História Survive (sobreviva) - Esse vazio machuca

Não sei descrever o alivio que senti quando o trailer adentrou as cercas que estavámos no inicio do dia, com certeza o retorno não é como eu esperava mas eu realmente estou feliz por ter Cassey e Carly ao meu lado. Assim que deixamos o trailer logo Hayes e Skylynn correram para os braços de Nash, as lágrimas de alivio eram visíveis para todos ao redor.

Michonne estava escorada na parede, a morena me olhava com a mesma cara carrancuda desde a intervenção no corredor, a ideia que ela posso ter algum envolvimento com Sammy rodou em minha cabeça me fazendo olhar feio para a mesma, não sei oque está acontecendo comigo. Eu realmente não sei!

Adentramos o prédio e Andrea balançava a pequena Grier com o maior sorriso em seu rosto, observei as portas do segundo andar que antes estavam fechadas, haviam algumas mulheres fazendo crochê, alguns homens mais velhos jogando xadrez, diversos quartos com camas arrumadas e alguns objetos pessoais decorando a parede.

Um quarto em especifico me chamou atenção as paredes brancas estavam decoradas por diversos desenhos feitos com giz de cera ou carvão, meu raciocínio me levou a pensar que seria de Nate ou Sammy pela besta com flechas na parede, em pouco tempo eu pude perceber que é a arma favorita deles, ou pelo menos de Sammy, meus olhos paralisaram na fotografia perto da cama, mas antes que eu pudesse focar em reconhecer alguém, o rosto de Carol dominou meu campo de visão

-Ah querida você precisa de um banho, aliás todos vocês -carol disse e depois tampou a própria boca me olhando preocupada- Ai meu Deus, me desculpe -ela riu- não quis ser rude

-Está tudo bem, tenho certeza que o cheiro de esgoto e cadáveres são uma péssima combinação.

Forcei uma piada estúpida, embora eu não estivesse no clima, Carol é boa demais para ser tratada com grosseria e aposto que até mesmo Nate sabe disso, ela riu e nos orientou até o banheiro, não sei descrever a felicidade que senti ao ver um chuveiro, nunca imaginei que pensaria nisso mas é a pura realidade.

-Deixem ligado alguns minutos para que a água fique quente, vou pedir que tragam toalhas para vocês 
-Isso é incrível -Matt disse observando o chuveiro-
-Muito obrigada 
-Não há de quê querida!

Ela encostou a porta e eu me sentei na pia encarando a parede completamente branca eu não queria pensar em nada, muito menos sentir algo, na verdade eu não sinto nada além do imenso vazio em meu peito.

-Como está se sentindo?

Matt perguntou se aproximando e tirando minha blusa imunda com cuidado, aquele tipo de pergunta sendo feita por alguém tão próximo era capaz de desabar todos meus muros, senti meus olhos lacrimejando e mordi forte meu lábio interior.

-Sinceramente, eu não sei, não depois de hoje -ele entrelaçou nossos dedos beijando minha mão- Acho que a ficha não caiu, dói, dói muito mas é como se eu não estivesse aqui -as lágrimas rolavam aos poucos por meu rosto- eu só quero pensar em nossas filhas e em como valeu apena acreditar

Matt engoliu seco com minha última frase, talvez ele se culpe por ter perdido as esperanças em nossas filhas mas não quero pensar nisso agora, suspirei e me levantei encarando o espelho atrás de mim aproveitei para prender meus cabelos completamente imundos

Me virei para Matt que parecia apaixonado pelas gotículas de água, eu ri não estou muito diferente dele. Ele retirou a camisa imunda, eu observei seu corpo me perguntando quando foi a última vez que tivemos um momento tão intimo, eu quase não me lembro da última vez que nós. Eu, tive tempo pra pensar nisso.

-Que foi? - ele perguntou rindo e eu percebi que fazia careta-
-Ah, é que -suspirei- não lembro a última vez que isso aconteceu -ele sorriu e se escorou na parede me olhando-
-A última vez que tomamos um banho juntos? -ele perguntou desabotoando seu jeans escuro, realmente tem muito tempo.-
-A última vez que fizemos algo intimo juntos 
-Bem -ele riu de canto e se aproximou de mim- Não vou mentir já faz muito tempo -ele acariciou meu rosto colocando uma mecha de meu cabelo pra trás- Mas o bom disso é que podemos relembrar

Ele colocou meu cabelo para o lado e começou a destruir vários beijos em uma linha imaginária pelo meu pescoço me deixando anestesiada, selei nossos lábios em um beijo necessitado, faz tanto tempo que não nos sentimos assim um pelo o outro, antes disso tudo a cada dia que se passava nosso casamento se desfazia, minhas mãos envolveram seus cabelos os puxando, suas mãos frias acariciando minhas costas lentamente me causava arrepios.

Ouvimos batidas na porta e Matt choramingou, eu ri de sua reação me cobri e abri a porta me deparando com um par de olhos castanhos, engoli seco enquanto o olhar de Sammy se alternava entre mim e Matt, sem dúvidas aqueles são os segundos mais constrangedores da minha vida.

-Carol me pediu para entregar -ele esticou as toalhas limpas em suas mãos- Ela deixou roupas limpas pra vocês no terceiro quarto a direita
-É obrigada -engoli seco e ele assentiu novamente alternando seu olhar entre mim e Matt- É Sammy, eu e Matt só, quer dizer nós só estamos...
-Alisson, você não me deve satisfação do que faz com seu marido -as palavras dele me atingiram diretamente e foi quando eu me senti patética por ter tentado me explicar pra Sammy 
-É.

Um riso sem humor escapou de meus lábios e eu desviei meu olhar para o chão, não tem palavras em minha mente pra contornar essa situação constrangedora

-Bom, venham para os fundos depois sempre fazemos uma fogueira

Assenti com a cabeça e nos encaramos pela última vez antes que seu olhar se alternasse entre Matt e eu mais uma vez e ele seguisse pelo corredor, fechei a porta me sentindo uma verdadeira idiota.

-Uou a água é realmente quente

A voz de Matt ecoou pelo banheiro me dispensando dos meus pensamentos e eu soltei um suspiro pesado ainda tentando entender o que acabou de acontecer comigo, me perguntando porque raios o meu subconsciente sentiu que devia sadisfação a Sammy.
Me virei para Matt, as gotículas de água molhavam seu topete castanho, descendo pelos leves traços do seu rosto o que leva questões de segundos para escorrerem pelo seu peitoral

-Você não vem?

Meus olhos se direcionaram para seu rosto novamente, ele sorriu de canto e estendeu a mão para mim eu ainda me pergunto mentalmente qual foi a última que fizemos isso, não falo somente do sexo mas a última vez que estivemos tão bem juntos.

Me juntei a ele sentindo a água quente relaxar meu corpo, senti um arder em meu braço no meio de tudo isso eu nem se quer percebi que me machuquei um pouco. Os braços de Matt envolveram minha cintura me puxando pra si não de um jeito malicioso apenas me sentindo perto, sua mão vaga envolveu meus cabelos fazendo um lento cafune, eu escondi meu rosto na curva de seu pescoço sentindo seu toque por completo.

-Vai ficar tudo bem

Ele sussurrou e eu somente assenti, eu não consigo analisar suas palavras como deveria, nem se quer consigo acreditar. O vazio em meu peito dói toda vez que eu me permito pensar nisso, eu só quero empurrar para longe essa dor e o dia de hoje que mais parece um pesadelo.

Puxei Matthew para um beijo, eu quero uma sensação familiar, algo que seja reconfortante, mas embora seu toque ainda envie eletricidade por todo meu corpo eu ainda não me sinto da maneira como preciso.

(....)

Eu secava meus cabelos enquanto respirava fundo para sentir o perfume de lavanda que vinham das roupas limpas que Carol nos deu, a sensação de estar limpa é uma das melhores.
Matthew se jogou no colchão de braços abertos e respirou fundo supondo que sentindo o mesmo perfume que eu

-Esse lugar é um paraíso -ele afirmou e eu concordei-
-Comparado com tudo que passamos lá fora, qualquer lugar com um chuveiro e roupas limpas é um paraíso

Ele riu alto concordando comigo, duas figuras pequenas adentraram o quarto correndo e pularam no colchão em cima de Matt, eu sorri sentindo meu coração se confortar com a imagem das duas a minha frente.

-Viemos buscar vocês para a fogueira -Carly disse abraçando o pai-
-Fogueira?

Matt perguntou e só então eu percebi que fiquei tão deslocada com o Sammy na porta do banheiro que esqueci de lhe dizer sobre a fogueira, desviei o olhar como se eu também não soubesse sobre nada disso.

-É, tá legal lá eu, Carly e Skylynn conhecemos um novo amigo -Cassey disse rindo e eu deduzi que seria Derek
-Derek? -Matt perguntou e elas concordaram- Bom, então vamos dizer oi pro Derek

Matt disse pegando Carly no colo, enquanto Cassey esticava a mãozinha para mim, seguimos o longo corredor do segundo andar até o final. Eu deixei eles na ponta da de escada, tem algo que ainda preciso resolver antes de descer caminhei até o fim do corredor adentrando o quarto com longas cortinas improvisadas com cobertores. 

Observei o jovem deitado na cama, eu sorrir ao ver o longo sorriso estampado em seu rosto,  é uma das sensações que eu estava me esquecendo do quão boa é, seus lábios ainda estão rachados devido a forte desidratação afinal ele perdeu uma boa quantidade de sangue

-Então como estamos? 

Questionei me escorando na soleira da porta, atraindo os olhos dos dois jovens para mim, a vaga imagem de Taylor rodou em minha mente, a garota de cabelos curtos Hillary, irmã de Aaron estava deitada ao seu lado.

-Diz que ele ainda não pode sair da cama -ela pediu e eu ri-
-Então, você é minha heroína? 

Aaron perguntou sorrindo e eu não pude evitar gargalhar, se tem uma coisa que eu não sou mais nesse mundo é heroína de alguém, na verdade eu nem se quer consigo salvar a mim mesma.

-Digamos que eu dei uma forcinha -me aproximei tocando seu rosto- Algum sinal de febre?
-Não, nada. Na verdade me sinto ótimo não há mais porque ficar de cama né? -ele perguntou desesperado e eu ri-
-Recomendo mais repouso, nada de se esforçar demais.
-Ta vendo eu avisei -a garota beliscou de leve o braço de Aaron que resmungou-
-Mas ele deve dar uma volta, andar nem que seja pelo corredor 
-Ta vendo Hillary -Aaron gritou e eu ri um pouco mais, eles são exatamente como eu e Taylor eramos-
-E os antibióticos? -perguntei-
-Duas vezes por dia. -Hillary respondeu e eu assenti-
-Você tá se recuperando bem, se precisarem de algo é só me chamar.
-Eu nem sei como te agradecer por tudo. 

Aaron disse tocando minha mão e eu sorri, é aquele tipo de momento que faz com que eu me sinta orgulhosa de mim mesma, embora seja por apenas um instante, é o instante em que você sabe que fez a escolha certa ao escolher sua profissão.

-Apenas se cuide

Deixei o quarto seguindo novamente o longo corredor desci as escadas em direção a saída. O patio era gigante, havia um estabulo e um grande celeiro oque não me surpreende, afinal antes disso tudo esse lugar era uma faculdade de medicina veterinária.

-As roupas ficaram boas

Carol se aproximou sorrindo e eu encarei a calça escura e blusa branca justas em meu corpo, Matthew vestia um jeans azul e uma regata vermelha, bem, digamos que moda é última coisa que importa agora, desde que estejamos respirando em baixo desses tecidos.

-Ficaram ótimas, nem sei como lhe agradecer
-Se sentem juntem-se a nós

Ela apontou para um lugar vago na grama ao redor da fogueira, fiz um contato visual com Sammy rapidamente eu estou envergonhada demais para encara-lo agora por mais convidativos que sejam seus olhos castanhos, eu realmente tenho que parar de detalhar Sammy desta maneira.

Mas os simples detalhes dele roubam minha atenção de uma maneira completamente única, eu não estou me interessando por ele isso seria no mínimo ridículo. Eu sou casada, Matt me ama e nós temos uma família juntos, que tipo de pessoa abria mão disso por uma leve atração física? Como eu posso ser tão estúpida já não basta a maneira como as coisas funcionam lá fora eu não preciso criar um caos aqui também.

Estou encantada por Sammy, por ele ter me salvado me tirado daquele hospital do qual eu não conseguiria sair sozinha, eu não teria sobrevivido. É somente isso, somente admiração.

-Ei, no que está pensando?

A voz de Matt me despertou de meus pensamentos fazendo com que eu me sinta suja e errada por está com Sammy em meus pensamentos, engoli seco e foquei nos olhos castanhos de Matthew. Eu me sinto uma pessoa horrível.