História Taehyung (manual do agricultor) - Plantio

Capítulo 2: plantio

Eu gostaria de dizer que a culpa era totalmente e integralmente do Jeon. Apenas gostaria mesmo.

Eu poderia dizer que o Jeon me mandou uma mensagem nada sugestiva, poderia dizer que depois das aulas de sexta fui para casa dele assistir a uma maratona de filmes de terror com muita pipoca com manteiga, poderia dizer também que durante o filme, ao invés das mãos dele encontrarem as minhas dentro do baldinho de pipoca, encontraram a maciez da minha bunda. E não preciso nem dizer o que aconteceu depois disso.

Não era mistério para ninguém que além do Jeon ser meu companheiro de banda, ele também era meu vizinho. Ele chegou para morar na casa ao lado quando eu tinha os meus 13 anos e todo o disband da minha família aconteceu, e ter ele como vizinho me ajudou a me adaptar a conviver com os meus progenitores separados. Nós passávamos algumas tardes juntos jogando vídeo game quando Jimin estava na academia de dança, pois o Omma Baek passou a trabalhar mais e nas tardes eu ficava sozinho em casa.

O Jungkook tem uma incrível capacidade de ser uma criança numa hora e um pervertido em outra. Mas esse outro lado dele poucos conheciam.

Mas, voltando aos fatos...

Eu gostaria de dizer que depois de tudo o que fizemos naquela poltrona – que foi bem pouco se formos levar em consideração todos os pornôs que assistíamos juntos, mas satisfatório para uma primeira vez  – ele me pediu em namoro e andávamos de mãos dadas para tudo quanto era canto. Apenas gostaria mesmo.

Ele parecia ter tido uma amnésia pós orgasmo, porque depois de eu ter saído da casa dele quase fugindo da senhora Jeon, ele agiu normalmente no dia seguinte.

E não era como se eu esperasse que ele aparecesse no dia seguinte com um anel de noivado, mas a indiferença dele me machucou um pouco.

E o resultado do coito veio dois meses depois.

Dizem que filhos de pais adolescentes tendem a serem pais na adolescência também, acho que li isso em algum trabalho de sociologia, e decidi por mim mesmo que não seria mais um número nas estimativas. Jimin sabe o quanto eu tentei resguardar o meu ânus, até com garotas eu tentei me envolver. O que me fez cogitar a ideia de ser bissexual até. Ele só não sabia o quão difícil era resistir a Jungkook, no segundo seguinte eu já me encontrava despido da cintura para baixo e totalmente inebriado naquele charme juvenil.

Mas isso não vem ao caso agora.

O caso é que eu não sabia o que fazer. Eu não tinha condições de criar o bebê, não tinha um emprego e nem tinha terminado o ensino médio ainda. Que futuro eu poderia oferecer ao feto? Se eu dissesse que pensei em abortar o Jimin me mataria, mas não vou mentir, nos primeiros 5 segundos de desespero eu pensei sim numa remota possibilidade de aborto. E no mesmo instante cenas dos documentários sobre aborto e fetos mutilados me fizeram vomitar e passar a noite na casa de Jimin, porque o meu pai certamente me questionaria se me visse com aquela cara de derrota e eu não estava nem um pouco preparado para contar a ele o motivo.

Mas óbvio que eu avisei que dormiria na casa do Jimin, e óbvio que ele deixou. Meu Omma ama o Jimin e sinto que secretamente ele o quer como genro.

Eu não queria que meu feto fosse mutilado vivo. E também não queria ficar com ele.

- Eu troco a fraldinha, a gente dá um jeito. Eu assumo o bebê como meu, a gente casa e adota uma lhama.

Jimin tentava me convencer mais uma vez naquela tarde. Nesse dia ele não teria ensaio na academia, então fomos a um parque decidir o futuro do feto.

- O que você acha desse casal? – o ignorei mostrando mais um casal dos classificados.

Eu nunca pensei que um dia iria precisar procurar candidatos ao feto numa lista de classificados. E nem pensei que iria achar isso num jornal, o que pra mim foi surpreendente. O jornal impresso se mostrando útil mesmo em meio a tanta tecnologia, incrível.

- Tae! – ele puxou o jornal das minhas mãos.

- Eu não quero adotar uma lhama! – falei fazendo uma careta ao imaginar uma lhama mascando chiclete no quintal. Argh!

- A mulher é enfermeira e o cara é chefe de um hospital psiquiátrico, eles não querem um filho, querem uma cobaia. Você não pode entregar o feijãozinho para estranhos, eu já disse que a gente pode criar ele.

Aquela conversa já estava me dando dor de cabeça.

- Você não pode assumir um feto que não é seu Jimin, por mais que eu queira, eu não posso jogar essa responsabilidade para você e não posso privar o feto de ter uma família feliz, que o quer de verdade. Olha só todos esses casais – disse apontando o jornal em suas mãos –, empresários, médicos, engenheiros, eles têm estabilidade para criar um time de futebol se quiserem. Eles querem uma família completa, com filhos, um gramado e uma lhama. Eles têm tudo o que eu não posso oferecer, Jimin.

- E o Jeon?

- O Jeon? O que você quer que eu diga a ele? ‘Hey, lembra da rapidinha que demos na poltrona da sua sala? Então, tô gravido’?

Jimin me encarava sem saber o que dizer, eu mesmo não sabia. Então ele me abraçou, e eu agradeci porque se ele não tivesse feito eu teria caído no gramado verdinho debaixo do banco de madeira. E então eu chorei. Chorei por não saber o que fazer. Chorei por mim. Chorei por Jimin. Chorei por tudo o que poderia acontecer e o que provavelmente não aconteceria. Mas chorei principalmente pelo feto e por todo o amor que eu não sei se poderia dá-lo.

E Jimin me deixou chorar. Deixou que eu molhasse sua camisa e buscasse apoio em suas ações.

- Ele só tem 14 anos, Jimin. Vai ser melhor se ele não souber.

- Tae...

- Não é como se fosse adiantar muita coisa, e a mãe dele me odeia. – suspirei.

- E os seus pais? Você não acha que eles vão te abandonar, né? O tio Baek e o Dae hyung nunca fariam isso.

- Eu sei Jimin, mas... eu só não queria dar esse desgosto a eles.

Eu sei que os meus pais primeiro brigariam muito comigo, e depois me prometeriam uma bela surra pós-parto, mas nunca me abandonariam para cuidar sozinho do feto.

Senti os braços de Jimin se apertarem mais ao meu redor. E eu apenas retribui o aperto, me aconchegando mais nele.

***

Ficamos por um tempo naquele banco, sob a sobra da copa da árvore e o medo de Jimin de que a qualquer momento fosse cair uma lagarta ou outro inseto sobre nossas cabeças, e o frescor incerto das brisas de fim de tarde.

Eu estava quase dormindo em Jimin quando lembrei que teria que voltar para casa. Então fomos eu e Jimin.

Quando estávamos perto de casa vi o Jeon sair para por o lixo para fora – com chinelos e meias do Iron Man, provavelmente a mãe dele deve o ter acordado e mandado ele por o lixo para fora -, ele estava com a maior cara de tédio antes de olhar para mim e ficar coradinho. Eu realmente queria ter entendido essa parte. Talvez fosse apenas mais um dos encantos do Jeon. Só sei que depois ele acenou e entrou de volta para casa. E o meu coração continuou batendo como louco pela madrugada toda.

Papai convidou – intimou – Jimin a jantar com a gente, e no final ele acabou passando a noite lá em casa. Nem é preciso dizer que Jimin já é de casa, ele tem mais roupas do que eu no meu próprio guarda roupas!

***

Naquela manhã eu acordei enjoado, tão enjoado que até o barulho de flashs me deixava irritadiço. E os flashs – quem liga o flash às 6 horas da manhã? – eram do iphone do Omma.

Eu iria puxar o lençol e virar para o outro lado da cama, mas ao tentar fazê-lo acabei dando de cara com o pescoço de Jimin, e não vou negar, ele é muito cheiroso. E só para atiçar o fogo de fanboy do Omma, deixei uma bela fungada no pescoço do ChimChim e um beijinho que o fez se arrepiar todo e acordar por fim. E pude ouvir um gritinho contido de animação e mais flashs.

- Ok, já está bom por hoje, já podem ir levantando, o café tá na mesa.

Ouvi o Omma Baek falar, mas apenas o ignorei e me colei as costas de Jimin, que também não parecia estar nem um pouco a fim de ir para escola naquela manhã.

***

A realidade resolveu me dar um soco no estomago logo de manhã. Acho que levantei rápido demais da cama e meu estomago permaneceu em movimento quase saindo pela minha boca. Resultado: eu e Jimin só conseguimos chegar na escola na segunda aula, e por sorte não fomos barrados na entrada.

Por um momento foi como se o dia anterior não tivesse passado de um sonho desagradável, mas quando meu estomago ameaçou sair pela minha boca pela segunda vez vi que não era bem assim. O pior foi ver o olhar do Park, uma mistura de dó e pena. Durante o caminho não consegui contar quantos ‘tá tudo bem mesmo?’ ou ‘quer voltar pra casa?’ eu ouvi durante o processo.
Eu olhava para minha barriga e não conseguia imaginar que uma semente germinava lá dentro. Ainda mais uma semente do Jeon.

Inclusive, falando no Jeon, ele acabou de passar com um colega da sala dele aqui perto da minha mesa, mas não falou comigo. O que me fez ficar ainda mais seguro de não contar nada pra ele sobre o feto, mas também me machucou um pouco.

Ao longe vi o Park voltar com uma bandeja com os nossos lanches.

- Ah não, dieta de novo? – disse quando Jimin se aproximou e vi todas aquelas coisas saudáveis na bandeja que ele trazia, e eu só tinha pedido um salgado.

- O suco é para você, e o refrigerante pra mim. – disse enquanto arrumava o que seria o meu lanche e o dele.

- Mas eu também quero pizza. – falei com água na boca ao ver os fiozinhos de queijo entre a pizza e a mordida. Jimin apenas fez que não e apontou para algum canto da bandeja, e foi ai que eu vi algo colorido e de aparência extremamente saudável e nutritiva – uma salada de frutas.

Comi reclamando mesmo, e caso o feto nascesse com cara de pizza a culpa seria toda e exclusivamente do Park.

Depois da escola Jimin tinha os ensaios na academia, mas antes de ir me levou em casa.

Na saída da escola me senti sendo observado enquanto esperava por Jimin. Mas nada muito relevante, então só ignorei.

- E então...? – Jimin decidiu puxar assunto durante o trajeto até a minha casa.

Não que fosse difícil entrarmos num assunto, afinal, somos amigos a bastante tempo, mas parecia extremamente difícil entrar naquele assunto.

- Vai ser hoje. – disse, e sabia que Jimin havia entendido. Iria ser hoje que eu contaria ao Omma toda a burrada que eu fiz, e ele pareceu entender perfeitamente quando disse que tentaria terminar os ensaios mais cedo para me dar apoio moral.

E na minha situação todo o apoio moral era bem vindo.

- Baek? – Ouvi a voz de Chanyeol vindo da cozinha quando entrei em casa.

- Não, sou eu hyung. – respondi e ele me chamou para almoçar. Convidei Jimin para o almoço também porque se ele fosse passar em casa ia acabar se atrasando.

Chanyeol cozinhava bem. Como ele trabalhava com alguma coisa relacionada a computadores, ele ficava trabalhando em casa alguns dias de semana e outros na empresa quando necessário. E nos dias que ele ficava em casa ele fazia uma geral, porque o Omma era extremamente chato com essa coisa de limpeza. O Chanyeol era o que poderíamos chamar de namorado quase perfeito.

Durante a tarde eu continuei minha procura nos classificados em busca dos pretendentes ao feto.

“Casal Kim”, Kim Seokjin, 30 , Kim Namjoon, 28, casados a mais ou menos dois anos.” Estamos em busca da peça que falta para completar a nossa família”, ou seja, eles querem um feto. Eu terminei de ler o artigo e o que eu li de certa forma foi satisfatório, por assim dizer. Nenhum dos dois tinham carreira na medicina, e eram um casal homo, não que eu tenha algo contra héteros, mas acho que o feto seria mais feliz com eles. Pelo o que eu li ambos têm carreiras estáveis, o que vai ser bom para o futuro do feto. O Kim de 28 anos é produtor musical e o de 30 é chefe de cozinha, e, pela foto do casal, ambos são muito bonitos.

Acho que encontrei os candidatos perfeitos.