Os garotos andavam lado a lado em passos lentos, a chuva fina molhando-os, mas aquilo não os incomodava. A tarde nublada estava silenciosa e o parquinho estava deserto. Apenas o barulho das gotas leves e finas da chuva contra o chão e os brinquedos, seus sapatos se chocando contra o cimento da pequena trilha pela qual andavam em passos lentos e os galhos das árvores balançando devido ao vento, que levava para longe algumas folhas. O frio abraçava seus corpos, por mais que usassem casacos.
Mais um barulhou se fez presente: O rangido das correntes de um velho balanço que estava perto dali. Sem dizer uma palavra sequer, os garotos foram até o brinquedo e sentaram-se cada um em um. Agora o rangido era constante e mais alto, pois ambos se balançavam lentamente. E o silêncio podia ter continuado por horas, porém, Rafael o quebrou:
- Sabe... A vida é como um balanço. – O de óculos olhou-o.
- O que quer dizer com isso?
- Que a vida é como um balanço, oras! – Concluiu o loiro.
- Isso eu entendi, Rafael. Quero dizer, por que ela é como um balanço? – O moreno suspirou e Rafael apenas se balançou mais, o rangido das correntes ficou mais alto; seu balanço ia até o alto e voltava. Ele ficou um tempo assim e depois parou.
- Altos e baixos, entende? – Mikhael assentiu. – Vamos dizer que a vida é realmente um balanço. Ninguém nasce sabendo se balançar, no começo a maioria de nós precisa da ajuda de alguém mais forte para nos dar o impulso inicial. Porém, isso também depende da gente! Para que continuemos nos balançando, precisamos impulsionar nossas pernas. Quando o balanço vai para frente, esticamos as pernas fazendo força para frente, e quando ele volta, curvamos para trás, impulsionando para lá.
- Estou entendendo... Mas, se a pessoa continuar a balançar, isso não é realmente necessário.
- Sim, mas uma hora essa pessoa vai cansar de nos empurrar, ou vamos estar velhos demais para que ela queira nos ajudar, uma hora precisamos aprender a nos balançar sozinhos. – Completou o loiro.
- Ok, mas e os altos e baixos dos quais falou? É quando o balanço sobe e desce? – O de olhos azuis assentiu. – E como você liga isso à vida?
- Veja bem, o balanço só sobre se tiver impulso, para dar impulso precisamos estar em baixo. A vida também precisa de um ponto de partida, um ponto pra dar impulso. Se nunca estivermos em baixo, nunca conseguimos ir ao topo. – Mikhael sorriu de lado; ele adorava quando Cellbit começava uma de suas conversas profundas e filosóficas.
- Tem razão... – Ele suspirou. – Sabe o que mais do balanço parece com a vida? – Cellbit olhou-o, como um pedido para que o mesmo continuasse. – Podemos escolher ficar parados em baixo por quanto tempo quisermos, se a gente não quiser dar impulso, não damos, apenas ficamos no conforto, parados em baixo. Mas, não podemos escolher ficar em cima, tudo acontece muito rápido, mas ainda assim, é tão incrível e gratificante sentir o vento no rosto quando estamos lá em cima, que apenas queremos continuar impulsionando e impulsionando cada vez mais pra ficar no topo por bastante tempo! – Ele sorriu, assim como o loiro.
- É mesmo... – Rafael olhou para Mike e sorriu. – Sabe o que mais o balanço tem a ver com a vida? Pelo menos com a minha?
- O que? – O loiro começou a se balançar de novo, indo cada vez mais alto, Mikhael apenas o seguiu.
- Assim como estar no balanço, estar vivendo é bem mais divertido quando você está comigo, Mike... – Ele parou de balançar e encarou seus pés, tentando inutilmente esconder os tênis entre a grama verde e molhada do parquinho.
- Sabe o que a vida me proporciona e estar no balanço não, Rafa? – O de olhos azuis fitou garoto ao seu lado, que sorriu. – Eu aqui e você aí, tão próximos e ao mesmo tempo distantes, eu não consigo te beijar quando fala essas coisas fofas pra mim. – Rafael corou e riu baixo, assim como Mike.
Mikhael levantou-se do balanço, estendeu a mão para Rafael, que sem pensar duas vezes, segurou e se levantou. Com as mãos entrelaçadas, eles se afastaram do balanço, lentamente, com o ranger das correntes voltando ao som calmo de antes. A chuva cessou-se aos poucos. As árvores não balançavam mais e as folhas já não voavam, pois o vento não era tão forte. Agora tudo o que se ouvia no parquinho, eram os passos dos dois garotos e as rangidas das correntes do velho balanço.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.