História Survivors - Proceed.

POV´s Michonne

  Saí do banheiro com a toalha enrolada em meu corpo nu e outra envolvendo meus dreads. Antes de me direcionar para o guarda-roupa, avistei Rick deitado no mesmo lugar. De barriga para cima, mantinha seus olhos vidrados no teto enquanto fazia silêncio.

  -Ei... –O chamei de braços cruzados e apoiada na parede, preocupada com seu estado. Seus olhos azuis se fixaram nos meus e eu indaguei. –Não vai levantar?

  -Vou... –Rick se levantou em um pulo, e caindo na realidade, passou a vestir suas peças de roupas. –Eu só... não dormi muito bem essa noite.

  O observei vestindo suas calças e sua blusa sem querer mais me observar. A noite anterior tinha sido difícil para todos nós. A morte de Luke afetou Rick de uma forma profunda. Ele era apenas um garoto tentando sobreviver naquele maldito mundo. E o fato de que a vida de todos nós estava em risco naquelas últimas semanas, nos afetava de forma geral. Principalmente Rick.

  -Eu sei... –Aproximei-me de seu corpo, e passei a fechar os botões de sua blusa enquanto o observava. -Eu sinto muito por ontem.

  -Eu só... não consigo entender como. –Rick olhou para um ponto fixo no chão, enquanto eu terminava de colocar sua blusa por completo. –Craig estava lá. Ele e mais outros canibais. –Ele repetiu tentando digerir tudo o que tinha acontecido, ainda com dificuldade. –Eles nos renderam, o matou e... não encontramos nada. –Percebi as lágrimas e o cansaço extremo presente em seus olhos. -Nada.

  Envolvi a lateral de seu rosto com minhas mãos e direcionei seu rosto ao meu. Focando em seus lábios, os beijei lentamente em seguida. Senti sua barba em minha pele e sua mão na lateral de meu corpo. Encostei minha testa na sua, e ele manteve seus olhos fechados.

  –Eu sei que pode fazer isso. Vai superar o que aconteceu e vamos voltar a procurar por ela. E vamos conseguir. Você é capaz. –Sussurrei, contra seus lábios. –Foi por esse homem que eu me apaixonei.

***

  POV´s Emma

  -Então... ele apenas se levantou e foi embora? –Dentro de meu quarto, Nancy questionava sobre os angustiantes segundos que eu tinha passado horas depois dos homens terem entrado dentro da casa.

  -Eles disseram que “eles” o mataram. E Jay segurou sua arma e saiu. Ignorou minhas perguntas, ou qualquer outra coisa. Eu não sei quem foi morto, não sei quem matou... não sei de nada. –Expliquei, andando de um lado para o outro e parando a sua frente em seguida, com lágrimas em meus olhos. –E se “eles” forem a minha família, Nancy?! E se Daryl...

  -Não vamos sofrer antes da hora, está bem? –Nancy se aproximou, e tentou me tranquilizar. –Se foram pessoas do seu grupo, quem quer que seja que eles tenham matado, morreu porque eles conseguiram reagir. E se conseguiram reagir, conseguiram fugir. Aqueles homens não são fáceis, Emma.

  -Eu sei, mas... –Sentei-me na cama, e levei as mãos até minha cabeça, tentando não chorar. –Se um deles se machucou por minha causa de novo...

  -Você não precisa se perdoar por algo que não fez. Aqueles homens são maus por si só. Você é uma vítima, assim como eu, como Ben, como as pessoas de seu grupo. –Ela também se sentou, e segurou minhas duas mãos. –Confie em mim. Se tudo o que você me disse realmente aconteceu, quem quer que esteja por trás disso... escapou. 

  -Eu só... não estou com um bom pressentimento, Nancy. –As lágrimas em meus olhos se intensificaram. –Eu sinto como se... meu tempo estivesse se esgotando. Cada vez mais.

  Ficamos em silêncio por meros segundos, apenas refletindo sobre tudo o que pudesse estar acontecendo do lado de fora daquela casa. A preocupação tinha atingido um nível dentro de mim inexplicável. Eu pensava em todos os habitantes de HoldWood, em minha família, em Daryl. A dor me consumia na medida em que os minutos se passavam, e eu não recebia notícias.

  -Talvez... você devesse fazer o que deve ser feito. –Nancy se referiu ao ato de matar Jay. –Você foge com as seringas, e eu... posso tentar distraí-los.

  -Não, não, não... –Franzi meu cenho e não acreditei naquela possibilidade. –Não posso arriscar a sua vida dessa forma, Nancy. Ninguém mais vai morrer por minha causa. Ninguém. –Nancy se calou, e me observou em silêncio. –Estamos aqui juntas e vamos sair daqui juntas. É isso, ou nada. -Suspirei pesadamente depois de vê-la assentindo, e direcionei meus olhos para a janela do quarto. –Vamos ganhar essa porra. –Recordei-me das palavras consoladoras de Carl dias antes da minha saída de HoldWood.

***

  POV´s Michonne

  Adentramos a igreja, lugar que Marie usava para conversar com os habitantes da comunidade, juntos. Ela conseguia abrigar boa parte dos habitantes, e lotar todas as cadeiras ali presente. O silêncio perambulava pelas vidraças coloridas e atingiam todos do lugar. Marie estava na frente de todos, no final na igreja. Os outros, nos observaram sentados. Daryl e Carl, também estavam lá. Enquanto o garoto segurava a irmã e era acompanhado por Maggie e Beth, Daryl em pé, atrás do corpo de Rick. Como todos, ele nos olhou e não disse absolutamente nada. Então, passamos a caminhar pelo longo corredor. Observamos todos mais de perto, e eu percebi a presença de Mark ao lado de Gabriela, Alex e Erin. Todos estavam abalados. Inclusive, a namorada de Luke. Com a pele branca, cabelos ruivos, olhos claros e sardas, utilizava um lenço para limpar as vagas lágrimas que escorriam pelos seu rosto afetado pela perda de mais um sobrevivente daquela comunidade. Sentei-me na primeira fileira e ao lado de Carol e Sasha. Avistei Glenn ao lado de alguns homens que cuidavam dos portões nas horas vagas e de Lily. Rick ficou ao lado de Marie, que viu sua cabeça sendo assentida, mas não demonstrou qualquer reação a não ser sentar-se em uma cadeira centímetros de onde estava. Rick ficou sozinho, e na frente de todos, tinha a obrigação de contar tudo o que tinha acontecido na noite anterior. Ele estava extremamente nervoso, e chocado ao ver todas aquelas pessoas desesperadas por uma explicação. Desesperadas por respostas que não sairiam tão facilmente de dentro de um dos líderes daquele lugar.

  -Eu sei que... –Rick forçou a garganta antes de começar seu discurso, e observou todos sem abaixar a cabeça. Acreditando na possibilidade daquilo dar certo. –Todos estão tristes com o que aconteceu. Não foi... uma coisa que esperávamos, e muito menos pretendíamos. Luke era um garoto que queria nos ajudar. Ajudar a... encontrar uma amiga, uma pessoa da nossa família. E ele sabia que não seria fácil. Não está sendo fácil. –Olhando sua namorada mais uma vez, Rick se esforçou para conseguir dizer tudo o que estava presente em sua mente. Sendo alvo de todos os olhares daquele lugar. –Mas, ele quis mesmo assim. Prometeu a nos ajudar, prometeu ser forte e... prometeu de alguma forma, encontrar Emma. –Daryl levantou sua cabeça, e encarou Rick como os demais. –O que eu quero dizer é que... se Luke estivesse ficado aqui, provavelmente ainda estaria vivo. Ainda estaria... ajudando, e prometendo tentar ajeitar as coisas como podia. –Marie continuou em silêncio, o encarando seriamente. –Mas, ao mesmo tempo que isso estivesse acontecendo, três vidas teriam sido jogadas fora. –Carl permaneceu parado, apenas prestando atenção em seu pai. –Luke as salvou noite passada. Ele conteve Craig, e... –Olhando brevemente para baixo, e se recordando dos duros momentos vividos, voltou-se as pessoas ali presente. –Nos salvou.

  Parando de falar por alguns segundos, Rick me observou, com culpa. Tentando reconfortá-lo e fazê-lo prosseguir, assenti. Mostrando que ele não estava sozinho.

  -Não posso prometer que não vamos mais perder pessoas. –E então, ele continuou. –Estamos repletos de riscos, mesmo estando aqui dentro. A paz não existe mais. Eles não são mais um santuário. Nunca foram. –Sua referência aos homens do terminal fez com que todos ficássemos ainda mais aflitos em relação a tudo que acontecia. –São pessoas ruins, e estão com um dos nossos. E eu não vou desistir, até encontrá-la. Nem que eu tenha que ir sozinho para poupar a vida das pessoas aqui dentro.

  Tudo o que Rick disse naqueles angustiantes minutos, nos trouxe de volta para realidade. A morte não era mais uma surpresa. Ela acontecia. Sem avisar, e de forma dolorosa. Luke foi apenas um dos milhares que perdemos, e que ainda iríamos perder. Emma desaparecida, homens de Jay a solta e nós sobreviventes, encurralados. Não havia próximo passo. Não havia uma última opção. Não havia esperanças. Estávamos mais perdidos do que nunca.

  -Se sabiam que era uma armadilha... então por que prosseguiram? –Marie quebrou o silêncio do local, e todos a observaram. Inclusive Rick.

  -O que?

  -Quando vocês pararam o trailer, avistaram uma trilha proposital feita de errantes. –A dona de HoldWood se levantou lentamente, e ficou em pé e a poucos metros de Rick. –Estou correta?

  -Sim, mas não sabíamos que isso nos levaria ao que...

  -Então vocês pararam o trailer, viram todos aqueles mortos enfileirados no chão e prosseguiram em uma estrada escura, e deserta.

  -Marie, essa não era a nossa intenção. –Rick respondia sem entender onde ela queria chegar. -Queríamos encontrar pistas de onde Emma está. E nada mais.

  -Luke morreu ontem à noite. Meses atrás... fizeram o mesmo com os sobreviventes desse lugar. Fizeram o mesmo com o meu marido. E sabendo como esses homens são, vocês prosseguiram. –Ela afirmou, e Rick se calou por instantes. –Então minha pergunta é... o que você está tentando fazer, Rick? Salvar a vida de Emma e acabar com as outras que ainda existem nesse lugar?

  -Mãe... –Mark tentou interferir levantando-se, mas Marie não se calou. -Ele não teve culpa.

  -Desde que chegou aqui, não temos um dia sequer de paz. A paz desapareceu porque vocês apareceram. E os riscos apenas aumentaram. -A dona de HoldWood afirmou. -As mortes apenas aumentaram, Rick.

  -Eu nunca quis envolver ninguém nos meus problemas. -O líder disse.

  -E olha só o que aconteceu. -Marie ironizou, referindo-se à morte de Luke. -Vocês chegaram feridos, traumatizados e com um dos nossos. E eu os abriguei. Meu filho já passou por isso e eu entendi que precisavam de um lar. Mas esses homens não pararam de os perseguir. E não vão parar.

  -Você acha que queremos isso?

  -Era uma armadilha e vocês prosseguiram porque queriam. –Ela insistiu, aumentando seu tom de voz e deixando Rick sem palavras. –Para o que? Perder mais um dos nossos?! Colocar nossas vidas em risco ainda mais do que já estão?!

  -Ei! –Me levantei em um pulo com a espada em mãos, e tentei contê-la. –Isso já está passando dos limites.

  -Responda a pergunta, Rick. –E então, ela me ignorou. –Por que descer do maldito trailer?! Por que sacrificar um dos nossos por mais uma ronda inútil procurando por alguém que não vai aparecer?!

  -Não diga o que você não sabe! -Daryl apontou o dedo para o seu rosto, saindo de trás do corpo de Rick.

  -Estou dizendo o que todos sabem, Dixon. -Marie não teve medo. -Emma está morta! -A mulher olhou para todos os habitantes. -Alguém discorda?!

  Ninguém disse absolutamente nada, e Daryl então, trincando a mandíbula e segurando as próprias emoções,  fechou o punho querendo descontar a raiva em algo, ultrapassou seu corpo e deixou a igreja.  Carol o observou e tentou ir atrás dele, mas eu segurei seu braço. –Eu falo com ele. -Sabia que deveria ajudar Rick de alguma forma naquele momento. Me sentia na obrigação de conter pelo menos alguém durante aqueles angustiantes minutos.

  Após o silêncio atormentador, a dona de HoldWood continuou.

  -Vocês destruíram uma comunidade, Rick. 

  -Mãe, por favor... –Lily tentou deter a mãe, e ela continuou.

  -Emma destruiu uma comunidade! Destruiu famílias e vidas! –Ele a olhava sem dizer absolutamente nada, completamente inferiorizado por suas palavras. –Emma fazia parte da nossa família, ela era de seu grupo, eu entendo! Mas Luke estava aqui desde que esse lugar foi construído e faz parte do meu grupo! E vocês o mataram, Rick! Como mataram todas aquelas pessoas no dia da invasão, e vão continuar matando enquanto continuarem saindo para procurá-la em vão!

Mark também se aproximou, e Marie finalmente se calou, encarando furiosamente os olhos de Rick. –Já disse tudo o que tinha para falar. Já chega.

  Mais uma vez, o silêncio tomou conta de todos. As palavras de Marie calaram todos os falantes e ouvintes. Rick a observava sem alguma voz. Assim como todos. 

***

  -Ei! –Seguia Daryl com passos rápidos pelo grande gramado da comunidade, enquanto ele se dirigia para uma das casas com sua crossbow em mãos. –O que está fazendo? Por que não volta lá e nos defende como Rick?!

  -Porque tenho mais o que fazer. -Ele murmurou com fúria, ainda sem parar de caminhar.

  Parei meus passos, e disse, sem medo. -Seu egoísmo não vai resolver nossa situação.

  -Egoísmo?! –Ele se virou em um só movimento e foi para cima de mim, ainda gritando e interrompendo meus passos. –Eu estou procurando por Emma todos os dias! Eu quis prosseguir! Eu quis descer da merda do trailer e continuar! Eu “matei” o Luke! –Ele me encarou por alguns segundos e continuou. –Não se atreva a dizer que eu não sujo minhas mãos para nos defender como Rick, porque eu faço isso mais do que qualquer um daqui pela vida dela! –Permaneci o olhando em silêncio, até que ele continuou. –Eu fiz isso. –Daryl apontou o dedo para si mesmo, e não se conteve de dizer o que pensava. –Eu a deixei ir! E não consigo mal me olhar no espelho desde o dia que ela se foi. –Abaixando seu tom de voz, finalizou. –Quer ajudar Rick a discursar contra Marie?! As portas da maldita igreja estão abertas. Estou pouco me fodendo se vou continuar nessa merda de comunidade, ou não! Porque não vou parar de procurar até encontrar Emma viva. –Ele então, se virou e murmurou suas palavras antes de continuar caminhando. -Nem que eu tenha que morrer sozinho para que isso aconteça.