História Surrender - Camila, no!

 Acordei com a claridade forte contra meu rosto, me esforcei o máximo para não levantar da cama mas algo me intrigou; além da cortina estar aberta e meu quarto exposto a luz do sol, a casa estava com um cheiro de queimado. Queimado, era isso.
Desci as escadas correndo e dei de cara com uma cena um tanto quanto adorável. Camila tentando controlar a arte de cozinhar, porém não conseguindo, talvez eu ainda teria que explicar muita coisa sobre o fogão para Camila, aliás, ela precisava mesmo disso.
— O que diabos está acontecendo aqui? Tá maluca? Se quer colocar fogo na casa, avise antes. — Ironizei vendo ela se desesperar com o fogo aumentando.
— Mani, eu não sei mexer nessa coisa.
— Percebi. — Desliguei o fogão e ela me olhou incrédula. 
— O que? Não é como se fosse um bicho de sete cabeças. — Revirou os olhos ignorando meu comentário e me atropelando com suas palavras.
— Já são uma hora da tarde, tentei fazer um bom café da manhã para você, mas... bem. — Olhou para a frigideira. — Queimou. Você acorda tarde e já não é mais de manhã, não é mesmo? 
— A culpa não é minha se eu estava cansada, Mila. — Me defendi agora encarando ela enquanto a mesma pegava sua bolsa em cima da mesa e se direcionando a porta.
— Tá bonita, posso saber onde vai toda arrumada assim? — Falei em um tom brincalhão.
— Reunião com a senhorita Anne Balsh. — Respondeu no mesmo tom dando uma rodadinha animada e mostrando sua roupa, claramente casual para uma simples reunião. 
— Não vai não. 
— Mani, eu tenho que ir sim, a minha carreira vai estar na conversa, meu futuro, se tudo correr bem, como eu penso que será, participarei de um novo evento de uma coleção dos Balsh's novíssima em folha, não posso perder essa chance, além do mais, tem um carro lá fora me esperando. — Apontou para a janela. Desde quando Anne buscava as modelos em casa?
— Ela é perigosa.
— Ela é minha única chance de ficar mais tempo em Los Angeles.
— Você pode ficar aqui o tempo que quiser, Camila, sabe disso.  — Retruquei esperando uma resposta.
— Não. Sabe que não posso.
— Por que não? — Questionei.
— Sou uma modelo, Normani; como você. Não posso viver em eventos pequenos, essa é minha chance de voltar para o auge, assim como todas as outras que foram escaladas para participar. Pensei que você fosse me entender como ninguém, mas vi que é em vão. — Sussurou a última parte pegando sua bolsa e batendo a porta com o máximo de força que conseguia. Acredito que ela não estava com raiva, e sim magoada, mas o que eu poderia fazer? No final estou tentando manter ela longe de problemas, e essa mulher é um problema.
Tentei me manter calma colocando um filme qualquer na televisão, mas a cada momento que eu continuava em casa, eu me sentia cada vez mais presa à Camila e o que ela poderia estar fazendo com aquela mulher diabólica. Claro, reunião. Porém eu sei o que essa mulher é capaz, ela é maléfica, ela tira vantagens das pessoas e era isso que ela ia fazer.
Afastei meus pensamentos e tentei ligar para Camila, uma, duas, três vezes e nada; sempre caia em caixa postal ou coisa do tipo, e eu já estava cansada de ficar em casa imaginando as bobagens que a maldita poderia estar falando a essa altura. Anne tinha 26 anos e era muito chamativa e atraente para sua idade, porém incapaz de usar tudo isso para o bem, eu conhecia bem a peça. Quanto mais eu ficava ali paralisada mais eu acreditava nas besteiras que minha mente criava.
                                                                                       
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— Obrigada por me chamar para tomar sorvete, eu amo esse lugar. — Zendaya respondeu com uma voz animada olhando ao redor, me lembrando da menina que estava em reunião, aliás, minha única preocupação.
— Me pergunto quem não ama. — Sorri agradavelmente, porém desanimada.
— Normani, o que você quer exatamente? 
— Oi? 
— Por que me chamou aqui?
— Assim você me ofende. Não posso mais chamar uma boa e velha amiga para tomar sorvete? 
— Claro, é que geralmente você só me chama para pedir favor. — Deu ênfase na última palavra. — E percebi que não estamos tendo muito tempo para coisas como essas. — Disse apontando para o sorvete que estava chegando.
— E sinceramente, parece que eu estou te perdendo cada vez mais para aquela garota. — Eu defenderia a Camila a um minuto atrás, diria que ela tem nome, e era para Zendaya chamá-la pelo nome. Porém pensei duas vezes, e tenho quase certeza de que eu já tinha me afastado de tudo e de todos por causa da Camila. Entendia completamente o ponto de vista que ela tentava me mostrar. Me afastei de festas, clubes, boates, coisas divertidas da vida para ficar ao lado de uma pessoa só.
— Digamos que seja sua nova namorada que esteja te mantendo longe de mim. — Acrescentou olhando para baixo, mexendo no sorvete como se fosse brinquedo.
— Daya, ela não é minha namorada. — Coloquei minha mão por cima da dela, acariciando-a com o polegar. Senti seu olhar curioso pairando por mim, e resolvi tirar. — Desculpa... Eu... Isso é normal, somos amigas, não é? — Sorri.
— Claro, somos sim.
— Ótimo.

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— Camila, querida, muito obrigada por me acompanhar até aqui, sente-se. — Disse Anne adoravelmente. 
— Mas, a reunião já acabou, senhorita Anne. 
— Me chame só de Anne, e sim, eu sei, mas quero te pedir uma coisa antes de você assinar o contrato com os Balsh's. — Disse séria e prestando atenção em cada movimento que eu fazia; o que eu não sabia se me incomodava ou se me passava conforto.
— Sim? 
— Aceita jantar comigo amanhã? — sorriu. Era a primeira vez que eu via ela sorrir desde que cheguei nesse prédio, talvez ela não seja de sorrir muito, mas seu sorriso era extremamente encantador.
— Seria uma honra. 
— Tenho uma proposta para você amanhã, e envolverá viagens, e uma passagem só de ida para o auge. — Sorri com um sorriso forçado, porém não deixei que reparasse. 
— Mal posso esperar.

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— Muito obrigada por me trazer em casa, Mani, o dia foi agradável. — Zendaya disse quando chegamos em frente sua casa, e abrindo-a depois de me dar um abraço aconchegante. 
— Tudo bem, disponha. 
— Quer entrar? — Falou segurando na minha mão.
— Não... — Soltei minha mão da sua, e dei um sorriso tímido. — Na verdade, estou esperando Camila chegar em casa, já está tarde, ela já deve estar me esperando.
— Então, tudo bem, pode vir aqui mais vezes se desejar.
— É claro, conte comigo. — Abracei-a novamente e ela entrou rapidamente em casa, bufei e senti o ar gelado de Los Angeles a noite. Quando cheguei em casa olhei próximo a janela. Camila não havia chegado ainda do seu encontro romântico com a idiota da sua nova chefe. Suspirei e quando ia procurar a chave, ouvi um barulho de um carro se aproximando, forcei meus olhos para ver mais claramente e percebi que Anne estava dirigindo. E junto dela, só podia estar a Camila, toda feliz, sorridente, ao lado de quem eu mais temia. Fala sério, aquela mulher não tinha nada demais, e além do mais não precisava trazer minha amiga em casa. Anne sussurou uma coisa para Camila e depois deu um beijo em sua bochecha, ela pode me ver depois que saiu do carro, saiu com uma expressão mais séria e se aquecendo em um casaco, que eu tinha certeza que não era dela.
— É sério isso? — Questionei cruzando os braços.
— Não vejo nada demais. — Se defendeu pegando a chave da minha mão e abrindo a porta. — Além do mais, tenho um jantar com senhora Balsh amanhã, não me espere para o jantar. — Sua voz ecoou por toda sala e subiu animada, dando pulinhos extremamente irritantes. Tinha que ser ela.
Revirei os olhos e meu celular apitou, também fazendo o barulho ecoar a sala inteira, liguei as luzes e chequei minhas mensagens mais curiosa do que nunca.

''Número desconhecido 22:10: Adivinha quem está de volta?''