– Está tudo bem, amor – tento deixar ela mais calma, ainda atordoado.

– Eu sei que mal falo que te amo, mas é verdade, Jeremy. Eu amo você.

– Eu sei. Eu sei – enxugo as lágrimas dela. – Eu também te amo. Logo logo vai passar. Só temos que achar sua irmã e descobrir onde ela está.

– Eu estou bem aqui – uma voz feminina surgiu de trás, de algum lugar do alto. – E esse não foi o fim. Vocês podem ter matado um dos meus peões, mas não podem matar todos.

Todos viramos pra ver onde a mulher estava, mas a luz cobria demais. Foi só quando ela desceu que chegou mais próximo que, com muito esforço, pude reconhecer.

A professora jovem do dia da abertura. A professora que estava fazendo sexo com Nicholas no vídeo. Só que não parecia a mesma pessoa.

Ally soou como uma criança confusa:

– Irmã?

Sarah respirou fundo.

– Irmãzinha. Senti sua falta, Anna.