História Take Me Away - The Liar - Wonderwall

"And after all
You're my wonderwall
I said maybe
You're gonna be the one
that saves me"

As horas passaram rápido desde que fugi. Sabe quando você está tão concentrado em algo que o tempo passa em um piscar de olhos? É exatamente assim que me sinto. A cada hora que passa é um minuto, fazendo o ponteiro do velocímetro acompanhar o seu ritmo extraordinariamente veloz.

Rodo com o carro pelas ruas movimentadas do centro de Londres e nada de minha cabeça se esfriar, apesar do clima frio. Gasolina na reserva. Estou a muitas milhas de casa e não sei nem como voltar. Melhor assim.

Ao parar no sinal, fico a observar um letreiro com chamativas letras em neon Drunk in Black. Dou a volta no quarteirão e paro em frente à boate. Olho em minha carteira, tenho a quantia suficiente para pagar a entrada e beber alguns drinks. Mas como irei entrar se não tenho a idade permitida?

Vou até a fila e quando chega a minha vez, o homem que recepcionava me para, antes que eu entre por debaixo de suas pernas.

— Sinto muito. Não pode entrar. Próximo! - diz o segurança carrancudo na entrada da boate.

Droga! Suspiro frustrada e vou caminhando até o carro porém sou impedida ao sentir alguém me puxar pelo braço.

— Ei! - o homem desconhecido me aborda.

— Quem é você? Me solta! Por favor! - me desespero com seu toque e seus olhos tão impassíveis.

— Se acalma... - ele me solta devagar e me dá espaço para que eu respire aliviada - Você estava querendo entrar lá?

— Sim. Mas aquele segurança com cara de porco não deixou. Sou maior de idade. - ele ri e me olha especulativo.

— Você tem cara que acabou de largar a chupeta. - fecho a cara - mas... Isso é bom. É instigante. Dou um jeito de você entrar. Tá a fim? Aliás, meu nome é Isaac. Isaac Smith. - sorri de lado.

Confesso que esse sorriso me desequilibrou. Que lindos olhos azuis! Parece que seu rosto perfeitamente desenhado com pincéis à tinta aquarela, saíram de um livro de contos de fadas. Um verdadeiro príncipe. Quando menos percebo, minha respiração já se encontrava ofegante.

Terra? Chão?

— Prazer. - sorrio cordial, entendendo minha mão - Sou Katherine Johansson, Kate.

— Igualmente. - ele a aperta sorrindo.

Por que ele tem que sorrir a cada frase? Ótimo. Como eu posso ter a capacidade de me iludir em menos de meia hora? Enfim. Já deveria ter me acostumado com isso...

— Aceita ou não? - pisco rápido tentando assimilar suas palavras.

— Aceito. - Isaac passa seu braço ao redor dos meus ombros e me encaminha para dentro.

— Smith, Isaac. Sou VIP. - entramos sem que o porco conteste.

Várias pessoas se esfregam em um pequeno espaço, parecem estar felizes e de algum modo percebo que a maioria está ali para se divertir, fugir da rotina corrida que o capitalismo proporciona todos os dias.

— Já veio em algum lugar desse tipo antes? - ele fala alto por cima da música eletrônica alta. Balanço a cabeça em negação, apenas navegando meus olhos pelas luzes que piscavam acima dos corpos agitados na pista de dança.

— Você bebe? - diz ele pedindo uma bebida com nome estranho no bar.

— Sim. - minto.

— São dois Sex On The Beach, por favor. - o barman assente e começa a fazer os seus malabarismos desnecessários para preparar uma simples bebida. E logo ele as põe em nossa frente.

Coloco apenas a boca no copo e viro todo o drink colorido, que desce ardendo até meu estômago. Sinto um mal estar, uma tontura. Não ligo para isso e peço outro já virando-o. Pareço uma louca que acabou de descobrir que foi traída e está assolando as mágoas no álcool. Quase. 

Olho para o moço dos olhos cativantes e ele sorri.

— Me conta sobre você. - me puxa para que eu me sente em seu colo.

Gargalho quando ele passa seus dedos longos em minha coxa, fazendo-me arrepiar. E sinto seu nariz junto ao meu pescoço. Ai. Quem está mais bêbado? Ele ou eu?

— Sou líder de torcida na... - rio - isso não é interessante! Minha vida não é interessante não, moço.

— Se quiser, eu posso torná-la interessante. - ele suga a pele do meu pescoço e me encolho toda.

— Ai... - rio mordendo meu lábio inferior.

— Você vai ter que retribuir o favor que eu fiz. - cruzo a sobrancelha.

— Favor? - o olho séria.

— É... - aperta minhas coxas e desliza suas mãos até minha bunda.

Me levanto rápido e entro na multidão de pessoas, perdendo Isaac de vista. Minha visão fica falha, a música parece que ficou mais alta e desesperadamente anseio pelo ar puro e frio lá de fora. Tropeço em meus próprios pés e a tontura começa a ficar insuportável.

— Kate! - ouço seus passos pesados me perseguir pela rua deserta. Não ouso olhar para trás. Corro. Corro o mais rápido que eu posso movida à adrenalina que corria em minhas veias.

Não... Isso não pode estar acontecendo. É muito desastre num dia só! Não quero nem pensar o que o amanhã me reserva.

— Solta! Solta! - tento me desvencilhar do seu toque. Antes tão aveludado e agora áspero. 

Os primeiros flocos de neve frios caíam juntamente com as lágrimas quentes de meus olhos. Isaac tampa minha boca para que eu não grite e me arrasta rua afora indo de volta para a boate. Tento me soltar, me debato, soco seu peito, mordo sua mão. Em vão. Nada é capaz de derrubar essa muralha.

Ou é?

Um homem surge do além e lhe dá um soco certeiro, fazendo-o cair no chão desacordado.  E então ele olha para mim, com um olhar terno e preocupado. O olho sem conseguir ao menos vibrar minhas cordas vocais e ele se aproxima. Eu não sei como agir, apenas fico estática, fitando seus olhos castanho-esverdeados.

— Está tudo bem com você? - balanço a cabeça em confirmação.

— O que está fazendo nessa rua sozinha? - pergunta tocando meu rosto, mas percebendo sua ação ele recua.

Finalmente consigo falar.

— Eu estava... - suspiro não sabendo por onde começar As Aventuras de Kate, a rebelde - Esse homem estava me seguindo. Ele queria abusar de mim. - contenho as lágrimas.

— Está tudo bem... Ele não vai mais fazer isso com você. - diz doce. Sua voz é tão acalentadora que, instintivamente, fecho meus olhos.

Novamente ouço seus passos leves se aproximando de mim e seu toque na pele gelada da minha face. Estremeço. Frio? Surpresa?

Abro meus olhos e ele sorri, me puxando para um abraço forte. Inalo seu delicioso cheiro amadeirado, completando o ar que me faltava. Sei que não deveria falar com estranhos ou muito menos deixar algum deles me abraçar no meio da rua. Mas eu já fiz isso mais cedo e quase acabei na cama. Esse homem que está comigo agora, de alguma forma me atrai. Como a gravidade, que atrai qualquer corpo ao centro da terra ou os neurônios que atraem um ao outro pelas sinapses constantes.

Um impulso nervoso toma conta de mim... Quero sair daqui. Agora.

Ele é tão previsível que pareceu que leu meus pensamentos.

— Quer que eu te leve para casa? - sorri afagando os meus cabelos.

— Eu vim de carro... - dou um giro de 360° em meu próprio eixo procurando pelo carro do Robert. Cadê?

— Está perdida não está? - suspiro. Estou com cara de que tenho um Google Maps interno?

— É... Digamos que um pouquinho um pouco grande?! - sorrio sem graça e ele ri fraco.

— Eu te levo. Me chamo Scott e você?

— Sou a Kate. Minha casa é bem longe daqui... - aponto para o fim da rua escura.

— Eu te levo. - diz e então pega em minha mão e me leva até o seu carro. Entro passando o cinto e falo o endereço o qual eu presumo que seja o certo.

Seguimos pelo caminho e ele coloca uma música em seu som. Por que eu sempre acho que todas as músicas que tocam ultimamente resumem minha vida?

"E no final das contas
Você é minha protetora
Eu disse que talvez
Você seja aquela que me salvará..."