As horas não passavam, rolava na cama de um lado pro outro, nada de o sono vir, eu queria me esquecer o que tinha acontecido a tarde, tinha prometido a mim mesma que não iria tirar conclusões precipitadas sem realmente saber o que estava acontecendo, ela poderia ser uma amiga, prima, sei lá, não era namorada. Mas era tudo que indicava, Lucas estava estranho ultimamente, não sei bem como explicar, mas ele parecia distante.
Pensativa estava sentada na cama, encostada com a cabeça na cabeceira, Otávio dormia profundamente do meu lado, olhá-lo ali me fez pensar, o que havia acontecido entre nós? Quando chegamos a esse ponto? Quando eu cheguei ao ponto de precisar de outro para satisfazer meus desejos? E a “resposta” rapidamente me vem à cabeça. Depois de ter perdido meu pequeno, nosso pequeno, as coisas ficaram estranhas, eu não conseguia olhá-lo, de alguma forma eu sentia que ele me culpava por nosso menino ter morrido, acabei me afastando, ele se afastou, eu não queria me afundar numa terrível depressão, acabei escolhendo sair e curtir a vida, tentando tapar o buraco que havia sobrado. E lá estava Lucas, disposto a me ajudar, nem nos conhecíamos, foi estranho, eu já havia ouvido falar nele algumas vezes, por conta do seu trabalho na internet, mas nada muito profundo, acabamos nos aproximando e foi onde tudo começou, ele não se importou que eu fosse casada, disse que íamos vendo no que dava, e estamos nisso há quase um ano, eu não sei o que sentia por ele, não sei se era atração, desejo, ou se existia algo a mais, só sei que eu havia me apegado.
E de repente o celular vibrou em cima do criado mudo, olhei e lá estava o nome dele estampado “Lucas” era como se ele pressentisse que eu pensava nele, peguei o celular rapidamente, deveria atender? E se fosse a tal da Camila?
— Alô?— sussurrei ao tomar coragem e atender.
— Carol?— Escutei sua voz dizer meu nome, era ele— Te acordei?— parecia preocupado.
— Não…Já estava acordada.— respondi calmamente.
— Você pode falar agora?— olhei pro lado, Otávio parecia estar no quinto sono, me levantei da cama com cuidado.
— Posso, aconteceu alguma coisa?— perguntei preocupada, descalço e nas pontas dos pés, sai andando em direção a varanda, abri a porta com cuidado e sai.
— Não, não aconteceu nada...— fez uma pausa— Você me ligou hoje à tarde, quando fui falar você desligou.
— Você parecia ocupado...— mordi os lábios, se fez silêncio do outro lado— Quem é ela?— tomei coragem, o silêncio reinava, olhei em direção ao céu, a noite estava incrivelmente linda, a lua estava maravilhosa, bem no seu topo— Quem é Lucas?— insisti calma, tinha medo da resposta.
— Acho que devemos falar disso pessoalmente...—finalmente havia tomado coragem e falou.
— Sua namorada?— perguntei me tremendo por dentro, ele não respondeu— Lucas…
— Estamos nos conhecendo...— e foi nesse momento que meu coração disparou, e o que eu mais temia aconteceu, senti meu estômago se embrulhar, respirei fundo.
— Se conhecendo...—repeti num sussurro— Legal...— tentei soar sincera.
— Está chateada?— perguntou com certa preocupação.
— Não...— forcei o riso— Porque estaria?—ri forçado— Acho legal, você conhecer alguém...ter um relacionamento…—falava disparada— Você merece, que dê tudo certo pra vocês...— sorri quando na verdade queria chorar.
— Carol...— escutei ele sussurrar— Se eu não te conhecesse...—falou calmo.
— Eu estou sendo sincera Lucas, você merece conhecer alguém… Merece ter alguém que vai estar do seu lado todos os dias quando acordar, alguém que não precise voltar todos os dias de manhã pra casa porque tem outro à sua espera, alguém que seja completamente sua...— as lágrimas escorriam— Você merece…
— Carol, por favor para!— pediu— Vamos ser sinceros um com outro!
— Qual é Lucas? O que quer que eu faça?— enxuguei uma lágrima que escorria— Isso é o mínimo que posso fazer, você me liga de madrugada, diz que está conhecendo outra pessoa, quer que eu faça o que?
— Não minta dizendo que está tudo bem…
— Eu não disse que estava tudo bem, disse que você merece conhecer alguém, afinal eu sou casada, um dia isso iria acontecer!
— Por que está tocando no assunto de ser casada? Você nunca disse isso!
— Eu estou dizendo a verdade, um dia teríamos que dar um basta nisso!
— Você está dizendo que acabou?— perguntou num tom um pouco alto.
— Afinal, por que me ligou?— perguntei mudando de assunto.
— Não mude de assunto!— pediu.
— Lucas...— respirei fundo— Eu não sei, não sei de mais nada, mas acho que como você está com outra pessoa, as coisas não vão ser as mesmas…
— Podemos ser amigos, sei lá…
— Amigos?— ri— Já entendi, acho melhor eu desligar...— as lágrimas estavam prontas para sair— Falamos outra hora…— já começavam a escorrer.
— Carol espera…
—Amor?— escutei a voz de Otávio me chamar, olhei em direção a cama, ele se mexia.
— Eu preciso desligar Lucas, nos falamos depois…
— Espera por favor.
— Otávio acordou, amanhã eu te ligo…
— Amor você que tá aí?— Otávio perguntou.
— Estou aqui fora, já vou entrar!— respondi Otávio— Lucas nos falamos depois, até mais!— sussurrei, nem esperei por uma resposta, desliguei.
— Amor...— Otávio continuou me chamando, bloqueei o celular, sequei as lágrimas e entrei no quarto, fechei a porta da varanda e caminhei em direção a cama, Otávio me olhou, estava com os olhos meio fechado, coloquei o celular na mesinha e me deitei na cama— O que estava fazendo?— perguntou se aproximando.
— Estava sem sono, resolvi tomar um ar...— disse puxando o cobertor.
— Você estava chorando?— perguntou passando a mão em meu rosto e me olhou.
— Não, claro que não...— forcei um sorriso.
— Tem certeza?— abriu mais os olhos.
— Tenho Otávio, você que está sonolento e ta vendo coisas, vai vamos dormir!— forcei um sorriso.
— Okay.— riu— Vem cá...— disse me puxando para seu peito, respirei fundo, o abracei, e fechei os olhos, tentando pegar no sono— Boa noite meu amor...— sussurrou.
— Boa noite...— respondi calma. Acabei dormindo.
~~
— O que acha de passarmos o dia juntos?— Otávio perguntou enquanto me olhava pentear os cabelos na frente do espelho.
— Você não vai trabalhar?— o olhei pelo reflexo do espelho, ele estava sentado na cama, encostado na cabeceira.
— Não, resolvi que vou me dar uma folga.— sorriu— Estava pensando em irmos pra casa de praia, ficamos lá alguns dias, eu,você, Mabel.
— Mabel tem a escola, sem falar que ela não está indo muito bem, e a diretora pediu pra remarcar a reunião, e dessa vez quer que você compareça!— disse colocando a escova sobre a penteadeira.
— Eu posso pedir uma permissão, enquanto a reunião marcamos para outro dia.
— Otávio é coisa séria, Mabel está péssima na escola...
— É impressão minha ou você está arrumando uma desculpa pra não viajar comigo?
— Que?— me virei o encarando— Claro que não, coisa da sua cabeça, estou dizendo apenas que não podemos sair simplesmente e deixar os problemas aqui assim jogados pelo ar!
— Relaxa amor, vamos resolver tudo, mas precisamos de um tempo pra nós,se o problema for a escola de Mabel, podemos deixar ela com minha mãe, ela continua na escola, simples…
— Ficou maluco? Coitada da sua mãe, ia enlouquecer!
— Carol não exagera!
— Otávio, Mabel deixa sua mãe maluca, você acha que ela iria aguentar?
— Vocês tem que ter mais confiança em Mabel, deve ser por isso que ela age assim!
— Não, ela age assim, porque você a mima, se tomasse uma providência, fosse pulso firme ela não daria esses problemas!
— Está dizendo que minha filha é problemática?— me encarou.
— Ai, já vi a quem ela puxou, você entende as coisas como você quer, e não como deve ser. Enquanto você não tomar uma pose de pai, como realmente deve ser, talvez ela aprenda como deve se portar!
— Você implica muito com ela Carol, deveria ser mais calma em relação a isso, eu sou o pai, eu sei cuidar dela!— ele parecia meio irritado.
— Sabe? Ata, é você que passa o dia todo com ela? É você que vai nas reuniões e ainda é xingada de vagabunda na frente da diretora? Que a leva na escola, leva em cursos? Isso é o seu papel de pai? Ótimo, belo papel!— disse me virando pronta pra sair do quarto.
— Não vai ficar brava com isso né? Por favor não vamos brigar logo cedo, eu só te fiz uma proposta para viajarmos, mas tudo bem, minha esposa não gosta de passar o tempo dela comigo!— falou se lamentando.
— Vai começar com o drama?— me virei e o olhei, ele nada respondeu— Tá bom Otávio, vamos viajar, que saco!— revirei os olhos— Pelo amor do senhor bom Deus!— ele sorriu— Mas você dá a notícia para a fera!— revirei os olhos e sai do quarto.
Otávio querendo viajar em família? Essa é nova, não me lembro da ultima vez que ele decidiu se “dar uma folga” para podermos viajar, eu não gostei da ideia, nem um pouco, mas se não topasse ele viria com os dramas, dizendo que há algo estranho e blá, blá, blá.
Fui pra cozinha, preparei o café, hoje era quarta, o dia que a empregada viria, mas se iríamos viajar, acabaria tendo que dispensá-la.
Estava distraída quando ouvi o celular tocar, estava em cima do balcão, fui até ele e o olhei, o nome “Lucas” estampado, desliguei, não estava com paciência pra falar com ele, mas ele não desistiu, ligou de novo, e mais uma vez eu desliguei, coloquei no silencioso e deixei que ele ligasse mais vezes.
~~~~
— Estão prontas?— Otávio perguntou animado. Mabel estava jogada no sofá mexendo no celular, eu em pé encostada na porta da cozinha.
— Acho que isso é uma péssima ideia!— falei o olhando.
— Que isso, vai meninas, vamos nos animar.— sorriu— Mabel levanta daí e vamos embora, as malas já estão no carro!
— Pai eu já disse que não quero ir!— Mabel disse se sentando.
— Eu disse...— falei.
— CHEGA!— gritou nos assustando— Eu querendo fazer uma coisa legal com vocês, deixei a empresa lá nas mãos dos funcionários só pra passar meu tempo com vocês e vocês agem assim de mau gosto, pelo amor né?!— falou irritado— Nós vamos viajar e ponto, Mabel levanta daí e vamos, e você também Carol, vem!— revirei os olhos, fui saindo deixando ele pra trás, Mabel veio logo atrás. Ao entrar no elevador ninguém disse nada, fomos em total silêncio, ao chegarmos no estacionamento fomos até o carro, entramos e mais uma vez o silêncio reinou. E foi assim o caminho todo.
Depois de quase duas horas finalmente chegamos na casa de praia, Otávio já havia providenciado tudo, os empregados já estavam ali, nem precisamos fazer esforço para tirar as malas do carro, Mabel ao descer do carro correu direto pra praia que ficava “Atrás no quintal” Peguei meu celular, haviam sete chamadas perdidas de Lucas, seguidas por mensagens, resolvi olhá-las já que Otávio estava ocupado falando com os empregados.
“ Será que dá pra me atender? “Carol eu preciso falar com você!!!!” “Me atenda!!!” “Tudo bem, só estou avisando que vou viajar, não sei quando volto, Camila me convidou pra passar o final de semana com a família dela, se resolver parar de drama me liga!”
Mas já estava até conhecendo a família? Tão rápido assim? Quer saber, eu tenho que esquecer Lucas e focar em Otávio, ele é meu marido, Lucas não passa de um caso mal resolvido. Ignorei as mensagens.
— Ei, tá tudo bem?— Otávio perguntou ao se aproximar, o olhei.
— Está, Está sim.— forcei um sorriso.
— E essa cara de preocupada?
— Não é nada...— sorri— Acho melhor você pedir pra Mabel passar o protetor solar, ela mal chegou e correu pra praia!
— Relaxa, ela sabe se cuidar.—sorriu— Vamos pensar na gente agora...— sorriu me puxando pra perto dele— Merecemos.— se aproximou e me beijou a boca. Eu só queria conseguir retribuir, mas minha cabeça estava longe demais, pensando em outra pessoa, cujo nome era Lucas— Vem, vamos tomar uma duxa...—sorriu.
— Agora não… Prefiro ir dar uma caminhada na praia.— forcei um sorriso.
— Mas...—Ele ia dizer alguma coisa mas desistiu— Tudo bem, assim eu aproveito pra resolver algumas coisas, pode ir.— concordo— Só não demora.
— Pode deixar.—sorri, me aproximei e depositei um selinho em seus lábios.
Caminhei em direção a praia, a brisa leve me percorria, era incrível como tudo era tão lindo, me lembro da primeira vez que Otávio havia me trazido pra cá, éramos tão felizes, tão apaixonados, me lembro de correr pela areia enquanto ele me gritava para que o esperasse, eu era tão viva, tão diferente do que me tornei. As vezes eu penso, se não tivéssemos passado pela perda de alguém, ainda seríamos daquele jeito? Apaixonados? Talvez… Vejo Mabel sentada na areia, olhando pro horizonte, acho que assim como eu, esse lugar lhe trás lembranças. Ela parece tão perdida, assim como eu, talvez se ela não fosse tão fechada… Se ela não me odiasse, nós poderíamos ter uma amizade.
— Esse lugar é perfeito...— disse ao me aproximar dela, ela ergueu a cabeça e me olhou, nada disse, se virou e continuou olhando pra frente— Seu pai adora esse lugar.— sorri, me abaixei me sentando ao seu lado.
— É...—disse apenas.
— Vocês vinham muito aqui?—perguntei tentando puxar conversa.
— Aham...— ele parecia não querer conversa— Ela adorava esse lugar...— Talvez ela estivesse falando da mãe, engoli seco.
— E você?—perguntei, ela me olhou por alguns segundos.
— Na verdade não...— forçou um sorriso, mordeu os lábios, talvez tentasse segurar as lágrimas, bom pelo menos era isso que eu fazia— Você ainda fala com sua mãe?— Ela perguntou sem me olhar, não entendi a pergunta mas respondi.
— Não como gostaria...—forcei um sorriso.
— Por que?— me olhou, pensei se deveria falar, mas sei lá, parecíamos estar nos dando bem, por alguns minutinhos apenas.
— A coisas que nossos pais não apoiam, e nós nos achamos tão inteligentes, capazes de tapar o sol com a peneira.—ri, a vi forçar um sorriso— Acabamos não dando importância pro que eles pensam, e você acaba agindo como uma idiota, uma completa idiota, e se afasta das pessoas que mais se preocupam com você, só por eles não acharem certo, não concordarem com o que você pensa.
— Eles não apoiaram você se casar com meu pai?— me olhou.
— Acho que essa foi a única coisa que eles me apoiaram.— ri— Deixa eu te contar.— abri um sorriso— Quando eu tinha a sua idade, eu saia, bebia, viajava.— ela pareceu surpresa— Eu não me importava com a escola, com as coisas que deveria ter responsabilidades, bastava algum amigo aparecer dizendo que estava indo pra algum show em outra cidade que eu largava tudo, pegava dinheiro com meu pai e caia na farra, eu bebia, pegava geral, com apenas dezesseis anos, meus pais ficavam malucos, mas acabavam me dando o dinheiro por medo de que eu fizesse algo que estragasse a minha reputação, a reputação deles, eu me jogava no mundo e não estava nem ai com as consequências, meus pais vinham me dar conselhos, mas eu não estava nem um pouco de ouvir, acabava brigando com eles. Com dezessete eu fugi de casa, fui pra casa de uma amiga, ela era mais velha, Maria o nome dela, ela trabalhava com venda de cigarros que as pessoas traziam do paraguai…
— Drogas?— me encarou.
— Não drogas, claro, cigarro acaba sendo uma droga a gente querendo ou não… Mas era cigarros, nada de crack, cocaína, nada disso, eu a ajudava, só que eu não queria aquilo pra mim, ser vendedora de cigarros? Acabei voltando pra escola, tinha um cursinho que a escola oferecia, administração, acabei me matriculando e por sorte ganhei um estágio, e foi onde conheci seu pai, ele quis saber como eu havia ido parar ali, eu contei minha “história” ele ficou chocado, acabamos virando amigos ele quis me ajudar, e foi nascendo algo a mais, eu sabia que ele era casado, então eu tratei logo de me afastar, foi quando ele disse que estava se separando...e o resto você já sabe.— forcei um sorriso.
— E você voltou pra sua casa?— Ela parecia estar bem interessada na minha história.
— Acabei voltando, seu pai me convenceu, só que não era a mesma coisa sabe? Meus pais ficavam meio com o pé atrás, eles sabiam que eu estava indo num caminho certo, mas tinham medo de que a qualquer momento eu me perdesse de novo. E tudo piorou quando eu disse que iria me casar, com dezoito anos eu fui até eles e contei que seu pai havia me pedido em casamento, eles piraram, foi quando pela segunda vez eu fugi de casa, só que dessa vez eu fui pra rua, passei quase dois meses na rua eu havia terminado com seu pai que não entendeu nada, dois meses depois foi quando meu pai acabou me achando, conversamos ele e minha mãe acabaram entrando em um acordo e resolveram aceitar que eu deveria me casar, talvez assim eu tomasse jeito e daria um rumo a minha vida, só que eles se afastaram, não me ligavam mas, sempre que eu ligava a empregada dizia que eles tinham ido viajar, e um tempo depois recebi a notícia que meu pai havia falecido...— Uma lágrima escorreu, mas fiz questão de enxugá-la rapidamente— Eu acabei herdando tudo dele, minha mãe não aceitou, tentou tirar tudo de mim, mas meu pai já havia deixado assinado, tudo o que era dele passou a ser meu, minha mãe me culpou por tudo, pela morte, pelas coisas ruins que aconteceram, e disse a pior coisa que uma filha poderia ouvir, que a partir daquele dia, ela tinha deixado de ser minha mãe...— meus olhos estavam cheios de água, Mabel ouvia tudo, percebi que ela também tinha vontade de chorar— Mas eu ergui a cabeça, fui forte, seu pai me ajudou, e hoje estou aqui, firme e forte, acostumada em perder todos que eu amo, com as pessoas me odiando me culpando por tudo de ruim que acontece.— ri.
— Eu… Eu não sabia...— Mabel disse— Eu, eu sinto muito.— forçou um sorriso.
— Tudo bem, já passou.—sorri.
— E você nunca mais tentou falar com sua mãe? Digo, ela não se arrependeu depois?
— Há um ano atrás, assim que eu perdi o bebê, soube que ela foi me ver no hospital, não sei o que era queria, seu pai disse que ela apareceu por lá, chorava, me abraçou enquanto eu dormia e me pediu perdão.
— E porque não ligou pra ela?
— Eu não estava nada bem, tinha acabado de perder um filho, eu não tinha cabeça pra aguentar nada.
— E onde ela está agora?
— Não sei bem, mêses atrás eu conversei com uma tia minha, ela disse que minha mãe havia ido embora pros Estados Unidos, ela havia conhecido alguém e se mudou.
— Sinto muito...— me olhou, podia enxergar a sinceridade em seus olhos.
— Bom, mas a vida segue, estou aqui, está tudo ótimo!— sorri.
— Exceto pelo fato de eu lhe tratar mal…
— Relaxa, tudo tem seu tempo, talvez um dia você aprenda a gostar de mim, ou até lá nós nos matamos...—ri, ela sorriu de lado.—Bom, agora eu vou ir lá pra dentro, deixar você aproveitar essa paisagem maravilhosa.— sorri, fui me levantando.
— Não...— me parou— Quer dizer… Você poderia ficar aqui.— forçou um sorriso.
— Tem certeza?— franzi a testa.
— Claro, se você quiser...— sorriu de lado. Eu não acreditava no que estava ouvindo.
— Tudo bem...— sorri, acabei voltando a me sentar.
Bom, ficamos ali, em silêncio contemplando a paisagem, lá no fundo Mabel talvez não me odiasse, quem sabe algum dia ela até entendia tudo e me desse uma chance, até lá eu teria que aguentar suas provocações.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.