História Sweet Temptation - ContraTempo

Segurando uma garrafa de vodca, o vi entrando com toda sua elegância no bar.  Não pude imaginar em quanto provocativa poderia ser sua ousadia. Que homem atrevido! Exclamei baixinho, em minha mente perturbada.  Jamais irei me acostumar com sua presença dominante, mesmo tendo plena consciência de meus desejos queimando fundo em meu âmago.

Estava tentando extirpar todos os pensamentos em relação a ele para fora de mim, quando seus olhos voaram em minha direção. Fixamos nossos olhares no que pareceu uma eternidade, e como em um conto de fadas mirabolante, ele inclinou um pouco a cabeça para o lado dando uma piscadela em minha direção. Retribui seu aceno de forma um tanto quanto grotesca. Simplesmente mostrei meu belo dedo do meio a ele. Ele arregalou os olhos em surpresa, saindo em seguida a passos curtos, sempre olhando ao redor com olhos semicerrados, como um leão procurando uma presa.

Mas confessarei que até eu mesma fiquei abismada com minha tamanha ousadia. Onde já se viu tratar um homem de seu porte daquela maneira?! Perdi completamente a noção do perigo! Seu poder e influência poderiam acabar comigo dentro de segundos. Mas apesar de tudo, ele parece ter saído de um dos contos de Shakespeare, com seus olhos de um verde profundo e sua postura de príncipe salvador, melhor dizendo, avassalador...

Analisando mais estritamente, se não fosse por seus cabelos cor de bronze, sempre desgrenhados, ele poderia facilmente se passar por um enigmático Demétrio. Rindo de meu tolo devaneio, balancei a cabeça olhando para baixo rapidamente. Não queria que ele olhasse na minha direção novamente e me visse encarando-o como uma idiota. Só faltava que eu estivesse babando. Huph! Bufei incrédula com meu comportamento. Não iria dar a ele esse prazer, nunca! Não poderia jamais deixá-lo a par de minha fraqueza. Além do mais, não é possível estar apaixonada, é só um desejo, um capricho, nada mais.

  Edward Cullen é um dos clientes mais renomados da Starcrash, uma casa de stripers nos arredores de Nova Iorque. Isso significa que não posso ter nenhuma relação abrangente com ele, e muito menos deixá-lo insatisfeito, aborrecido ou alguma coisa do gênero. Resumindo, tratá-lo mal e de forma afável demais está fora de cogitação. Mas graças a meu pavio curto, isso é exatamente o que venho fazendo desde a primeira vez em que ele pôs seus pés nesse estabelecimento, há um ano e meio atrás. Lembro perfeitamente daquele encontro desconfortável. Lembro de suas roupas, o cheiro, tudo. Até de seu olhar de cobiça sobre mim, quando fui atendê-lo em sua mesa na ala VIP.

FLASHBACK ON:

Ele estava sozinho, com um sorriso torto estampado em seu rosto perfeitamente esculpido. Talvez minha minissaia combinando relativamente com meu top minúsculo colados em meu corpo, não tivessem ajudado muito no momento. Ao me aproximar dele, forcei meu rosto em um sorriso sexy.

--- Boa noite, o que vai querer? --- perguntei um tanto quanto nervosa. Ele parecia me comer com os olhos. Imediatamente, baixei os olhos, corada.  Nunca havia sentido isso antes. Respire, ele é apenas mais um cliente. Tentei enviar a mensagem até meu cérebro fora de controle.

--- Você. Quero você --- oh céus, sua voz era como veludo, tão suave, sexy e convidativa. Mas logo esse encanto seria quebrado. Juntei toda minha força antes de responder.

--- Você vai querer tomar, vodca, cerveja? --- continuei balbuciando, fingindo não ter ouvido a sua resposta. Esse tipo de cantada me irritava.

--- Que tal você sentar no meu colo e me fazer uns carinhos, hein? --- fechei meus olhos suspirando profundamente. Não tinha muita paciência com caras como ele, cheios de si. Sem falar nas cantadas fajutas que todos aplicavam a fim de me levarem para a cama.

--- Desculpe, mas não estou no cardápio.

--- Como não? Como podem deixar uma tentação dessas fora do cardápio?

--- Sou apenas uma garçonete, não dançarina. Se você quiser temos várias meninas disponíveis. Vai fazer seu pedido ou não? --- já estava começando a ficar irritada, de verdade. Ele me olhou com malicia.

--- Quero uma cerveja, e rápido, por favor.

--- Claro --- retornei ao bar soltando fogo pelo nariz. Além de imbecil, charmoso, um verdadeiro filho de Hera, era arrogante.

Cheguei ao freezer, peguei a cerveja e entreguei a uma das meninas. Se voltasse naquela mesa, e escutasse mais uma de suas gracinhas, acabaria brigando com ele. E isso não poderia acontecer de forma alguma. Cautela é a palavra chave na relação entre cliente e atendente, para quem trabalha em lugares como esse. Um bordel, como costumávamos dizer entre nós. Esse foi o melhor emprego que consegui, não posso perdê-lo. Tenho muitas despesas, água, luz, aluguel...  E também quero estudar, criar um futuro melhor. Não quero ficar presa aqui, atrás desse balcão, noite após noite, o resto da minha vida. Não mesmo.

Já perdi muitas coisas, inclusive as pessoas que mais amava num acidente aéreo. Tinha 17 anos quando aconteceu.... Guardo a última imagem deles em minha memória, naquele dia no aeroporto, sorrindo e acenando completamente enérgicos. Gosto da lembrança deles assim, vivos e radiantes. É como se de algum jeito eles continuassem aqui comigo, não me deixando nunca cair. Dando-me forças. Dois anos já haviam se passado e cá estou, viva e respirando. A vida é dura, quem achar que tudo cai do céu, está completamente e inconscientemente se enganando. Pode acreditar, eu sei muito bem disso. Literalmente.

Fui tragada de volta a realidade quando Anne, a garota que eu havia pedido para levar a bebida até aquele Apolo disfarçado e sem escrúpulos, me entregou um pedaço de guardanapo com alguma coisa escrita em seu interior. Automaticamente minha cabeça projetou um nome: Edward Cullen. Cogitei em jogar fora, mas desisti no último instante.  

 Num ímpeto, olhei a inscrição em letras elegantes e bem desenhadas no pedaço de papel dançarino, por conta de minhas mãos que tremiam freneticamente. Estava escrito o seguinte: VOCÊ AINDA SERÁ MINHA. Olhei para ele com os olhos quase saindo das órbitas de tanto ódio. Como ele ousa me confrontar assim?! Iria até lá e mostraria a ele com quantos paus sem faz uma canoa, mas para sua imensa sorte, ele estava se divertindo com uma dançarina. Respirei fundo e procurei ficar calma. Afinal, tinha um trabalho a zelar.

FLASHBACK OFF.