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História Survivors - Home Sweet Home.


Escrita por: twdprada

Notas do Autor


Oi Survivors <3 Como vão?
Queria agradecer (como sempre) os coments lindos, e aos favoritos! Sejam bem-vindos a fic!

Vamos ver o que vai acontecer no destino final de Emma!!!
Sei que o capítulo está meioooo grandinho, mas isso vai adiantar boa parte do que planejo.
Espero que gostem de cada detalhe (:

Boa leitura!

Capítulo 77 - Home Sweet Home.


Fanfic / Fanfiction Survivors - Home Sweet Home.

A pele é o maior órgão do corpo humano. Nos protege, nos mantém juntos. Literalmente, nos faz saber o que sentimos. A pele pode ser macia e vulnerável. Muito sensível. Fácil de machucar. A pele não importa para um sobrevivente. Nós a cortamos, perfuramos e descobrimos os horrores abaixo dela. É preciso precisão, força e agilidade. Não é como cuidar de um curativo, ou tomar cuidado para não se machucar. São apenas peles, como as dos nossos corpos. O problema é: temos medo de sentir o que os errantes um dia sentiram, ou talvez, ainda sentem. Temos medo de sentir a dor.

  Dirigia por horas. Podia sentir os calos em minhas mãos e o cansaço invadindo o meu corpo. Já tinha amanhecido e com isso, sentia os raios solares passando pelos vidros das janelas e aquecendo minha pele. Encontrei poucos errantes durante o trajeto, mas não precisei fazer nada além do que ultrapassá-los. Observava o mapa colado com uma fita adesiva no painel, junto com os bilhetes dados por Jay. E, consequentemente, a foto de minha família. Avenida Higgins, número 7. Natais em família, aniversários felizes, milhares de filmes com meu irmão na sala de estar, jantares deliciosos preparados pela minha mãe, treinos com meu pai e, o fim do mundo. Parando para pensar, eu conseguia recordar-me de tudo que tinha vivido lá. Mas, de forma alguma, conseguia saber o que passaria naquela mesma casa horas depois. De repente, avistei à alguns quilômetros de distância de meu carro, uma caminhonete. Desacelerei, e fui me aproximando cada vez mais, até que vi que o mesmo continha quatro homens. Três armados em cima da caçamba e um dirigindo. Assim quando me viram mais de perto e de vidros abertos, apontaram suas metralhadoras para minha direção. De forma automática, coloquei a mão em cima de meu arco, mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, um deles me interrompeu. –Mãos para cima!

  Pisquei repetidas vezes, e senti meu coração bombear meu sangue como nunca. Droga! Fiquei alguns segundos em silêncio, pensando no que iria fazer, até que palavras automáticas saíram de minha boca. –Por favor, não me machuquem! –Levantei minhas mãos e tentei parecer o mais assustada possível.

  -Acha que pode ser ela? –Um homem mais velho, indagou para o que me questionava.

  -Vamos descobrir. –Permaneci parada, e então ele continuou. –Que tal você descer agora?!

  Abri minha boca de forma leve, e passei a respirar ofegantemente pela mesma. Não conhecia nenhum deles, mas tinha certeza que eram os homens de Jay. Eu precisava pensar em um plano. E rápido. –Ok, eu... eu vou sair! –Sem tirar meus olhos do homem, usei uma de minhas mãos para colocar meu arco no banco que eu estava sentada. Permaneci com a mochila de flechas nas minhas costas, enquanto saía e ficava em pé ao lado do carro. Ainda com as mãos levantadas, forcei-me a chorar, tentando pensar no pior. –Eu só tenho esse carro. –Continuei o observando. –E uma faca para os mortos, nada a mais.

  -Não. –Ele me interrompeu. –Você tem um nome também. –O homem aparentava ter 26 anos. De cabelos quase raspados, pele morena e tatuagens espalhadas pelo rosto e pescoço. –É um solitário mundo, vamos nos conhecer!

  Engoli minha própria saliva, e permaneci no mesmo lugar. –Trish, de RedField. –Falei o primeiro nome que veio até minha cabeça, mentindo. –Não moro em nenhum lugar. Estou à procura de suprimentos e... pretendo continuar rondando sem destino. –O homem me olhava como se soubesse de todas as mentiras contadas por mim. –Eu simplesmente... rodo por aí.

  -Sério? Bem... eu jurava que você tinha vindo daquele lugar. Com portões altos, torres de vigia, carros como o seu... –Ele permaneceu com a sua arma apontada. -Qual é mesmo o nome? Ah... HoldWood. –Abaixei minhas mãos de forma lenta, esperando seu discurso terminar. –Com aquela gorila que carrega uma espada, o líder policial... –Sua referência racista e desnecessária sobre Michonne e Rick respectivamente, fez com que as falsas lágrimas sumissem pelo meu rosto. –Com a ruiva e o viciado... –Cerrei minha mandíbula e me segurei para não o atacar naquele instante. –E por último, e não menos importante... o caçador da crossbow. –O homem abriu um sorriso imenso ao citar Daryl, enquanto admirava a dor que eu sentia naquele momento. –Aposto que ele ficaria preocupado se soubesse com que tipo de pessoas você está conversando agora.

  Poderia insultá-lo, desmentir o que disse, ou matá-lo no mesmo segundo. Mas, eu precisava conter a mim mesma. -Não precisa ser assim. –Afirmei, séria. –Tire sua caminhonete do meio do caminho e eu... seguirei em frente. Sem ninguém se machucar.

  Ele soltou uma risada sarcástica e prolongada, enquanto os outros homens também sorriam, me observando. –Bom... “Trish de RedField”, pelo menos concordamos em uma coisa... –O homem recarregou sua pistola e finalizou suas palavras. –Você não vai para nenhum lugar a não ser ao que vamos te levar... –Cerrei meus punhos de forma lenta, e continuei o encarando. –Fraca.

  Arregalei meus olhos quando o vi citando meu "nome", e tive certeza de que aquilo era uma armadilha feita por Jay. Mas, eu não me entregaria tão fácil assim. Em questão de segundos, estiquei meu braço me aproximando do banco e pegando meu arco. Puxei duas flechas de minha mochila e as disparei contra dois dos homens ao mesmo tempo. As duas pegaram em cheio em seus crânios, enquanto os outros, passaram a atirar contra mim. Me aproximei do carro e agachei-me atrás da porta, me protegendo contra as balas. -Atirem! -Ouvia os homens desesperados, assim como eu. Atirei algumas flechas, enquanto eles permaneciam atirando contra mim. Uma bala passou bem perto de meu braço, mas eu consegui me levantar antes que fosse atingida. Com apenas um movimento, atirei no peito do homem que antes conversava comigo. O seu último tiro, passou por mim e fez com que eu encostasse as costas no carro, desviando-me do mesmo. Quando voltei-me para mim mesma, usei meu arco para atirar contra o último homem restante. Ele caminhava em direção a mim, e ainda atirava. E então, consegui atirar no centro de seu pescoço. O mesmo, passou a jorrar sangue, enquanto a arma do homem caía no chão, assim como ele, que gritava de dor. Respirei ofegantemente, enquanto me aproximava de seu corpo com rápidos passos e terminava com ele por completo. Curvei-me, e arranquei a flecha de sua pele. Ele, gritou ainda mais, e implorou por sua vida. –Não! Não, por favor! –Tentando conter seu sangue com sua mão, me observava chorando. –Eu.... eu... fui obrigado por ele! Não tenho nada a ver com isso! Fui obrigado por Jay!

  Agachei-me devagar ao lado de seu corpo, e o observei calmamente enquanto o via agonizando de dor. Então, afirmei. –Eu também. –Antes de furar seu crânio com a flecha, vi seus olhos arregalados direcionados a mim, até que finalmente o matei. Ouvi o barulho de sua cabeça estourar, até que seu corpo ficou imóvel. Senti um pouco de sangue em meu rosto, e me levantei depois de alguns segundos. Com a flecha em mãos, olhei para o resto da estrada que tinha que atravessar. Jay tinha mandado aqueles homens para me sequestrar caso eu não fosse até o mesmo. E isso de certa forma, me fez refletir sobre todas as coisas que ele não sabia em relação a mim: 1-Eu sei usar um arco e flecha como ninguém. 2-Eles não foram os primeiros homens do terminal que matei. 3-Eu nunca desistiria. Soltei a flecha sangrenta e quebrada no chão, e segurei minha bombinha. Enquanto olhava para o resto da estrada, a usava calmamente, sem pressa de absolutamente nada. Limpei minhas mãos nas roupas de um dos homens, e certifiquei-me de que minhas roupas estavam da mesma forma. Nunca me senti bem em matar alguém que não seja um errante. Mas, de certa forma, aqueles homens mereciam aquilo, e eu não tinha um pingo de arrependimento. Fui até o carro, sentei no mesmo e fechei sua porta, ligando seu motor. Respirei fundo, coloquei as mãos no volante, e prossegui o meu caminho. Mais uma vez.

***

 Finalmente, cheguei ao meu destino. Estacionei do outro lado da rua, logo dentro da floresta, e escondi o carro no meio de arbustos e pequenas árvores. Senti minhas mãos arderem com os pesos dos galhos, mas insisti para que os mesmos pudessem camuflar o automóvel por completo. Tinha medo de que alguém de HoldWood pudesse encontrar ele,  atrapalhando o que desejava fazer. Coloquei a bolsa de roupas pendurada em meu corpo, segurei meu arco com uma de minhas mãos e permaneci com a mochila de flechas nas minhas costas. Cheguei até a estrada, e observei a grande casa bege de dois andares. Haviam alguns carros abandonados pela extensa rua, e poucos errantes mortos no chão. Um frio extenso tomou conta de minha barriga, e minha pele se arrepiou. Sentia náuseas, e meu corpo tremia. Mas, eu precisava ser corajosa e continuar. Faça as merdas das coisas darem certo, Emma! Apressei-me para seguir em frente. Atravessei a rua e cheguei aos fundos da casa. Parei de caminhar e a observei de cima a baixo. O resto da pequena vila ficava ao outro lado, e consequentemente, eu era impossibilitada de vê-la. De tão antiga, possuía alguns arranhões e partes sem tinta. Mas, da mesma forma, era a minha antiga casa. Finalmente, a porta dos fundos se abriu, e eu pude observar Jay saindo pela mesma. Usando suas clichês roupas pretas, carregando sua pistola em seu cinto e com a eterna cicatriz em sua testa. Enquanto o via andando lentamente até mim, recordava-me de todas as coisas que ele me causou. Mortes, dores, pensamentos perturbadores, perdas. O meu pior pesadelo agora estava em minha frente. E a poucos metros de distância de mim, tirava todo o meu oxigênio restante. Poderia virar-me, correr até o carro e ir embora. Desistir de encontrar Charlie, desistir de manter minha família a salvo, desistir de acabar com Jay. Mas, ele não me derrubaria tão facilmente. Caminhei lentamente até sua direção, enquanto ele me observava. E então, quando parei a poucos centímetros de distância de seu corpo, pude analisar todos os detalhes de seu rosto. Sua voz não se fez presente naquele momento. Apenas vi seu sorriso que mostrava todos os seus dentes e analisei sua face demonstrando algum tipo de vitória, como se tudo o que ele quisesse estivesse em suas mãos. E estava. Jay se virou ainda com seus olhos colados nos meus, e passou a caminhar em direção a porta. Fiz o mesmo, o seguindo. Quando nos aproximamos da porta, ele segurou a maçaneta da mesma e a abriu, passando a me observar novamente e indicando que eu deveria entrar. O ultrapassei, entrando e fiquei dentro da casa.

 

  FLASHBACK ON

  -Vamos, Robin Hood! –Max bateu em minha porta pela décima vez. –Está na hora, vamos! -Depois, correu até a porta do quarto de meus pais e gritou. –Vamos! Vamos!

  -Certo! Estamos indo. Relaxe, Max. –Eles abriram a porta, e então meu pai bagunçou o cabelo de Max. –Está bem animado para quem acordou às seis da manhã! –Ouvi sua risada, e logo a voz de minha mãe.

  -Onde está sua irmã?

  -Peidando no quarto dela. –Max ironizou.

  -Max, por favor. –Minha mãe o repreendeu, até que abriu a porta de meu quarto. –Vamos, Emma! Já está aí faz horas. –A ignorei. –Pare de se preocupar um pouco com esse campeonato e se mova!

  Enquanto afiava minhas flechas sentada na cama, a observei. –Eu só estou afiando minhas flechas, mãe! Já estou indo. –Voltei-me ao meu trabalho, a ouvindo.

  -Você disse isso a uma hora atrás.

  -O mesmo para você. –Passei a guardá-las na bolsa.

  -Vai sentir falta dos meus esporros diários, acredite. –Ela me observou pela última vez e saiu do quarto, gritando. –Em cinco minutos, vamos partir! Se não quiser ficar um mês sem seu arco, melhor se apressar!

  Revirei meus olhos e levantei-me da cama. –Estou indo! Credo... –Contive minha paciência, e abri a porta de meu quarto, saindo do mesmo.  

  Meus pais foram na frente, enquanto eu os seguia com passos lentos, guardando minhas flechas e segurando meu arco. –Eu vou sentir saudades. –Vi Max abraçando minha mãe.

  -Eu também vou, querido. –Depois que cheguei ao andar debaixo, ela me observou, abrindo os braços. –Também quero um abraço, “Robin Hood”.

  Sorri sem mostrar os dentes e a abracei. Senti o cheiro de seu perfume doce, e suas mãos macias acariciando meus cabelos enrolados. Ela colocou as mãos em meu rosto e me observou.  –Prometa que vai deixar tudo em ordem.

  -Mãe! –A repreendi, ouvindo-a falar as mesmas coisas mais uma vez.

  -Tudo bem, tudo bem. Quem mandou ter uma mãe preocupada? –Ela beijou minha testa e tentou me confortar. –Voltamos em duas semanas, querida. 

  -Vamos ficar bem. –Afirmei, abraçando meu pai.

  -Cuide de seu irmão. –Ele se afastou, e beijou meu rosto, segurando suas malas. –Voltamos em...

  -Duas semanas. –Max o completou. –Vocês já disseram isso 50 vezes.

  -51 na verdade. –Meu pai se aproximou, abraçou Max e se afastou de nós junto com minha mãe.

  A mesma, colocou a mão na maçaneta da porta e antes de fechá-la, conseguimos observar os sorrisos de nossos pais mais uma vez. –Amamos vocês. –Os dois falaram juntos, e então, nós fizemos o mesmo, sorrindo.

  -Nós também te amamos.

  -Tchau, tchau! –Eles se despediram, e fecharam a porta.

  FLASHBACK OFF

  Os móveis eram os mesmos. A cor esverdeada da parede, o enorme sofá, os tapetes de veludo, os porta-retratos de família. Tudo estava exatamente igual a última vez que os vi. A casa era antiga, por esse motivo podia ver algumas poeiras espalhadas pelo chão e marcas de sangue, provavelmente provocadas por errantes, manchando o piso. Observei a porta de casa, como da última vez que vi meus pais. Não conseguia falar absolutamente nada do que tinha planejado durante todo o trajeto. Vi o corpo de Jay me ultrapassar e finalmente ficar a minha frente. O observei sem me mexer muito, enquanto ele mantinha suas mãos para trás e não conseguia de desfazer de seu sorriso sarcástico.

  –Bem-vinda ao lar. –Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, consegui avistar um homem desconhecido se aproximar e ficar ao lado de Jay. Observei a metralhadora em suas mãos e em seguida direcionei meus olhos até os olhos até o careca.

  -Minha casa nunca recebeu canibais armados. -Eu disse, deparando-me com o capanga que se aproximou de mim para me revistar.

   -Tenho minhas precauções.

  -Se eu fosse te atacar nem entraria pela porta. –Afirmei como se fosse óbvia a minha resposta.

  -Ótimo. –Seus olhos escuros permaneceram fixos aos meus. –Então, não vai se incomodar se o Will me certificar disso. –O canibal citado tirou o arco e flecha de minhas mãos, assim como minha mochila e sem ter escolha, passou a passar a mão pelo meu corpo. Permaneci encarando Jay. –A confiança precisa ser conquistada. –Senti as mãos do homem em meus quadris, e finalmente pegando uma flecha que mantinha escondida na parte de trás de minha calça. Ele a retirou e entregou a mesma para Jay, que a pegou de suas mãos e me observou sorrindo. –O velho truque da arma nas calças... –Irônico, afirmou. –Infalível, não é mesmo? Começo até a desconfiar que veio aqui por um motivo.

  -Vim aqui para acabar com os danos colaterais que tem causado. –Ignorei suas palavras e afirmei com a máxima certeza. -E levar Charlie de volta para HoldWood. E vou fazer isso, com ou sem armas.

  Jay então, suspirou pesadamente desviando seus olhos de mim de forma breve e continuou no mesmo lugar. –Sabia que não tinha vindo por amor. Não sou louco. Só... otimista. –Permaneci encarando-o, cansada de ouvir suas ironias. –Vem. –Ele esticou uma de suas mãos e eu me esquivei como pude.

  -Você disse que eu poderia escolher. –Me referi ao dia da floresta. –E escolho que você não me toque.

  -Ah, vamos lá... -Seu sorriso se desfez.

  -Nunca! –Gritei o mais rápido que podia, e mostrei meu extremo incomodo relacionado a sua força e ao o que um dia o mesmo me causou. –E eu quero meu arco e flecha de volta. Sei que está com Charlie e eu não seria idiota em arriscar a vida dele. –Afirmei, cerrando meus olhos. –Você foi claro. Minha vida, pela a dele. E não posso mantê-la sem minhas flechas. 

   Recebi meu arco de volta. Obviamente, não com todas as flechas. Eu andava pela a parte debaixo inteiramente, e sem a companhia do segurança de Jay. Pelo canto dos olhos, podia vê-lo me acompanhar com os olhos, diferente de Jay, que me seguia. Passei pela sala de estar e observei todos os porta-retratos em família. Estava tudo lá de forma intacta. Observei uma das fotos, e passei um de meus dedos pelo rosto de Max. Ele estava abraçado comigo e como sempre, estávamos rindo.

  –Não foi fácil esvaziar a casa, nem manter tudo na ordem que estava.  –Ouvi a voz de Jay ao meu lado e por questão de segundos, ele conseguiu acabar com meus bons sentimentos naquele momento. –Deveria agradecer por eu te feito isso por você.

  Coloquei o porta retrato em cima da mesa provocando um barulho e o olhei.

   –Você não fez isso por mim. –Afirmei, enquanto ele me encarava. –Fez isso para conseguir acabar de vez com tudo que me restou. Pare de enganar a si próprio... pelo menos torne essa situação tolerável.  

  Ele continuou me observando, sem respostas. Seu sorriso desapareceu, ele estava sério e insatisfeito com meu comportamento. O vi prendendo sua respiração e se contendo para não ter um ataque de raiva. Mas, de forma forçada, sorriu e afirmou. –Vamos ver o andar de cima.

***

  -Banheiro pequeno, móveis humildes... –Agora, eu o seguia, enquanto caminhávamos entre os quartos. –Você tinha uma casa aconchegante para uma família medíocre. –Tentava não manter o máximo de contato visual com ele. Não queria perder minha paciência, ou dizer algo que não deveria. Querendo ou não admitir, ele poderia fazer o que quisesse comigo a qualquer momento. E então, ele colocou a mão em uma das maçanetas. –Este era o quarto do pequeno Max... -Jay deveria ter lido seu nome nos lembretes da minha mãe.

  Por questão de segundos, corri até ele e tirei a força sua mão da maçaneta. –Não.

  Jay observou meus olhos furiosos e indagou com um tom irônico. –Ainda sofre pela morte do irmão, não? –Como sempre, ele me culpou de tudo mais uma vez. Permaneci o olhando sem dizer nada. –Era o mínimo que eu poderia esperar de você. –Virando-se, colocou a mão na maçaneta do quarto da frente. –Agora... por último mais não menos importante... –Abrindo a porta, consegui ver meu quarto depois de anos fora daquela casa. -Seu quarto. -As paredes descascadas, os posters das bandas que mais gostava, os alvos para algumas pequenas flechas que neles estavam presas, e minha cama. Meu quarto completamente sem vida, como se estivesse ali por mais de 100 anos. Dei lentos passos, abri minha boca de forma leve, observando ele de cima a baixo. –Este deu trabalho. –Observei meus armários, minha mochila escolar, e finalmente, cheguei até a janela. Observei as casas vizinhas e consequentemente me recordei de Alex. –Vamos lá, você não é feita de pedra. –Ele caminhou até mim, e ficou a minha frente. - Um “obrigada” seria bem-vindo.

  -Quer que eu te agradeça por tirar os mortos de dentro de uma casa que... não é minha? –Jay se calou e mais uma vez, perdeu seu sorriso. –Minha família não está aqui, tudo está sem cor e quebrado e tem sangue no chão. Como quer que eu te agradeça por me lembrar mais uma vez que minha vida foi arruinada?

  De repente, Jay encostou seu corpo no meu e fechou sua mão em um punho. Esquivei-me, mas mesmo assim, ele insistiu em ficar próximo a mim. Vi seus olhos escuros fixos nos meus, enquanto ele não se movia. Vi sua cicatriz bem próxima de mim e vi todos os míseros detalhes de seu rosto.

  –A partir do momento que o vírus se espalhou, você deixou de ter uma vida. O que te faz ficar em pé agora é apenas o seu coração que ainda não parou de bombear sangue pelas veias de seu corpo porque eu não quero que pare. Ainda. –Senti o cheiro de cigarro sair de sua boca, e ouvi sua voz baixa e grave. –Dentro do meu território você não é ninguém... nada. –Senti meu sangue ferver, enquanto ele me pressionava contra a parede com apenas a presença de seu corpo. –Eu já fiz muito pior do que apenas tocar sua pele e posso fazer de novo se você não cooperar. -Recordei-me de minhas cicatrizes, e machucados. -Charlie está nas minhas mãos. Então, se quiser que ele continue respirando, é melhor se comportar direitnho. Seu pequeno amigo não vai gostar nem um pouco de saber que a culpa de sua morte... foi sua. 

  -Então, foi por isso que me trouxe aqui? -Indaguei, o observando. -Para me obrigar a fazer o que você quer, ser espancada de novo pelas mãos de um covarde e fingir que eu sou sua propriedade? 

  -Talvez... -Sua voz sarcástica retornou à tona. -Isso só depende de você, fraca. –Automaticamente, permaneci em silêncio. Suas palavras me pegaram de surpresa, e aquilo me machucou emocionalmente. Jay mal se mexeu. Apenas deu alguns passos para trás com um pequeno sorriso em seus lábios, e continuou dentro do quarto. –Desça para o jantar às oito. –Ele ordenou, e passou a caminhar em direção a porta sem se virar. –Que tal... conversarmos um pouco sobre o dia? 

Jay sorriu e fechou a porta do quarto, sumindo de meu campo de visão.

   Não estava em meus planos mostrar a minha fraqueza emocional naquele momento, mas eu não consegui me segurar. Senti meus olhos lacrimejarem como nunca, e uma dor intensa invadir meu peito. Eu estava com medo, e presa naquele lugar. Não chore, não chore. Prendi todo meu fôlego e limpei uma lágrima que tentou correr pelo meu rosto. E então, por uma questão de poucos segundos, corri para a mesa ao meu lado e segurei alguns livros em cima dela, lançando-os no chão com toda a força. Passei a fazer o mesmo com o resto dos objetos. Quebrei alguns pequenos enfeites, alguns eletrônicos quebrados, parte de meu armário e desarrumei minha cama, derrubando também o colhão. Despejava minha raiva em tudo que havia em minha frente, até que por impulso, peguei minha mochila de flechas e lancei a mesma contra a janela. Quando parei de me mover, respirei ofegantemente avistando a foto minha e de Daryl, tirada por Craig, sair da bagagem e cair no chão. Caminhei até a mesma, e curvei-me para pegá-la. Pude ver mais uma vez nosso quente abraço, e me recordar de uma das melhores noites da minha vida. Que tinha acabado naquelas últimas horas. A pele é o maior órgão do corpo humano. Encostei minhas costas na janela, e encostei a gravura em meu peito, arrastando meu corpo até sentar no chão. Não importa quão insensíveis tentamos ser, há milhões de terminações nervosas na pele.  Abertas e expostas e sentindo coisas demais. Não contive meu escandaloso choro. Perdi todo meu fôlego, enquanto conseguia imaginar Jay gargalhando de minha derrota.  Fazemos de tudo para não sentir dor. Às vezes é inevitável.  Sem tampar meu rosto, fechei meus olhos, e vi o silêncio sendo invadido por grunhidos, soluços e lágrimas. O quarto completamente bagunçado e quebrado me rondava, como meus assassinos pensamentos. A escuridão me pegou de surpresa mais uma vez. E podia senti-la corroer cada célula de meu corpo. Às vezes, é só isso que nos resta: apenas sentir.


Notas Finais


Comentem suas opiniões!!! <3
No próximo capítulo veremos as reações dentro da comunidade relacionadas ao desaparecimento de Emma!
Não percam por nada desse mundo!!! Vou atualizar bem rapidinho (:
Estamos na terceira página das fanfics de twd mais favoritadas, e isso é incrível. Devo tudo a vocês, obrigada por tanto apoio e amor.
Obrigada por tudo, amo vocês ^^


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