Alec o ajudou a entrar no apartamento e logo em seguida trancou a porta.
A verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio, culpa e tristeza.
Alec mesmo que com medo, mesmo tendo de lhe dar com a tristeza de Magnus, estava sereno por ainda estar com seu amado, estava disposto a passar por cima de todos os pensamentos ruins para trazer conforto ao seu querido indonésio. O deitou na cama de seu quarto e prometeu voltar logo com algo de comer, mesmo que Magnus negasse estar fraco, Alec sabia que ele precisava.
E lá se foi o nutricionista preparar um jantar saudável:
Arroz branco e bem solto.
Salada.
Estrogonofe de frango bem temperadinho.
Passou no quarto de hospedes, a avó de Mag estava tomando banho, ele deixou o jantar dela em cima da cama e o copo de suco em cima da cômoda, logo após saiu, foi para o quarto de Magnus com os outros dois pratos na bandeja e os copos de suco de abacaxi da fruta.
-Mag, já terminei-
-O cheiro está incrível-
-Espero que o gosto também-
Alec se sentou na beirada da cama e colocou a bandeja sob a mesma.
Magnus se sentou direito e logo em seguida percebeu um garfo chegar próximo a sua boca.
-Alexander, o que está fazendo?-
-Lhe dando comida-
-Eu não sou um bebê-
Alec revirou os olhos -Quer parar de ser reclamão?-
-Aprendi com alguém- Deu uma piscadinha fazendo com que Alec sorrisse -Tudo bem, eu aceito que me trate como bebê, só não conte a minha avó, isso evita questões de ciúmes-
-Assim seja- Alexander parecia distante, ao mesmo tempo que se tornava próximo, se tornava longe, Magnus percebeu mas resolveu não o indagar, Alec deu uma garfada novamente e levou até a boca de seu pequeno que após provar se sentiu nas nuvens.
-Isso está divino-
-Obrigado- E novamente a voz soou distante.
-Tem algo que queira me dizer?-
-Sim, quer dizer, não, quer dizer...- Mordeu o canto da boca em um ato de nervosismo -É complicado, preciso te contar algo, mas não essa noite e não fique preocupado pois tem nada haver com nosso relacionamento-
Magnus nada disse, apenas voltou a comer silenciosamente.
Existem momentos na vida da gente, em que as palavras perdem o sentido ou parecem inúteis e, por mais que a gente pense numa forma de empregá-las, elas parecem não servir. Então a gente não diz, apenas sente.
A neve começou a cair mas não perceberam o frio, jantaram em silêncio, silêncio esse que agora não era confortável como aquele de quando se abraçavam e aproveitavam o momento observando a paisagem daquela fazenda a qual estavam antes, agora o silêncio era incomodo porém necessário.
Ao terminarem o jantar, Alec pegou os pratos e fez questão de os levar de volta.
Ao adentrar o quarto novamente, não encontrou Magnus na cama, seus olhos percorreram por todos os lados, desde os lençóis vermelhos até as paredes douradas, quando finalmente olhou para a varanda e se deparou com Magnus em pé encarando os floquinhos pequenos de neve cair.
Alec se aproximou e ali ao lado de seu amado se permaneceu calado.
-O que significa?-
-O quê?-
-Essa tatuagem em seu pescoço- Já teve curiosidade outras vezes em perguntar mas nunca perguntou e nem ele mesmo sabe o por que.
-A Cassandra mãe da Ana, ela escreveu vários livros e dentre eles, os instrumentos mortais, leio desde pequeno, digamos que esses livros mudaram muito meu ponto de vista, haviam feiticeiros e shadowhunters, vampiros, etc. Os meus 3 shadowhunters preferidos eram os personagens Matthew, Emeraude e Dominic, e meu feiticeiro preferido era o Harry, em fim... Eu sempre me identifiquei muito com o Matt, ele era forte, tímido, fazia de tudo pela proteção de quem ama, tentou por anos esconder sua homossexualidade até que um certo alguém apareceu o fazendo mudar a forma de enxergar as coisas. Nesses livros existiam marcas chamadas runas e elas possuem poderes, apenas shadowhunters usavam elas e essa do meu pescoço é exatamente a mesma que Matt tinha no pescoço, a runa do bloqueio. Sei que pode parescer algo muito infantil para você mas... isso marcou a minha vida e assim que fiz 18, tatuei-
Magnus sorriu e se virou olhando seu amado -Fica charmoso em você, e gostei do significado, do que ela representa pra ti-
-Obrigado- Alec deu um sorriso de canto e mesmo sem querer, seus olhos se encheram de lágrimas, rápidamente se virou tentando as enxugar mas Magnus conseguiu ver o que estava acontecendo.
Virou Alexander pra si e o abraçou fortemente sendo correspondido logo em seguida.
-Tenho tanto medo de te perder Magnus-
Há momentos na vida em que se deveria calar e deixar que o silêncio falasse ao coração, pois há emoções que as palavras não sabem traduzir.
-Alexander, eu te amo, saiba disso, sei que tem alguma coisa séria para me contar e provavelmente me deixará decepcionado, mas... Eu vou procurar tentar te entender-
-Magnus...-
O mesmo saiu do abraço e encarou seus oceanos preferidos -Me diga que não foi traição-
-O quê? Não, claro que não, eu nunca faria isso-
-Então o que é?-
-Magnus... eu... o acidente do Ragnor, acontece que...-
-Você viu quem atropelou ele? Você estava lá na hora?-
-Sente, por favor-
-É alguém que eu conheço?-
Alec sem dizer nada, o tirou da varanda trazendo novamente para o quarto e trancando a porta. Fez com que Magnus se sentasse e se abaixou na frente dele.
-Por favor, me esculte com atenção- Ali ele começou a contar com todos os detalhes tudo que ocorreu desde o momento que ele avistou o Ragnor até o dialogo da ambulância, tudo, absolutamente tudo.
Agora o ar parecia pesado, Magnus não se movimentava e seus olhos estavam perdidos dentre lágrimas, sua expressão facial era séria e sua respiração brusca, parecia estar se petrificando naquele momento e não sabe por quantos minutos ficou olhando para um canto vazio de uma parede como se um filme estivesse sendo reproduzido nela.
Alec se silenciou e esperou por alguma resposta, ver Magnus como uma escultura de gelo estava acabando com o calor de seu peito e o fazendo se recuar cada vez mais, até que em fim depois de minutos o indonésio voltou a se manifestar.
-O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis. Nosso namoro não existe a muito tempo mas é intenso, cada momento contigo é inesquecível, por mais inexplicável que sejam as coisas, você é incomparável- Secou uma lágrima teimosa que decidiu cair sem pedir -Ragnor era um irmão pra mim e me dói ter perdido ele, sim ele confessou me amar no hospital e me deu um selinho já no leito de morte uns 20 segundos antes de dormir, o sono eterno, aquele sem volta-
Alec já estava embalado por suas lágrimas também e em momento algum despregou os olhos de Magnus que respirou fundo e prosseguiu com sua fala.
-Alexander, ele também me disse que não importa qual briga seja que viesse, eu nunca poderia esquecer que você me ama verdadeiramente, ele não morreu com raiva de você e por que eu teria? Quando tínhamos 15 anos, a história dos panfletos vieram a tona, recebi uma culpa que não era minha e só eu sei o quanto doeu, não vou te culpar injustamente, não devemos empurrar pessoas no meio da rua mas sei que não foi sua intenção o atropelamento, seu coração é bondoso de mais para cometer tal ato-
-Mas você está decepcionado comigo, eu sei- Alec se afastou dando as costas e se aproximando da cômoda, lá em cima estava a caixinha de música que ele deu para Magnus no dia em que começaram a namorar, passou seus dedos levemente sobre os detalhes dourados da caixinha preta -Magnus, me perdoa. Eu não devia ter deixado minha insegurança me atordoar naquele dia, sou inseguro até mesmo pra admitir isso olhando nos seus olhos e sei que é uma droga, mas eu prometo que vou mudar-
Sentiu Magnus o abraçar por trás e logo em seguida fechou seus lindos olhos azuis, a sensação era confortante, o trazia certa calma e vontade de nunca mais sair dos braços dele.
-Alexander, preciso que leia algo-
-O quê?- Sentiu os braços de Magnus saírem de si e ele se distanciar para pegar algo, abriu os olhos e se virou olhando para o indonésio.
-Pegue- Magnus o entregou um diário.
-Mas diário é algo pessoal-
-Por favor, página 37- Alec sem dizer nada, abriu na página 37 e começou a ler.
"Eu odeio sentir essa vontade louca de dizer milhares de coisas fofas para o Alec.
E no fundo adoro o jeito que ele faz eu me sentir, como se tudo fosse possível, como, sei lá.
Como se a vida valesse a pena. Esses dias tem saído tão difíceis aqui em casa, ontem mesmo vi minha avó chegar do serviço morta de cansaço pra conseguir trazer alimento e sei que ela mal come pra sobrar mais pra Maia e eu, as vezes temos apenas um saco de pão e é tão difícil chegar na escola fingindo um sorriso, sei que durmo bastante em sala de aula mentindo ser por causa de séries quando na verdade estou preocupado com o futuro da minha família ou perdido em pensamentos direcionados ao Alexander.
Aquele garoto se tornou o motivo dos meus sorrisos e não consigo passar um dia sem lembrar dele, que droga, não vou conseguir o esquecer, mas em fim, já escrevi muito por hoje, vou dormir pois amanhã cedo tem aula e meu coração novamente vai se alegrar ao ver aqueles olhos azuis e aquele sorriso tímido junto com bochechas coradas em minha frente.
Ps: Lembrar de pedir chocolate pro Ragnor e lembrar de colar da Catarina em matemática."
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