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História Take care now - Um amor para compartilhar


Escrita por: brullf

Notas do Autor


Para quem, assim como eu, estava com saudades do pequeno milagre chamado Ally Harris.

Capítulo 27 - Um amor para compartilhar


O sol ainda está em dúvida se rompe as nuvens da alvorada quando Cristina acorda. Ela sabe que é cedo, que pode dormir pelo menos mais uma hora, mas simplesmente não consegue. A cirurgiã cardiotorácica tenta se mover o mínimo possível para não acordar Owen. A médica fica alguns segundos de pé ao lado da cama contemplando o homem que dorme tranquilo no travesseiro ao lado do seu e suspira. E então ela percebe que existe um momento em que o amor deixa de ser uma narrativa e ganha corpos, gostos, respirações, toques, gozos e afetos.

Naquele instante, Cristina concentra-se no amor. Ela soube desde sempre que não há almas imaculadas, isoladas dos genes, do sangue, de uma história. Por isso mesmo nunca gostou de metáforas bonitas dissociadas das células, do corpo. O abstrato nunca a intrigou. Os meandros de um coração já eram, por si sós, ricos e complexos demais para servir também de caixa para sentimentos pouco explicados pela Medicina.

Mas, ainda assim, Cristina também aprendeu que o amor não obedece a mecanismos racionais ou democráticos. Ela sorri sozinha ao recordar sua constatação de que o amor não obedece a nada, nem às vezes a ele mesmo. E investigando seu íntimo para além das reações químicas e impulsos nervosos, conclui que o que sente por Owen, o que sente com Owen é algo dessa natureza que habita o metafísico: um amor completo, para muito além do desejo torrencial.

Num impulso, ela dá meia volta com o corpo e deixa o quarto, indo direto até o escritório que criou para si mesma, logo na porta ao lado. O espaço é amplo, com sua coleção de revistas médicas, centenas de livros de estudo e pesquisa, além dos diários de Elis Grey que ganhou de Meredith quando deixou os Estados Unidos. Ela se acomoda na grande poltrona de leitura que usara talvez duas vezes desde que a comprara e abre seu notebook.

Após preencher o campo de pesquisa, um clique rápido a leva a uma miríade de cores, formas, ideias e temas com os quais jamais se imaginou tratando. Ela acaba de descobrir que quartos de criança podem ser quase um cenário saído de um filme qualquer da Disney. A morena se distrai pesquisando sobre os móveis, materiais de fabricação, cores para as paredes, adesivos auto aplicáveis e mais um mundo de coisas que nunca fizeram parte de sua vida.

Sempre foi fácil estar com seus afilhados, mas ela nunca fora convidada a dar qualquer palpite sobre o quarto deles, o tipo de cama, o melhor guarda-roupa, a pintura da parede, os guardadores de brinquedo, os próprios brinquedos e havia ainda tanto por descobrir que um clique levava a outro, a outro, a mais outro e ela nem sabia mais por onde tinha começado a busca.

Owen adentra o cômodo vestindo apenas uma calça de moletom e ela nem repara enquanto se ajeita melhor na cadeira e arruma seus óculos de leitura. Ele se posiciona logo atrás e se encanta, ainda mais, ao vê-la tão concentrada em busca do quarto perfeito para Ally.

A doutora Yang se recosta em seu assento enquanto analisa a imagem de um quarto infantil montado com uma decoração de jardim. A cama em formato de flor, com direito a pétalas azuis bem clarinhas, a intriga e as cores suaves a agradam sobremaneira. A médica sorri imaginando a pequena ruivinha deitada numa daquelas. Devagar, para não assustá-la, Hunt se abaixa e a envolve em seus braços. A cirurgiã relaxa naquele contato e tomba a cabeça de lado expondo a ele o pescoço para ser beijado.

— Já posso dizer que adorei o quarto que você escolheu para Ally ou não se decidiu ainda? – pergunta antes de beijá-la.

— Hum... – ela suspira, manhosa, ao carinho dele – Eu... queria que escolhêssemos juntos – sussurra – Mas...

— Você se encantou com esse... – Owen se põe ao lado de Cristina, sentando-se no braço da poltrona de leitura – Eu posso ver isso nos seus olhos – ele sorri para ela.

— Acho que sim...

— Nossa menininha vai amar o quarto que a mãe dela escolheu – Hunt diz fazendo um carinho em Yang com seu rosto e a beija antes que ela possa responder.

Os dois cirurgiões chegam juntos ao Instituto Klausman, embora Owen não possa mais ficar o dia todo. Ele começa em seu novo emprego, no Hospital Universitário de Zurique, no plantão das 14 horas. Eles cumprimentam outros médicos, enfermeiros e técnicos pelo caminho já sabido de cor até o quarto de Ally Harris.

Como todos os dias, às 6h45, eles encontram uma enfermeira trocando os curativos da ruivinha e ministrando os remédios que ela ainda precisa tomar, especialmente o que faz com que seu corpo não rejeite o material fabricado pelas impressoras 3D e que foram usados no reparo de sua válvula de mitral.

— Bom dia, doutora Yang, doutor Hunt – cumprimenta uma mulher morena ao atualizar o prontuário da pequena, que dorme tranquilamente.

— Bom dia, senhorita Ziegler. Como está a paciente Harris? – Cristina se posiciona ao lado da cama observando a menina.

— Nenhuma alteração significativa, o quadro dela é estável e a recuperação segue dentro do esperado – a enfermeira sorri e entrega o ipad com a ficha da pequena à diretora do Instituto – Com licença, preciso ver outros pacientes.

— Obrigada – a doutora Yang avalia o prontuário, estudando todo o histórico da pequena. Se ela continuar reagindo bem e sem qualquer intercorrência, deve poder deixar o hospital dali a 10 dias.

— Como ela está? – Owen abraça Cristina por trás e descansa a cabeça no ombro de sua mulher.

— A recuperação vai bem... – a morena suspira.

— Hey, o que foi? – Hunt vira Yang dentro de seus braços.

— Estou me perguntando pra onde ela vai quando sair aqui do hospital. Se poderemos vê-la ou...

— Ow! – o ruivo a abraça – Vai ficar tudo bem... – ele sussurra.

— Você não pode me prometer isso – ela replica.

— Não... – Owen olha Cristina nos olhos – Não posso prometer isso, mas posso acreditar! – ela se abraça a ele – Só peço que você acredite junto comigo, ok?

— Ok! – Cristina aperta ainda mais os braços ao redor de Owen e sabe o quanto precisa dele para acreditar.

— Oi... – uma vozinha doce desperta os dois daquele momento. A morena se separa do ruivo e sorri para a pequena.

— Bom dia, Ally! – Owen observa as interações da duas e sorri como se soubesse o que vem a seguir.

— Tia Yang... – a pequena estica os bracinhos para a cirurgiã que logo a tem nos braços – Sodadi... – Ally logo busca os cabelos enrolados e morenos com suas mãozinhas enquanto esconde o rostinho no pescoço da médica.

— Também senti saudade, Ally – Cristina e Owen ficaram um dia inteiro sem vê-la devido à visita da assistente social. Depois, à noite, a médica foi chamada para uma emergência e como o paciente apresentava um quadro de trauma, pediu ajuda ao cirurgião. Os dois não conseguiram ver a pequena acordada – E se eu disser que vou passar o dia todo com você, será que a saudade vai embora?

A ruivinha rapidamente levanta a cabeça e olha a doutora Yang nos olhos. A resposta da menina é um sorriso imenso e o abraço mais apertado que aqueles pequenos bracinhos conseguem dar. Cristina a segura com cuidado e não pode apertá-la muito devido à cicatrização das duas cirurgias que realizara em Ally. Owen se coloca ao lado de Cristina e beija os cabelos dela enquanto faz um afago na pequena.

— Então, o que você quer fazer hoje? – faz carinho nas costas da menina grudada em si.

— Jadim! – responde Ally com os olhos verdes brilhando da alegria mais pura e genuína – Jadim, tio Hunt! Qua qua... – os dois cirurgiões riem do som que Ally faz imitando os patos que vivem no laguinho do jardim.

— Vem aqui! – o ruivo a pega no colo enquanto a morena vai buscar a roupa para trocá-la. Já que o macacão de panda está na casa da cirurgiã para ser lavado, ela pega o conjuntinho de marinheira para vesti-la. Os dois ruivos se entendem apenas de se olhar. Ally se sente confortável e à vontade com Owen, sentindo os carinhos dele em seus cabelos cacheados.

Depois de trocar a fralda e vestir a ruivinha, Cristina deixa para Owen a tarefa de cuidar dos cabelos da menina e o cirurgião se sai muito bem ao trançá-los. Devidamente agasalhados, os três seguem para o jardim com Ally no colo de Hunt. Ele a segura em um braço e tem a doutora Yang ao seu lado com o outro. Os dois médicos já haviam preparado o lanche da manhã e tudo o que precisariam para ficar com a menina do lado de fora do hospital.

Logo que chegam ao lado de fora, a menina tenta descer do colo de Hunt, mas ele não deixa.

— Hey, pequena, você ainda não pode correr por aqui. Vamos com calma, certo? – Ally faz um bico adorável e olha para Cristina.

— Só mais um pouquinho de paciência, Ally – a morena se coloca de frente para a criança e a olha com carinho – Eu prometo que falta pouco pra você poder correr. Falta muito pouco!

— Manhã? – pergunta com a voz cheia de manha.

— Ainda não... precisamos ter certeza de que seu coração sarou direitinho aí dentro antes de deixar você sair correndo por aqui – tenta animar a menina.

— Ah... – a carinha da ruivinha se entristece.

— Não fique triste, por favor – pede a médica.

— Ally – Owen chama e ganha a atenção dela – Você vai correr por esse jardim logo. Mas hoje, nós podemos brincar no parquinho, no balanço e no escorregador. Você quer?

— Quelo! – e volta a sorrir, um sorriso tão cheio de luz quanto o sol que desponta no céu meio coberto de nuvens daquela manhã. Hunt entrega a pequena a Cristina para que elas se dirijam aos brinquedos enquanto ele cuida de montar o piquenique para os três.

A gargalhada de Ally quando vai ao balanço pela primeira vez é tão linda quanto os sons dos passarinhos que ecoam pelo jardim. Outros pacientes que fazem suas caminhadas matinais também sorriem ao ouvir o riso tão cheio de vida da menina, como se uma esperança florescesse a cada vez que ela ri.

— Voano! Voano! – ela quase grita enquanto Cristina a empurra com cuidado e certo receio. A médica sabe que sua pequena não pode se exceder ainda. Sua pequena. Ao pensar nisso, Yang também sorri um tanto contagiada pela alegria da menina, outro tanto pelo amor que não lhe cabe no peito.

Quando as duas vão para o escorregador, algumas pessoas observam de longe, apenas encantadas com a cena. Ally olha para o brinquedo e para a cirurgiã, que logo percebe um traço de medo naqueles olhinhos.

— O que foi?

— Medu – a ruivinha responde e olha para o escorregador.

— Você não vai cair, eu não vou deixar. Confia em mim? – as duas se olham demorado.

— Uhum – a pequena passa os braços envolta do pescoço de Yang.

— Eu vou segurar você, Ally, até você não ter mais medo, tudo bem? – senta a pequena na parte de cima do brinquedo.

— Béim... – a criança lhe devolve um pequeno sorriso cheio de expectativa.

Com a resposta de Ally, Cristina a conduz pelo escorregador, controlando a velocidade da descida, apenas para a menina se acostumar, puxando-a para seu colo ao final.

— Você gostou? – encosta seu nariz ao dela, fazendo a menina sorrir.

— Gotei! Dinovu?

— De novo!

Yang continua ajudando a menina a descer mais tantas vezes quantas ela pede até Ally dizer que quer ir sozinha. A morena então se posiciona logo ao final do brinquedo depois de deixá-la sentada no topo.

— Você não vai cair, Ally, vem, eu pego você! – chama a menina que ainda a olha com um resquício de temor.

— Eu vai... – anuncia a criança reunindo toda a sua coragem. Ally dá impulso com os dois bracinhos e desce sozinha pelo escorregador com seus gritinhos de alegria. Como prometera, Cristina está lá para pegá-la nos braços e não deixá-la cair. As duas riem juntas num abraço com o poder de curar os males de qualquer tristeza.

Um pouco mais afastado, Owen Hunt observa as duas mulheres da sua vida com uma lágrima teimosa lhe escorrendo pela face e um coração transbordando de amor em seu peito.


Notas Finais


Espero ter aquecido um pouquinho o coração de vocês!


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