Um garoto de cabelos escuros que lhe caiam sobre as sobrancelhas olhava pra mim, seus olhos nadavam em gentileza e seu sorriso era bonito, ele incendiava meu jovem coração.
Estávamos debaixo de uma árvore, eu e ele estávamos lado a lado, nossas mãos estavam dadas e ele parecia feliz. Mesmo sendo crianças, sabíamos o que era gostar de alguém. E eu gostava dele.
Ambos olhávamos nossas inicias riscadas na madeira, feitas por nós mesmos.
_ Você acha que no futuro, nós estaremos juntos? - Perguntei inocentemente.
_ B-Bem, espero que sim. - O garoto pareceu ficar tímido.
_ Se minha omma permitir, eu... - Olhei para ele, fitando-o com a inocência e pureza de uma criança. - Irei me casar com você.
_ Mas você já não é prometida?
_ Sou. Mas não quero me casar com ele. - Abri um sorriso. - Quero me casar com você.
E foi ali, com 12 anos de idade que tive meu primeiro beijo. Foi apenas um selar rápido e bobo de lábios, mas foi minha primeira experiência. Ele morava no meu coração e eu queria que meu futuro fosse com ele. Eu era nova pra pensar nisso, mas pensei.
Esculpido eternamente na árvore, estaria as iniciais "A&J".
(...)
Abri os olhos rapidamente, meu corpo estava quente e minha cabeça girava sem parar. Me sentei na cama meio zonza e agradeci por ser domingo. Levantei um pouco cambaleante e olhei as horas, eram 10 da manhã. Havia uma mensagem pra mim, abri o aplicativo de mensagem e me surpreendi ao ver que não tinha uma mensagem e sim trinta mensagens de nove conversas! Um dos contatos era minha mãe. O celular tocou e era ela, pressionei o botão de atender a chamada.
_ Oi Omma. - Minha voz saiu fraca.
_ Oi minha Universitária! Dormiu bem?
_ Sim. E a senhora?
_ Ah, bem. Eu quero saber como você está. Arranjou algum namoradinho já?
Minha mente desenhou o rosto de Hope, um sorriso automático brotou em meus lábios.
_ Sim.
_ O QUÊ? Por que você não disse antes?! Espera, espera, ele é bonito?
_ Ele é lindo.
_ Ah, você precisa me apresentar esse rapaz! Bem, eu vou viajar para a Coréia na próxima semana. Vai ser a oportunidade perfeita para você apresentar ele à mim e ao seu Appa.
_ Semana que vem?
Isso era muito pouco tempo! Eu e ele só nos beijamos algumas vezes e já estou o apresentando aos meus pais?!
_ Sim! Quanto mais breve melhor, não acha? Qual o nome do rapaz?
_ Jung Hoseok.
_ Olha, eu conheço um restaurante pelos arredores da cidade que é ótimo. Eu vou fazer uma reserva no sábado, na hora do almoço. O que acha?
_ Legal.
Aí meu Deus.
_ Ok. Nos falamos depois então?
_ Ok. Tchau, Omma.
_ Tchau, meu bem.
Ela desligou e eu suspirei fundo.
Próximo sábado na hora do almoço.
Eu estava cada vez mais presa à esse garoto. Por que tudo parece está conspirando ao nosso favor? Olhei para os outros chats e vi uma mensagem do Hope.
Hope: Bom dia! Já acordou? (8:30)
Hope: Oiiiii, você está viva? (8:47)
Hope: Alguém está dormindo mais que a cama hoje. (9:34)
Hope: Vou chamar o Samu, pq acho que você morreu. Só pode! (9:56)
Hope: Estou indo para o seu quarto conferir se ainda está respirando. (10:01)
Assim que terminei de ler a mensagem, ouvi batidas na porta seguidas de uma voz familiar.
_ BELA ADORMECIDA, ACORDA!
Era o Hope. Olhei para as minhas roupas e percebi que meu short de pijama era curto e que minha blusa era larga demais.
Eu troco de roupa ou não?
_ GABI? SE VOCÊ NÃO ABRIR ESSA PORTA, EU ABRO.
Daria tempo de trocar de roupa?
_ CINCO, QUATRO, TRÊS, DOIS...
Destranquei a porta e a abri, revelando meu cabelo bagunçado, uma cara amassada de quem acabou de acordar e um pijama constrangedor. Ao contrário de mim, seu cabelo estava molhado e ele parecia bem desperto.
_ Bom dia! - Seu sorriso me deixou sem palavras por alguns segundos.
_ O-Oi Hope.
_ Dormiu bem? Eu aposto que sim, né? Você dorme bastante, sabia?
_ É. E você dormiu bem?
_ Como um anjo. Que tal você ir se arrumar? A sua amiga já até saiu, só você tá aí. Se arruma rápido, eu vou ficar esperando.
_ Hum, tá. Mas onde você vai esperar?
_ No seu quarto. Onde mais eu esperaria?
O quê? No meu quarto?!
_ Não! Você vai ficar me vendo trocar de roupa?
_ Você se sente incomodada com isso?
_ C-Claro que sim!
_ Ah, então eu espero aqui fora.
Ele se encostou na parede e eu fechei a porta, trancando-a por garantia.
Fui no banheiro e tomei um banho rápido, penteando o cabelo e escovando os dentes em seguida. Abri meu armário e peguei o primeiro vestido que vi pela frente, calçando meu tênis e em seguida pegando meu celular e abrindo a porta. Ele ainda estava lá, mexendo no celular. Assim que me viu, guardou o aparelho no bolso da calça e me olhou de cima a baixo, voltando seu olhar para o meu rosto que a essa altura já estava vermelho de tanta vergonha.
Ele realmente precisa me olhar desse jeito?
_ Vamos? - Ele se desencostou da parede.
Tranquei a porta do quarto e guardei a chave na minha bolsa, junto com o celular. Andamos lado a lado em silêncio, eu não sabia o que dizer.
_ Hope, esses meus sonhos... Eles são realmente só sonhos? - Perguntei quando estávamos no elevador.
Ele se remexeu um pouco, trocando o peso sobre os pés.
_ Depende. Às vezes sonhos são portas para lembranças de outras vidas. Quando você dorme, tudo pode acontecer em sua mente, pode ter reflexos de seus desejos e medos, ou pode simplesmente acender memórias perdidas, coisas que você viveu em uma outra reencarnação. - Ele explicou.
_ E como eu posso reconhecer se é uma memória ou não?
_ Você apenas sente que é.
_ Sentir?
Ele assentiu.
_ Como você se sentiu quando desmaiou e lembrou de que já foi prometida?
_ Bem, eu... Me senti estranha, meio zonza também.
_ É assim que você vai saber se é uma memória ou não.
O elevador se abriu e nós saímos. Passei pela catraca usando meu cartão de identificação e ele a pulou com tanta facilidade, que até me assustei com a naturalidade da situação.
" Ele sempre pulava catracas para ver a Jisoo? " pensei.
_ Quando você aprendeu a fazer essas coisas? - Perguntei.
_ Há um bom tempo atrás. - Ele deu um sorriso de canto.
_ Mais alguém é uma criatura mística?
_ Bem, a Jisoo é uma vampira. Acho que você não sabia disso, nem teria como saber se ela não revelasse.
Jisoo uma vampira?
_ É. Eu realmente não sabia disso.
Ficamos lado a lado de novo, ele me deu o braço para eu segurar e eu o fiz, enlaçando nossos braços como se fôssemos nos casar ou coisa do tipo. Andamos assim até o refeitório e as garotas ficaram olhando para nós.
Essa faculdade é cheia de gente curiosa, meu Deus!
Nos sentamos na mesma mesa e eu me surpreendi ao ver Tae, Lisa, Rosé e Gio ali.
_ Bom dia pombinhos. - Jimin brincou ao nos ver. Se bem que... Estava quase virando verdade.
_ Olá chimchim. - Hope se sentou ao lado dele e eu fiz o mesmo, ficando perto de Hope.
_ Oi gente. - Falei.
_ Bom dia, flower. - Namjoon disse.
_ Bom dia. - Jin e Tae falaram ao mesmo tempo, porém, Tae tinha um ar de preocupação disfarçado pelo seu desinteresse. Ele parecia estar perdido lá em Marte e não nesse mundo.
_ Bom dia. - Suga disse sem muita animação, ele parecia meio sonolento.
O olhar de Jungkook se voltou pra mim, seus olhos escuros atravessaram os meus com uma facilidade assustadora. Ele não demonstrava tanto desinteresse, mas algo naquele olhar me remetia à uma doçura inexplicável. Ele é um anjo frio?
Ele me fez arrepiar por um instante, percebi um sorriso fraco em seus lábios ao perceber o efeito que causou em mim.
_ Oi Áurea. - Sua voz era carregada de algo indecifrável.
_ Meu nome não é Áurea. - Rebati, não deixaria ele ficar por cima desse jeito.
_ Já foi na sua primeira vida.
Primeira vida? Quantas eu tive?
_ Kookie. - Jin o repreendeu com o olhar.
_ Eu tive muitas vidas? - Olhei para Jungkook, mas ele desviou o olhar.
_ Você teve várias reencarnações, mais de 30 para ser exato. - Lisa disse.
_ E bem, nenhuma delas teve um final muito legal. - Rosé completou.
_ O que aconteceu?
Eu estava curiosa, queria saber mais. Eles se olharam apreensivos, como se perguntassem um ao outro se deveriam contar ou não.
_ Você sabe, quer dizer, eu te contei. - Hope disse.
_ Tá. Mas eu simplesmente morro? - Encarei-o confusa.
_ Não. Você... - Ele balançou a cabeça negativamente.
_ Byeon, talvez seja melhor você não saber disso agora. - Jin olhou pra mim sério.
_ O que há de tão ruim que vocês não querem contar? - Olhei pra todos eles. - Eu preciso saber! É a minha história.
_ Binnie, se acalme. - Gio pediu.
_ Não. Eu quero saber!
Senti a mão de Hope pousar sobre a minha, olhei-o e ele tinha um semblante um pouco triste.
_ Áurea...
_ Eu não me chamo Áurea. - Interrompi-o.
_ Byeon, você precisa confiar em mim. É melhor você não saber, pelo menos não agora.
_ M-Mas...
Tae se levantou da mesa repentinamente e veio até mim, segurando meus ombros e me virando, fazendo-me olhar pra ele. Ele estava sério e seus olhos eram repletos de preocupação e um pingo de afeto.
_ Escute Binnie, você realmente não vai querer saber. Prometa que vai esperar a hora certa pra podermos lhe contar. - Fiquei calada. - Prometa.
_ Eu prometo. - Minha voz saiu fraca.
Ele me soltou e voltou para o seu lugar. A mão de Hope agora estava entrelaçada à minha.
_ Desculpe por não poder contar. - Ele disse e eu apenas assenti.
Eu disse pra eles que esqueceria aquela história e que entendia que era um assunto delicado. Mas no fundo eu não entendi, eu não queria entender. Eles queriam ocultar uma parte da minha existência e eu não toleraria isso, eu precisava saber o que aconteceu. Era uma parte de mim e eu precisava descobrir, e iria o fazer com ou sem a ajuda deles.
(...)
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