História Survive (sobreviva) - Continue!

    Perder, desistir não é uma opção, não para cirurgiões. Nós não deixamos o paciente até que o último suspiro tenha ido. "Risco de vida" é o que nos tira da cama de manhã, ou pelo menos era assim que funcionava, respirei fundo e me olhei no espelho mais uma vez, eu não me sentia limpa o suficiente então lavei as mãos até o cotovelo pela sétima vez, passei o álcool novamente e encarei o corpo do jovem deitado na cama a minha frente, o procedimento era simples uma bala alojada perto do estomago, a ferida estava infeccionando, eu iria retira-lá e a ferida iria melhorar com os antibióticos. Mordi os lábios tentando não pensar nos riscos.

-Ele é o meu irmão, ele é tudo que eu tenho agora, por favor não deixa ele morrer 

A garota de pele clara e cabelos curtos e escuros, ela chorava desesperadamente, não é algo que eu nunca tenha ouvido, quando a vida das pessoas ficam em suas mãos todas os dias, esse tipo de frase se tona comum, mas naquele instante eu só consegui me lembrar de Taylor.

-Ele não vai morrer okay?! -vacilei em minhas palavras e aquilo saiu como um sussurro-
-Promete? Você promete? -engoli seco e mordi o lábio inferior, ele estava me deixando nervosa-
-Você é uma cirurgiã incrível, essa cirurgia é uma das mais leves que você vai fazer na vida, você é perfeita Alysson e consegue -

   Matt sussurrou atrás do meu ouvido enquanto envolvia minha cintura por trás. passei as informações para mim mesma mentalmente mais uma vez
   É somente isso Alysson, você já fez procedimentos mais complicado, respirei fundo e peguei as luvas e percebi Sammy adentrar o quarto, seu olhar parou em mim acho que é bem evidente o meu desespero, ele colocou todos os medicamentos roubados do hospital no criado mudo me aproximei da cama e engoli seco, tirei o curativo que eles haviam feito, cerquei em volta com as toalhas brancas, observei os potes em cima da mesa

-O álcool 

Ele jogou em volta da ferida e eu espalhei, estava evitando tocar em algo para evitar o risco de piorar a infecção, eu espalhei o álcool somente para limpar mais o local, o garoto gritou de dor, ele mal abria os olhos, sua febre estava em 40, oque é péssimo

-Preciso que pegue o frasco marrom 

Ele pegou a anestesia e despejou sobre o local, eu estava insegura mas não podia me dar ao deslize de ficar trêmula, a ferida havia pus, eu fiz um corte reto, peguei a pinça improvisada, e tirei o fragmento da bala com cuidado, suspirei ao ver que havia conseguido, cuidei das feridas e logo depois dei os pontos necessários, eu sorri ao perceber que havia acabado.
Apoiei minhas mãos na cama e tentei respirar fundo, Sammy tocou meu ombro e eu retirei minhas luvas para consegui tocar sua mão, rapidamente nossos dedos se entrelaçaram, considerei aquilo como um gesto de gratidão

-Ele não tá respirando, não ta! -a garota gritou e meus olhos se arregalaram-
-Droga!

O coração parou, esse é um dos riscos que eu evitei pensar, fechei minhas mãos sobre seu peito e forcei, contei sete segundos e forcei novamente, se foram dez, vinte, trinta minutos, finalmente tirei minhas mãos de cima dele, meus olhos lacrimejaram, meu estomago revirava por causa do nervosismo, e o choro da garota ao meu lado me fazia querer gritar

-Obrigada! Obrigada! -ela me agradeceu quando ele apertou sua mão, ele ficaria bem, provavelmente acordaria daqui algumas horas, e se tudo der certo essa parada cardíaca não deixará ele com danos cerebrais 
-Vamos controlar os antibióticos para a infecção melhorar

Eu sai dali rapidamente puxando o ar com dificuldade, eu nunca havia duvidado da minha capacidade profissional como duvidei minutos atrás, me encostei na parede, tentando me recupar e Sammy se aproximou

-Ei. Calma okay? Ele ta bem -ele enxugou uma lágrima que insistia em cair- Você conseguiu -ele sorriu e eu o abracei o mais forte que pude nos encaramos por um tempo, seus olhos castanho agora mantinha um leve tom esverdeado oque realçava mais ainda o tom de seus cabelos
-Eu, eu vou contar pro Matthew
-Eu te levo até ele -dei um pulo e engoli seco, eu não havia percebido a presença da mulher morena ali, a mesma que estava lá em baixo, sua cara de mal humorada estava três vezes pior agora, definitivamente é a copia feminina de Nate - E você, vai ficar com Aaron 

Eu encarei Sammy rapidamente e ele somente assentiu ao oque ela disse, ela me olhou e eu a segui, sua pele é morena, seus cabelos castanhos formam tranças, ela é alta, poderia deduzir por sua beleza que era modelo, mas ela tem um porte físico atleta, eu estava me sentindo desconfortável, talvez pela cena com Sammy, eu não sei oque está acontecendo comigo, após seguir dois longos corredores descemos a escada e ela parou ao tocar a porta e se virou para mim

-Custamos muito para construir esse lugar, isso começou para você agora, mas todos aqui estão na estrada a bastante tempo e se você veio aqui pra arranjar confusão é melhor ir embora

-Olha, e-eu -gaguejei ela realmente me assustava-
-Sammy é um dos bons, precisamos dele para deixar esse lugar de pé 

Ela abriu a porta e adentrou, fiquei alguns segundos tentando processar oque havia acabado de acontecer, adentrei aquela sala e logo os olhares de alguns desconhecidos caíram sobre mim, eu conhecia bem aquele olhar, eu o recebia todos os dias, olhares de angústia, preocupação, olhos vermelhos de quem muito chorou e rezou, respirei fundo

-A bala alojada fez com que a ferida infeccionasse, eu retirei e ele deve acordar em poucas horas 

Observar aquela cena, me fez lembrar o porque eu escolhi medicina, o porque eu me dediquei tanto a isso, Matthew sorriu para mim do canto da sala, algumas pessoas se abraçaram e pela primeira vez eu vi Nate sorrir, sem ser irônico ou algo do tipo, me dirigi até Matt e o abracei apertado, minha consciência pesava toda vez que o nome de Sammy passava em minha mente, eu não sei o porque, talvez pelas palavras duras que ouvi minutos atrás.

-Aah minha querida, Deus enviou você para nós -A mulher de cabelos grisalhos que nos recepcionou me abraçou sorrindo, eu não soube oque dizer, sinceramente, eu nem sei mais em que acreditar- Afinal, me chamou Carol -eu sorri-
-Alysson, o lugar que você tem é incrível 
-Foi tomado com dificuldade -um garoto japa disse-
-Afinal, muito obrigada pelo que fez ao Aaron -outro japa disse, ele parecia mais velho-
-Cade os modos? -Carol disse rindo, ela tem um bom humor fora do normal- Esses são Carter e Glenn -eu somente assenti e sorri para os dois- Bem, já esta quase na hora de eu preparar o almoço, gostaria de me ajudar?

-Eu adoraria, mas eu preciso buscar minhas filhas -o sorriso dela diminuiu um pouco e eu me perguntei oque disse de errado.-
-Então vamos -Nate disse colocando a besta em suas costas, eu o encarei sem entender-
-Nada disso. -uma loira de olhos azuis, bem parecida com a que me guiou até Aaron- Temos uma regra, quem acabou de chegar não sai novamente
-Dane-se a regra Andrea 
-Dane-se as regras -ela riu- é mesmo Nate? Você sempre acha que pode sair por ai e tudo vai ficar bem, porque você é um Deus, o controlador de zumbis não é mesmo -ele revirou os olhos- aposto que foi por causa de você que perdemos o Cameron.
Nate travou o maxilar e engoliu seco, eu não estava entendendo aquela conversa mas era evidente como aquilo irritou Nate
-Cala boca, você não estava lá não sabe oque esta dizendo
-Toda vez que você sai em bando alguém não volta, Jimmy, Kian, e agora Cameron
-Vá se foder -os japas seguraram ele, não pude deixar de perceber seus olhos lacrimejarem-
-Chega! -uma garota de cabelos castanhos gritou- Meu irmão se foi! Se foi! E ficar discutindo não vai traze-lo de volta, que merda tem de errado com vocês? -a garota saiu dali correndo em meio as lágrimas, Andrea encarou Nate por um breve momento e seguiu a garota-
-Vai ficar com Aaron, nós vamos com eles -Carter disse tocando o ombro de Nate- hey brother, você sabe que não é sua culpa e.. 
-Não haja como se estivesse lá -Nate sacudiu os ombros e jogou a besta no chão, deixando a sala em passos rápidos-
-Desculpem, perdemos um dos nossos, um dos bons 

Carol forçou um sorriso de canto, logo as mãos de Gleen tocaram seu ombro, ele soltou um longo suspirou e depois se dirigiu a mim e Matthew, todos ali estavam em silêncio, seja lá quem foi esse Cameron, a perda dele parece ter abalado a todos 

-Nós iremos com vocês, querem avisar seu amigo antes? 

Glenn perguntou e eu assenti, logo estava de volta ao longo corredor, pude sentir os dedos de Matt entrelaçados aos meus, normalmente não somos tão grudentos um com o outro, antes disso começar passávamos o tempo juntos discutindo.

-Ela é tão fofaa!! 
Um menininho acariciava as bochechas da pequena Grier, enquanto Nash a trocava, ela estava com um ano e tentava a todo custo se livrar dos braços de Nash para engatinhar, Lizz havia levado ela para hospital por uma gripe qualquer, dia errado, hora errado, tentei expulsar esses pensamentos da minha cabeça.
-Vamos arrumar as coisas, vinte minutos estaremos no portão -Matt assentiu e os dois japas saíram dali-
-Oi garotão, qual seu nome? -Matt perguntou se agachando perto do pequeno loiro- 
-Derek 

Ele disse rindo e se remexendo, Cassey e Carly vão adorar conhece-lo, senti meu coração se apertar a sensação de desespero me consumia cada segundo mais, me sentei ao lado de Nash e escorei minha cabeça em seu ombro observando a pequena Izzie brincar com um chocalho que eu não faço ideia de onde surgiu.

-Elas precisam de você -Nash disse alguns segundos depois- Você disse que não iria deixar que eu me arriscasse porque Izzie precisará de mim, porque eu sou tudo que ela tem, mas Alysson você tem duas filhas
-Elas também tem um pai, incrível por sinal -sorri ao perceber como os olhos de Matt brilhavam ao brincar com Derek-
-E uma mãe incrível, sei que se sente culpada por não ter estado tão presente assim, mas elas amam você, não se arrisque daquele jeito, sabe que Matthew não aguentaria as pontas sem você, não com o estado que esta lá fora 

O choro travou em minha garganta, eu queria agradece-lo ou somente dizer como eu estou me sentindo agora, se eu tivesse voltado pra casa, Matt não teria que ter deixados nossas meninas, estaríamos juntos, ainda estaríamos passando por esse infernos, mas eu teria elas em meus braços agora

-Glenn está no carro 

Eu me levantei e apertei a mão de Nash, ele sorriu pra mim e logo eu e Matt seguimos Carter para o pátio, adentramos um dos carros junto com Carter, Glenn estava no da frente, junto com alguém que eu não faço ideia de quem seja, Carter deu partida mas antes que pudesse passar pelo portão, a porta do passageiro foi aberta e Sammy adentrou segurando uma besta

-O que você está fazendo aqui? -Carter perguntou enquanto Sammy se ajeitava no banco-
-Ué, o mesmo que vocês -ele me encarou pelo retrovisor e eu sorri de canto, Matthew me observou franzindo a sobrancelha, soltei um longo suspirou e entrelacei nossas mãos.

O caminho não era muito longo, mas eu não conseguia dizer nada  nem se quer pensar em outra coisa que não fosse minhas filhas, meus pais, Hayes, avistamos a casa antiga e uma onda flash backs invadiram minha mente, o caminho da cerca até a porta de entrada costumava ser uma pista de corrida para mim e Taylor, crescemos nadando no lago atrás da casa, a entrada estava bloqueada por tabuas, assim como as janelas, não haviam muitos andarilhos por ali, isso me aliviava mais a cada passo que eu dava, Matthew parecia travado, seus passos eram lentos, revelando o quanto ele estava com medo do que encontraremos lá dentro, já os meus eram rápidos demais, em segundos eu estava na varanda, bati no vidro da porta várias e várias vezes e nada, senti o nó em minha garganta

-Heey!! Mãe, pai sou eu -eu acabei quebrando um dos vidros, fazendo minha mão sangrar arredei a cortina improvisada e logo dei de cara com um par de olhos azuis segurando um taco de beisebol 
-Alysson! 

Ele soltou o mesmo ao chão e rapidamente removeu as tabuas da frente da porta abrindo a mesma, eu  o abracei o mais apertado que pude, senti as lágrimas quentes de Hayes molharem minha camisa 
-Onde eles estão? Meus pais? Cassey? a Carly? Onde elas estão? -ele me encarou mas permaneceu imóvel, oque me fez engoli seco- Hayes!